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Transtorno do Espectro Autista (TEA): informações, diagnóstico e tratamento precoce

30 de março de 2021
* Por Dr. Fabrício de Oliveira

Transtorno do Espectro Autista (TEA): informações, diagnóstico e tratamento precoce

Segundo o DSM-V— Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — o autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por:

Ainda:

O TEA tem essas características que são essenciais para o diagnóstico. Ainda que os sintomas variam de caso a caso, esses elementos são determinantes para realizar o diagnóstico de autismo, ou seja:  déficits  nas trocas sociais (interação, linguagem e comunicação) e déficits no comportamento (repetição e inflexibilidade).

Nos  últimos  anos,  as  estimativas  da  prevalência  do  autismo  têm  aumentado  dramaticamente. Nos EUA chegou a apresentar a prevalência  de  1  para  cada 58  em  2014. Esse aumento na  prevalência  do  TEA  é,  em  grande  parte,  um resultado  da  ampliação  dos  critérios  diagnósticos e do desenvolvimento de instrumentos de rastreamento e diagnóstico. Sua  prevalência  é  maior  em  meninos  do  que  em meninas,  na  proporção  de  cerca  de  4:18. Estima-se  que  em  torno  de  30%  dos  casos  apresentam  deficiência  intelectual.

Sabe-se que não há uma causa definida. Pesquisas sugerem que o TEA se desenvolve a partir de uma combinação de influências genéticas e ambientais.

Categorias

Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) fundiu quatro categorias distintas de autismo em um único diagnóstico – TEA.

São elas:

A nova classificação do DSM-V trouxe mudanças significativas nos critérios diagnósticos do autismo, ampliando a identificação de sintomas e com ênfase na observação do desenvolvimento da comunicação e interação social da criança.

O DSM-V rotula esses distúrbios como um espectro justamente por se manifestarem em diferentes níveis de intensidade.

Por exemplo, condições de inteligência podem variar desde déficits cognitivos importantes a padrões de inteligência acima da média. Uma pessoa diagnosticada como de alta funcionalidade apresenta prejuízos leves, que podem não a impedir de estudar, trabalhar e se relacionar.

Um portador de média funcionalidade tem um menor grau de independência e necessita de algum auxílio para desempenhar funções cotidianas, como tomar banho ou preparar a sua refeição.

Já o paciente de baixa funcionalidade vai manifestar dificuldades graves e costuma precisar de apoio especializado ao longo da vida.

Principalmente nos níveis mais leves, o diagnóstico apenas acontece na fase adulta. Nesses casos, é comum que o próprio paciente perceba em si alguns dos sintomas e busque a ajuda de um psiquiatra ou psicólogo.

Todos os pacientes com autismo podem partilhar destas dificuldades, mas cada um deles será afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares.

Níveis de gravidade do autismo

Como já referido, a intensidade do comprometimento funcional encontrado nos indivíduos variam de intensidade. 

Nível 1: necessita suporte;

Nível 2: necessita de suporte substancial;

Nível 3: necessita de suporte muito substancial

 

Nível 1: necessita suporte;

Nível 2: necessita de suporte substancial;

Nível 3: necessita de suporte muito substancial

 

Outro ponto a ser observado é que, geralmente ocorrem, algumas condições  simultaneamente, e incluem: distúrbios do sono, dificuldade de alimentação, sintomas gastrointestinais, convulsões e déficit de atenção/hiperatividade.

Diagnóstico Precoce

Os primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista são visíveis em bebês, entre 1 e 2 anos de vida, embora possam ser detectados antes ou depois disso, caso os atrasos de desenvolvimento sejam mais sérios ou mais sutis, respectivamente. Sua trajetória inicial não é uniforme. Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Por outro lado, existem casos que podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas

Existe um grande espaço de tempo entre a suspeita de que “há algo estranho” (suspeita) até o diagnóstico propriamente dito. Já no primeiro ano de vida é possível detectar alguns sinais de alerta, como:

 

Com o avançar da idade, também poderá ser percebido:

É importante salientar que apenas uma das características não é sinônimo de autismo, mas um conjunto de comportamentos é que pode indicar a possibilidade do transtorno.

Normalmente são os pais que notam os primeiros sintomas, que costumam estar presentes mais claramente nos primeiros 3 anos de vida da criança. Entretanto, a idade média de diagnóstico é de 5 anos (coincidindo com o início da idade escolar). Dessa forma, para se evitar atrasos no diagnóstico, é recomendado que, a partir dos 18 meses de idade, fiquemos atentos aos sinais já referidos.

Uma observação cuidadosa é necessária pois os casos leves de TEA podem ser confundidos com outros comportamentos, como timidez, excentricidade ou falta de atenção.

Quando há suspeita de atraso nos marcos do neurodesenvolvimento e na interação social, a criança deve ser encaminhada  para avaliação por profissional especialista (se possível especialista em neurodesenvolvimento) e por uma equipe multidisciplinar experiente, que são imprescindíveis na elaboração de um diagnóstico correto.

Lembrando sempre que suspeita é diferente de diagnóstico. EM CASO DE SUSPEITA, PROCURE AJUDA OU ORIENTAÇÕES DE CONFIANÇA.

Diagnóstico diferencial

Na avaliação, os profissionais identificam se há prejuízos na interação social, na linguagem, comunicação e padrões repetitivos de comportamento – sintomas comuns ao TEA.

Exames sensoriais (audição, incluindo respostas evocadas auditivas do tronco cerebral [se necessário] e teste visual) são frequentemente necessários.

Os principais diagnósticos diferenciais do TEA são:

Tratamento

Ainda que não exista cura, o autismo tem sim tratamento, capaz de melhorar a qualidade de vida do paciente. Em geral, uma equipe multidisciplinar é indicada, já que cada especialista trabalhará uma dificuldade específica do autista.

O  tratamento  padrão-ouro  para  o  TEA  é  a intervenção  precoce,  que  deve  ser  iniciada  tão logo  haja  suspeita  ou  imediatamente  após  o diagnóstico  por  uma  equipe  interdisciplinar. Consiste em um conjunto de modalidades terapêuticas  que  visam  aumentar  o  potencial  do desenvolvimento  social  e  de  comunicação  da criança,  proteger  o  funcionamento  intelectual reduzindo  danos,  melhorar  a  qualidade  de  vida e  dirigir  competências  para  autonomia,  além  de diminuir  as  angústias  da  família.

Cada indivíduo, dentro do espectro, vai desenvolver o seu conjunto de sintomas variados e características bastante particulares. Tudo isso vai influenciar como cada pessoa se relaciona, se expressa e se comporta. Deste modo, cada plano terapêutico será  elaborado individualmente, levando-se em conta as características  e particularidades caso a caso.

Costuma-se indicar acompanhamentos com:

Fonoaudiólogo: este poderá acompanhar a criança no desenvolvimento da linguagem não-verbal e verbal;

Ludoterapia: por meio de jogos e brinquedos o terapeuta trabalha a interação social e o contato visual da criança;

Análise aplicada de comportamento:  pode se de extrema valia, sendo o objetivo amenizar determinados comportamentos nocivos e estimular outros;

Grupos de habilidades sociais: neles há espaço para praticar as interações sociais do dia a dia e melhorar o comportamento social;

Medicamentos: embora não sejam específicos para o autismo (não existe fármacos para curar tal condição), ajudam com possíveis problemas emocionais. Frequentemente o uso dos remédios são associados às terapias. Tal combinação pode tratar condições comórbidas, como insônia, hiperatividade, agressividade, impulsividade, ataques de raiva, falta de atenção, ansiedade, depressão e comportamentos repetitivos.

Colaboração multidisciplinar

A atenção ao desenvolvimento de habilidades sociais deve ser abordada na escola, comunidade, saúde comportamental e ambiente familiar;

OBSERVAÇÕES

“O que eu posso fazer caso eu  perceba algumas dessas características em meu filho ou em uma pessoa próxima?”

Estar bem informado sobre o assunto sabendo que a possibilidade da ocorrência do TEA é real e que o diagnóstico e tratamento (multiprofissional) precoce são fundamentais para uma melhor evolução do quadro são formas extremamente valiosas para nos tornarmos  agentes de mudança numa circunstância como essa.

Uma situação complexa é quando percebemos alterações (vale lembrar que sinal de alerta não é o mesmo que diagnóstico) em familiares ou pessoas próximas a nós. Às vezes, os pais ou familiares estão alheios à situação. O quê fazer em uma ocasião como essa? Não existe “receita de como agir” em um cenário tão delicado. Apenas podemos dizer que, quando se possui informações corretas e uma real vontade de ajudar, aliadas a uma postura sensível e empática, haverá o potencial para superar grandes obstáculos, como a negação, o medo e o preconceito. Esses são muito comuns, ainda mais em momentos de fragilidade.

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