* Texto por Helen Lima, em entrevista à Fernanda Rezende, enfermeira.
Boas práticas no uso e conservação de medicamentos
Mais de 1,7 milhão de pessoas buscaram atendimento pela utilização incorreta de remédios no Brasil.
Você tem uma “farmacinha” própria em casa? Em nome da comodidade e bem-estar imediato, é comum mantermos alguns medicamentos guardados, mas essa prática demanda cautela. A Organização Mundial da Saúde estima que metade de todos os pacientes não utilizam essas substâncias corretamente. Somente em 2022, mais de 1,7 milhão de pessoas buscaram atendimento ambulatorial no Brasil em decorrência do uso incorreto de remédios, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A instituição reforça que as dosagens e períodos prescritos devem ser seguidos rigorosamente e a automedicação deve ser evitada.
Para lhe ajudar a garantir o efeito esperado e evitar riscos, conversamos com Fernanda Rezende, Enfermeira da Clínica Rezende, que listou uma série de boas práticas no uso e conservação de medicamentos. Confira:
Qual é o local ideal para o armazenamento de remédios?
Fernanda Rezende explica que os medicamentos devem ser mantidos em um lugar fresco, seco e longe da luz, geralmente em armários trancados ou prateleiras mais altas, para evitar o alcance de crianças e pets. Há pessoas que costumam guardar os fármacos na cozinha, o que pode ser perigoso já que o ambiente está sujeito à oscilação de temperatura por conta do fogão e geladeira. A especialista também destaca os perigos do armazenamento no banheiro, pois esse espaço é afetado pela umidade.
“Outra dica é sempre ficar atento aos medicamentos que precisam ser refrigerados, como pomadas dermatológicas, determinados tipos de antibióticos, insulina e remédios para tratar a obesidade”, comenta.
O armazenamento incorreto pode comprometer a eficácia do fármaco e até mesmo gerar algumas substâncias tóxicas capazes de prejudicar o tratamento.
Quais são os principais cuidados ao tomar uma medicação por via oral?
A enfermeira orienta que os medicamentos psiquiátricos, de maneira geral não devem ser tomados em jejum. Ela explica que esse cuidado reduz a incidência de efeitos colaterais, sobretudo gástricos, como tontura e náusea.
Posso partir os comprimidos ao meio?
Ocasionalmente, alguns médicos podem indicar o uso de meio comprimido, sobretudo no início do tratamento, para que o organismo vá se acostumando aos poucos com a medicação, prevenindo reações adversas. Nesse caso, o ideal é o uso de comprimidos sulcados, que podem, dessa forma, ser partidos.
Com exceção desses casos, Fernanda não indica a fragmentação dos comprimidos, ainda que seja feita com o uso de cortadores, pois não existe garantia de que as doses repartidas estarão devidamente uniformes.
Quais são as principais dicas para não esquecer o horário de tomar os remédios?
Fernanda Rezende conta que a criação de alarmes no celular é uma das práticas mais comuns e efetivas entre os usuários e destaca a importância de guardar a prescrição junto com o medicamento, já que o documento reúne informações essenciais como dosagens, horários e período de uso. Ela recomenda que os pacientes colem a receita em um local que seja visto, como no guarda-roupas ou na geladeira. Caso a prescrição fique retida na farmácia, não deixe de fazer uma cópia.
Ainda assim, algumas pessoas, principalmente idosos, esquecem de tomar o remédio no horário certo. Nesses casos, a indicação da enfermeira é contar com a ajuda de familiares ou amigos para lembrá-los. “Uma outra dica que funciona bem com pacientes mais velhos é trabalhar com desenhos. Faça um sol nas caixas dos medicamentos que devem ser tomados durante o dia e uma lua ou estrela nos medicamentos da noite”.
A preocupação em seguir as orientações dos médicos não é à toa, afinal, somente dessa forma é possível alcançar os desfechos desejados. No caso de ansiolíticos e antidepressivos, por exemplo, Fernanda explica que existem determinados tipos de substâncias que demoram cerca de 6 semanas para alcançar o efeito pleno no organismo. Por isso, é necessário paciência e disciplina no uso dessas medicações. “Não adianta tomar só no momento em que você está precisando, como no estado de tristeza durante a depressão. As medicações precisam ser tomadas de modo contínuo”, destaca.
A enfermeira também faz um alerta importante aos pacientes, principalmente para aqueles que fazem tratamentos de saúde mental: “apesar de ser essencial, o remédio não vai resolver todos os seus problemas num passe de mágica. Ele existe para dar um pontapé inicial na recuperação, mas sozinho nem sempre é suficiente. Terapia, atividade física e fé são alguns recursos importantes para complementar esse tratamento”.
Conte sempre com a orientação de um profissional de saúde para fazer o uso consciente dos medicamentos.