FIBROMIALGIA

O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Fibromialgia?

                 A Fibromialgia é reconhecida como uma doença crônica, caracterizada por dor e rigidez dos tecidos moles, como músculos, ligamentos e tendões. O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

A Fibromialgia costuma afetar mais mulheres (3%) do que homens (1%). Há uma sobreposição significativa de comorbidades entre pacientes com Fibromialgia e transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtorno do pânico e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).

Um quadro de dor crônica tem consequências graves na vida de quem sofre com esse problema, trazendo um prejuízo significativo nas atividades diárias. Conviver com a dor exige um grande esforço físico e mental, há uma busca por um alívio que nem sempre é encontrado, tudo isso pode levar a sentimentos de tristeza, desmotivação e desesperança.

Pessoas com Fibromialgia demoram para receber o diagnóstico e possuem um longo histórico de peregrinações médicas. Assim, a pesquisa por uma explicação para o quadro também é um processo desgastante, o que contribui para a pessoa ter a sensação de que sua dor não existe ou é puramente psicológica. É importante destacar que a Fibromialgia é uma doença reumatológica, cuja dor e sofrimento dos portadores são reais.

Assim, começar um processo de psicoterapia é um grande passo, pois o objetivo do tratamento é ajudar a encontrar formas para manejar a dor.

Como os pensamentos influenciam na Fibromialgia?

A dor não é a simples resposta mecânica do organismo a uma lesão como forma de proteção. A dor é regulada por mecanismos complexos e sofre influência dos pensamentos e sentimentos. O processamento da dor é mediado pela percepção, ou seja, a sensação dolorosa pode aumentar ou diminuir de intensidade de acordo com a influência de alguns fatores, como as emoções, os pensamentos, a atenção que se dá à dor e a percepção da situação pela qual se está passando.

O ser humano descreve e experimenta as sensações corporais com base nas interpretações pessoais das situações, opiniões e informações que possui. Como exemplo, uma dor de cabeça que o indivíduo atribui a um tumor pode ser percebida de modo mais intenso do que uma dor de cabeça atribuída a um problema de vista.

O humor também influencia a percepção de dor. Pessoas ansiosas tendem a fazer avaliações exageradas e catastróficas das sensações corporais, percebendo estímulos vagos e neutros como sinais de doença. Já pessoas com depressão podem ter pensamentos pessimistas e costumam pensar e esperar o pior, interpretando os sintomas como mais negativos do que são na realidade.

Uma pessoa que constantemente sente dor passa muitas vezes a checar seu próprio corpo para certificar se o dia vai ser com ou sem dor. Ao direcionar a atenção para o corpo à procura da dor, muitas vezes o sintoma acaba parecendo mais intenso.

Os pensamentos influenciam os sentimentos e comportamentos. Isso é um fator importante no ciclo da dor crônica. Imagine uma situação em que uma pessoa com Fibromialgia tem um compromisso importante no dia seguinte. A pessoa pensa: “será que vou acordar com dor? Preciso dormir e descansar para acordar bem, sem dor, não posso perder esse compromisso”. Ao ter esses pensamentos sobre o dia seguinte, a pessoa se sente ansiosa, o que lhe provocará uma tensão nos músculos e dificuldade para dormir. No dia seguinte, acorda cansada, com muita dor e perde o compromisso – o que a leva a ficar triste.

Dessa forma, aprender a identificar e examinar os pensamentos sobre a sensação de dor no dia a dia permite questionar como se está funcionando e agir de outra forma pode ajudar no manejo do problema.

Como o problema pode estar sendo mantido?

Como já dito, alguns fatores podem ajudar a manter a dor na Fibromialgia, como os pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Muitas vezes, a pessoa se sente frágil, incapaz e impotente para controlar a dor. Essa visão negativa da situação e de suas próprias capacidades funciona reforçando a sensação de inatividade, desmotivação e aumento da atenção sobre sensações dolorosas, levando a mais incapacidade, inatividade e estresse.

Um outro aspecto que pode manter a dor é a o comportamento de esquiva de atividades. É muito comum que as pessoas com Fibromialgia deixem de fazer atividades físicas, uma vez que imaginam que vão sentir mais dor e que é impossível manter-se ativo. No entanto, a realização de alguma atividade física é, justamente, o mais indicado para ajudar no tratamento da Fibromialgia, podendo reduzir a ansiedade, melhorar a dor e aumentar a sensação de bem-estar.

Como a dor é um estímulo desagradável, o indivíduo acaba por adotar alguns comportamentos como a fuga de situações associadas a ela – o que, de maneira automática, passa uma sensação de melhora. Com essa estratégia, aprende-se que tentar se livrar da dor é a única maneira de lidar com ela, porém reforça a incapacidade de lidar com a doença. Aprender a enfrentar de modo gradual as situações desafiadoras pode ajudar a manejar o problema.

Por fim, outro fator que pode contribuir para a manutenção da Fibromialgia é a dificuldade em comunicar a dor de forma direta. A presença de um quadro de dor crônica compromete também as relações familiares, profissionais e sociais. Ou seja, a Fibromialgia não afeta apenas a vida de quem sofre, mas também a de quem convive com a pessoa. Aprender a comunicar a dor, as emoções, os pensamentos, vontades e necessidades é muito importante para encontrar maneiras de lidar com as dificuldades.

Como lidar com a Fibromialgia?

  • Aceitando e entendendo a Fibromialgia: ter um quadro de dor crônica é desgastante, pode-se ter a sensação de que existe pouca coisa que se possa fazer para melhorar. Entender que a dor sofre influência dos pensamentos, emoções e comportamentos permite ter mais autonomia e motivação para o tratamento. Aceitar que se tem um problema de dor crônica pode favorecer engajamento no tratamento.
  • Mudando pensamentos e comportamentos: os pensamentos sobre a dor influenciam os comportamentos e, ao longo do tratamento, pode-se aprender a identificar como se pensa sobre a dor e que influência esses pensamentos têm no manejo do problema. Algumas vezes exagera-se ou modifica-se os fatos por medo ou lembranças de experiências anteriores negativas.
  • Aprendendo a comunicar a dor: quando se sente algum desconforto é normal tentar comunicar isso de alguma maneira, seja através de sons e gestos, mas muitas vezes não se faz isso da melhor forma. Com a psicoterapia, aprende-se estratégias para se comunicar de forma mais objetiva e transparente, conseguindo auxílio quando necessário.
  • Aprendendo a se distrair da dor: quando se presta muita atenção na dor, ela acaba se intensificando. A atenção pode ser um fator de grande influência no aumento da percepção da dor. Ao compreender que se deposita sua atenção seletivamente na dor, pode-se aprender técnicas para direcionar melhor sua atenção, amenizando as sensações desagradáveis. Pode-se direcionar o foco da atenção para um exercício de respiração profunda ou ligar para alguma pessoa, como exemplos.
  • Aprendendo a relaxar: com o auxílio do terapeuta, aprende-se estratégias que ajudam a diminuir os sintomas relacionados à ansiedade e estresse. Por meio de técnicas como o relaxamento progressivo, que consiste em tensionar e relaxar diferentes grupos musculares, pode-se diminuir a tensão nas áreas doloridas, aliviando o sofrimento.
  • Enfrentando situações difíceis: em um quadro crônico, acaba-se mudando a rotina e se abandona a realização de coisas por medo de sentir dor. Começar a incluir gradualmente atividades prazerosas que foram deixadas de lado é uma forma de começar a lidar com o problema de modo produtivo, quebrando assim o ciclo da dor.

Sugestão de leitura: Fibromialgia sem mistério: um guia para pacientes, familiares e médicos. Autor: Manuel Martínez-Lavín. MG Editores, 2014.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

PENIDO, M.A.; DIAS, T.R.S. Capítulo 19 – Fibromialgia. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.