Procrastinação

A procrastinação pode ser definida como um atraso voluntário e desnecessário de uma tarefa que se pretendia realizar… clique para ler mais.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Procrastinação?

A procrastinação pode ser definida como um atraso voluntário e desnecessário de uma tarefa que se pretendia realizar, apesar de estar consciente das consequências desagradáveis desse adiamento, resultando em um significativo sofrimento subjetivo. Ou seja, é um atraso contrário à intenção inicial do indivíduo. Isso resulta em um aumento do nível estresse, com acúmulo de tarefas, menor produtividade, sensação de fracasso por não cumprir com as suas responsabilidades e compromissos.

A procrastinação crônica pode ser um sinal de problemas psicológicos ou fisiológicos. Mais do que um comportamento, a procrastinação tende a ser um traço de personalidade, atuando tanto como um fator preditor quanto mantenedor de outros transtornos, como os ligados a ansiedade e humor.

Quais são os motivos que levam uma pessoa a procrastinar? Aquele que adia uma tarefa tem uma dificuldade para regular processos relacionados aos pensamentos, emoções e comportamentos. Por exemplo, ao experimentar uma emoção de ansiedade ou medo frente à realização de uma atividade, pode não conseguir manejar essa situação de forma adequada, foca excessivamente no desconforto sofrido no momento, fazendo com que evite ou fuja daquela situação.

 

Como os pensamentos influenciam na procrastinação?

O comportamento procrastinatório é uma estratégia para regular, em curto prazo, emoções negativas que acompanham a avaliação de uma tarefa. Isso porque a maneira como interpretamos determinadas situações tem um enorme poder de provocar reações emocionais e comportamentais.

Em linhas gerais, a procrastinação está associada a fatores cognitivos e emocionais, dentre eles o desconforto na realização de uma tarefa e o medo do fracasso.

  • Desconforto com uma tarefa: o grau de incômodo com uma tarefa (difícil, tediosa, cansativa) vai mediar a possibilidade de se engajar num comportamento procrastinatório.
  • Medo do fracasso: adia-se com frequência as atividades a fim de prevenir avaliações negativas acerca do seu próprio desempenho, ligado à ideia de que os outros esperam o melhor do indivíduo. Nesse sentido, a pessoa pode adotar pensamentos sabotadores, do tipo “hoje não haverá tempo suficiente”, “estou cansado, amanhã terei mais energia para fazer isso” ou “eu já passei por muitas dificuldades essa semana, mereço fazer algo relaxante agora”.

 

Como o problema pode estar sendo mantido?

A procrastinação, em muitos momentos, parece funcionar, apesar dos danos, por isso acaba sendo um comportamento sustentado. Quando se procrastina, a pessoa se vê com menos tempo e maior pressão para realizar uma tarefa conforme o prazo de entrega se aproxima. Assim, ativamos um estado de alerta, que aumenta a capacidade de atenção e produtividade.

Apesar de poder funcionar de modo imediato, não é adequado manter esse modo de funcionamento, pois em alguns casos, pode-se não finalizar o afazer ou gerar uma grande sensação de exaustão.

Pessoas que procrastinam podem apresentar uma certa dificuldade relacionada ao controle de impulsos e costumam priorizar prazeres imediatos. Então, outro motivo pelo qual a procrastinação parece funcionar é porque ela pode trazer um alívio momentâneo de seu estado de desconforto emocional. Ao se sentir medo, ansiedade ou tristeza por ter que realizar uma tarefa específica, o adiamento da mesma quase que imediatamente reduz todo esse sofrimento.

Como lidar com a procrastinação?

  • Autoconhecimento e psicoeducação: entender a razão de se agir dessa maneira é essencial para estabelecer a forma de enfrentar o problema. Há pessoas que “ruminam” preocupações, são perfeccionistas e se cobram muito, temem uma má avaliação, são desorganizadas ou tendem a se entregar a prazeres imediatos.
  • Identificar e questionar os pensamentos sabotadores: identificar e questionar, e até mudar, os pensamentos distorcidos (não realistas, pouco úteis, não pragmáticos).
  • Ativação comportamental: a verdade é que nos motivamos à medida que agimos. Ao longo do tratamento é possível aprender a se engajar nas tarefas e por onde começar.
  • Regulação das emoções: a falta de habilidade em lidar com as próprias emoções é um dos fatores que envolvem a procrastinação. Ao contrário de evitar as emoções, é necessário aprender com elas, entendê-las e aceitá-las.

 Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

COSTA, R.T.; TALASK, G. Capítulo 23 – Procrastinação. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Você sabe o que é Psicoeducação?

É uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua doença e todo o processo de tratamento.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

Você sabe o que é Psicoeducação?

A Psicoeducação é uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua doença e todo o processo de tratamento.

Dessa maneira, quanto mais informada estiver uma pessoa acerca de sua condição de saúde física e mental, sobre seu funcionamento (cognitivo, emocional e comportamental) e sobre a forma como pode ser conduzido seu tratamento, mais ela estará pronta para participar ativamente do processo de mudança (Lukens & McFarlene, 2004). Então, os pacientes começam a melhorar quando começam a entender sua forma de reagir e funcionar, a aprender a resolver problemas e a desenvolver um repertório de estratégias que eles mesmo podem aplicar.

Pode-se dizer que a Psicoeducação é uma importante estratégia dentro de uma perspectiva cognitivo-comportamental. Isso porque a terapia cognitivo-comportamental baseia-se no pressuposto de que os pacientes podem aprender estratégias para modificar pensamentos e crenças, manejar estados emocionais e modificar de forma produtiva seu comportamento.

Por exemplo: um paciente com crises de pânico, muito angustiado e preocupado com a possibilidade de estar com um grave problema cardíaco, tende a se acalmar quando descobre que aquelas crises estão inseridas no transtorno do pânico e aprende a lidar com essas ocorrências e com os medos e evitações por elas desencadeados.

A Psicoeducação está entre as práticas baseadas em evidências mais eficazes tanto em ensaios clínicos como em contextos comunitários (Lukens &McFarlene, 2004). Num estudo com 101 indivíduos com transtorno bipolar, aqueles que participaram do grupo de tratamento por psicoeducação, além do tratamento padrão, mostraram menos recaídas em geral, períodos mais longos sem sintomas, menos sintomas e mais adesão à medicação (Miklowitz et al., 2003).

Psicoeducação: como aplicar?

São apontados alguns princípios gerais que podem nortear a aplicação da psicoeducação, sobretudo no contexto da terapia cognitivo-comportamental (Wright et al., 2010):

  1. adaptação da psicoeducação à capacidade dos pacientes de compreender e processar informações.
  2. fornecimento de explicações claras e breves, com ênfase colaborativa, com a utilização de materiais escritos facilitadores.
  3. incentivo à participação do paciente.
  4. solicitação de feedback, de forma a verificar o entendimento do conteúdo apresentado.
  5. recomendações de leituras específicas, pesquisas ou outras atividades educativas como tarefa de casa.

Então, na Psicoeducação podem ser recomendados textos, livros, vídeos, filmes, sites, programas de computador e aplicativos de celular. É sempre importante que o material para a leitura seja conciso e não extenso.

A família do paciente ou cuidadores podem ser inseridos no processo de psicoeducação. Em relação à psicoeducação familiar, algumas metas são importantes:

  • promoção da aceitação familiar do transtorno psiquiátrico;
  • desenvolvimento de expectativas realistas em relação ao paciente;
  • explicações sobre intervenções farmacológicas e psicológicas;
  • reconhecimento de sinais precoces de recaídas e mudanças sintomatológicas.

A Psicoeducação também tem se mostrado efetiva no contexto de doenças físicas, pois o conhecimento sobre elas, suas possíveis causas, modos de controle e os efeitos colaterais das medicações, podem ajudar na adesão ao tratamento e no controle de patologias diversas. Assim, a Psicoeducação tem cada vez mais se destacado como uma importante estratégia no tratamento de diversas queixas e em uma variedade de contextos.

Para saber mais:

Carvalho, M.R., Malagris, L.E.N., & Rangé, B.P. (2019). Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. Novo Hamburgo: Sinospys.

Referências bibliográficas:

Lukens, E.P. & McFarlane, W.R. (2004). Psychoeducation as evidence-based practice: Considerations for practice, research, and policy. Brief Treatment and Crisis Intervention, 4(3), 205-225.

Miklowitz, D.J., George, E.L., Richards, J.A., Simoneau, T.L., & Suddath, R.L. (2003). A randomized study of family-focused psychoeducation and pharmacotherapy in the outpatient management of bipolar disorder. Archives of General Psychiatry, 60, 904-912.

Wright, J.H., Basco, M.R., & Thase, M.E. (2008). Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: Um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed.