Sim, precisamos falar sobre transtorno alimentar! Os transtornos alimentares são transtornos psiquiátricos causados por alterações na autoimagem, ou seja, na forma como o indivíduo se vê, na sua relação com o próprio corpo e com a comida. Dentre os mais importantes podemos citar a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar.
Nos últimos anos, tem havido um aumento na ocorrência desses transtornos alimentares em nosso meio, fazendo com que dados atuais apontem que em torno de 7,8% das pessoas apresentam alguma dessas condições. Porém, os transtornos alimentares podem atingir 13% das adolescentes e, em geral, 80% das pessoas não recebem tratamento adequado. Dados internacionais indicam que, desde o início dos anos 2000 até hoje, as taxas de prevalência mais do que dobraram. As mulheres jovens são o grupo mais acometido, incidindo principalmente em profissões e atividades que tenham ligação com o corpo e a estética, como modelos, bailarinas e atrizes, mas também profissionais da moda, estudantes de psicologia e nutrição.
Os transtornos alimentares são doenças de etiologia multifatorial, ou seja, estão relacionadas com fatores psicológicos, tais como baixa autoestima, tendências ao perfeccionismo, dificuldades de expressar ou lidar com as emoções; também com fatores genéticos, alterações neuroendócrinas nos moduladores cerebrais da fome e saciedade; e fatores socioculturais, como a valorização exagerada e inadequada da magreza como padrão de beleza.
A anorexia nervosa se caracteriza por uma importante distorção da imagem corporal, em que o paciente, embora com perda importante de peso, tem a convicção de estar gordo e apresenta um medo muito grande de engordar ainda mais.
Com isso, utiliza-se de estratégias de restrição alimentar como uma busca desenfreada da magreza, que nunca é alcançada. A anorexia nervosa é um dos transtornos psiquiátricos mais graves, cuja mortalidade pode atingir até 20% dos casos. Um dado importante é que, tendo em vista as alterações da autoimagem, os pacientes na maioria das vezes não reconhecem o problema, julgam que seu comportamento alimentar é normal, o que só dificulta a busca e a aceitação do tratamento.
A bulimia nervosa, por sua vez, tem por características a presença de episódios recorrentes de compulsão alimentar. Essas ocorrências são definidas como a ingestão num curto período de tempo de uma quantidade exagerada de alimentos, mais do que seria esperado (fala-se do consumo de 1000 calorias num espaço de 2 horas). Há também descrita pelos pacientes uma sensação de falta de controle que leva a esses comportamentos de exagero alimentar.
Após esses episódios, o paciente se sente culpado e envergonhado, pois também há uma preocupação excessiva com o peso e forma corporal. Dessa maneira, o paciente adota as chamadas medidas compensatórias, tidas como inadequadas, que vão além da indução de vômitos (purgação), mas também englobam o uso de laxantes ou outros medicamentos com o intuito de eliminar o que fora comido, realização de jejuns prolongados e atividade física em excesso. Segundo os critérios diagnósticos, esses episódios compulsivos e compensatórios devem ocorrer pelo menos 1 vez por semana por pelo menos 3 meses. Por essa razão, o peso dos pacientes com bulimia nervosa é normal ou levemente aumentado.
Por fim, temos o transtorno de compulsão alimentar (conhecido pelas iniciais TCA), também definido como a presença de episódios compulsivos ocorrendo pelo menos 1 vez por semana durante 3 meses. No TCA não existem as medidas compensatórias, mas há uma série de comportamentos associados, a saber: comer mais rapidamente do que o normal; comer até se sentir desconfortavelmente cheio; comer grandes quantidades de alimentos na ausência de sensação física de fome; sentir-se culpado e comer sozinho pela vergonha do quanto se está comendo. Há uma grande associação de TCA com obesidade.
Cerca de metade das pessoas com tal transtorno está acima do peso. A prevalência de TCA na população geral é de 2%, em obesos é de 8%, e chega a 50 até 75% em indivíduos obesos graves (a chamada obesidade grau III).
O tratamento dos transtornos alimentares requer uma equipe multidisciplinar. O grande objetivo é tratar as complicações clínicas e psiquiátricas comórbidas, promover uma recuperação da autoimagem e melhora da autoestima e insatisfação com o corpo. E, acima de tudo, tornar a relação com a comida mais adequada. Para tanto, a presença e participação da família é fundamental.
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