Solidão na Terceira Idade: Impactos na Saúde Mental e Como Ajudar

O isolamento social é uma triste realidade para muitos idosos, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Sensibilizar a sociedade para esse tema é crucial, especialmente diante do aumento de pessoas mais velhas no Brasil.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Dra. Natália Salgado, psicogeriatra.

Solidão na Terceira Idade: Impactos na Saúde Mental e Como Ajudar

O isolamento social é uma triste realidade para muitos idosos, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Sensibilizar a sociedade para esse tema é crucial, especialmente diante do aumento de pessoas mais velhas no Brasil. O Censo 2022 aponta que a população com mais de 60 anos chegou a 31,2 milhões, representando 14,7% dos brasileiros e marcando um aumento de 39,8% de idosos entre os anos de 2012 a 2021.

Condições físicas e cognitivas contribuem significativamente para a solidão entre os idosos. De acordo com a Dra. Natália Salgado, psicogeriatra da Clínica Rezende, a perda da autonomia e da independência causada por doenças como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e por distúrbios mentais como a Demência fazem com que a pessoa se torne dependente e perca o interesse por atividades que antes eram prazerosas. Ela cita, por exemplo, o medo de quedas.

“Esse medo gera uma ansiedade no idoso e faz com que ele evite sair de casa. Dessa forma, ele deixa de se encontrar com as pessoas, de frequentar a igreja, de se manter ativo numa atividade física, de se estimular cognitivamente ao fazer uma compra ou dirigir, por exemplo. Então, as doenças que levam a um impacto, seja na autonomia ou na independência, vão acarretar uma perda funcional, e essa perda vai ter diversas consequências, entre elas, o isolamento”, explica.

Lidando com as despedidas

À medida que os anos passam, é natural que a morte se torne mais presente no dia a dia, e o luto frequente também pode impactar a saúde psicológica dos idosos. “Seria importante que a nossa sociedade soubesse trabalhar com a finitude da vida, abordando os aspectos filosóficos relacionados a essa questão”, destaca a psicogeriatra, pontuando que um luto complicado pode ser fator de risco para transtornos mentais como depressão e ansiedade. Esses transtornos, se não tratados adequadamente, podem levar a atos extremos, como a tentativa de suicídio.

Os dados sobre o suicídio entre idosos são alarmantes. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2019, a taxa de brasileiros acima de 60 anos que tiraram a vida aumentou de 68 para 78 a cada 100 mil habitantes. De acordo com artigo publicado pela Escola de Enfermagem (EE) da USP, o suicídio entre idosos é 47% maior do que o restante da população, com um aumento significativo entre homens acima de 70 anos. A Dra. Natália alerta que os “3Ds” – desamparo, desespero e desesperança – são sinais de que o idoso pode estar em risco.

  • Desamparo: sentimento de solidão ou situações em que se percebe a falta de uma rede de suporte;
  • Desespero: ocorre quando a pessoa enfrenta situações sem aparente solução, como a perda de um cônjuge, mudança significativa na renda ou diagnóstico de uma doença grave;
  • Desesperança: quando o idoso demonstra falta de motivação, objetivos e, em maior escala, perda de sentido na vida.

O que pode ser feito?

Um bom primeiro passo para promover o bem-estar mental dos idosos é o rompimento de certos paradigmas. “Muitas vezes a sociedade ocidental, com destaque para o nosso país, entende que envelhecer é sinônimo de entristecer, ficar deprimido, irritado e rabugento, mas isso não é verdade”. Esses sinais indicam adoecimento mental e podem ser tratados com o acompanhamento de um profissional especializado, destaca a psicogeriatra.

Além de um eventual suporte clínico e psicológico, uma rede de apoio presente pode ajudar a evitar a solidão e o desenvolvimento de transtornos mentais entre os mais velhos. Familiares, amigos e cuidadores desempenham um papel essencial ao manter o idoso ativo e integrado socialmente. Programas comunitários, como grupos de apoio e atividades espirituais, são boas alternativas. O avanço da tecnologia também tem ajudado os mais velhos a manter vínculos, através do uso de redes sociais e chamadas de vídeo, por exemplo.

A Dra. Natália Salgado ressalta que promover o envelhecimento bem-sucedido envolve ainda a implementação de políticas públicas que incentivem a interação social, o lazer, a atividade física, a oferta de oficinas de capacitação para o uso de novas tecnologias e o acesso a tratamentos de saúde mental para os idosos. Como ela bem conclui, “envelhecer não significa, de forma alguma, adoecer”.

Quais são os sinais que indicam excesso no uso de telas pelas crianças?

Psicóloga Infantil alerta para as consequências desse comportamento à saúde mental dos pequenos.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Laís Verçoza, psicóloga infantil.

Quais são os sinais que indicam excesso no uso de telas pelas crianças?

Psicóloga Infantil alerta para as consequências desse comportamento à saúde mental dos pequenos.

As crianças da geração atual já nasceram em um mundo hiperconectado, repleto de estímulos visuais e sonoros vindos de dispositivos eletrônicos como celulares, televisores e tablets.  Se utilizada de forma responsável, essa interatividade pode ser uma ferramenta importante no processo de aprendizado, mas especialistas chamam atenção para o excesso de exposição às telas. A prática se consolidou durante a pandemia, diante da impossibilidade dos pequenos frequentarem a escola e saírem para brincar ao ar livre. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso exagerado das telas pode influenciar no atraso do desenvolvimento de habilidades de comunicação e interação social. 

Laís Verçoza, Psicóloga Infantil na Clínica Rezende, destaca que são inúmeras as consequências desse hábito na infância, entre elas o aumento de sintomas ansiosos e depressivos, isolamento social, agressividade e dificuldade de concentração em outras atividades do cotidiano. “De forma geral, todo o desenvolvimento emocional da criança pode ser prejudicado com o uso excessivo das telas, pois se elas passam a maior parte do tempo envolvidas com os dispositivos eletrônicos, terão menos oportunidades de interagir pessoalmente com seus pares e explorar seus sentimentos”. 

A especialista também reforça a influência que as redes sociais podem exercer na formação da autoestima dos pequenos. “Eles podem sentir que não estão atendendo aos padrões – muitas vezes irreais – estabelecidos pela sociedade, fazer comparações com outras pessoas e até mesmo serem vítimas de cyberbullying (quando as agressões e intimidações acontecem no ambiente digital)”. 

Familiares devem ficar atentos aos sinais de excesso

Os pais e demais pessoas envolvidas no cuidado das crianças são aliados importantes para combater o uso nocivo dos eletrônicos. Laís Verçoza lista alguns indícios de que o tempo de tela está ultrapassando um limite saudável, confira: 

  • Mudanças de comportamento, como querer ficar sempre sozinho no quarto e deixar de fazer atividades que gostava, como sair de casa e praticar esportes;
  • Impaciência, ansiedade e agressividade, principalmente quando a família tenta proibir ou reduzir o uso de eletrônicos; 
  • Alterações no padrão de sono;
  • Diminuição do rendimento acadêmico. 

Diante desses sinais, a profissional recomenda o acompanhamento psicológico como uma alternativa extremamente benéfica para auxiliar os pequenos a estabelecerem uma relação mais saudável com as telas. “Ao realizar uma avaliação individualizada, o Psicólogo irá entender melhor o padrão de uso da criança, bem como os hábitos e comportamentos relacionados, identificando aspectos emocionais que podem estar influenciando nesse excesso. O tratamento ajuda na regulação emocional, no manejo da ansiedade e de outros sentimentos”. Laís complementa dizendo que esse acompanhamento também tem a função de orientar os cuidadores, apoiando-os na definição de estratégias para o bom uso das telas. 

A responsabilidade é coletiva

A Sociedade Brasileira de Pediatria possui um Manual de Orientação sobre o uso de telas, no qual recomenda a limitação de tempo de acordo com a faixa etária da criança: 

  • Até dois anos de idade, é bom evitar a exposição às telas, mesmo que passivamente; 
  • De 2 a 5 anos, o tempo deve ser limitado a no máximo 1 hora por dia, sempre sob supervisão de um adulto; 
  • Crianças entre 6 e 10 anos devem limitar o tempo de 1 até 2 horas por dia, sob supervisão; 
  • Adolescentes entre 11 e 18 anos não devem ultrapassar o máximo de 3 horas por dia, ainda sob supervisão. É importante evitar o uso à noite, não sendo indicado “virar a madrugada” nas telas. 
  • Em todas as idades, é fundamental não utilizar as telas durante as refeições e se desconectar uma ou duas horas antes de dormir.

A Psicóloga da Clínica Rezende aconselha que os pais e demais responsáveis incentivem programas offline, como brincadeiras ao ar livre e atividades artísticas, promovendo momentos de maior convivência familiar. Ela também chama a atenção para os cuidados com a segurança das crianças no ambiente digital. “Monitorar o que o seu filho está vendo e jogando é muito importante. Estimule a comunicação e oriente sobre a importância do equilíbrio”. 

Laís Verçoza ressalta a necessidade dos responsáveis se envolverem ativamente no desenvolvimento de hábitos saudáveis relacionados ao uso das telas. “As crianças aprendem principalmente pelo exemplo e pela observação dos comportamentos da família. Se elas veem o adulto passar muito tempo nos dispositivos eletrônicos, sem disponibilidade para estar efetivamente presente, é natural que o interesse pelas telas aumente”.

Como identificar a perda da funcionalidade da pessoa idosa?

Saiba de que forma você pode ajudá-la a manter a autoestima diante da dependência e falta de autonomia.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Dra. Natália Salgado, Psicogeriatra.

Como identificar a perda da funcionalidade da pessoa idosa?

 Saiba de que forma você pode ajudá-la a manter a autoestima diante da dependência e falta de autonomia.

Dificuldades para tomar decisões no dia a dia, insegurança à frente de situações corriqueiras, prejuízo na memória recente e esquivamento de interações sociais. Esses são alguns sinais que podem indicar a perda da autonomia, que é a capacidade do ser humano em se auto gerir e tomar decisões próprias, em uma pessoa na terceira idade. A Dra. Natália Salgado, psicogeriatra da Clínica Rezende, explica que a perda da funcionalidade da pessoa idosa ocorre quando há a falta de autonomia em conjunto com a dependência, quadro em que o indivíduo fica impossibilitado de executar tarefas do dia a dia.

A especialista conta que essa situação pode ser vivenciada de forma muito diversa pelo idoso e seus acompanhantes. Enquanto algumas famílias optam por levá-lo para morar na mesma casa, outras escolhem transferi-lo para uma casa de repouso. Independente da alternativa escolhida, ela recomenda que a pessoa mais velha seja estimulada a realizar as atividades que ela ainda dá conta de fazer de forma segura, ainda que em um outro ritmo. Confira alguns exemplos:

  • ajudar na limpeza;
  • guardar as compras;
  • higienizar alimentos;
  • arrumar o próprio quarto;
  • organizar o guarda-roupas.

“Marginalizar o idoso dos afazeres do dia a dia não é uma conduta adequada. É interessante inseri-lo de forma gradativa nessas tarefas, de forma que elas sejam prazerosas para ele”, orienta.

Queda na autoestima: porta de entrada para a ansiedade e depressão

 A partir do momento em que uma pessoa na terceira idade percebe que há prejuízos na sua capacidade de decisão, podem surgir sentimentos como impotência e perda de identidade, impactando diretamente o seu senso de auto realização e utilidade. De acordo com a Dra. Natália, esses pensamentos influenciam diretamente na autoestima e podem levar a um quadro de isolamento social, por insegurança e medo de errar. “Toda essa dinâmica mental é fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais, principalmente depressão e ansiedade”, alerta.

Para evitar o agravamento desse quadro, a especialista destaca que o primeiro passo é estabelecer o entendimento coletivo: todas as pessoas envolvidas no cuidado da pessoa idosa devem saber o que levou à perda de funcionalidade e o prognóstico precisa estar muito claro. “A Psicoeducação ajuda a lidar com as demandas que surgem no decorrer do tempo. É muito importante que todos os envolvidos se sintam integrantes do processo de cuidado, para que a empatia seja praticada”.

A Psicoeducação é uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua situação de saúde e todo o processo de tratamento. Segundo a psicogeriatra, essa abordagem ajuda na aceitação dessa situação, reduzindo frustrações, cobranças e culpas. “É importante dar espaço para uma nova realidade que faça sentido para todos os envolvidos no cuidado, buscar ativamente as potencialidades ainda presentes na pessoa idosa e usá-las como forma de incentivo”.

A Dra. Natália finaliza com mais uma dica de ouro: a troca de experiências. “Compartilhar angústias e medos com grupos de familiares e cuidadores com vivências semelhantes também é uma prática recomendada”.

Qual a minha parte em quem meu filho se torna?

E qual mãe e pai não se sentiu culpado por alguma atitude do filho(a)? Qual mãe e pai não se preocupa com o futuro de seu filho(a)?

* Por Diana Lopes

Qual a minha parte em quem meu filho se torna?

Mais uma sessão, mais um psicólogo e sempre nos deparamos: Como eram seus pais? Paulo Gustavo em um vídeo super bem humorado interpreta Dona Hermínia que se indigna com a psicóloga de Marcelina, sua filha, em que a profissional “culpa” a mãe. Apesar da indignação de Dona Hermínia, há qualquer relação em como os pais influenciam a construção do “eu”  de seus filhos.

E qual mãe e pai não se sentiu culpado por alguma atitude do filho(a)? Qual mãe e pai não se preocupa com o futuro de seu filho(a)? Qual mãe e pai não se pergunta se está fazendo o melhor por seu filho(a)? Qual mãe e pai não se procura em características do filho(a)? Mas será que tudo quem é o filho(a) depende dos pais? Vamos buscar juntos uma compreensão sobre isto?

O “eu” é um processo contínuo ao longo de toda vida, assim, não está completamente acabado e estável, está sempre se “tornando”. E isso é igualmente verdadeiro para crianças em desenvolvimento e adultos em desenvolvimento que com quem elas interagem. Por um tempo é imprescindível que crianças pequenas necessitem de proteção e cuidados práticos, como dar banho e comida e colocar para dormir. No entanto, existe um aspecto que vai muito além dessas medidas práticas de sobrevivência de seu filho: o afeto. É o vínculo de apego (os estilos de apego foram tratados neste texto) que viabiliza a sobrevivência e os cuidados e, principalmente, alicerça as características do “eu” de seu filho. Mas isto quer dizer que os pais são os únicos responsáveis por quem o filho(a) se torna?

Apego

Resolvi escrever este texto ao perceber sofrimento, medo e culpa, entre amigos e pacientes maravilhosos em relação aos seus filhos. Excelentes mães e pais querem oferecer o melhor e, às vezes (ou o tempo todo), se cobram muito. Segundo Vygotsky, a relação de apego funciona apropriadamente na “zona de desenvolvimento proximal” da criança, as figuras de apego percebem os sinais da criança e organizam o seu comportamento para promover a proteção e cuidados. Isso significa que pais deveriam deixar as crianças fazerem o que elas podem fazer por si mesmas e fazer por elas o que elas não podem fazer. Esta é uma relação recíproca e sempre buscamos por reciprocidade. O melhor que você pode oferecer para seu filho é reciprocidade e amor. É dessa maneira que os pais auxiliam na criação do eu da criança e do mesmo modo, a interação com os filhos promove mudanças nos pais.

Outros aspectos a serem considerados para essa nossa proposta de compreensão, são de que as crianças recebem um número enorme de influências para construírem o próprio “eu”.  Sua personalidade e sua subjetividade interagem com a comunidade, ambiente, entra em contato com outros exemplos, outras formas de se comportar e pensar ao longo de toda vida, seja na escola, entre amigos e até dentro da própria família. Elas deverão se adaptar e deveriam ser criadas para (e pelo) mundo. É desafiador aceitar que não se tem controle total de como os filhos irão expressar todo o esforço e amor dedicado em sua formação. Deveríamos normalizar que assim que dominamos algum aspecto na educação dos filhos, a criança muda e precisa de algo novo, algo para o qual os pais não estão preparados e para o qual eles próprios devem mudar. É uma dança permanente da interação interpessoal entre pais e filhos. Por isso é tão natural que não tenhamos certeza sobre o mais correto ao educar filhos. Não há certeza sobre a “coisa certa” a fazer pela criança. Não há manual ou receita.

O caminho viável é estar atento à criança. Antes mesmo de aprender a falar, a criança já se comunica por gestos e ações, por isto o melhor guia é se perguntar: o que meu filho(a) está querendo dizer com isso? E se não conseguir traduzir exatamente, não se culpe. Se errar em algum momento com seu filho, não se culpe, não tema, tente reparar, seja empático com a criança, mas não se esqueça de ser empático consigo mesmo(a).

Lembre-se: Talvez a coisa certa a fazer nem exista, o desenvolvimento da criança não depende apenas do pai e da mãe e Dona Hermínia tem razão em se indignar. Em um processo psicoterápico buscamos desvendar o alicerce do desenvolvimento desse “eu” mas a responsabilidade de quem este “eu” se torna é também reflexo de um sentido de organização pessoal. Somos protagonistas de quem nos tornamos. Seus filhos serão protagonistas de quem se tornarem!

Referências:

GUIDANO, V. F. (1988). La complessità del Sé: Un approccio sistemico-processuale alla psicopatologia e alla terapia cognitiva. Torino: Bollati Boringhieri.

LANDA, SOPHIE & DUSCHINSKY, ROBBIE. (2013). Crittenden’s Dynamic-Maturational Model of Attachment and Adaptation. Review of General Psychology. 17. 326. 10.1037/a0032102.

VYGOTSKY, L.S. (2007). A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.

Vídeo citado: https://www.youtube.com/watch?v=PDRTaFY4u7g

Por que as pessoas fumam?

Certamente, as pessoas fumam pelos mais diversos motivos. Deve-se pensar, porém, que a nicotina presente no tabaco, que é a substância capaz de gerar dependência, atua no sistema de recompensa cerebral e seu uso resulta numa sensação de bem-estar.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

Por que as pessoas fumam?

Certamente, as pessoas fumam pelos mais diversos motivos. Deve-se pensar, porém, que a nicotina presente no tabaco, que é a substância capaz de gerar dependência, atua no sistema de recompensa cerebral e seu uso resulta numa sensação de bem-estar. Por outro lado, na medida em que a dependência se instala ao longo do tempo, as pessoas passam a buscar o cigarro para evitar o incômodo dos sintomas de abstinência. As principais queixas dessa condição são inquietação, irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia, ansiedade, tristeza e aumento do apetite.

As pessoas também podem fumar como uma forma de lidar com as emoções ou sentir-se melhor diante de algum problema. Dessa forma, algumas pessoas podem dizer que fumar dá prazer e é relaxante, outras podem justificar falando que o cigarro lhes anima e, assim, fica mais fácil se relacionar com os outros. Algumas pessoas podem argumentar que usam o tabaco para manter-se alerta ou para se esquecer das obrigações e preocupações.

Independentemente das justificativas apresentadas por cada um, sempre se destaca que parar de fumar é possível! Descobrir e entender as razões para se fumar pode ser útil no processo de tratamento e interrupção do tabagismo.

Quando se pensa na dependência comportamental, o fumante estabelece uma rotina, criando hábitos que se tornam gatilhos para o desejo de fumar. O condicionamento normalmente acontece com a repetição da associação do hábito de usar o cigarro com algum comportamento.

Pode-se citar os principais hábitos associados ao ato de fumar: após o consumo de café ou das refeições; ao ir ao banheiro, ao dirigir ou ao falar ao telefone; antes de dormir ou quando se consome bebidas alcoólicas.

É fundamental a compreensão de que cada tabagista desenvolve uma relação específica com o cigarro, e as funções e os motivos que levam cada um a manter o hábito variam de pessoa para pessoa. Durante o trabalho de aconselhamento para a interrupção do tabagismo, o foco deve ser a identificação das crenças e dos comportamentos associados ao hábito de fumar, para que assim o indivíduo possa desfazer tais associações.

Existem diversas ideias associadas ao tabagismo que podem funcionar como obstáculo para o desejo de enfrentar esse problema. Muitas dessas ideias não são verdadeiras e devem ser desmistificadas. Outras são mesmo reais, mas é aconselhável que algumas estratégias sejam discutidas para que possam ser minimizadas.

“Fumar me ajuda a controlar o peso e, se eu parar, vou ficar gordo”.

De fato, o ganho de peso muitas vezes aparece como uma barreira na cessação do tabagismo, sobretudo em mulheres. A maioria dos pacientes engorda em média até 4kg ao deixar de fumar. No entanto, esse ganho é menos prejudicial à saúde do que continuar a fumar. Não se deve negar essa possibilidade de ganho ponderal, embora nem sempre haja incremento da ingesta calórica. Os fatores que influenciam esse aumento do peso são alterações metabólicas, melhora do paladar e olfato, aumento do apetite e ansiedade, além da necessidade de se premiar por conta da sensação de privação do cigarro. Assim, deve-se ter em mente a necessidade de adoção de um estilo de vida com hábitos mais saudáveis, com a maior ingestão de frutas e verduras, prática de exercício físico e consumo limitado de álcool.

“Fumar me ajuda a lidar com o estresse”.

A maioria dos fumantes relata usar o cigarro para lidar com situações estressantes. Porém, no cigarro não existe nenhuma substância relaxante, a nicotina é um estimulante. Provavelmente, esse relato está relacionado a um condicionamento, ou seja, as pessoas param para fumar em interrupções de situações de estresse. A hora de fumar é uma parada no tempo, propiciando um intervalo à pessoa. Por exemplo, o fato do indivíduo fumar no intervalo de uma reunião estressante. Além disso, quando se fuma, se alivia os sintomas de abstinência.

“A vontade de fumar não vai embora”.

É importante se ter informações acerca dos sintomas de abstinência, o tempo de duração e o quanto o tratamento farmacológico pode minimizar essas queixas. A vontade de fumar, conhecida como fissura, é um sintoma de abstinência, e tende a durar, em média, 2 a 5 minutos. O mais importante é que a ocorrência desses sintomas vai diminuir com o tempo. Quanto mais tempo a pessoa ficar sem fumar, menos intensa e frequente será a vontade.

Existem algumas formas para se lidar com esses momentos de fissura, tais como beber água quando sentir vontade de fumar. Uma outra possibilidade é ter palitos de cenoura à mão, comendo sempre que sentir aquela ânsia de levar um cigarro à boca. Um chiclete também pode substituir o prazer oral do cigarro. Se a pessoa tem vontade de fumar logo após as refeições, pode-se escovar os dentes imediatamente após terminar de comer. O importante é não comprar cigarros e descartar tudo aquilo que possa remeter ao ato de fumar, como cinzeiros.

“Sem cigarro não vou conseguir produzir. Fico burro”.

Sim, é verdade que a nicotina pode melhorar a concentração. Desse modo, a dificuldade de atenção pode ser um dos sintomas presentes no momento inicial da abstinência. Então, deve-se entender que, nesses primeiros dias, a pessoa pode não produzir tanto quanto gostaria, mas essa limitação é temporária. Pode-se fazer um planejamento e adiar na primeira semana tarefas que demandam mais foco. Deixar de fumar é um passo importante para a vida do tabagista e um período pequeno com dificuldade de concentração não será mais prejudicial do que permanecer fumando.

“Não vou conseguir ir ao banheiro sem cigarro”.

Deve-se ter em mente que, ao parar de fumar, é possível ter alguma alteração intestinal, inclusive com ocorrência de constipação. Muito menos por conta de um efeito direto do tabaco, mas muito provavelmente por ter se criado um condicionamento de fumar sempre que se ia anteriormente ao banheiro. Assim, por vezes é difícil perceber que essas ações (fumar e evacuar) acontecem de forma independente. Uma boa estratégia seria tentar se lembrar de como era o funcionamento do intestino antes de começar a fumar. Mais uma vez, se algum prejuízo no hábito intestinal acontecer, isso será passageiro.

“Não vou conseguir me divertir sem cigarro”.

É fundamental refletir como cada um já se sentiu em lugares em que esteve e que não era permitido fumar. Ou pensar como as pessoas em geral conseguem se divertir sem cigarro. Deve-se discutir as possíveis mudanças de comportamento em relação às restrições de fumo em determinados ambientes. No começo, as mudanças podem ser difíceis, mas a adaptação vem com o tempo. Também deve-se prestar atenção na associação do tabaco com o uso de álcool.

Referência:

Presman S, Gigliotti A. Capítulo 11 – Nicotina. In: Diehl A, Cordeiro DC, Laranjeira R, e colaboradores. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

 

Transtorno do Estresse Pós-Traumático

O que é, os principais sintomas, como o problema pode estar sendo mantido. Leia aqui.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é o Transtorno do Estresse Pós-Traumático?

O Transtorno do Estresse Pós-Traumático – TEPT é caracterizado pelo aumento do estresse e da ansiedade após a exposição a um evento traumático, sendo que a resposta a esse estressor precisa envolver medo intenso ou terror.  Ou seja, para que a pessoa desenvolva TEPT, é necessário que ela tenha experimentado ou testemunhado situações que envolvam morte, sério ferimento ou ameaça à sua integridade física ou de pessoas próximas.

Por definição, um evento traumático é o fator causal principal no desenvolvimento do TEPT e deve ser suficientemente grave e devastador para afetar quase todas as pessoas. Pode incluir ser testemunha ou estar envolvido em um acidente ou crime violento, agressão, sequestro, vivenciar um desastre natural (enchentes, desabamentos, furacões), situações de guerra, ser vítima de abusos físicos ou sexuais, ou ser diagnosticado com uma doença grave, dentre outras possibilidades.

No entanto, nem todas as pessoas desenvolvem o transtorno após um evento traumático. Há dados mostrando que 60% dos homens e 50% das mulheres experimentam algum trauma significativo ao longo do tempo, enquanto a prevalência de TEPT durante a vida é de 8%.

Quais são os principais sintomas do TEPT?

Para que o TEPT seja diagnosticado, é preciso que a pessoa apresente, após um mês de ocorrência do trauma, sintomas que envolvam três domínios:

  1. Sintomas intrusivos após o trauma
  2. Evitação de estímulos associados ao evento
  3. 3. Aumento da excitação autonômica 
  • Sintomas intrusivos após o trauma

A pessoa fala da presença de lembranças angustiantes, recorrentes e involuntárias do evento traumático, e sonhos recorrentes ligados ao estressor. Os chamados flashbacks, nos quais o indivíduo age e sente como se o trauma estivesse ocorrendo novamente, são sintomas clássicos dessas manifestações intrusivas.

A experiência fica se repetindo na mente da pessoa, fazendo com que ela reviva o trauma constantemente, e tenha pensamentos indesejados sobre o evento estressor. Esses pensamentos podem vir como um filme, que fica passando na cabeça, ou imagens muito reais, como se a situação estivesse acontecendo novamente. Além disso, a pessoa pode passar a ter pesadelos relacionados ao trauma.

  • Evitação de estímulos associados ao evento

O indivíduo começa a empreender esforços para evitar recordações ou situações (pessoas, lugares, conversas) que despertem as lembranças do que aconteceu, podendo até mesmo apresentar alguma dificuldade para recordar algum aspecto importante do evento. Além disso, a pessoa desenvolve algumas crenças negativas a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo (“sou mau”, “não se deve confiar em ninguém”, “o mundo é perigoso”). É bastante comum a presença de um estado emocional negativo, expresso por sentimentos de medo, raiva ou culpa, assim como interesses diminuídos em atividades significativas.

Para fugir dos sentimentos indesejados, a pessoa passa a evitar o contato com situações ou pessoas que a lembrem do ocorrido. Por exemplo: alguém que foi assaltado em um ônibus, começa a deixar de usar transportes públicos (até mesmo metrô e trem). Também ao tentar afastar pensamentos e sentimentos dolorosos, a pessoa pode acabar tendo dificuldades em sentir outras emoções, como amor, alegria, esperança, a que damos o nome de entorpecimento emocional. Ela pode apresentar sentimentos como raiva, vergonha e culpa. O interesse em atividades das quais costumava gostar também pode estar diminuído ou ausente. Esse entorpecimento emocional parece ser uma estratégia psicológica para “anestesiar” o sofrimento e o pânico gerados pela revivência.

  • Aumento da excitação autonômica

Tal domínio se caracteriza pela presença de surtos de raiva, hipervigilância, problemas de concentração, resposta de sobressalto exagerada e perturbações do sono. Tais sintomas são reações psicofisiológicas relacionadas a estímulos que estejam associados ao trauma. Isso faz com que a pessoa tenha a sensação permanente de ameaça.

Dessa maneira, a pessoa e seu corpo estão em constante estado de alerta, sempre prontos para responder imediatamente a uma situação perigosa, mesmo em contextos seguros, com nervosismo ou agitação, irritabilidade, dificuldade de concentração ou problemas para dormir.

Quando um paciente passou por um acontecimento traumático e desenvolveu TEPT, a ênfase dever ser na psicoeducação sobre o transtorno e seu tratamento, farmacológico e psicoterápico. As principais abordagens são apoio, encorajamento para discutir o evento e a educação sobre uma variedade de mecanismos de enfrentamento (por exemplo, relaxamento). É importante que cada pessoa fale do que lhe aconteceu no seu ritmo e que sua vontade seja respeitada.

Como os pensamentos influenciam no TEPT?

É importante destacar e relembrar que a forma como se interpreta as situações influencia diretamente na forma como se sente, nas reações corporais e nas ações que se realiza em cada situação.

As principais interpretações feitas por pessoas com TEPT são a de que o mundo é perigoso. Vamos novamente usar o exemplo de alguém que tenha sido vítima de um assalto à mão armada dentro de um ônibus. Em condições semelhantes, a pessoa passa a ter pensamentos automáticos (“aquela pessoa que entrou no ônibus agora vai me assaltar”), associados ao sentimento de medo e ansiedade (“eu poderia ter feito algo para evitar o que aconteceu”), com reações físicas de taquicardia, sudorese e dificuldade para respirar.

Assim sendo, uma estratégia muito usada pelas pessoas para diminuir a ansiedade de forma rápida é a evitação. Isso leva a uma redução imediata da ansiedade, porém aumenta o medo em longo prazo. No exemplo anterior, em que a pessoa foi assaltada em um ônibus, a decisão de não andar mais de ônibus dá uma sensação de alívio da ansiedade. Fazendo assim, no entanto, a pessoa reforça a ideia de que estar num ônibus é algo muito perigoso.

Como o problema pode estar sendo mantido?

Através da utilização da evitação como ferramenta de alívio imediato da ansiedade, não se aprende uma melhor forma de se lidar com ela. Evitar pensar no trauma, ao invés de fazer com que se esqueça do episódio, acaba por ter um efeito contrário.

Como lidar com o TEPT?

O principal no tratamento é que a pessoa esteja disposta e se sinta à vontade para, com a ajuda do terapeuta, falar sobre o trauma vivido. No início, não será uma tarefa fácil, mas vai ficando cada vez menos complicado.

  • Reavaliação do modo de pensar: é importante identificar os pensamentos que são causadores de medo, culpa, raiva e vergonha. Depois, o terapeuta ajudará a pessoa a enxergar as situações de formas diferentes.

Por exemplo: um motorista de ônibus que se sentia muito culpado por ter atropelado uma mulher que veio a falecer. Ao entender que foi um caso de suicídio, o pensamento do motorista se modifica. Ele consegue perceber que qualquer pessoa que estivesse dirigindo o ônibus, atropelaria a mulher.

Técnicas de enfrentamento: essa técnica visa ativar a memória traumática e todas as emoções a ela associadas, de modo que, ao final, será possível falar do trauma sem grande incômodo, apenas como algo ruim que aconteceu. O importante é perceber que o trauma está no passado e que, no presente, a vivência é outra.

  • Técnicas de manejo da ansiedade: são usadas técnicas de relaxamento e de respiração no tratamento. A prática dessas técnicas faz com que a pessoa aprenda a manejar e possa diminuir seus sintomas físicos de ansiedade, como tonteira, palpitações e suor nas mãos.

É comum que a pessoa que desenvolveu TEPT pense que nunca mais conseguirá viver como vivia antes do evento. É verdadeiramente muito difícil passar por essas situações de trauma, contudo, através do tratamento pode-se investir em pequenos passos, um de cada vez, para a melhora global da qualidade de vida.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

VENTURA, P. Capítulo 3 – Transtorno de estresse pós-traumático. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Outra referência:

SADOCK, B.J.; SADOCK, V.A.; RUIZ, P. Compêndio de Psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. Capítulo 11 – Transtornos relacionados a traumas e estressores – 11. Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2017.

Neste final de ano a Clínica Rezende resolveu preparar uma surpresa…

Passamos por um ano difícil e, por isso, gostaríamos de agradecer a todos os profissionais da Clínica Rezende, que fizeram com que os dias fossem mais leves por aqui.

Passamos por um ano difícil e, por isso, gostaríamos de agradecer a todos os profissionais da Clínica Rezende, que fizeram com que os dias fossem mais leves por aqui. Essa é a mensagem do Dr. Alexandre de Rezende para toda a equipe: Aline, Anelisa, Diana, Eliza, Fabrício, Fernanda, Juliana, Laís, Leonardo, Natália, Roseli, Sabrina e Vívian. E também a todos os amigos e pacientes da Clínica Rezende! 💙

Nesses tempos difíceis,Quando as portas se fecharam e a solidão invadiu nossas moradas, pude contar com a presença da sua escuta. Quando as luzes se apagaram e o medo se impôs sem compaixão, eu sabia dos seus olhos a me dizer todas as palavras. Quando o silêncio gritou seus fantasmas e a dor tomou posse do nosso peito, a sua voz me trouxe coragem. Nesses tempos de solidão, de medo, de silêncio, de dor, Você foi a presença de uma mão que me trouxe conforto e afago. Nesses tempos ainda difíceis, Quero que o silêncio se rompa e a minha voz se construa num obrigado. Agora que os olhos marejam de esperança, Quero gravar em você toda a minha gratidão. Porque a gratidão é assim: Tecida do fio nobre e frágil da marca que você deixou em mim. E que o futuro costure nossos caminhos juntos novamente!

Texto: Dr. Alexandre de Rezende

Vídeo: @maxwellcosta

 

Em busca de sentido

O que dá sentido à sua vida? Você já se fez essa pergunta?

Setembro de 1942. Um homem judeu de 37 anos chamado Viktor é preso num campo de concentração nazista. Sua mulher grávida também fora levada para outros campos de concentração. Eles nunca mais se veriam novamente. Assim, tudo parecia conduzir aquele homem à morte, seu destino aparentava estar inexoravelmente traçado, podendo dessa maneira se entregar à própria sina de inexistir numa câmara de gás. Entretanto, ao contrário disso, passou a observar o comportamento dos seus companheiros de infortúnio, e percebeu que o ser humano no transcurso do momento mais difícil das suas vidas, pode encontrar sentido para seus dias.

Anos depois, ainda no cárcere, esse homem escreveu um livro em breves nove dias narrando suas experiências. Ele dizia: “Nós que vivemos nos campos de concentração podemos nos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho”. Ele vislumbrou que a “busca de sentido” é algo inerente à natureza humana.

Abril de 2020. Somos tantos italianos e brasileiros, espanhóis e chineses, Marias e Josés. Certamente, estamos na travessia de um dos trechos mais nebulosos da nossa estrada. Estamos vivendo no claustro da solidão e da incerteza e sendo invadidos pelo medo, pela angústia e pela ansiedade.

O homem judeu em questão é Viktor Frankl, um neuropsiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia, que é uma abordagem psicoterápica que se fundamenta na busca pelo sentido da existência humana. “Em busca de sentido” é o livro em que ele descreve toda a sua experiência nos campos de concentração nazistas.

O que dá sentido à sua vida? Você já se fez essa pergunta? O sorriso de um filho, a alegria e a felicidade deles. O contentamento estampado no rosto de um idoso por um acalanto numa visita de final de semana. A gratidão de um aluno pelo conhecimento recebido do mestre. Para alguém em situação de rua, o sentido da vida pode ser um pedaço de pão. Para um enfermo no leito de um hospital, a razão pode ser uma réstia de oxigênio. O perfume de uma flor, o mar, as estrelas. Ora, buscar o sentido de nossa existência, explorar em nosso interior a razão de nossa vida, nos fará pessoas melhores, nos preencherá e nos fará seres mais completos.

De tudo, ficará esse tempo como o passado, essas horas ingressarão no rol das vicissitudes dos nossos dias, e aí teremos aprendido que aquilo que nos move é mais importante do que o que nos faz sucumbir.

Alexandre de Rezende Pinto

 

Entrevista Motivacional

A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Clique para ler mais.

* Por Alexandre de Rezende

Entrevista motivacional

As pessoas mudam de várias maneiras e por inúmeros motivos. Assim começa o prefácio do livro “Entrevista motivacional – Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos”, dos autores Miller e Rollnick. A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Ou seja, a Entrevista Motivacional é uma abordagem criada para ajudar o paciente a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar.

Esse modelo foi desenvolvido pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick na década de 1990, inicialmente para o aconselhamento relacionado ao uso e abuso de álcool e outras drogas, mas atualmente tem sido utilizado no contexto de diversas doenças crônicas. O grande objetivo dessa abordagem é evocar as motivações internas do paciente para promover as mudanças comportamentais de acordo com os interesses que ele tem na melhoria de sua saúde.

Alguns conceitos são primordiais na Entrevista Motivacional: motivação, prontidão para a mudança e ambivalência.

A motivação é um estado de prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Essa condição também pode ser influenciada por fatores externos ou até mesmo por outras pessoas.

Já a ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e opostos em relação à mudança é considerada normal. A força é maior quando um paciente quer mudar, não só para evitar as consequências do comportamento prejudicial, mas também quando encara a mudança como um caminho para alcançar uma vida melhor, mais prazerosa, longa e saudável. Evocar no paciente emoções positivas, como esperança, amor e alegria, e cognições, como autoeficácia e aceitação, tendem a ampliar suas possibilidades pessoais de considerar e experimentar a mudança. Assim sendo, a entrevista motivacional pretende ajudar o indivíduo a resolver essa ambivalência e colocar a pessoa em movimento no caminho para a mudança.

Os psicólogos James Prochaska e Carlo Di Clemente (1982) descreveram uma série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modificação de um problema.

Estágios

Pré-contemplação: a pessoa não está considerando a possibilidade de mudança, porque nem sequer identificou ter um problema.

O que fazer? Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamental atual.

Contemplação: a pessoa pensa na possibilidade de mudar seu comportamento. Mas esse período é caracterizado pela ambivalência, o indivíduo fica dividido entre os motivos de preocupação e as razões para manutenção daquele comportamento.

O que fazer? “Inclinar a balança” – evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar.

Preparação para a ação: a pessoa desenvolve um plano ou estratégias para a mudança de comportamento. Esse período é como uma janela que se abre para a oportunidade de mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança.

Ação: a pessoa se engaja em ações específicas para chegar a uma mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança.

Manutenção: a pessoa tem o desafio de manter a mudança obtida e evitar a recaída, isto é, o retorno ao comportamento anterior. A manutenção de uma mudança pode exigir um conjunto de habilidades diferentes das que foram primeiramente necessárias para a obtenção da mudança.

O que fazer? Ajudar o paciente a identificar e a utilizar estratégias de prevenção de recaída.

Como já dito, a Entrevista Motivacional enfatiza a motivação do paciente para o processo necessário de mudança e entende que o estilo do terapeuta tem um papel fundamental. Assim sendo, a essência da Entrevista Motivacional implica na presença de três atitudes preponderantes do profissional da saúde em relação com paciente: colaboração, evocação e respeito pela autonomia do indivíduo. O profissional deve ser unir a seu paciente, formando uma equipe, e gentilmente oferecer e compartilhar sua experiência, e em parceria com ele, explorar e resolver a ambivalência. A responsabilidade pela mudança é deixada para o paciente.

A Entrevista Emocional é composta por 5 princípios gerais:

  1. expressar empatia

A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de aceitação. Isso significa acolher, aceitar e entender o que o paciente diz, sem fazer julgamentos a seu respeito.

  1. desenvolver discrepância

Mostrar para o paciente a discrepância entre o seu comportamento, suas metas pessoais e o que pensa que deveria fazer para atingir essa meta.

  1. 3. evitar a confrontação

Abordagens de confronto tornam o paciente resistente à intervenção.

  1. lidar com a resistência do paciente

Se a ambivalência e a resistência para a mudança de comportamento podem ser consideradas normais, a atitude do profissional deve ser no sentido de levar o paciente a considerar novas informações e alternativas.

  1. fortalecer a autoeficácia do paciente

Autoeficácia refere-se à crença de uma pessoa em sua capacidade de realizar e de ter sucesso em uma tarefa específica.

 

Referências bibliográficas:

FIGLIE, N.B.; SALES, C. Capítulo 23 – Entrevista Motivacional. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.

MICHELI, D.; FORMIGONI, M.L.O.S.; CARNEIRO, A.P.L Capítulo 2 – Como motivar usuários de risco. In: SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. SUPERA: Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. Intervenção Breve: módulo 4. – 11 ed. – Brasília, 2017.

MILLER, W.R.; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

O que é uma equipe multidisciplinar?

Vamos falar um pouco sobre a importância deste trabalho e porque acreditamos neste formato aqui na Clínica Rezende.

Você já se perguntou o que é uma equipe multidisciplinar? Vamos falar um pouco sobre a importância deste trabalho e porque acreditamos neste formato aqui na Clínica Rezende.

Trabalhando com uma equipe multidisciplinar, nós, profissionais, ao invés de cuidarmos de problemas isolados, trabalhamos coletivamente com outras especialidades para que assim possamos ajudar na análise do caso individualmente e em vários parâmetros da saúde, considerando o paciente como um todo.

A nossa equipe é composta pelas seguintes áreas: enfermagem, psiquiatria, psicologia, nutrição e endocrinologia. E com estes profissionais altamente capacitados em suas áreas, temos uma abordagem mais completa e humanizada alcançando resultados efetivos, principalmente em relação aos transtornos alimentares e dependência química, com uma abordagem ampla e personalizada a cada indivíduo.

Outra preocupação da nossa equipe é ter profissionais para podermos discutir os casos do dia a dia, novos olhares, conhecimentos individuais fortalecendo os resultados coletivos. A equipe multidisciplinar é um formato de parceria que promove a troca de experiências, trazendo benefícios e conhecimento para cada profissional, e resultados para o paciente.

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