Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes

Pode-se dizer que múltiplos elementos determinam a saúde mental dos adolescentes. Quanto mais expostos aos fatores de risco, maior o potencial impacto negativo nos aspectos emocionais dessa faixa etária.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes

A adolescência é um período crucial para o desenvolvimento e manutenção de hábitos sociais e emocionais adequados para o bem-estar mental. Esses hábitos salutares incluem a adoção de padrões convenientes de sono, exercícios regulares, desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento e resolução de problemas, além de aprender a manejar as emoções. Ambientes de apoio na família, na escola e na comunidade em geral são muito importantes para um desenvolvimento saudável.

Fatores de risco

Pode-se dizer que múltiplos elementos determinam a saúde mental dos adolescentes. Quanto mais expostos aos fatores de risco, maior o potencial impacto negativo nos aspectos emocionais dessa faixa etária. Entre os determinantes que contribuem para o estresse durante esse momento de vida estão o desejo de uma maior autonomia, pressão para se enquadrar em grupos, acesso e uso indevido de tecnologias. Alguns adolescentes estão em maior risco de problemas de saúde mental devido às suas condições de vida, estigma, discriminação ou exclusão, além da falta de acesso a serviços de saúde e apoio de qualidade.

Dentre os comportamentos de risco adotados por adolescentes, o uso nocivo de substâncias, tais como álcool e outras drogas, são as principais preocupações na maioria dos países. Além de que o uso de substâncias entre adolescentes aumenta a probabilidade de riscos adicionais, como a prática de sexo inseguro.

Em todo o mundo, estima-se que 10 a 20% dos adolescentes vivenciam problemas de saúde mental, mas permanecem diagnosticados e tratados de forma inadequada. Sinais de transtornos mentais podem ser negligenciados por uma série de razões, como a falta de conhecimento ou conscientização sobre saúde mental entre trabalhadores da saúde ou o estigma que os impede de procurar ajuda.

Tratamento

Um tratamento eficaz inicia-se com um diagnóstico bem estabelecido. Por essa razão, é fundamental que os profissionais da saúde estejam aptos a avaliar crianças e adolescentes a fim de identificar possíveis alterações sugestivas de doenças psiquiátricas.

O profissional que avalia crianças e adolescentes deve ter o conhecimento do seu desenvolvimento normal. Assim, pode diferenciar o que é ou não esperado para cada idade. Como exemplo, uma criança de 5 anos com desenvolvimento normal pode falar com seu “amigo imaginário” e referir que ouve sua voz, mas a mesma situação envolvendo um adolescente de 14 anos pode desviar-se do esperado, sendo um comportamento mais sugestivo de sofrimento psíquico. O seguimento desses pacientes pode auxiliar o diagnóstico ainda precoce conforme se acompanha o desenvolvimento do indivíduo e a evolução dos sintomas.

Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes

Os transtornos mentais na infância e adolescência representam uma importante causa de incapacidade e sofrimento. Tais condições tendem a persistir ao longo do tempo, sendo que a maior parte das pessoas na idade adulta já apresentava sintomas ou diagnósticos psiquiátricos na adolescência. Segundo a OMS, metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. Os transtornos emocionais em geral podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de crianças e adolescentes, afetando expressivamente seu desenvolvimento.

Em todo o mundo, o transtorno depressivo é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes. A depressão é a 9ª causa de incapacidade nesse grupo, e a ansiedade é a 8ª principal causa. Além da depressão ou da ansiedade, os adolescentes também podem sentir irritabilidade, frustração ou raiva excessivas. Os sintomas podem se sobrepor em mais de um transtorno, com mudanças rápidas e inesperadas no humor e explosões emocionais.

Outro ponto muito importante a ser destacado é o suicídio. Essa é a 3ª principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. Novamente segundo dados da OMS, estima-se que 62 mil adolescentes morreram em 2016 como resultado de autolesão. As tentativas de suicídio podem ser impulsivas ou associadas a um sentimento de desesperança ou solidão. Certamente, os fatores de risco para o suicídio são multifacetados, incluindo o uso nocivo de álcool, abusos na infância e o estigma que dificulta a busca de ajuda.

Dentre os principais transtornos mentais específicos que acometem crianças e adolescentes, podemos citar: como já dito, os transtornos depressivos e de ansiedade, além do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista e transtorno de conduta.

Por fim, pode-se destacar que, para promover a saúde mental de crianças e adolescentes, é fundamental estar atento às necessidades desse grupo da população, respeitando seus direitos, ajudando-os a construir resiliência para que possam lidar com as situações adversas de suas vidas.

Referências bibliográficas:

  • Lucion MK, Filho JGA, Isolan LR, Kieling C. Capítulo 27 – Transtornos mentais na infância e adolescência. In: Mari JJ, Kieling C (editores). Psiquiatria na prática clínica. Barueri: Manole, 2013.

Entrevista Motivacional

A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Clique para ler mais.

* Por Alexandre de Rezende

Entrevista motivacional

As pessoas mudam de várias maneiras e por inúmeros motivos. Assim começa o prefácio do livro “Entrevista motivacional – Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos”, dos autores Miller e Rollnick. A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Ou seja, a Entrevista Motivacional é uma abordagem criada para ajudar o paciente a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar.

Esse modelo foi desenvolvido pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick na década de 1990, inicialmente para o aconselhamento relacionado ao uso e abuso de álcool e outras drogas, mas atualmente tem sido utilizado no contexto de diversas doenças crônicas. O grande objetivo dessa abordagem é evocar as motivações internas do paciente para promover as mudanças comportamentais de acordo com os interesses que ele tem na melhoria de sua saúde.

Alguns conceitos são primordiais na Entrevista Motivacional: motivação, prontidão para a mudança e ambivalência.

A motivação é um estado de prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Essa condição também pode ser influenciada por fatores externos ou até mesmo por outras pessoas.

Já a ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e opostos em relação à mudança é considerada normal. A força é maior quando um paciente quer mudar, não só para evitar as consequências do comportamento prejudicial, mas também quando encara a mudança como um caminho para alcançar uma vida melhor, mais prazerosa, longa e saudável. Evocar no paciente emoções positivas, como esperança, amor e alegria, e cognições, como autoeficácia e aceitação, tendem a ampliar suas possibilidades pessoais de considerar e experimentar a mudança. Assim sendo, a entrevista motivacional pretende ajudar o indivíduo a resolver essa ambivalência e colocar a pessoa em movimento no caminho para a mudança.

Os psicólogos James Prochaska e Carlo Di Clemente (1982) descreveram uma série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modificação de um problema.

Estágios

Pré-contemplação: a pessoa não está considerando a possibilidade de mudança, porque nem sequer identificou ter um problema.

O que fazer? Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamental atual.

Contemplação: a pessoa pensa na possibilidade de mudar seu comportamento. Mas esse período é caracterizado pela ambivalência, o indivíduo fica dividido entre os motivos de preocupação e as razões para manutenção daquele comportamento.

O que fazer? “Inclinar a balança” – evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar.

Preparação para a ação: a pessoa desenvolve um plano ou estratégias para a mudança de comportamento. Esse período é como uma janela que se abre para a oportunidade de mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança.

Ação: a pessoa se engaja em ações específicas para chegar a uma mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança.

Manutenção: a pessoa tem o desafio de manter a mudança obtida e evitar a recaída, isto é, o retorno ao comportamento anterior. A manutenção de uma mudança pode exigir um conjunto de habilidades diferentes das que foram primeiramente necessárias para a obtenção da mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a identificar e a utilizar estratégias de prevenção de recaída.

Como já dito, a Entrevista Motivacional enfatiza a motivação do paciente para o processo necessário de mudança e entende que o estilo do terapeuta tem um papel fundamental. Assim sendo, a essência da Entrevista Motivacional implica na presença de três atitudes preponderantes do profissional da saúde em relação com paciente: colaboração, evocação e respeito pela autonomia do indivíduo. O profissional deve ser unir a seu paciente, formando uma equipe, e gentilmente oferecer e compartilhar sua experiência, e em parceria com ele, explorar e resolver a ambivalência. A responsabilidade pela mudança é deixada para o paciente.

A Entrevista Emocional é composta por 5 princípios gerais:

  1. expressar empatia

A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de aceitação. Isso significa acolher, aceitar e entender o que o paciente diz, sem fazer julgamentos a seu respeito.

  1. desenvolver discrepância

Mostrar para o paciente a discrepância entre o seu comportamento, suas metas pessoais e o que pensa que deveria fazer para atingir essa meta.

  1. 3. evitar a confrontação

Abordagens de confronto tornam o paciente resistente à intervenção.

  1. lidar com a resistência do paciente

Se a ambivalência e a resistência para a mudança de comportamento podem ser consideradas normais, a atitude do profissional deve ser no sentido de levar o paciente a considerar novas informações e alternativas.

  1. fortalecer a autoeficácia do paciente

Autoeficácia refere-se à crença de uma pessoa em sua capacidade de realizar e de ter sucesso em uma tarefa específica.

 

Referências bibliográficas:

FIGLIE, N.B.; SALES, C. Capítulo 23 – Entrevista Motivacional. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

MICHELI, D.; FORMIGONI, M.L.O.S.; CARNEIRO, A.P.L Capítulo 2 – Como motivar usuários de risco. In: SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. SUPERA: Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. Intervenção Breve: módulo 4. – 11 ed. – Brasília, 2017.

MILLER, W.R.; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.