Um novo ano, folhas em branco pela frente.

Caso você pudesse escolher, reconhecendo com gentileza tudo o que representa o seu ontem, como você gostaria de escrever o seu dia de amanhã?

* Por Dr. Leonardo Martins

Um novo ano, folhas em branco pela frente.

Caso você pudesse escolher, reconhecendo com gentileza tudo o que representa o seu ontem, como você gostaria de escrever hoje o seu dia de amanhã? O que lhe impede neste momento de seguir na direção daquilo que de fato importa em sua vida?

Janeiro Branco

Neste mês ocorre uma das principais campanhas de conscientização sobre saúde mental no Brasil. Os seus idealizadores nomearam esse movimento como “Janeiro Branco”, inspirados por outras campanhas, tal como o “Outubro Rosa” em que o tema é a conscientização sobre o câncer de mama.
A escolha exata do mês e da cor branca faz referência a sensação que alguns de nós temos ao começarmos um ano novo. Em janeiro temos pela frente todos os demais dias do ano em branco. Diante desta imagem, ao pensarmos nos dias que virão como folhas de papel em branco, é natural que surja o desejo de escrevermos nas próximas páginas uma nova história. Resoluções de ano novo, promessas de mudança, o compromisso com novos sonhos ou mesmo a retomada do que deixamos para traz são temas comuns nesse âmbito.

Todo o tipo de esperança pode emergir quando percebemos que nossa história ainda está por ser escrita. Quando esta está conectada de forma íntima e sincera com tudo aquilo que de fato nos importa, daqui muitas vezes emerge o próprio sentido para vida. Geralmente, guardamos aqui o que não abrimos mão mesmo no contexto das maiores adversidades, as coisas ou modos de viver pelos quais nós lutaríamos nossas maiores batalhas. Seguir na direção do que importa e daquilo que nos traz sentido produz um movimento que nos dá geralmente a sensação de vivermos uma vida que vale a pena ser vivida.

É fato que o momento e o contexto em que vivemos impacta sobremaneira a chance de termos esperança e de seguirmos na direção de dias melhores. Diversos fatores são importantes para que isso ocorra de modo natural e alguns deles podem estar ausentes ou mesmo depender de coisas que não estão no nosso controle. Ainda assim, temos o direito de escolher a maneira como desejamos passar pela vida, como lidamos com aquilo que está fora do nosso controle e como lidamos com aquilo que está em nossas mãos. Fazer esse movimento, ainda que na adversidade, nos faz seguir por uma jornada em direção à uma vida valorada e com sentido. Folhas em branco, escritas com a tinta do que importa, passam a versar hoje sobre a vida que buscaremos viver hoje e que fala do que buscamos para amanhã. Saúde mental, neste sentido, não fala sobre um estado interno individual, mas sim da nossa potência como indivíduos e sociedade de aprendermos como nosso passado e de assim nos movimentarmos no presente em direção aos dias que gostaríamos de viver no futuro. Não é raro que o oposto à saúde mental represente justamente a repetição do ontem, o medo do amanhã que nos paralisa ou mesmo a sensação de estarmos presos em uma história ou modo de viver que já não nos cabe mais.

A campanha “Janeiro Branco” nos lembra que independente da história que vivemos, temos hoje um amanhã em branco pela frente; e que este pode ser preenchido por uma vida possa valer a pena ser vivida. O “Janeiro Branco” nos alerta sobretudo de que quando esse movimento não nos é possível, talvez seja a hora de não só pensarmos sobre isso, mas hora de insistirmos em seguir por uma nova direção, como indivíduos ou sociedade, e com a devida ajuda caso necessário for.