* Por Dr. Alexandre de Rezende
Janeiro Branco: Vamos falar sobre Saúde Mental? Em primeiro lugar, por que é tão importante discutirmos sobre este assunto? Porque se estima que um quarto da população mundial desenvolva um ou mais transtornos mentais ao longo da vida.
Há alguns anos foi lançada a Campanha Janeiro Branco com o objetivo de convidar a todos a refletirem e se conscientizarem de como estão cuidando de sua Saúde Mental. Portanto, é uma campanha destinada a que as pessoas pensem na forma como estão lidando com suas emoções e relacionamentos, no quanto estão valorizando o sentido e o propósito das suas vidas.
DADOS SOBRE SAÚDE MENTAL
Para falarmos de Janeiro Branco, o mês da conscientização da Saúde Mental, primeiramente vamos citar alguns dados.
Pontualmente, 12% das pessoas em geral necessitam de algum
atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual (1) . Dados de um relatório global recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontaram que o número de pessoas com depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015 (2) . Num levantamento realizado na região metropolitana de São Paulo foi observado que aproximadamente 30% dos entrevistados
preenchiam critérios para um transtorno psiquiátrico nos 12 meses anteriores. Os transtornos mais comuns foram os ansiosos (19,9%), do humor (11%), do impulso (4,3%) e aqueles associados ao abuso de substâncias (3,6%) 3 . Segundo dados do mesmo relatório da OMS
supracitado, na população brasileira a prevalência de depressão é de 5,8% e 9,3% a de ansiedade (2).
No entanto, 73,5% dos adultos com transtornos mentais moderados e graves ao redor do mundo não recebem tratamento. Em relação à depressão, 65% das pessoas com esse transtorno não recebem nenhum tipo de intervenção adequada. A depressão já é a principal causa de incapacidade em todo o mundo (2).
VAMOS FALAR SOBRE COMO CUIDAR DA NOSSA SAÚDE MENTAL?
Diante de dados tão alarmantes, a grande questão que nos intriga é: como cuidar da nossa Saúde Mental, ter uma vida emocional equilibrada e prevenir o aparecimento de transtornos mentais? Certamente, não são perguntas fáceis de serem respondidas. Isso porque os determinantes da Saúde Mental envolvem múltiplos fatores, tais como: características individuais (a forma como administramos nossas emoções e comportamentos, como lidamos com os desafios da vida contemporânea, como estabelecemos as relações com as outras pessoas). Mas também os fatores sociais e ambientais são muito importantes (baixa renda, desemprego, violência urbana), assim como aqueles de ordem cultural e política.
Para aquelas pessoas já acometidas por algum transtorno mental, devemos pensar que a identificação precoce desse transtorno e o manejo apropriado dessa condição pode ser fundamental para o processo de recuperação, ou seja: redução dos fatores estressores, fortalecimento do suporte social, acesso a intervenções psicossocias adequadas, incluindo psicoeducação, tratamentos psicológicos e acesso às medicações indicadas. Para tanto, é
essencial a realização de campanhas para se reduzir o estigma e a discriminação em relação aos transtornos mentais (4) . As pessoas em geral precisam compreender a verdadeira natureza do adoecimento psíquico para reduzirem o preconceito em relação a essa situação, também em relação à busca pelo tratamento mais adequado.
COMO EVITAR QUE SEJAMOS ACOMETIDOS POR UM TRANSTORNO MENTAL
Mas uma pergunta ainda persiste: como evitar que sejamos acometidos por um transtorno mental (o que chamamos de prevenção primária)? Novamente, eis um grande desafio. Mas gostaríamos de trazer algumas orientações e sugestões para uma melhor Saúde Mental:
- Conheça a si mesmo! Busque o autoconhecimento, seus valores e propósitos, o sentido da sua vida. Se necessário, procure uma psicoterapia.
- Preocupe-se mais com você! Procure fazer coisas que lhe tragam prazer, deseje estar sempre que possível próximo às pessoas que você ama e que lhe querem bem.
- Cuide do seu corpo! Procure se alimentar de maneira equilibrada, reserve um tempo para fazer atividade física e tente dormir bem. Evite o uso exagerado de álcool e de outras drogas.
- Procure acreditar em algo! Se isso fizer sentido para você, não tenha receio de desenvolver sua fé, cultivar sua dimensão espiritual. Isso inclui também ajudar o próximo.
- Cuidado com as expectativas! É necessário ser mais realista, grande parte do nosso sofrimento vem de esperar para além da conta, até mesmo sobre os relacionamentos interpessoais.
- Seja otimista! Uma visão negativa das coisas é fonte geradora de angústia e de sofrimento. Procure sempre que possível enxergar o lado bom dos fatos.
Referências bibliográficas:
1. Thornicroft G, Atalay G, Alem A, Santos RA, Barley E, Drake RE et al. WPA guidance on steps, obstacles and mistakes to avoid in the implementation of community mental health care. World Psychiatry 2010; 9(2):67-77.
2. World Health Organization. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Geneva: WHO, 2017.
3. Andrade LH, Wang YP, Andreoni S, Silveira CM, Alexandrino-Silva C, Siu ER et al. Mental disorders in megacities: findings from the São Paulo megacity mental health survey, Brazil. PLoS One 2012; 7(2):e31879.
4. Associação Brasileira de Psiquiatria. Diretrizes para um modelo de atenção integral em Saúde Mental no Brasil. Rio de Janeiro: 2014.
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