Impulsividade na adolescência: o que esperar e quando procurar ajuda profissional.

A adolescência é conhecida em várias culturas como uma fase da vida desafiadora, tanto para os adolescentes quanto para os pais ou responsáveis…

* Por Sabrina Gomes

Impulsividade na adolescência: o que esperar e quando procurar ajuda profissional.

A adolescência é conhecida em várias culturas como uma fase da vida desafiadora, tanto para os adolescentes quanto para os pais ou responsáveis. Alguns mitos sobre a adolescência podem dificultar a compreensão sobre essa fase da vida e fazer com que oportunidades de desenvolvimento sejam pouco exploradas. Além disso, a falta de informação pode impedir o acesso a intervenções que podem contribuir para trajetórias de vida mais positivas.

Um mito comum é o de que a adolescência não passa de uma etapa de imaturidade e que os adolescentes só precisam crescer. Assim, caberia aos pais apenas tolerar essa fase. Ao contrário disso, a adolescência representa um período de muitas possibilidades de aprendizagem, sendo de extrema importância a participação ativa dos pais no cotidiano do adolescente, auxiliando-os no enfrentamento de problemas e promovendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

A seguir, vamos esclarecer algumas questões relacionadas com a impulsividade na adolescência, com o objetivo de ajudar na compreensão do que é esperado para essa faixa etária e sobre quando procurar ajuda profissional.

Impulsividade na Adolescência

A adolescência é uma fase marcada pela busca por autonomia e por tentativas de construção da própria identidade. Nessa etapa da vida, o cérebro ainda não atingiu a maturidade plena, o que torna possível que o adolescente apresente momentos de clareza e responsabilidade em suas ações, bem como comportamentos impulsivos e de oposição. Comportamentos impulsivos são tomadas de ação na ausência de intenção, questionamento e decisão. Envolve reação rápida e não planejada diante de um estímulo interno (uma emoção, por exemplo) ou externo (resultado de um jogo ou a atitude de alguém, por exemplo) sem considerar possíveis consequências negativas dessa reação.

O comportamento impulsivo é bastante frequente na adolescência e pode ser explicado com base na neurobiologia do desenvolvimento cerebral, uma vez que a inibição (“freio”) do comportamento impulsivo está relacionada com a parte do cérebro que mais leva tempo para se desenvolver, o córtex pré-frontal.

O córtex pré-frontal, a parte frontal (da frente) do cérebro é a que se desenvolve mais tarde. Essa área também é chamada de parte executiva do cérebro e é responsável pela análise e julgamento das situações e pelo planejamento e controle dos impulsos. Isso pode explicar porque crianças e adolescentes apresentam dificuldades para controlar seus comportamentos. Durante a adolescência, acontece um aumento no desenvolvimento do cérebro como um todo, mas as regiões relacionadas ao autocontrole não estão completamente desenvolvidas.

Alguns pesquisadores consideram que é por volta dos 17 anos de idade que os adolescentes apresentam maior eficiência no controle cognitivo e diminuição importante de comportamentos problemáticos e de risco. Também é quando apresentam mais comportamentos orientados por metas e objetivos.

Assim, a tendência aumentada a atos impulsivos na adolescência faz parte do processo de desenvolvimento. A busca por sensações e o contato com novas experiências pode aumentar o repertório de habilidades sociais e de resolução de problemas do indivíduo. Entretanto, comportamentos impulsivos podem incluir o uso de substâncias psicoativas, como o álcool, o envolvimento em situações de risco e comportamentos de autolesão, o que requer atenção. A duração, a frequência e curso desses comportamentos no desenvolvimento do adolescente podem indicar um comportamento patológico que merece avaliação.

Impulsividade e transtornos mentais: quando procurar ajuda profissional?

A impulsividade normalmente está associada a desfechos negativos, tais como o uso de álcool em adolescentes, risco de acidentes, comportamentos autolesivos e baixo rendimento escolar. O consumo excessivo de álcool na adolescência, por exemplo, ocorre, em parte, por uma característica da impulsividade, que é a busca por sensações. Por isso, práticas parentais de supervisão e orientação são essenciais. É importante observar a frequência e a intensidade de comportamentos impulsivos e de risco. Esses dados são importantes para avaliar se os comportamentos são esperados ou se podem ser considerados patológicos.

Alguns transtornos se caracterizam pela presença de impulsividade e de problemas no autocontrole das emoções e/ou da conduta, como o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), que é caracterizado por um padrão persistente de humor irritável/raivoso e comportamento questionador e desafiante. Deve-se considerar que comportamentos questionadores e de oposição são comuns na adolescência, por isso, a frequência e a intensidade dos comportamentos devem ser investigadas para diferenciar o comportamento esperado para a faixa etária do que pode ser um transtorno mental.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) envolve níveis prejudiciais de desatenção e também pode estar associado a comportamentos hiperativos e impulsivos. Nesse transtorno, os comportamentos impulsivos envolvem dificuldades para esperar a sua vez, responder perguntas antes de terem sido finalizadas, pouca tolerância à frustração, assumir riscos desnecessários e problemas para seguir regras/instruções.

Apesar de os comportamentos impulsivos serem comuns na adolescência, é muito importante considerar se tais traços ocorrem com maior frequência e intensidade que o comum. Nos casos em que se observa sofrimento e prejuízos (na escola, no trabalho e/ou nas relações sociais, por exemplo), a avaliação profissional é indicada para melhor compreensão do caso e para o planejamento de intervenções que possam promover mudanças e impedir que o quadro se agrave.

Referências

  • Reis, A. H. (2017). Impulsividade, delinquência e comportamento disruptivo: intervenção na adolescência. In C. Neufeld (Orgs.), Terapia Cognitivo-Comportamental para Adolescentes: Uma Perspectiva Transdiagnóstica e Desenvolvimental (pp. 188-214). Porto Alegre: Artmed.
  • Oliveira. J. B. A. (2017). Desenvolvimento infantil: o que desenvolve?. Brasília: Instituto Alfa e Beto