A atuação do nutricionista no tratamento de transtornos alimentares

Profissional contribui para desmistificar crenças sobre alimentação e ajuda a promover uma relação saudável com a comida.

* Texto por Helen Lima, em entrevista ao Felipe Barreto, Nutricionista.

A atuação do nutricionista no tratamento de transtornos alimentares

Profissional contribui para desmistificar crenças sobre alimentação e ajuda a promover uma relação saudável com a comida.

Pessoas que possuem transtornos alimentares devem contar com o auxílio de diferentes profissionais de saúde que, de forma coordenada, podem promover um tratamento mais eficaz e integral, abordando os aspectos físicos e emocionais desses distúrbios. Ao focarmos no papel do nutricionista, podemos observar uma série de contribuições, que vão desde a conscientização à recuperação segura do peso do paciente.

De acordo com Felipe Barreto, nutricionista da Clínica Rezende, “a atuação do nutricionista no tratamento de transtornos alimentares, como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e Transtorno de Compulsão Alimentar, é fundamental e envolve várias estratégias”. Confira, a seguir, alguns exemplos listados pelo profissional:

  1. Avaliação Nutricional

É realizada uma avaliação detalhada do estado nutricional do paciente, identificando deficiências, padrões alimentares e comportamentos relacionados à alimentação;

  1. Intervenção Alimentar Individualizada

Quando necessário, são feitas intervenções alimentares adaptadas às necessidades e condições específicas de cada paciente, com o objetivo de restaurar a nutrição adequada, promover hábitos alimentares saudáveis e recuperar o peso de forma segura. Vale destacar que a intervenção não é o mesmo que dieta restritiva;

  1. Educação Nutricional

Nutricionistas fornecem informações e orientações sobre alimentação equilibrada e a importância dos nutrientes, ampliam o olhar da comida para além dos ingredientes e orientam sobre como melhorar a relação com a comida;

  1. Suporte Emocional e Motivacional

 Agindo em parceria com psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde, nutricionistas formam uma rede de apoio do paciente, ajudando a lidar com medos alimentares, distorções cognitivas e comportamentos alimentares prejudiciais;

  1. Monitoramento e Ajustes

Acompanhamento regular do progresso do paciente, ajustando sua alimentação conforme necessário e monitorando sua saúde de forma geral.

Felipe Barreto reforça que a abordagem do nutricionista deve ser individualizada e centrada no paciente, garantindo que as intervenções sejam adequadas às necessidades específicas de cada indivíduo.

Combatendo os mitos nutricionais

 O profissional de nutrição também desempenha um papel importante ao conscientizar as pessoas sobre terrorismos nutricionais que são amplamente disseminados nas redes sociais. A fim de promover uma relação saudável com os alimentos, Felipe Barreto derruba alguns dos principais mitos presentes no universo das dietas. Certamente você já deve ter ouvido algum deles, confira a seguir:

“Carboidratos engordam”

“Muitas pessoas acreditam que todos os carboidratos são ruins e devem ser evitados para manter o peso ou emagrecer. Isso pode levar a uma restrição excessiva e a um possível gatilho para exagero com os alimentos ricos nesse nutriente. Carboidratos são essenciais para a energia e funcionamento adequado do corpo, e devem ser consumidos de forma balanceada, assim como a proteína e a gordura, por exemplo”.

“Comer gorduras faz mal à saúde”

“Existe um medo generalizado de todas as gorduras, levando algumas pessoas a evitarem completamente esse macronutriente. No entanto, algumas gorduras como as encontradas em abacates, nozes e azeite de oliva, são cruciais para a saúde do coração e do cérebro. A demonização geral das gorduras não ajuda em nada as pessoas a tomarem melhores decisões alimentares, pelo contrário”.

“Pular refeições ajuda a emagrecer”:

“Deixar de fazer algumas refeições, especialmente o café da manhã, é visto por muitos como uma estratégia para perder peso. No entanto, isso pode levar a uma fome maior na parte da tarde, episódios de exagero alimentar e até ser um gatilho (dentre outros) para um episódio de compulsão alimentar. Comer regularmente ajuda a manter níveis de energia estáveis e um metabolismo saudável”.

“Dietas Detox”

“As dietas detox são promovidas como necessárias para eliminar toxinas e promover a saúde. A questão é que o corpo humano já possui mecanismos naturais de desintoxicação, principalmente através do fígado e dos rins. Essas dietas podem ser restritivas e resultar em deficiências nutricionais e desordens alimentares”.

“Alimentos conhecidos como ‘porcarias’ devem ser completamente evitados”

“A categorização de certos alimentos como ‘bons’ ou ‘ruins’ pode levar a uma relação disfuncional com a comida. Todos eles podem ter um lugar em uma alimentação equilibrada e a moderação é a chave. Restringir severamente certos produtos pode aumentar o desejo por eles e desencadear comportamentos alimentares compulsivos”.

Os transtornos alimentares são identificados a partir de sinais como a preocupação excessiva com peso e aparência, alterações significativas nos hábitos alimentares, comportamentos compensatórios, tais como uso de laxantes e diuréticos, exercícios físicos em excesso e rituais alimentares rígidos. Felipe Barreto reforça a importância de uma intervenção ágil no tratamento desses distúrbios. “Tratam-se de problemas sérios de saúde mental, que requerem tratamento especializado e uma abordagem multidisciplinar. Não hesite em procurar apoio e cuidar de sua saúde física e psicológica”.

Confira também:

Nosso podcast com 4 episódios sobre Transtornos Alimentares.

A diferença entre alimentos saudáveis e nutritivos

* Por Felipe Barreto

A diferença entre alimentos saudáveis e nutritivos. O que você não sabe, mas precisa saber.

Quando rotulamos os alimentos como saudáveis e não saudáveis caímos em uma dicotomia que atrapalha mais do que ajuda.

Isso não significa que não exista alimentos mais nutritivos do que outros, um ovo é claramente mais nutritivo do que um copo de refrigerante. A questão é quando usamos apenas o critério dos nutrientes para definir o que vamos comer.

Certa vez eu estava almoçando na casa de minha mãe, e de canto de olho, observei o quanto de azeite (era muito, mesmo) que ela colocava na salada, admito que fiquei assustado, mas preferi não comentar nada na hora. Mais tarde fui perguntar o porquê dela colocar aquela quantidade de azeite, e sabe o que ela me respondeu? “Porque é saudável, não?”.

Entende o perigo de colocar o rotulo de saudável no alimento e achar que por ser saudável, eu posso comer o quanto eu quiser ou “quanto mais melhor”?

Mas afinal, azeite é saudável ou não? Depende da quantidade, afinal é um gordura e gordura tem muita energia (kcal), isso pode aumentar e muito a quantidade calórica diária. Então você deve ter medo de azeite? Não, está tudo bem temperar a sua salada ou refogar o seu frango, porém, o raciocínio nunca deve ser “quanto mais melhor”.

Colocar o rótulo de saudável em um alimento não deve te dar carta branca para consumi-lo em excesso ou de maneira irresponsável.

O mesmo acontece com os doces ou alimentos recreativos (pizza, hambúrguer…), se você julga como proibido ou não saudável, é esperado que você talvez tente eliminar ele da sua vida, o que seria improvável de acontecer (caso você goste desses alimentos).

Você não precisa tentar parar de comer esses alimentos que tem funções sociais, emocionais, e sim tentar comer com menos frequência e intensidade. A única maneira de isso acontecer é se você melhorar a sua relação com esses alimentos, e sabe uma ótima maneira de começar a fazer isso?

Diminuindo os rótulos/julgamento com a comida.

Sei que não é uma tarefa fácil, afinal de contas vemos diariamente nas redes sociais todos os tipos de terrorismo nutricional: Açúcar mata, tal comida é um veneno, se comer carboidrato à noite você vai engordar, entre tantos outros posts “clicáveis”.

Não existe nenhum alimento isolado que é capaz de trazer grande prejuízo isoladamente, o que pode te trazer problemas no longo prazo é sim uma alimentação desequilibrada, desorganizada, associada a uma vida sedentária.

Precisamos parar de colocar a culpa em um alimento especifico (alô, doce!), e começar a olhar para a alimentação com a importância que ela merece para além de só seguir uma dieta.

Afinal, dieta funciona ou não?

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois?

* Por Felipe Barreto

Afinal, dieta funciona ou não?

Dieta funciona ou não? Você já parou para pensar que nunca se falou tanto em nutrição, dietas, e ainda assim o número de obesidade e doenças crônicas só aumenta? As recomendações: Faça dieta e se exercite mais não estão funcionando tão bem como esperávamos. Gostaria de abordar, exatamente sobre a prática de dietas restritivas como manejo da obesidade e da saúde de uma maneira geral.

Nesse contexto vou definir dieta como restrição alimentar, entendida como alterações restritivas, auto impostas, que mudam quantidade e/ou qualidade dos alimentos consumidos com intuito de controlar ou alterar o peso corporal.

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois? Por quanto tempo você conseguiu manter essa perda de peso? O fato de você, provavelmente, ter reganhado o peso perdido (ou mais) não tem a ver com força de vontade, tem a ver com a forma como o nosso corpo reage às dietas. Vou descrever 4 mecanismos que nosso corpo faz para se proteger da restrição.

  • Diminuição do metabolismo: Quando optamos por fazer uma dieta restritiva, nosso cérebro interpreta que estamos em uma situação de risco. O corpo começa a diminuir o metabolismo para “economizar” energia, uma vez que a quantidade de energia ingerida na dieta é menor do que a de costume.
  • Otimização dos estoques de gordura: Um mecanismo para garantir a integralidade do corpo é passar a estocar mais gordura, para que seja utilizada como fonte de energia caso a escassez de alimentos perdure.
  • Maiores chances de comer compulsivamente: Esse comer compulsivo pode ser entendido como uma adaptação biológica do nosso organismo em busca de energia, não tendo relação com falta de força de vontade. Existe uma variação na grelina (hormônio da fome) e da leptina (hormônio da saciedade), aumentando uma e reduzindo a outra, respectivamente.
  • Aumento no desejo pelos alimentos proibidos, obsessão por comida e piora no relacionamento com a comida: A prática de dieta restritiva aumenta o risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar.

É importante ressaltar que quando me refiro a não fazer dietas restritivas, não quero dizer que devemos comer tudo, de qualquer maneira, em exagero. Existem diversas maneiras mais saudáveis em lidar com a comida, que não seja a dieta. No próximo texto vou falar mais sobre uma dessas maneiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

TRIBOLE, E.;  RESCH, E. Intuitive eating: A revolutionary anti-diet approach. Fourth Edition. St. Martins Essentials. 2020

KEYS, A., BROZEK, J., HENSCHEL A., MICKELSEN O., TAYLOR H. L., The Biology of Human Starvation (2 volumes), University of Minnesota Press, 1950.

ALVARENGA, M. S. et al. Transtornos Alimentares e Nutrição: da prevenção ao tratamento. Manole, 2019.