Crianças agitadas e desatentas: nem sempre é TDAH!

Psicóloga explica os comportamentos que podem ser associados ao transtorno e alerta sobre os cuidados para evitar diagnósticos equivocados.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Ana Carolina Arantes, Psicóloga infantil.

Crianças agitadas e desatentas: nem sempre é TDAH!

Psicóloga explica os comportamentos que podem ser associados ao transtorno e alerta sobre os cuidados para evitar diagnósticos equivocados.

Inquietude, impulsividade e desatenção, esses são alguns dos sintomas que podem indicar o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), condição neurobiológica que acomete entre 5% a 8% da população mundial, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA. O transtorno ganhou visibilidade por meio das redes sociais, que ampliaram o debate acerca dos sintomas e tratamento, mas também acenderam um alerta em relação à complexidade do seu diagnóstico. Ana Carolina Arantes, Psicóloga da Clínica Rezende e Especialista em Saúde Mental da criança e do adolescente, reforça que não se deve acreditar em qualquer informação disponível no meio digital e que apenas um profissional especializado é capaz de identificar o TDAH com propriedade.

“Nem toda agitação e desatenção é TDAH. Esses comportamentos podem representar uma série de questões do desenvolvimento infantil e precisam ser avaliadas com cuidado. Qualidade do sono, ambiente familiar e metodologia escolar são exemplos de algumas dimensões a serem observadas”. Ana Carolina Arantes ressalta a importância de avaliar o contexto em que a criança está inserida antes de atribuir uma atitude ao transtorno. “O comportamento arteiro muitas vezes é a demonstração de que algum elemento no meio em que ela vive não está atendendo às suas demandas, como por exemplo, a necessidade de expressar suas emoções”.

A especialista destaca ainda que outros transtornos de ordem mental, como os transtornos de ansiedade, incluindo o do estresse pós-traumático e os de humor, como a depressão, podem apresentar sintomas semelhantes ao do TDAH e por isso devem ser descartados por um psicólogo/psiquiatra especialista em infância. Há também condições médicas que merecem avaliação para diagnóstico diferencial como transtornos do sono, epilepsia, síndromes genéticas, deficiência de ferro e vitaminas e mau funcionamento da tireoide, pois essas condições também podem gerar sinais parecidos com os do TDAH. “O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico, não há exames. É preciso uma equipe de saúde mental especializada para investigar o histórico médico, psicológico, comportamental e cognitivo da criança a fim de detectar a origem dos sintomas de agitação/impulsividade e/ou desatenção”.

Ana Carolina também chama a atenção para a ampla oferta de informações sobre o transtorno que estão disponíveis na internet. “Uma pesquisa recente mostrou que grande parte dos conteúdos são feitos por profissionais que não são especializados em saúde mental, então, eles acabam generalizando conceitos e passando informações erradas para as pessoas”. Ela recomenda verificar se quem está falando sobre TDAH é verdadeiramente um profissional de saúde atuante e se este está registrado junto ao conselho de sua categoria.

É possível prevenir o TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade apresenta um importante componente genético que faz com que filhos de pai ou mãe com essa condição tenham uma maior predisposição a manifestá-la. Porém, a especialista conta que o transtorno se desenvolve a partir da interação entre genética e ambiente, sendo assim, é possível aumentar os fatores de proteção à criança, tomando, entre outras, as providências a seguir:

  • Monitoramento positivo dos pais e demais cuidadores que acompanham e supervisionam as atividades dos filhos, inclusive as escolares;
  • Estimulação diária do brincar em diferentes dimensões (imaginativo, jogos de “minha vez e sua vez”, brincadeiras de corpo inteiro, brincadeiras sensoriais, etc.);
  • Alimentação balanceada e um sono de qualidade;
  • Escolha de uma escola respeitosa às características do seu filho(a);
  • Estabelecimento de limites realistas e estilo parental não punitivo (focado no apoio e desenvolvimento de habilidades);
  • Incentivo ao contato com a natureza e brincadeiras com colegas da mesma idade;
  • Promoção de um ambiente familiar afetuoso, que propicie à criança expressar suas emoções e desenvolver sua autonomia;
  • Limites ao tempo de tela, seguindo as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria;
  • Incentivo à prática da atividade física regular;
  • Elaboração com imagens na organização diária da rotina, construída preferencialmente junto com a criança.

Do diagnóstico ao tratamento, o TDAH tem se mostrado muito heterogêneo, podendo ter uma manifestação desatenta, impulsiva/hiperativa ou, até mesmo, uma manifestação combinada desses dois comportamentos. Ana Carolina Arantes explica que existem ainda outras questões envolvidas, como o temperamento da criança e a configuração familiar e, por isso, se faz necessário um acompanhamento individualizado. “É preciso o olhar de um psicólogo especialista para cada singularidade, pois o TDAH afeta a qualidade de vida da criança e de sua família de diferentes maneiras”.

Por fim, a profissional ressalta o quão importante é a participação dos pais em todo o processo: “o tratamento psicoterápico com maior evidência científica contempla a Orientação de pais pelo viés da Terapia Cognitivo Comportamental. É preciso que o psicólogo ofereça informações à família sobre o que é o TDAH e proponha reflexões nas habilidades dos pais para o desenvolvimento de posturas e estratégias práticas que busquem minimizar os desafios do transtorno”.

Se você está percebendo indícios do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade em uma criança, conte com a ajuda de um profissional de saúde. Psicólogos, Psiquiatras e Pediatras são os especialistas mais indicados para o acompanhamento e eventuais encaminhamentos desse caso.