2024, o ano de fazer as pazes com a comida

Nutricionista dá dicas para manter uma relação saudável e prazerosa com a alimentação.

* Texto por Helen Lima, em entrevista ao Felipe Barreto, nutricionista.

Nutricionista dá dicas para manter uma relação saudável e prazerosa com a alimentação.

Entra ano, sai ano e as promessas se repetem: “agora eu vou emagrecer”, “não vou comer tantos doces”, “adeus, fast food”. Só que na prática, o que geralmente acontece é diferente. Tem início um ciclo marcado por muitas restrições e poucas alegrias, com grandes chances de erro. Daí surgem a culpa, a ansiedade, a vergonha…e a promessa de tentar mais uma vez em uma próxima temporada.

Se você se identificou com essa história, não se sinta só. Um estudo feito em 2023 pela YouGov, multinacional especializada em pesquisa de mercado, aponta que 48% dos brasileiros estão tentando perder peso. A busca por uma vida saudável e um corpo magro é comum a muitas pessoas, mas por que será que apenas uma pequena parcela consegue atingir os resultados? “Sei que pode parecer estranho, mas, fazer dietas, na grande maioria das vezes, acaba não funcionando no longo prazo”, afirma Felipe Barreto, Nutricionista da Clínica Rezende. Ele explica que a lógica tradicional da dieta, que consiste em permitir e proibir alimentos, atrapalha a relação do indivíduo com a comida, aumentando o medo e desejo pelos pratos “proibidos”, podendo levar a um consumo disfuncional. “Quem nunca ficou com muita vontade de comer um doce após receber a orientação de não poder consumir doces?” questiona.

Por isso, a primeira dica para quem quer estabelecer uma relação harmoniosa com a alimentação é deixar de lado as dietas restritivas, em que o objetivo é perder peso a qualquer custo. “A perda de peso inicial é esperada, mas o que acontece quando você não consegue continuar na dieta? A tendência é recuperar o peso perdido e, muitas vezes, até ganhar mais do que perdeu”.

Felipe Barreto destaca que parar de vilanizar certos alimentos é essencial para fazer as pazes com a comida. “A comida exerce um papel social, emocional e cultural, portanto, não podemos resumi-la a carboidratos e proteínas. Quando você vai visitar a sua avó e ela faz um bolo de chocolate para te receber, ela não está fazendo um ‘carbo’ e sim demonstrando o carinho que sente por você através da comida”.

Alcançando o equilíbrio na alimentação

Fazer as pazes com a comida não é tarefa fácil, mas o tratamento com um nutricionista é um excelente começo para transformar essa relação. De acordo com Felipe, o acompanhamento traz ferramentas para que o paciente desenvolva um olhar mais neutro para o alimento, fazendo com que ele saia do pedestal criado pela proibição e desejo.

As orientações de um profissional da área também ajudam as pessoas a identificarem os sinais de saciedade, compreendendo a hora certa de começar e parar de comer. Além de um olhar para dentro, Felipe Barreto reforça a importância de identificar no ambiente externo quais são os gatilhos que levam o indivíduo a comer de forma exagerada. “Alcançar o equilíbrio na alimentação é entender que todos os alimentos podem fazer parte da sua vida, cada um exercendo a sua função (nutrição, social, prazer, entre outras)”.

Em uma relação marcada pela mistura entre argumentos racionais e sentimentais, o suporte psicológico se apresenta como uma estratégia complementar ao trabalho desenvolvido pelo profissional de nutrição. “Enquanto o nutricionista trabalha com aconselhamento e orientações sobre escolhas alimentares, o psicólogo aborda os aspectos emocionais, mentais e comportamentais associados à alimentação. É um trabalho em equipe que funciona muito bem”.

Que tal fazer diferente neste ano novo? Contar com profissionais especializados para te ajudar nesse processo é um ótimo primeiro passo!

Leia também: O que é comportamento alimentar?

O que é Comportamento Alimentar?

Nos últimos anos, a busca por uma alimentação saudável e equilibrada tem se tornado uma preocupação cada vez maior para as pessoas, seja por questões de saúde, estética ou mesmo éticas e ambientais.

*Por Felipe Barreto

Afinal, o que é Comportamento Alimentar?

Comportamento alimentar é um tema que vem ganhando mais destaque na sociedade atual. Nos últimos anos, a busca por uma alimentação saudável e equilibrada tem se tornado uma preocupação cada vez maior para as pessoas, seja por questões de saúde, estética ou mesmo éticas e ambientais.

No entanto, muitas vezes, essa busca pela alimentação perfeita pode se tornar um verdadeiro problema. A obsessão por contar calorias, controlar a ingestão de alimentos e seguir dietas restritivas pode levar a um comportamento alimentar disfuncional, que podem trazer consequências negativas para a saúde física e mental.

Escolhas alimentares

Por isso, é fundamental entender que o comportamento alimentar vai muito além de simplesmente escolher os alimentos que serão ingeridos. É preciso levar em conta os fatores como o contexto social, emocional e cultural, bem como as crenças e valores pessoais que influenciam as escolhas alimentares.

Uma alimentação saudável não significa seguir uma dieta restritiva, mas sim ter consciência sobre as necessidades do próprio corpo e adotar hábitos alimentares equilibrados e prazerosos. É importante lembrar que cada indivíduo é único e tem necessidades alimentares diferentes. E que uma alimentação saudável deve ser adaptada às características e objetivos de cada pessoa.

Equilíbrio

Além disso, é fundamental buscar o equilíbrio entre alimentação e prazer, sem julgamentos ou culpas. Comer é uma necessidade fisiológica, mas também pode ser uma experiência prazerosa e social. Por isso, é importante cultivar uma relação saudável e consciente com a comida, sem abrir mão do prazer e do convívio social.

Em resumo, o comportamento alimentar é um tema complexo que requer uma abordagem integrada e individualizada. É importante buscar informação de qualidade e buscar orientação profissional para desenvolver hábitos alimentares saudáveis e prazerosos, sem deixar de lado as necessidades individuais e o prazer de comer.

Afinal, dieta funciona ou não?

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois?

* Por Felipe Barreto

Afinal, dieta funciona ou não?

Dieta funciona ou não? Você já parou para pensar que nunca se falou tanto em nutrição, dietas, e ainda assim o número de obesidade e doenças crônicas só aumenta? As recomendações: Faça dieta e se exercite mais não estão funcionando tão bem como esperávamos. Gostaria de abordar, exatamente sobre a prática de dietas restritivas como manejo da obesidade e da saúde de uma maneira geral.

Nesse contexto vou definir dieta como restrição alimentar, entendida como alterações restritivas, auto impostas, que mudam quantidade e/ou qualidade dos alimentos consumidos com intuito de controlar ou alterar o peso corporal.

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois? Por quanto tempo você conseguiu manter essa perda de peso? O fato de você, provavelmente, ter reganhado o peso perdido (ou mais) não tem a ver com força de vontade, tem a ver com a forma como o nosso corpo reage às dietas. Vou descrever 4 mecanismos que nosso corpo faz para se proteger da restrição.

  • Diminuição do metabolismo: Quando optamos por fazer uma dieta restritiva, nosso cérebro interpreta que estamos em uma situação de risco. O corpo começa a diminuir o metabolismo para “economizar” energia, uma vez que a quantidade de energia ingerida na dieta é menor do que a de costume.
  • Otimização dos estoques de gordura: Um mecanismo para garantir a integralidade do corpo é passar a estocar mais gordura, para que seja utilizada como fonte de energia caso a escassez de alimentos perdure.
  • Maiores chances de comer compulsivamente: Esse comer compulsivo pode ser entendido como uma adaptação biológica do nosso organismo em busca de energia, não tendo relação com falta de força de vontade. Existe uma variação na grelina (hormônio da fome) e da leptina (hormônio da saciedade), aumentando uma e reduzindo a outra, respectivamente.
  • Aumento no desejo pelos alimentos proibidos, obsessão por comida e piora no relacionamento com a comida: A prática de dieta restritiva aumenta o risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar.

É importante ressaltar que quando me refiro a não fazer dietas restritivas, não quero dizer que devemos comer tudo, de qualquer maneira, em exagero. Existem diversas maneiras mais saudáveis em lidar com a comida, que não seja a dieta. No próximo texto vou falar mais sobre uma dessas maneiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

TRIBOLE, E.;  RESCH, E. Intuitive eating: A revolutionary anti-diet approach. Fourth Edition. St. Martins Essentials. 2020

KEYS, A., BROZEK, J., HENSCHEL A., MICKELSEN O., TAYLOR H. L., The Biology of Human Starvation (2 volumes), University of Minnesota Press, 1950.

ALVARENGA, M. S. et al. Transtornos Alimentares e Nutrição: da prevenção ao tratamento. Manole, 2019.