Terapia de aceitação e compromisso (ACT) para cessação do tabagismo

A ACT busca ajudar os indivíduos a parar de tentar controlar ou evitar sensações ou emoções desagradáveis (por exemplo, desejo e abstinência) e, em vez disso, permitir que as coisas que são profundamente importantes para eles guiem seu comportamento.

* Por Dra. Pollyanna Santos da Silveira

Terapia de aceitação e compromisso (ACT) para cessação do tabagismo

Atualmente, existem mais de 1 bilhão de fumantes de cigarro em todo o mundo, sendo o tabagismo um dos principais fatores de risco evitáveis para vários tipos de doenças médicas, incluindo doenças cardíacas, uma variedade de doenças pulmonares e vários tipos de câncer. Infelizmente, apesar de uma redução na prevalência do tabagismo nos últimos 25 anos, a recaída continua a ser um problema comum.  Um dos fatores associados à recaída é tentar evitar sensações ou emoções negativas. 

Regulação de Afeto Negativo e Fumo

Geralmente, os fumantes relatam que fumar reduz os estados negativos e os ajudam a gerenciar o estresse. Assim, os fumantes podem ser particularmente propensos a buscar oportunidades para escapar, evitar ou reduzir pensamentos, sentimentos e sensações corporais angustiantes relevantes para o tabagismo e, frequentemente, podem fazer isso utilizando o cigarro.  

A evitação experiencial específica do tabagismo pode ser um processo importante na manutenção e recaída do tabagismo e deve ser um elemento ativo no tratamento para a cessação do tabagismo.

Evitar Experiências Específicas para Fumar

A evitação refere-se à um processo pelo qual os indivíduos não estão dispostos a experimentar ou permanecer em contato com experiências internas aversivas (por exemplo, pensamentos, emoções, memórias, sensações corporais, imagens) e tentam controlar a frequência ou forma das experiências e os contextos em que ocorrem. Níveis mais altos de evitação específica para o tabagismo estão associados a uma maior dependência de cigarros e às experiências de resultados do tratamento, por exemplo, número de tentativas anteriores de cessação fracassadas e percepção de maiores barreiras para a cessação do tabagismo.

A ACT pode modificar a evitação experiencial no contexto da cessação do tabagismo?

Do ponto de vista da ACT, todos os transtornos aparentemente diferentes compartilham funcionalmente uma característica comum: as tentativas do indivíduo de controlar ou reduzir eventos aversivos privados (por exemplo, delírios, ansiedade, tristeza, desejos, dor). Embora a curto prazo essas tentativas de controle possam funcionar, a longo prazo elas podem resultar em uma exacerbação desses eventos indesejados e em uma capacidade reduzida de realizar ações em áreas importantes da vida. 

A ACT busca ajudar os indivíduos a parar de tentar controlar ou evitar  tais sensações ou emoções desagradáveis (por exemplo, desejo e abstinência) e, em vez disso, permitir que as coisas que são profundamente importantes para eles guiem seu comportamento. O objetivo da ACT não é diminuir aquilo que é desagradável, mas sim aumentar a disposição e a abertura para experimentá-los. A disposição para vivenciar esses eventos privados e responder com aceitação ao invés de evitação facilita o comprometimento dos indivíduos com comportamentos guiados por seus valores centrais.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) envolve um aumento na flexibilidade psicológica através da aceitação dessas experiências negativas. O processo de identificar o comportamento de evitação e desenvolver uma abordagem mais flexível para abordá-lo é central para esta intervenção. Nesse sentido, busca-se desenvolver algumas habilidades específicas como a consciência dos gatilhos internos e externos, consciência dos esforços para controlar ou evitar a experiência interna, identificar barreiras para parar de fumar e atenção plena para aumentar a consciência dos estímulos e promover a flexibilidade. Finalmente, os tratamentos ACT visam outros processos além da evitação experiencial e flexibilidade, como por exemplo, valores (o que dá sentido à vida) e autocompaixão. 

Referências

EA McCallion, MJ Zvolensky, Acceptance and Commitment Therapy (ACT) for Smoking Cessation: A Synthesis, COPSYC (2015), http://dx.doi.org/10.1016/ j.copsyc.2015.02.005.

Hernández-López, M., Luciano, M. C., Bricker, J. B., Roales-Nieto, J. G., & Montesinos, F. (2009). Acceptance and commitment therapy for smoking cessation: A preliminary study of its effectiveness in comparison with cognitive behavioral therapy. Psychology of Addictive Behaviors, 23(4), 723–730. https://doi.org/10.1037/a0017632

 

Por que as pessoas fumam?

Certamente, as pessoas fumam pelos mais diversos motivos. Deve-se pensar, porém, que a nicotina presente no tabaco, que é a substância capaz de gerar dependência, atua no sistema de recompensa cerebral e seu uso resulta numa sensação de bem-estar.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

Por que as pessoas fumam?

Certamente, as pessoas fumam pelos mais diversos motivos. Deve-se pensar, porém, que a nicotina presente no tabaco, que é a substância capaz de gerar dependência, atua no sistema de recompensa cerebral e seu uso resulta numa sensação de bem-estar. Por outro lado, na medida em que a dependência se instala ao longo do tempo, as pessoas passam a buscar o cigarro para evitar o incômodo dos sintomas de abstinência. As principais queixas dessa condição são inquietação, irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia, ansiedade, tristeza e aumento do apetite.

As pessoas também podem fumar como uma forma de lidar com as emoções ou sentir-se melhor diante de algum problema. Dessa forma, algumas pessoas podem dizer que fumar dá prazer e é relaxante, outras podem justificar falando que o cigarro lhes anima e, assim, fica mais fácil se relacionar com os outros. Algumas pessoas podem argumentar que usam o tabaco para manter-se alerta ou para se esquecer das obrigações e preocupações.

Independentemente das justificativas apresentadas por cada um, sempre se destaca que parar de fumar é possível! Descobrir e entender as razões para se fumar pode ser útil no processo de tratamento e interrupção do tabagismo.

Quando se pensa na dependência comportamental, o fumante estabelece uma rotina, criando hábitos que se tornam gatilhos para o desejo de fumar. O condicionamento normalmente acontece com a repetição da associação do hábito de usar o cigarro com algum comportamento.

Pode-se citar os principais hábitos associados ao ato de fumar: após o consumo de café ou das refeições; ao ir ao banheiro, ao dirigir ou ao falar ao telefone; antes de dormir ou quando se consome bebidas alcoólicas.

É fundamental a compreensão de que cada tabagista desenvolve uma relação específica com o cigarro, e as funções e os motivos que levam cada um a manter o hábito variam de pessoa para pessoa. Durante o trabalho de aconselhamento para a interrupção do tabagismo, o foco deve ser a identificação das crenças e dos comportamentos associados ao hábito de fumar, para que assim o indivíduo possa desfazer tais associações.

Existem diversas ideias associadas ao tabagismo que podem funcionar como obstáculo para o desejo de enfrentar esse problema. Muitas dessas ideias não são verdadeiras e devem ser desmistificadas. Outras são mesmo reais, mas é aconselhável que algumas estratégias sejam discutidas para que possam ser minimizadas.

“Fumar me ajuda a controlar o peso e, se eu parar, vou ficar gordo”.

De fato, o ganho de peso muitas vezes aparece como uma barreira na cessação do tabagismo, sobretudo em mulheres. A maioria dos pacientes engorda em média até 4kg ao deixar de fumar. No entanto, esse ganho é menos prejudicial à saúde do que continuar a fumar. Não se deve negar essa possibilidade de ganho ponderal, embora nem sempre haja incremento da ingesta calórica. Os fatores que influenciam esse aumento do peso são alterações metabólicas, melhora do paladar e olfato, aumento do apetite e ansiedade, além da necessidade de se premiar por conta da sensação de privação do cigarro. Assim, deve-se ter em mente a necessidade de adoção de um estilo de vida com hábitos mais saudáveis, com a maior ingestão de frutas e verduras, prática de exercício físico e consumo limitado de álcool.

“Fumar me ajuda a lidar com o estresse”.

A maioria dos fumantes relata usar o cigarro para lidar com situações estressantes. Porém, no cigarro não existe nenhuma substância relaxante, a nicotina é um estimulante. Provavelmente, esse relato está relacionado a um condicionamento, ou seja, as pessoas param para fumar em interrupções de situações de estresse. A hora de fumar é uma parada no tempo, propiciando um intervalo à pessoa. Por exemplo, o fato do indivíduo fumar no intervalo de uma reunião estressante. Além disso, quando se fuma, se alivia os sintomas de abstinência.

“A vontade de fumar não vai embora”.

É importante se ter informações acerca dos sintomas de abstinência, o tempo de duração e o quanto o tratamento farmacológico pode minimizar essas queixas. A vontade de fumar, conhecida como fissura, é um sintoma de abstinência, e tende a durar, em média, 2 a 5 minutos. O mais importante é que a ocorrência desses sintomas vai diminuir com o tempo. Quanto mais tempo a pessoa ficar sem fumar, menos intensa e frequente será a vontade.

Existem algumas formas para se lidar com esses momentos de fissura, tais como beber água quando sentir vontade de fumar. Uma outra possibilidade é ter palitos de cenoura à mão, comendo sempre que sentir aquela ânsia de levar um cigarro à boca. Um chiclete também pode substituir o prazer oral do cigarro. Se a pessoa tem vontade de fumar logo após as refeições, pode-se escovar os dentes imediatamente após terminar de comer. O importante é não comprar cigarros e descartar tudo aquilo que possa remeter ao ato de fumar, como cinzeiros.

“Sem cigarro não vou conseguir produzir. Fico burro”.

Sim, é verdade que a nicotina pode melhorar a concentração. Desse modo, a dificuldade de atenção pode ser um dos sintomas presentes no momento inicial da abstinência. Então, deve-se entender que, nesses primeiros dias, a pessoa pode não produzir tanto quanto gostaria, mas essa limitação é temporária. Pode-se fazer um planejamento e adiar na primeira semana tarefas que demandam mais foco. Deixar de fumar é um passo importante para a vida do tabagista e um período pequeno com dificuldade de concentração não será mais prejudicial do que permanecer fumando.

“Não vou conseguir ir ao banheiro sem cigarro”.

Deve-se ter em mente que, ao parar de fumar, é possível ter alguma alteração intestinal, inclusive com ocorrência de constipação. Muito menos por conta de um efeito direto do tabaco, mas muito provavelmente por ter se criado um condicionamento de fumar sempre que se ia anteriormente ao banheiro. Assim, por vezes é difícil perceber que essas ações (fumar e evacuar) acontecem de forma independente. Uma boa estratégia seria tentar se lembrar de como era o funcionamento do intestino antes de começar a fumar. Mais uma vez, se algum prejuízo no hábito intestinal acontecer, isso será passageiro.

“Não vou conseguir me divertir sem cigarro”.

É fundamental refletir como cada um já se sentiu em lugares em que esteve e que não era permitido fumar. Ou pensar como as pessoas em geral conseguem se divertir sem cigarro. Deve-se discutir as possíveis mudanças de comportamento em relação às restrições de fumo em determinados ambientes. No começo, as mudanças podem ser difíceis, mas a adaptação vem com o tempo. Também deve-se prestar atenção na associação do tabaco com o uso de álcool.

Referência:

Presman S, Gigliotti A. Capítulo 11 – Nicotina. In: Diehl A, Cordeiro DC, Laranjeira R, e colaboradores. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

 

Parar de fumar é possível!

Parar de fumar é uma das melhores coisas que alguém pode fazer para a sua saúde, não existem dúvidas quanto a isso.

* Por Leonardo Martins

Parar de fumar é uma das melhores coisas que alguém pode fazer para a sua saúde, não existem dúvidas quanto a isso.

Ajudar alguém a parar de fumar é algo tão importante quanto e pode ser decisivo.

O tabagismo é o principal fator de risco isolado, ou seja, que sozinho pode levar a mais de 50 doenças diferentes, muitas delas extremamente graves e fatais. Apesar disso, é muito importante sabermos que a dependência de nicotina, substância presente no tabaco, faz com que parar de fumar sem ajuda ou tratamento, seja algo muito difícil para grande maioria das pessoas.

BUSCAR AJUDA É IMPORTANTE

Antes de qualquer informação adicional, é importante que você que quer parar de fumar ou que gostaria de ajudar alguém a parar, saiba que existem diversos recursos que podem lhe ajudar.

O tratamento adequado, com a ajuda de uma equipe de profissionais de saúde especializados, faz toda a diferença.

Muitas pessoas acreditam não ser possível parar por terem tentado sozinhas ou por terem utilizado métodos que não foram efetivos ou que podem até mesmo terem trazido maiores prejuízos do que benefícios. Diversos estudos científicos, inclusive o próprio Instituto Nacional de Câncer e Organização Mundial de Saúde, mostram que parar de fumar com ajuda especializada é importante e que possui muito mais chances de sucesso.

Como profissionais de saúde, sabemos que é grande a dificuldade em se decidir parar de fumar e, que é especialmente difícil manter-se abstinente (sem fumar).

TRATAMENTO ADEQUADO

A ciência mostra que isso não é “falta de força de vontade”, um “problema de caráter” ou qualquer coisa do tipo. A dependência de nicotina exige um tratamento adequado conduzido por profissionais de saúde, como qualquer outro problema de saúde.

O tratamento do tabagismo e a busca por novos hábitos saudáveis apesar de ser algo muito positivo para a saúde, é difícil para quem quer parar. A melhor maneira de ajudarmos é compreendendo esta dificuldade e buscando de forma gentil, apoiar e oferecer a esta pessoa o máximo de recursos possíveis através de ajuda profissional.

A partir de uma avaliação geral, necessidades médicas, psicológicas e relacionadas à mudança de hábitos de vida podem ser planejados.

Algumas pessoas, podem se beneficiar do uso de medicações próprias, outras da reposição de nicotina através de adesivos, gomas de mascar, sendo que outras podem ter em um grupo de apoio o recurso que precisam para compartilhar dificuldades e pensar em alternativas ao tabaco no dia-a-dia. E podem ainda utilizar todos estes recursos, dentre outros como contarem com o apoio da família. Mitos comuns estão associados com tentativas de parar sem este tipo de ajuda profissional. Por exemplo, ficar irritado, ter aumento de peso ou coisas do tipo.

Sabemos que a parada com ajuda profissional, na verdade, está voltada para a busca de uma melhor saúde – em todos os seus aspectos. É comum que a irritação ou mesmo o aumento de peso, estejam ligados a falta de recursos ou mesmo a um aconselhamento profissional precário.

A busca por viver mais e melhor pode incluir não só parar de fumar como também aprender estratégias para lidar com estresse, melhorar a alimentação, iniciar a prática de atividades físicas, dentre outras práticas de auto-cuidado que podem contribuir para uma vida que possa vale a pena.

TIPOS DE CÂNCER ASSOCIADOS AO TABAGISMO

Parar de fumar pode ser uma estratégia que contribua para evitar todos os tipos de câncer que estão diretamente associados com o tabagismo:

  • Câncer de bexiga
  • Câncer de pâncreas
  • Câncer de fígado
  • Câncer do colo do útero
  • Câncer de esôfago
  • Câncer nos rins
  • Câncer de laringe (cordas vocais)
  • Câncer na cavidade oral (boca)
  • Câncer de faringe (pescoço)
  • Câncer de estômago
  • Leucemia mielóide aguda

Além de evitar doenças coronarianas e acidentes vasculares cerebrais, uma vez que tabagistas possuem até 4 vezes mais chances de tê-los ou mesmo doenças pulmonares obstrutivas crônicas, uma vez que tabagistas tem 13 vezes mais chances de as possuírem. Segundo dados da American Cancer Society, para cada maço de 20 cigarros  (que custam em média R$ 9,00), cerca de R$ 50,00 são gastos com doenças relacionadas ao tabaco.

Evitar tais custos com saúde no futuro, evitar as doenças mencionadas e junto disso buscar viver com mais qualidade de vida, sempre será uma oportunidade.

Procure um profissional de saúde de confiança e peça ajuda.

Fonte:

https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo