Por que falar sobre AVC?

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular.

* Por dra. eliza teixeira da rocha

Outubro é o mês escolhido para a Campanha Mundial de Conscientização do AVC. Porém, esse é um assunto que deve ser conversado diariamente com nossos pacientes, familiares e amigos. O motivo é que o AVC pode acontecer com qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Dados recentes da World Stroke Organization, organização internacional que coordena as ações de educação, prevenção e tratamento do AVC, demonstram que a cada 4 pessoas no mundo todo, uma terá um AVC ao longo de sua vida.

E mais, o AVC é a segunda causas de morte no mundo e a primeira causa de incapacidade. Portanto, é essencial reconhecer o AVC, saber que AVC tem tratamento e tomar medidas para prevenir o AVC. E é sobre isso que vamos conversar um pouco agora.

AVC

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular. Ou seja, ocorre por um distúrbio do suprimento sanguíneo, seja por redução ou ausência de fluxo sanguíneo. Seu conceito inclui AVC isquêmico que representa o tipo mais comum, e ocorre por obstrução de um vaso que irriga o cérebro e AVC hemorrágico, causado por sangramento dentro ou ao redor do cérebro, o que também determina uma redução do fluxo sanguíneo naquele local.

AVC tem tratamento?

Nos últimos 25 anos o AVC passou de uma doença sem tratamento, em que assistíamos à evolução natural sem poder fazer qualquer intervenção, para uma situação médica com tratamento efetivo, em que se consegue mudar a evolução natural dessa doença catastrófica.

Entre os tratamentos disponíveis está a Trombólise Intravenosa e Trombectomia Mecânica, que tem como objetivo destruir o coágulo que impede o fluxo sanguíneo no cérebro. Esse tratamento é aplicável apenas aos pacientes com AVC do tipo isquêmico. Porém é essencial para isso que o paciente seja levado rapidamente para um hospital! O tempo para se iniciar o tratamento desde o início dos sintomas são 4.5 horas para a Trombólise Intravenosa e um tempo um pouco maior para a Trombectomia Mecânica. Antes de se iniciar esse tratamento, é necessário avaliar vários critérios para definir se o paciente com AVC poderá receber esse tratamento. E para isso o hospital deverá contar com uma equipe especializada no tratamento de AVC. Mas independentemente do tempo dos sintomas, todos pacientes deverão ser levados para o hospital. Existem outros cuidados, tanto para AVC isquêmico como para o AVC hemorrágico que tem como objetivo reduzir o tamanho da área de lesão cerebral e logo reduzir as sequelas que essa doença poderá determinar. Além disso, será durante a internação que se iniciará a reabilitação e os exames para entender qual a causa do AVC.

Reabilitação é essencial. O paciente com algum déficit após um AVC poderá melhorar em semanas a meses. Mas para isso, o trabalho da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia são fundamentais. E quanto antes iniciado a reabilitação, maiores as chances de recuperação.

É importante entender o AVC como consequência de alguma perturbação no fluxo sanguíneo cerebral. Definir a causa dessa alteração do fluxo sanguíneo através de exames complementares, incluindo estudo cardíaco e vascular, é essencial para ser planejado um tratamento eficaz e seguro, com objetivo de reduzir o risco de um novo episódio de AVC.

Quais os sintomas de AVC?

E já que falamos que AVC é uma condição comum, que tem tratamento eficaz e precisa ser reconhecido rapidamente, quais são os sinais e sintomas que o paciente apresenta quando está apresentando um AVC? São eles: perda de força ou sensibilidade em face, braço, perna – principalmente quando apenas de um lado do corpo; fala confusa ou inapropriada; distúrbio da visão; alteração da maneira de caminhar, desequilíbrio, prejuízo na coordenação motora ou vertigem; dor de cabeça de forte intensidade sendo todos esses sintomas de início agudo, ou seja, que se iniciaram em poucos segundos a minutos. Na presença de qualquer um desses sintomas, o SAMU deverá ser acionado pelo telefone 192. Aja rápido! Tempo é cérebro! Não fique em casa! Procure um hospital!

Como prevenir o AVC?

Porém, ainda mais importante que tratar o AVC, é prevenir que ele aconteça. Um grande estudo que aconteceu em 22 países, acompanhando paciente com e sem AVC, demonstrou que se pudéssemos corrigir os fatores de risco para o AVC, evitaríamos 90% dos casos de AVC. Entre essas intervenções que poderiam reduzir substancialmente os casos de AVC, está o controle adequado da Hipertensão Arterial, cessar tabagismo, promover atividade física e uma dieta saudável.

Também essencial é o acompanhamento médico regular para iniciar as intervenções citadas anteriormente quando necessárias e a realização de exames complementares com objetivo de reverter condições clínicas que aumentam o risco para AVC.

Referências:

Referência:

1 – https://www.world-stroke.org/;

2 – https://www.stroke.org/en/about-the-american-stroke-association/world-stroke-day;

3 – William J. Powers. Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke: 2019 Update to the 2018 Guidelines for the Early Management of Acute Ischemic Stroke: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association 2019.

01 ano de Clínica Rezende

Assista ao vídeo do Dr. Alexandre de Rezende, psiquiatra da Clínica Rezende, falando sobre o primeiro ano de trabalho da Clínica.

Assista ao vídeo do Dr. Alexandre de Rezende, psiquiatra da Clínica Rezende, falando sobre o primeiro ano de trabalho da Clínica: repleto de realizações, conquistas e desafios.

Tratamentos adequados, mais efetivos e para os mais diversos transtornos mentais, atendimento humanizado e equipe multidisciplinar.

Manejo psicológico de pacientes com ideação suicida

Diante de dados tão alarmantes, nós psicólogos devemos estar preparados para receber em nossos atendimentos clínicos pessoas que já tentaram e/ou pensaram sobre isso.

* Por Laís Pereira

Manejo psicológico de pacientes com ideação suicida.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde cerca de 1 milhão de pessoas cometem suicídio anualmente, estima-se que para cada suicídio ocorrido haja cerca de 20 tentativas. O suicídio encontra-se entre as 10 principais causas de morte em todo o mundo e a projeção para 2020 é de 1,5 milhões de mortes por autoextermínio.

Diante de dados tão alarmantes, nós psicólogos devemos estar preparados para receber em nossos atendimentos clínicos pessoas que já tentaram e/ou pensaram sobre isso.

Meu paciente pensa em se matar, o que fazer?

Podemos considerar que existem “estágios” no desenvolvimento da intenção suicida, iniciando-se, geralmente, com a imaginação ou a contemplação dessa ideia. Em seguida, ocorre o desenvolvimento de um plano de como se matar que pode ser implementado por meios de ensaios realísticos ou imaginários e por fim, a ação destrutiva concreta. Contudo, não podemos esquecer que o resultado de um ato suicida depende de uma variedade de fatores e nem sempre envolve um planejamento.

Em geral, paciente com ideação suicida apresentam algumas características, são elas:

Ambivalência: querem a morte e também querem viver. Isso acontece porque ao mesmo tempo em que há sofrimento psíquico há também outros fatores* na vida do indivíduo que o trazem satisfação e motivação para viver.

* Essa é a condição que nos permite trabalhar a prevenção do suicídio.

Impulsividade: como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas e normalmente são desencadeados por eventos negativos do dia-a-dia.

Rigidez/Constrição: os pensamentos passam a ser dicotômicos, do tipo tudo ou nada, ou seja, a pessoa tem seus pensamentos, sentimentos e comportamentos restritos ao suicídio, tendo boa parte do seu tempo tomado por esse funcionamento e restringindo a solução do que ocorre ao suicídio, não sendo capaz de perceber outras maneiras de solucionar o problema. São pensamentos rígidos e drásticos.

Sentimentos de depressão, desesperança, desamparo e desespero.

A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções, frequentemente dão sinais e fazem comentários sobre querer morrer, sentimento de não valer nada e etc. Esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados.

Diante disso, a primeira conduta terapêutica perante uma ideação suicida deve ser avaliar o risco da situação considerando os estágios e características citados acima. Quando o risco é alto, ou seja, o paciente apresenta desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída da situação que se encontra, tentativa de suicídio prévia, abuso/dependência de substâncias, tem um plano definido para se matar e meios para fazê-lo e já tomou providências para o ato como se despedir das pessoas e escrever cartas, é preciso agir de forma IMEDIATA de forma a manter a pessoa segura, muitas veze sendo necessária a internação. A segurança do paciente toma precedência sobre a confidencialidade e portanto, a quebra do sigilo profissional contatando familiares e amigos é necessária e prevista no Código de Ética Profissional do Psicólogo.

Quanto ao paciente é de suma importância acolher, ouvir e mostrar a ele que o setting terapêutico é um ambiente seguro, de confiança e não julgamento. As sessões devem ocorrer com menor espaço entre uma e outra quando o risco de suicídio for alto e também é aconselhável realizar contatos telefônicos entre as sessões. Uma vez em segurança, os objetivos terapêuticos passam a ser o desenvolvimento de um plano de segurança ou plano de crise junto com o paciente. Durante sua execução é dada atenção a identificação de situações (gatilhos) que costumam desencadear ideação suicida e as estratégias que podem ser desenvolvidas (coping) para enfrentá-los. Algumas estratégias estão associadas a maneiras de permanecer longe de objetos que possam ser usados para se autoagredir, atividades que costumam reduzir a ansiedade e desenvolvimento de uma lista de boas razões para continuar vivo. Dessa forma, o objetivo do tratamento e do plano de segurança será reduzir a impulsividade, diminuir a ambivalência valorizando o desejo pela vida e ampliar a percepção sobre os fatos através da flexibilização cognitiva e diminuição dos pensamentos dicotômicos.

A família do paciente

Por vezes, os familiares podem ficar assustados e resistentes às orientações dos profissionais por serem tomados por sentimentos contraditórios como: preocupação, medo, raiva, esperança, banalização, culpa, cansaço, entre outros. Por isso, o profissional deve adotar uma postura de apoio emocional e prático.

Ao mesmo tempo em que amigos e familiares se preocupam, eles podem se sentir muito desconfortáveis diante do comportamento do paciente. É normal a ambivalência também acontecer com eles, é normal não saber ao certo como agir e também dizer ou fazer algo e depois arrepender. É uma situação de crise que exige mudanças na rotina e cuidados intensivos, funções para as quais não estavam preparados e portanto, pode haver insegurança, cansaço e desgaste emocional. Dante disso,é importante que os familiares busquem suporte e procurem profissionais que poderão ajudá-los. Dessa forma, será possível compreender os pensamentos e sentimentos que os deixa apreensivos e confusos e buscar um entendimento mais realista e as melhores soluções possíveis. Além disso, é possível desenvolver melhor comunicação entre os familiares e destes com o paciente.

Toda essa comunicação entre profissionais e familiares e amigos é feita com o intuito de se criar uma rede de proteção, por isso, ela não acontece apenas com pacientes menores de idade. Caso o paciente não concorde com essa proposta, ainda assim o contato deve ser realizado e o risco de suicídio deve ser exposto.

É necessários que as informações sejam objetivas e claras, sem eufemismos sobre o risco de suicídio e é importante ressaltar que nessa comunicação o psicólogo deve ter muito tato no repasse das informações e ao responder possíveis questionamentos dos familiares e amigos pois a intimidade do paciente deve ser preservada. Por fim, é necessário que a família e amigos estabeleçam um ambiente de compreensão e apoio que esteja pronto para a ação caso seja necessário.

Todos os esforços vão em direção da prevenção pois a vida vale muito.

Referências:

Botega, J. N. (2015) Crise Suicida Avaliação e Manejo.

Conselho Federal de Psicologia (2005) Código de Ética Profissional do Psicólogo.

Organização Mundial de Saúde (2004) El suicidio, un problema de salud pública enorme y sin embargo prevenible, según la OMS. Recuperado em: https://www.who.int/mediacentre/news/releases/2004/pr61/es/

Setembro Amarelo e prevenção do suicídio

O suicido é um sério problema de saúde pública, dessa forma a prevenção não é uma tarefa fácil. Uma estratégia nacional de prevenção vem sendo organizada no Brasil desde 2015, nomeada de Setembro Amarelo…

* Por Fabrício de Oliveira

O suicido é um sério problema de saúde pública, dessa forma a prevenção não é uma tarefa fácil. Uma estratégia nacional de prevenção vem sendo organizada no Brasil desde 2015, nomeada de Setembro Amarelo.

  • De acordo com dados do Ministério da Saúde, no mundo, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos. Um indivíduo em sofrimento dá alguns sinais e seus familiares ou pessoas próximas devem estar atentos, pois isso pode ser o primeiro e o mais importante passo. Além disso, é importante sabermos que existe ajuda disponível e extremamente necessária nesse caso.
  • Os sinais dados pelas pessoas que sofrem não devem ser interpretados como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real. Por isso, é muito importante ser compreensivo, além de estar disposto a conversar e escutar a pessoa sobre o porquê de tal comportamento, criando um ambiente tranquilo, sem julgar a pessoa afetada.
  • Conversar abertamente com a pessoa sobre seus pensamentos suicidas não a influenciará a completá-los. Ao falar sobre esse assunto, você pode descobrir como ajudá-la a suportar sentimentos muitas vezes angustiantes e incentivá-la a procurar apoio profissional.

Alguns sinais importantes que a pessoa com risco suicida apresenta:

  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança.
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas.
  • Se isolam ainda mais.

Alguns fatores de risco para o suicídio

Transtornos mentais (em participação decrescente nos casos de suicídio):

  • transtornos do humor (ex.: depressão);
  • transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas (ex.: alcoolismo);
  • transtornos de personalidade (principalmente borderline, narcisista e anti-social);
  • esquizofrenia;
  • transtornos de ansiedade;
  • comorbidade potencializa riscos (ex.: alcoolismo + depressão).

Sociodemográficos:

  • sexo masculino;
  • faixas etárias entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos;
  • estratos econômicos extremos;
  • residentes em áreas urbanas;
  • desempregados (principalmente perda recente do emprego);
  • aposentados;
  • isolamento social;
  • solteiros ou separados;

Condições clínicas incapacitantes:

  • doenças orgânicas incapacitantes;
  • dor crônica;
  • lesões desfigurantes perenes;
  • epilepsia;
  • trauma medular;
  • neoplasias malignas;

Atenção! Os principais fatores de risco para o suicídio são:

  • história de tentativa de suicídio;
  • transtorno mental (principalmente: transtorno afetivo bipolar, depressão grave, esquizofrenia, transtorno de personalidade e dependência química).

DIANTE DE UMA PESSOA SOB RISCO DE SUICÍDIO, O QUE SE DEVE FAZER:

  • Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento.
  • Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.
  • Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.
  • Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.
  • Reconheça o suicídio como uma escolha, mas não a aceite como uma escolha “normal”.

DIANTE DE UMA PESSOA SOB RISCO DE SUICÍDIO, O QUE NÃO SE DEVE FAZER:

Não condenar/ julgar:

  • “Isso é covardia.”
  • “É loucura.”
  • “É fraqueza.”

 Não banalizar:

  • “É por isso que quer morrer? Já passei por coisas bem piores e não me matei.”

Não opinar:

  • “Você quer chamar a atenção.”
  • “Te falta Deus.”
  • “Isso é falta de vergonha na cara.”

Não dar sermão:

  • “Tantas pessoas com problemas mais sérios que o seu, siga em frente.”

Não falar simplesmente frases de incentivo vazias:

  • “Levanta a cabeça, deixa disso.”
  • “Pense positivo.”
  • “A vida é boa.”

Onde buscar ajuda:

  • Serviços de Saúde:

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

  • Emergência Emergência:

SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.

  • Centro de Valorização da Vida:

CVV 181 (ligação gratuita) ou www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail para falar com os voluntários que dão suporte emocional e prevenção do suicídio a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo 24 horas todos os dias.

  • Profissionais de saúde mental de sua confiança.

Entrevista Motivacional

A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Clique para ler mais.

* Por Alexandre de Rezende

Entrevista motivacional

As pessoas mudam de várias maneiras e por inúmeros motivos. Assim começa o prefácio do livro “Entrevista motivacional – Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos”, dos autores Miller e Rollnick. A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Ou seja, a Entrevista Motivacional é uma abordagem criada para ajudar o paciente a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar.

Esse modelo foi desenvolvido pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick na década de 1990, inicialmente para o aconselhamento relacionado ao uso e abuso de álcool e outras drogas, mas atualmente tem sido utilizado no contexto de diversas doenças crônicas. O grande objetivo dessa abordagem é evocar as motivações internas do paciente para promover as mudanças comportamentais de acordo com os interesses que ele tem na melhoria de sua saúde.

Alguns conceitos são primordiais na Entrevista Motivacional: motivação, prontidão para a mudança e ambivalência.

A motivação é um estado de prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Essa condição também pode ser influenciada por fatores externos ou até mesmo por outras pessoas.

Já a ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e opostos em relação à mudança é considerada normal. A força é maior quando um paciente quer mudar, não só para evitar as consequências do comportamento prejudicial, mas também quando encara a mudança como um caminho para alcançar uma vida melhor, mais prazerosa, longa e saudável. Evocar no paciente emoções positivas, como esperança, amor e alegria, e cognições, como autoeficácia e aceitação, tendem a ampliar suas possibilidades pessoais de considerar e experimentar a mudança. Assim sendo, a entrevista motivacional pretende ajudar o indivíduo a resolver essa ambivalência e colocar a pessoa em movimento no caminho para a mudança.

Os psicólogos James Prochaska e Carlo Di Clemente (1982) descreveram uma série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modificação de um problema.

Estágios

Pré-contemplação: a pessoa não está considerando a possibilidade de mudança, porque nem sequer identificou ter um problema.

O que fazer? Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamental atual.

Contemplação: a pessoa pensa na possibilidade de mudar seu comportamento. Mas esse período é caracterizado pela ambivalência, o indivíduo fica dividido entre os motivos de preocupação e as razões para manutenção daquele comportamento.

O que fazer? “Inclinar a balança” – evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar.

Preparação para a ação: a pessoa desenvolve um plano ou estratégias para a mudança de comportamento. Esse período é como uma janela que se abre para a oportunidade de mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança.

Ação: a pessoa se engaja em ações específicas para chegar a uma mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança.

Manutenção: a pessoa tem o desafio de manter a mudança obtida e evitar a recaída, isto é, o retorno ao comportamento anterior. A manutenção de uma mudança pode exigir um conjunto de habilidades diferentes das que foram primeiramente necessárias para a obtenção da mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a identificar e a utilizar estratégias de prevenção de recaída.

Como já dito, a Entrevista Motivacional enfatiza a motivação do paciente para o processo necessário de mudança e entende que o estilo do terapeuta tem um papel fundamental. Assim sendo, a essência da Entrevista Motivacional implica na presença de três atitudes preponderantes do profissional da saúde em relação com paciente: colaboração, evocação e respeito pela autonomia do indivíduo. O profissional deve ser unir a seu paciente, formando uma equipe, e gentilmente oferecer e compartilhar sua experiência, e em parceria com ele, explorar e resolver a ambivalência. A responsabilidade pela mudança é deixada para o paciente.

A Entrevista Emocional é composta por 5 princípios gerais:

  1. expressar empatia

A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de aceitação. Isso significa acolher, aceitar e entender o que o paciente diz, sem fazer julgamentos a seu respeito.

  1. desenvolver discrepância

Mostrar para o paciente a discrepância entre o seu comportamento, suas metas pessoais e o que pensa que deveria fazer para atingir essa meta.

  1. 3. evitar a confrontação

Abordagens de confronto tornam o paciente resistente à intervenção.

  1. lidar com a resistência do paciente

Se a ambivalência e a resistência para a mudança de comportamento podem ser consideradas normais, a atitude do profissional deve ser no sentido de levar o paciente a considerar novas informações e alternativas.

  1. fortalecer a autoeficácia do paciente

Autoeficácia refere-se à crença de uma pessoa em sua capacidade de realizar e de ter sucesso em uma tarefa específica.

 

Referências bibliográficas:

FIGLIE, N.B.; SALES, C. Capítulo 23 – Entrevista Motivacional. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

MICHELI, D.; FORMIGONI, M.L.O.S.; CARNEIRO, A.P.L Capítulo 2 – Como motivar usuários de risco. In: SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. SUPERA: Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. Intervenção Breve: módulo 4. – 11 ed. – Brasília, 2017.

MILLER, W.R.; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

Automedicação e seus riscos

A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de uma pessoa, ou de seu responsável…

* Por Fernanda Rezende

A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de uma pessoa, ou de seu responsável, em obter e utilizar um produto que acredita lhe trazer benefícios no tratamento de uma doença ou alívio de sintomas. Assim, a orientação médica é substituída inadvertidamente por sugestões de medicamentos provenientes de pessoas não autorizadas, entre estas, familiares, amigos ou balconistas em farmácias. Outra forma de automedicação seria a reutilização de receitas.

As razões pelas quais as pessoas se automedicam são inúmeras. A propaganda desenfreada e massiva de determinados medicamentos contrasta com as tímidas campanhas que tentam esclarecer os perigos da automedicação. A dificuldade e o custo de se conseguir uma opinião médica, a limitação do poder prescritivo, restrito a poucos profissionais de saúde, o desespero e a angústia desencadeados por sintomas ou pela possibilidade de adquirir uma doença; o acesso a algumas informações pela internet ou outros meios de comunicação, a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de programas educativos sobre os efeitos muitas vezes irreparáveis da automedicação, são alguns dos motivos que levam as pessoas a utilizarem medicamentos mais próximos.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em todo o mundo, mais de 50% de todos os medicamentos receitados são dispensados ou vendidos de forma inadequada. Cerca de um terço da população mundial tem carência no acesso a remédios essenciais e metade dos pacientes tomam medicamentos de forma inadequada (1). No Brasil, a prevalência de automedicação na população adulta em alguns estudos de boa qualidade metodológica foi de 35% (2). Aproximadamente, um terço das hospitalizações no Brasil se devem ao uso incorreto de medicamentos (3).

Os riscos da automedicação para o indivíduo são o atraso no diagnóstico ou o diagnóstico incorreto, devido ao mascaramento dos sintomas, possibilitando o agravamento do problema, a escolha do medicamento inadequado, a administração incorreta, dosagem inadequada e uso excessivamente curto ou prolongado da medicação, a dependência, reações alérgicas e intoxicações. Além do impacto sobre a vida humana, as reações adversas a medicamentos também influenciam significativamente nos custos despendidos com saúde.

Em uma sociedade, os hábitos de consumo de medicamentos podem ser afetados positivamente pelas políticas nacionais quando promovem a regulamentação do suprimento e a disponibilização racional de medicamentos essenciais, pressupondo o acesso ao diagnóstico e prescrição por profissionais habilitados. Por outro lado, o consumo pode ser influenciado negativamente pelo acesso sem barreiras e pela promoção e publicidade de medicamentos, que muitas vezes estimulam a utilização desnecessária e irracional. Os governos precisam conhecer as razões e as formas de uso irracional de medicamentos, é necessário ter informações específicas para verificar a magnitude desse problema, identificar estratégias e monitorar o impacto das possíveis intervenções.

Não há como acabar com a automedicação, talvez pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Há, contudo, meios para minimizá-la. Programas de orientação para profissionais de saúde, balconistas e população em geral, além do estímulo a fiscalização apropriada, são fundamentais nessa situação.

Medicamentos Psicotrópicos

Os medicamentos psicotrópicos têm como principal objetivo o tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, contudo, são prescritos e utilizados para as mais diversas situações. O uso exacerbado desses medicamentos é um fato na sociedade atual, gerando preocupação entre as autoridades de saúde, pois é sabido que a utilização prolongada dos psicofármacos, além de efeitos colaterais indesejáveis, alguns podem provocar dependência química e geram dificuldades quanto ao término do tratamento.

Segundo informações obtidas no Relatório do Departamento Internacional de Controle de Narcóticos, da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar do grande número de pessoas em sofrimento psíquico, o uso de medicamentos controlados e específicos vem aumentando consideravelmente.

A sociedade atual apresenta características diferenciadas e estas trazem implicações variadas sobre os sujeitos. O ritmo de vida acelerado, as cobranças por produtividade, a necessidade de demostrar felicidade e bem-estar a todo custo, o imediatismo que permeia as relações, a rapidez de acesso às informações, o desenvolvimento científico; enfim, este conjunto de fatores pode levar os sujeitos à busca por soluções rápidas e práticas aos problemas decorrentes dessa realidade.

Por todo o exposto, concluímos que a automedicação é um grande risco para a nossa saúde! Assim sendo, devemos sempre buscar a orientação de profissionais habilitados para realizar o diagnóstico e propor o melhor tratamento. No caso da saúde mental, essas intervenções passam pelo uso de medicações, mas certamente deve incluir outras condutas, podendo-se citar a realização de atividade física e, sobretudo, o acompanhamento psicoterápico. Em relação aos psicotrópicos, o uso consciente e sob orientação correta trará benefícios, tais como a melhora na qualidade de vida, sem representar um dano para os pacientes.

Referências Bibliográficas

  1. Wannmacher L. Condutas baseadas em evidências sobre medicamentos utilizados em atenção primária à saúde. Uso racional de medicamentos. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012. p. 9-14.
  2. Domingues MG et al. Prevalence of self-medication in the adult population of Brazil: a systematic review. Rev. Saúde Pública. 2015; 49:36.
  3. Aquino D. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Cienc Saúde Coletiva. 2008; 13 (suppl):733-6.

Saúde Mental no contexto interdisciplinar

Texto pelo psiquiatra Dr. Fabrício de Oliveira.

* Por Dr. Fabrício de Oliveira

Saúde Mental no contexto interdisciplinar

Falar que os transtornos mentais são patologias muito freqüentes não é novidade. Várias projeções do aumento do número desses casos já são discutidos amplamente, havendo aqueles que defendam que a pandemia de doenças mentais será maior e mais duradoura do que a própria pandemia causado pelo novo corona vírus. Dentro deste contexto o valor do trabalho interdisciplinar nunca esteve tão evidente.

Por conta da Reforma Psiquiátrica potencializada pelo atual contexto global, ocorre gradualmente uma profunda transformação no eixo do tratamento das doenças mentais.

Os psiquiatras, até então, intensamente isolados em suas práticas passaram a se integrar com outros profissionais da saúde. Um argumento simples para sustentar tal mudança é o inequívoco fato que as informações colhidas com um profissional que tenha maior contato com o paciente pode mudar toda uma forma de perceber a situação e possibilitar enxergar integralmente o paciente.  A comunicação com outros profissionais (por exemplo, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos entre outros) é importantíssima e desloca a centralização do cuidado da doença para o processo de adoecer e para a pessoa doente.

PLANEJAMENTO DE TRATAMENTO

O modelo de interconsulta psiquiátrica na qual o profissional atua de forma mais episódica e mais reducionista está perdendo espaço. Além disso, desse profissional é exigido não só a capacidade de dialogar com a equipe de saúde, mas também é necessário saber de forma mais consistente o que o sistema de saúde e a equipe podem oferecer para elaboração de um planejamento de tratamento. Não podemos nos esquecer da realidade de cada local e de cada indivíduo, sempre de forma empática.  As limitações do nosso sistema de saúde batem às portas de todos.

Citarei alguns serviços essenciais oferecidos por alguns profissionais a seguir. A psicologia da saúde pode promover a saúde no três níveis de intervenção (primário, secundário e terciário). As intervenções podem ser voltadas ao paciente em si, bem como no manejo da equipe com relação à pessoa que está recebendo o tratamento.

O TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Através da atuação do psicólogo o plano terapêutico de outras áreas poderá ser colocado em prática. Esse profissional pode promover “a tradução” e compreensão dos procedimentos aplicados. Já a atuação do serviço social possui seus desafios próprios. Não é raro encontrar quem, ainda hoje, associe a profissão à ajuda ou caridade.

De forma bem simplificada, o serviço social é a profissão que lida com pessoas, em especial, com as dificuldades por elas apresentadas em relação à vida e à sobrevivência. Realiza a mediação com outros profissionais, serviços e equipamentos sociais e diferentes políticas públicas. Sabe-se que muitos quadros de saúde mental são intensificados por conta de condições sociais. Dessa forma, seu trabalho é imprescindível.

O enfermeiro é o profissional que mais tempo permanece com o paciente e a família, sendo o agente principal para estabelecer limites e orientá-los com relação aos seus direitos e responsabilidade relativas ao tratamento. Os terapeutas ocupacionais podem atuar em diversos níveis do tratamento (prevenção, tratamento, reabilitação, promoção de saúde e inclusão social). Com um acompanhamento adequado, poderá avaliar e/ou melhorar as atividades funcionais dos pacientes como as atividades básicas de vida diária (ABVD) e as atividades instrumentais da vida diária (AIVD).

O papel da nutrição nos Transtornos Alimentares

Quando falamos sobre o papel da nutrição nos transtornos alimentares, precisamos primeiro pensar sobre os principais gatilhos que levam uma pessoas desenvolver esse tipo de transtorno.

*Por Anelisa Rezende

O papel da nutrição nos Transtornos Alimentares

Quando falamos sobre o papel da nutrição nos transtornos alimentares, precisamos primeiro pensar sobre os principais gatilhos que levam uma pessoas desenvolver esse tipo de transtorno.

Sabemos que “nem toda dieta resulta em transtorno alimentar, mas quase todo transtorno alimentar começa com uma dieta.”(1)  Isso porque a “a alimentação é o principal fator ambiental na modulação da expressão gênica.”(2)

O PAPEL DAS NUTRICIONISTAS

Sendo assim, nós precisamos entender que nós nutricionistas podemos ser responsáveis pelo surgimento de um transtorno alimentar dependendo do tipo de alimentação que sugerimos aos pacientes, pois não saberemos quem tem ou não genética para tal. Por isso, é muito importante entender que dietas restritivas, julgamentos sobre corpos e escolhas alimentares, pressões sobre resultados devem ser substituídos por mais acolhimento, incentivo à autoaceitação, autocuidado de maneira gentil, autoconhecimento e consciência! Atitudes como essa podem prevenir e auxiliar no tratamento, que deve ser multidisciplinar, de transtornos alimentares. Isso ocorre porque o acompanhando passa a contar com a verdade, algo muito raro em consultas nutricionais, ainda mais quando há algum tipo de Transtorno Alimentar envolvido!

Muitas vezes as pessoas têm vergonha de contar sobre episódios compulsivos e ou purgativos, sobre as horas que ficou sem se alimentar, sobre o que comeu, etc! Por isso, quando saímos do papel de julgadores e assumimos o papel de acolhimento, a verdade surge e os resultados começam a aparecer, como a diminuição de restrições alimentares (seja em relação a grupos alimentares ou a quantidades ingeridas), a diminuição de episódios compulsivos e/ou purgativos, a diminuição da frequência de pesagens em casa, o reequilibro de excessos de atividades físicas, diminuição de horas em jejum, etc.

É importante dizer que o processo é no tempo de cada pessoa, pois tudo irá depender da história e contexto que cada uma está inserida. Então paciência e amor no processo são fundamentais para que haja envolvimento e tranquilidade nessa construção.

Referências bibliográficas:

1. Hilbert A, Pike KM, Goldshmidt AB et al. Risk factors across the Eating Disorders. Psychiatry Res. 2014 Dec 15; 220 (1-2): 500-6.
2. Ordovas JM & Corella D. Nutritional genomics. Annu Rev Genomic Hum Genet. 2004; 5:71-118.

Relato de um Transtorno de Compulsão Alimentar

Primeiro relato de uma paciente com TCAP para a campanha do Mês de Conscientização dos Transtornos Alimentares da Clínica Rezende.

Relato de um Transtorno de Compulsão Alimentar, Paciente F, do sexo feminino, 44 anos.

Eu já tinha o TCAP (Transtorno de Compulsão Alimentar Periódico) há muitos anos, com episódios diários e bem descontrolados. Comia todos os dias, por um período de aproximadamente 2 horas, sempre à noite, 4 pães de sal recheados de presunto e muçarela, pacotes de biscoito recheado e 3 ou 4 barras de chocolate de 200g. Diariamente, sem parar, só parava quando já não conseguia mais, de forma totalmente descontrolada. Mas não sabia que era uma patologia, que aquilo era um distúrbio… Para mim era uma compensação da rotina extremamente intensa de desgaste energético pela minha antiga atuação profissional (eu era professora de educação física, com maior atuação em atividades coletivas nas academias de ginástica). Me alimentava pouco durante o dia para o dispêndio energético que tinha. Só comecei a me dar conta de que havia algo realmente errado quando parei de dar aulas por mudar de profissão e tudo começou a degringolar.

Comia cada vez mais, descontroladamente, e sempre mantendo aquele ritual. A vergonha de mim mesma, tanto por comer daquela forma e pelas mudanças no meu corpo, foi tomando proporções gigantes, sem tamanho mesmo, e não queria mais me expor, ver ninguém, que ninguém me visse, uma tristeza enorme me consumia, e tudo foi só crescendo. Não saía mais, não parava de chorar, perdi contato até com a família. Não conseguia me controlar, em nenhum momento, e essa sensação de impotência diante de mim mesma, da minha mente, me fazia acreditar que nada fazia mais sentido, que não havia saída, que minha vida seria aquela dali para a frente. E diante disso, não havia mais razão para viver, já que tudo que eu amava fazer e ser eu não podia mais (a gente acha mesmo que não pode mais…).  Cheguei a esse ponto para resolver procurar ajuda. E isso só aconteceu mesmo por desespero da minha mãe, que não aceitava ver a filha se definhando.

Primeiro procurei uma psicóloga. Fui a 4. Por orientação, desde a primeira psicóloga, procurei um psiquiatra, também foram 4. E a cada tentativa, os anos se passavam e eu ia desanimando cada vez mais. Me sentia cada vez mais impotente, triste, e a depressão veio muito forte, muito mesmo.

Mas foi essencial insistir. Porque esses profissionais conseguem mostrar para a gente outras direções. Ficamos tão doentes, vivendo tanto só o nosso problema, que só conseguimos enxergar isso! Só vemos o problema! O (a) psicólogo (a) abre seus horizontes e você começa a conseguir enxergar alguma possibilidade… O remédio do psiquiatra lhe auxilia a sair do buraco, é uma bengala, infelizmente necessária. Sozinhos não temos força para enfrentar.

Tentei a nutricionista no começo, mas não foi legal… a gente não tem força para mudanças, abrir mão daquilo que nos dá tanto prazer, que a gente sente que não consegue viver sem… Só depois de estar mais forte, consciente, é que dá para começar uma reeducação alimentar. Antes disso me gerou frustração, agonia por não conseguir, e sensação de incapacidade.

É tão difícil explicar de forma que as pessoas entendam essa relação com a comida… É tão doentia essa relação! Ao mesmo tempo em que aquela comida, aquele horário, aquele tempo, aquele momento, é onde tenho o maior prazer na minha vida, que não troco por nada, que sou capaz de brigar, que passo por cima de qualquer coisa ou pessoa, é também meu maior pesadelo, minha maior tristeza, onde meu sentimento de culpa não cabe dentro de mim, que faz com que eu acredite que não sirvo mais para essa vida… Muito doentio mesmo. E para cuidar disso, tratar, não é de uma hora para outra! Não mesmo! Digo, inclusive, que é para o resto da vida!

Hoje, depois de anos em tratamento, de muito ouvir e aprender, sei do tamanho do meu “oponente”… Respeito demais, e não passo um dia sem ter medo de recair. É uma luta para o resto da vida. É como o tratamento do alcoólatra, do dependente químico. Um dia após o outro mesmo. E se hoje não deu, depois do tratamento, sei que o amanhã eu posso fazer diferente! E assim vamos seguindo!

A sensação de cair é horrível. Horrível. Mas a gente conseguir levantar, dar pequenos passos, fazer nossos enfrentamentos, ter pequenas vitórias (as mais simples e comuns aos olhos das outras pessoas), olha, isso não tem preço!

Me encontro ainda em evolução e em consciente eterno enfrentamento, porque sei do tamanho e poder desse distúrbio… Não dá para brincar. Controlo muito mais hoje! De segunda a sexta não como NADA de alimentos recreativos, nada! Me provo realmente… Certo? Não… longe de ser meu ideal! O que mais queria (quero) é levar de boa, de forma equilibrada, essa rotina alimentar, assim como aprendi com as meninas do Alimente. Alimentação consciente! Mas meu pânico em voltar a fazer o que fazia antes ao colocar um pedaço de chocolate na boca… não me permite ainda tentar. Aos domingos a compulsão impera. Descontroladamente. E não é por conta da restrição da semana. Eu tinha “domingos” diariamente. Então para mim, para minha realidade, um domingo por semana por enquanto é mais uma vitória.

Para aquelas pessoas que também passam por situação parecida, digo que procure ajuda o quanto antes… quanto antes melhor! Tente não se preocupar com o corpo, em perder peso no começo… porque isso é consequência. O mais importante é tentar diminuir, o quanto puder, os episódios compulsivos… passar de sete dias por semana para seis por semana é ótimo! De seis para cinco, lindo! E assim vai indo! Tenha fé, faça alguma atividade física. É o tripé. Ajuda profissional, ter uma religião (acreditar em algo) e liberação de endorfina, serotonina. Vibre, muito, com pequenas vitórias! Não se culpe, por NADA! Não diminua ou deixe que diminuam o seu problema. Cada um tem um ou vários, esse é o seu, e você não está dando conta de resolver sozinha! E viver, estar aqui, é uma dádiva! Somos abençoados! Temos tanto a agradecer… honre essa dádiva! Lute, lute muito, porque vale a pena demais…

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e outras informações

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e outras informações. Saiba o que é TOC e também como atua no cenário de pandemia que estamos vivendo.

* Por Fabrício de Oliveira

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e outras informações. Vocês já ouviram falar sobre o assunto?

No atual contexto global, o medo de contaminação do novo coronavírus está de forma geral presente. Além de ameaçar nossa integridade física, a pandemia ameaça a nossa saúde emocional. Distinguir o sofrimento normal do sofrimento patológico se mostra ainda mais desafiador. Este texto vem como uma tentativa de ajudar nessa distinção.

TOC EM TEMPOS DE PANDEMIA

Atualmente uma pessoa pode passar grande parte do dia se preocupando com limpeza (pessoal e do ambiente) e se perguntar “Tenho TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) por limpeza?”. Entende-se como habitual pensar que é uma boa prática lavar as mãos ao chegar em casa. Isso é bem diferente de lavar as mãos inúmeras vezes e perder o controle de tal ato, de modo que persista no mesmo, apesar de já possuir ferimentos na pele decorrentes desse excesso.

Levando-se em conta a pandemia, talvez seja oportuno estarmos atentos ao conceito de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), pois nele os pensamentos intrusivos/obsessivos possuem espaço especial, sendo a obsessão de contaminação e sujeira um conteúdo característico. Outro grupo de sintomas refere-se aos rituais de limpeza e lavagem.

O QUE É TOC

Acho útil esclarecer o termo TOC. Trata-se de um transtorno neuropsiquiátrico que tem como principais características as obsessões e as compulsões. Compulsões são comportamentos repetitivos intencionais, geralmente em resposta a uma obsessão. Obsessões são eventos mentais (como pensamentos e imagens) que se apresentam de forma repetitiva ou persistente que vem à consciência contra a vontade do indivíduo.

É importante para o profissional de saúde mental fazer distinções para estabelecer o diagnóstico correto e consequentemente o tratamento correto. No entanto, a distinção do TOC entre outros transtornos (transtorno de ansiedade, do impulso, entre outros) pode ser complicada. Ainda, é muito comum a presença de mais de um transtorno ao mesmo tempo, ou seja, sintomas ansiosos e depressivos podem estar associados aos sintomas obsessivos compulsivos. As informações para a distinção entre patologias são importantes, mas mais importante é tentar entender o sofrimento emocional de uma forma integral e contextualizada. Diferentes indivíduos podem apresentar diferentes respostas a determinadas situações de estresses, indo da indiferença total ao medo incapacitante.

MEDO DE CONTAMINAÇÃO DENTRO E FORA DO TOC

Quais as diferenças entre o medo de contaminação dentro do TOC e o medo da contaminação fora do TOC? Vale ressaltar que nos dois casos citados o sofrimento emocional  pode ser intenso e talvez o mais importante seja saber quando procurar ajuda profissional.

Dentre o leque de ajuda estão os profissionais de saúde mental, sendo que a utilização de recursos terapêuticos (farmacológicos ou não farmacológicos) pode ser de grande valia.

Frequentemente ouvimos a seguinte frase: “A informação é o melhor remédio”. Acredito que uma informação colhida com um bom profissional possa ser um remédio mais seguro.