Desenvolvimento da pessoa com Síndrome de Down: Intervenção no ciclo vital

Apesar de se falar em características comuns às pessoas com SD, o processo de desenvolvimento é único, dinâmico e passível de múltiplas trajetórias.

* Por Sabrina Gomes

Introdução

A síndrome de Down (SD) consiste em modo de estar no mundo que demonstra a possibilidade de diversidade humana. É uma condição geneticamente determinada, geralmente caracterizada por uma trissomia do cromossomo 21, mas que também pode ser caracterizada por outras alterações cromossômicas menos comuns. Dentre as condições clínicas específicas da SD, encontra-se a deficiência intelectual, provavelmente relacionada a um atraso global no desenvolvimento que varia de pessoa para pessoa.

Apesar de se falar em características comuns às pessoas com SD, o processo de desenvolvimento é único, dinâmico e passível de múltiplas trajetórias. Isso quer dizer que as diferenças entre as pessoas com SD, tanto em aspectos físicos quanto de desenvolvimento psicossocial, decorrem de questões genéticas individuais, de estimulação, dos contextos familiar e social, entre outros fatores que irão contribuir para a produção de formas diferentes de desenvolvimento. O que se sabe é que as pessoas com SD, quando atendidas e estimuladas adequadamente, têm potencial para uma vida saudável e plena inclusão social.

Avanços na atenção à pessoa com SD

Nos últimos anos, os avanços em relação ao entendimento acerca das potencialidades da pessoa com SD permitiram a elaboração de diferentes ações de intervenção com vistas à escolarização, ao futuro profissional, à autonomia e à qualidade de vida dessas pessoas. Assim, atualmente, o foco das práticas direcionadas às pessoas com SD passou a ser o amadurecimento social, o desenvolvimento de independência e a transição da escola para o mercado de trabalho.

A proposta de um trabalho de cuidado singularizado e que considere o ciclo vital pode ser o mais adequado. Isso porque em cada ciclo da vida é importante que o indivíduo alcance habilidades que possibilitem a ele responder de maneira adequada às diversas demandas dos ambientes dos quais ele faz parte. Assim, esse cuidado personalizado busca o melhor desenvolvimento das potencialidades da pessoa com SD, visando sua qualidade de vida e inserção social e econômica. Além dos cuidados em relação à manutenção e promoção de um estilo de vida saudável (alimentação, higiene do sono, exercícios físicos), o investimento no desenvolvimento psicossocial é fundamental. A seguir, serão apresentadas algumas das principais possibilidades de intervenção psicossocial em diferentes fases da vida da pessoa com SD.

Intervenção psicossocial no ciclo vital

Crianças: a atenção psicossocial à criança com SD deve priorizar o investimento no desenvolvimento de autonomia para as atividades de vida diária (tais como: vestir-se, tomar banho e alimentar-se). O foco também deve estar na aquisição de habilidades sociais e acadêmicas. À medida que a criança vai atingindo níveis mais elevados em seu desenvolvimento motor, cognitivo e psicológico, ela deve interagir de forma mais complexa com o seu ambiente.

Adolescentes: o adolescente com SD vivencia os mesmos processos que os adolescentes com desenvolvimento típico no tocante ao crescimento físico e às consequentes mudanças da puberdade, o que torna o investimento em educação sexual muito importante. Uma das principais tarefas desenvolvimentais da adolescência é a conquista da independência em relação aos outros, sendo necessário o desenvolvimento de habilidades sociais e práticas que possam auxiliar o indivíduo na sua inserção em diversos contextos da comunidade. Assim, o treinamento em habilidades sociais pode contribuir para o estabelecimento de vínculos com os pares e para a ampliação dos contextos e das relações sociais dos adolescentes. Além disso, a participação em programa de orientação profissional também é indicada.

Adulto e Idoso: Nesta fase da vida, devem ser discutidas com a família as questões de independência e planejamento futuros quanto aos cuidados e manutenção financeira da pessoa com SD.  Deve-se percorrer um caminho para a autonomia pessoal e profissional e geração de renda da pessoa. As questões de sexualidade também devem seguir sendo trabalhadas nesta faixa etária e devem englobar o relacionamento com outras pessoas no convívio social e compreensão fisiológica e psicológica de desenvolvimento sexual. Além disso, deve-se considerar o planejamento familiar para pessoas com SD que constituem família.

 Referências

Brasil. (2013). Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde.

Dessen, M. A., & Maciel, D. A. (2014). A Ciência do Desenvolvimento Humano: Desafios para a psicologia e a educação. Curitiba: Juruá Editora.

Merrick, J., Kandel, I., & Vardi, G. (2004). Adolescents with Down syndrome. International Journal of Adolescent Medicine and Health,16(1), 13-19.

Parentalidade positiva: Equilíbrio entre afeto e limites

A maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança.

* Por Sabrina Gomes

PARENTALIDADE POSITIVA: EQUILÍBRIO ENTRE AFETO E LIMITES

A parentalidade competente tem sido intensamente discutida nos últimos anos. Isso porque a maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança. Entretanto, devemos considerar que os filhos não nascem com manual de instrução e que ser pai/mãe é uma tarefa muito desafiadora e complexa. Sabendo disso, este texto foi elaborado com objetivo de apresentar informações importantes para a auxiliar na reflexão sobre o processo de educar.

ESTILOS E PRÁTICAS PARENTAIS

Pesquisas na área do desenvolvimento humano falam de estilos e práticas parentais. Práticas Parentais são as estratégias que os pais usam no cotidiano para disciplinar os filhos, como elogiar, orientar, bater ou gritar, entre outras. Estilo Parental é o nome que damos para o conjunto desses comportamentos, o que define o clima emocional familiar.

Os estudos apontam para quatro estilos parentais básicos, ou seja, quatro maneiras de se comportar como pai e como mãe. Um deles, o Estilo Participativo, é o mais positivo e capaz de facilitar o desenvolvimento de uma criança. Os outros, autoritário, permissivo e negligente, levam a dificuldades na relação entre pais e filhos e podem impactar negativamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Veremos a seguir o que caracteriza cada estilo parental e os resultados de cada um para o desenvolvimento dos filhos.

QUAL É O SEU ESTILO PARENTAL?

  • Estilo Autoritário (muito limite e pouco afeto): pais autoritários são rígidos e controlam o comportamento das crianças com base em regras inflexíveis, priorizando a obediência e oferecendo pouco afeto. Como resultado, as crianças normalmente apresentam poucos problemas de comportamento, mas são mais submissas e inseguras, pois aprendem que devem se anular para serem amadas; em geral, o estilo autoritário faz com que as crianças apresentem baixa autoestima e altos índices de depressão, ansiedade e estresse.

 

  • Estilo Permissivo (pouco limite e muito afeto): pais permissivos são excessivamente tolerantes diante dos desejos e ações das crianças e não estabelecem regras claras e limites. Valorizam os sentimentos e opiniões dos filhos, mas deixam a autoridade de lado, geralmente por medo de dizer “não” e não serem mais amados pelos filhos. O resultado? No geral, as crianças apresentam pior desempenho nos estudos, baixa tolerância a frustrações e podem apresentar comportamentos antissociais. Também não desenvolvem senso de autoeficácia, isto é, acham que não são capazes de conquistar as coisas por si mesmas.

 

  • Estilo Negligente (pouco limite e pouco afeto): são pais que sempre atendem aos pedidos imediatos das crianças, mas não se comprometem com o papel de educar, deixando os filhos “soltos”. Podem ser pais muito ocupados e sem tempo para dedicar às tarefas de educar ou ainda, pais confusos e que não sabem como agir. Qual o resultado para a criança? Este estilo parental é o que traz piores resultados. As crianças apresentam os menores desempenhos em habilidades acadêmicas e sociais, baixa autoestima, estresse e ficam vulneráveis a desenvolver quadros de depressão. As crianças aprendem que não são importantes e não são amadas.

 

  • Estilo Participativo (muito limite e muito afeto): esse é o melhor estilo. Pais participativos monitoram as atitudes dos filhos, estabelecendo regras claras. Eles são capazes de corrigir as atitudes negativas dos filhos e gratificar as positivas. Elogiam, ajudam nas tarefas e orientam. Os resultados para as crianças são os melhores. Pesquisas mostram que essas crianças apresentam elevada autoestima, menores níveis de estresse e depressão e são mais otimistas e habilidosas.

VOCÊ TEM OS COMPORTAMENTOS DO ESTILO PARTICIPATIVO?

  • Você dedica tempo de qualidade para estar junto e se divertir com o seu filho?
  • Você consegue dizer “não” quando é necessário limitar o comportamento do seu filho e não ceder apenas para evitar comportamentos de birra ou de oposição?
  • Você busca elogiar e gratificar o seu filho quando ele se comporta de maneira adequada?
  • Você consegue apontar o comportamento inadequado do seu filho com autoridade e sem punições físicas ou verbais.

Diante de dificuldades para estabelecer regras claras e rotinas, pode ser importante buscar ajuda profissional para processo de orientação de pais. Esse processo de orientação ajudará a desenvolver estratégias assertivas e eficazes.

REFERÊNCIA

Weber, L. (2005). Eduque com carinho: para pais e filhos. Curitiba: Juruá.