O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode alterar as funções cognitivas do usuário, comprometer relações sociais e afetar a saúde mental de seus familiares e amigos.
Danos ao fígado, aumento do risco de cânceres e doenças cardiovasculares, perigo de lesões, episódios de violência e acidentes de trânsito. Esses são alguns dos problemas de saúde associados ao alcoolismo, condição em que a pessoa estabelece uma relação de dependência com a bebida alcoólica. Além dos danos à saúde física, o alcoolismo tem o potencial de comprometer a saúde mental do indivíduo, impactando diversas áreas da sua vida, desde a dinâmica familiar às atividades do trabalho. Segundo Amanda Oliveira, Psicóloga da Clínica Rezende, esses setores estão intimamente relacionados, gerando um efeito dominó que afeta todo o aspecto emocional do paciente. “No caso de dependência, o ato de beber se torna o afazer central na vida do indivíduo, logo, todos os comportamentos são direcionados para o consumo. Os gastos financeiros e os lugares de interesse giram em torno da substância, assim como a proximidade de pessoas que apresentam padrão semelhante de consumo”.
A especialista explica que o uso abusivo do álcool está associado a modificações cognitivas, como alteração da capacidade de memória, maior impulsividade e dificuldades de atenção e aprendizagem. Os vínculos sociais e ocupacionais do usuário também são fragilizados, podendo levar a conflitos familiares, falta de confiança entre amigos e dificuldade para se manter em um emprego. Esses efeitos contribuem para que a pessoa tenha uma visão negativa de si. “Percepções como ‘eu não consigo fazer nada útil’, ‘não tenho valor’ e ‘sou um zero à esquerda’ podem aparecer acompanhadas de emoções desconfortáveis, como vergonha, medo e tristeza, intensificando o isolamento social”, destaca.
Além de evidenciar os prejuízos que o alcoolismo pode trazer à saúde mental dos usuários, a psicóloga reforça que o consumo de álcool é uma questão de saúde pública, trazendo consequências para toda a sociedade. Quem faz parte da rede de apoio de um indivíduo com dependência tem a possibilidade ainda maior de se expor a esses riscos. “Essas pessoas podem sentir e/ou observar negligências na manutenção da relação, o que pode impactar sua autopercepção, principalmente em casos em que o indivíduo com dependência é uma figura parental. Elas ainda têm o maior potencial de passar por vivências traumáticas e situações ansiogênicas, como antecipar problemas em festas de final de ano, por exemplo”.
Amanda Oliveira pontua que amigos e familiares também podem internalizar que são os responsáveis pela dependência do usuário, assumindo para si a capacidade de fazer o outro mudar de comportamento. “Isso é um prato cheio para frustração, sensação de incapacidade e culpa”, afirma. Compreender a nossa limitação diante das escolhas e atitudes do outro é uma das principais orientações que a profissional oferece às pessoas que integram as redes de apoio. Além disso, ela lista outras iniciativas para quem quer ajudar um ente querido, mas não sabe como:
Apesar de vivermos em uma sociedade que naturaliza e estimula o consumo de bebidas alcoólicas, a Organização Mundial da Saúde é categórica ao declarar que não existe limite seguro para o uso da substância. Essa ambivalência pode gerar certa confusão entre as pessoas em relação ao comportamento de consumo. A psicóloga destaca que devemos ficar atentos aos prejuízos que esse hábito pode gerar, como gastos indevidos, relações sexuais sem proteção, brigas, acidentes e lesões. Caso você tenha dificuldade em alterar seu padrão de consumo, perceba que está aumentando a quantidade, realize o consumo em situações inoportunas, beba por mais tempo que o planejado e/ou reduza atividades importantes em função do álcool, é recomendado que busque ajuda.
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A luta contra a dependência de álcool é complexa, repleta de estigmas e preconceitos que podem prejudicar a autoestima e a recuperação dos pacientes. Amanda Oliveira levanta uma reflexão oportuna sobre o tema: “Por que bebemos e usamos drogas? Qual é a finalidade? Falamos sobre os impactos da dependência, mas, nessa via de mão dupla, a perda de um emprego, conflitos familiares e a sensação de solidão também podem estimular o uso”. Contar com acompanhamento psicológico é importante para lidar com emoções e eventos como esses, de forma que eles não se tornem a causa, nem a consequência, de problemas ainda mais graves.
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