O que é Terapia Cognitiva Comportamental?

O tratamento do sofrimento psíquico através da TCC se baseia no modelo cognitivo – padrão de pensamentos, sentimentos e comportamentos.

* Por Laís Helena Pereira

Afinal, o que é Terapia Cognitiva Comportamental?

A Psicologia enquanto ciência e profissão é ampla e formada por um conjunto de subdisciplinas, que apresentam suas próprias concepções de indivíduo, seus próprios problemas e objetos de estudo, bem como métodos próprios para resolução destes dilemas. A Psicologia Clínica é uma das subdisciplinas e, ao mesmo tempo, é constituída por várias abordagens teóricas que norteiam o processo psicoterapêutico. A Terapia Cognitiva Comportamental ou TCC é uma dessas abordagens.

Sobre a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC)

Desenvolvida na década de 60 por Aaron T. Beck, psicanalista e professor de psiquiatria na Universidade da Pensilvânia, a TCC se baseia na premissa de que os seres humanos são perturbados pelos significados que atribuem aos fatos, e não pelos fatos per se”. Ou seja, os indivíduos fazem uma avaliação interna dos fatos, da vida, do mundo, das pessoas e de si mesmos e a partir dessa avaliação experimentam sentimentos e reagem à situação de modo condizente ao seu entendimento. Isso significa que a cognição (os pensamentos e crenças) têm um papel mediacional entre os fatos e as reações emocionais e comportamentais a eles. Seguindo esse princípio, Beck observou que existe um padrão cognitivo entre os pacientes de acordo com o transtorno mental que apresentavam. Este padrão por sua vez é formado por um conjunto de pensamentos e crenças disfuncionais que em alguns aspectos estão distorcidos da realidade.

O tratamento

O tratamento do sofrimento psíquico através da TCC se baseia no modelo cognitivo – padrão de pensamentos/crenças, sentimentos e comportamentos – apresentado pelo indivíduo e, a partir dele, o psicólogo utiliza estratégias cognitivas e comportamentais ao longo das sessões com intuito de corrigir e reestruturar as distorções. Todo o processo acontece através de uma relação colaborativa entre o profissional e o paciente, de modo que o paciente tenha um papel ativo no seu tratamento. Outra forte característica da TCC é a presença constante de psicoeducação durante todo o tratamento. A psicoeducação permite a compreensão, pelo paciente, do seu modelo cognitivo, do seu transtorno, como funcionam e assim, pode aprender sobre o processo terapêutico, habilidades terapêuticas que podem ser aplicadas em diferentes problemas e também aprender a prevenir recorrências.

A Terapia Cognitiva Comportamental foi concebida para ser estruturada, de curta duração, voltada ao presente, direcionada para solução de problemas atuais e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais.

Em resumo, TCC é uma das abordagens psicoterapêuticas utilizadas pelos psicólogos na condução dos atendimentos clínicos. Cabe ressaltar que atualmente ela é a abordagem considerada padrão ouro para o tratamento de muitos Transtornos Mentais pois milhares de estudos científicos comprovam sua eficácia.

Caso você, leitor, esteja interessado em iniciar um processo psicoterápico, espero ter contribuído para um melhor entendimento a respeito dos aspectos teóricos e práticos da psicoterapia baseada na TCC. Porém, é importante lembrar que as demais abordagens também são eficientes e o processo psicoterápico antes de tudo é uma relação humana em que você precisa se sentir confortável. Se não gostar do primeiro psicólogo que procurou, procure outro e não desista do processo!

Precisamos celebrar o amor

A vida segue em quarentena, e se o amor é a condição humana permanente, certamente amar é uma urgência agora! Precisamos celebrar o amor! Feliz dia dos namorados!

* Por Diana Lopes

Precisamos celebrar o amor

Vamos aos dados históricos… Prometo, serei breve.

O dia dos namorados no ocidente é comemorado em 14 de fevereiro, dia de São Valentim, padre romano que durante o tempo de sua prisão se apaixonou pela filha de um carcereiro e enviava cartas românticas em que assinava: “do seu Valentim”. Ele havia sido preso pelo imperador romano Cláudio 2º, que baniu o casamento naquele século por acreditar que homens casados se tornavam piores soldados. Padre Valentim, por sua vez, infringiu a lei e realizava as cerimônias de casamento em segredo, sendo descoberto e condenado à morte.

Aqui no Brasil, o dia do romance, 12 de Junho, foi uma escolha exclusivamente comercial. Em 1948, o publicitário João Dória (sim, pai do atual governador de São Paulo, João Doria Jr.) propôs a data para melhorar os resultados de venda no mês de junho e escolheu o dia 12 por ser véspera do dia de Santo Antônio de Lisboa, o santo casamenteiro.

Mais um ano que aos amantes, em tempos de pandemia, tem sido um desafio. Segundo alguns dados, os pedidos de divórcio aumentaram em 65% no ano de 2020. Assim também, o aumento de violência doméstica desde o início do confinamento. A quarentena obrigou (e obriga ainda) à convivência em grande proximidade entre alguns, impondo o distanciamento social em relação a outros. A vida isolada exige o contato constante no âmbito do mesmo lar, mas o afastamento de todos os outros. Aos casados um exercício de tolerância, aos solteiros exige lidar com o sentimento de solidão e insegurança em buscar seu par.

Mas o isolamento não impossibilitou a experiência de amar. Tem sido comum a valorização do tempo livre para o aconchego na família. Nos conectamos mais com nosso núcleo afetivo e por isto podemos viver momentos de partilha, de comunicação mais frequente e saudável e a consolidação dos relacionamentos. Aprendemos a nos amar online e a flertar virtualmente. A exposição à ameaça de uma doença contagiosa invocou uma aproximação maior de um núcleo restrito de amigos e, em busca de um par, passamos a adotar estratégias antigas de namoro. Confinados, nos vimos obrigados a dialogar mais, revelar medos e esperanças, sentimentos e maneiras de pensar, a conhecer melhor o outro e a selecionar (parceiro) de forma potencialmente mais acertada.

Desta maneira, poderíamos dizer que a pandemia possibilita que o romance e o apego se desenvolvam lentamente, estimulando o seu florescimento a longo prazo e lançando, consequentemente, as bases para uma parceria mais sólida. Se nas últimas três décadas, de acordo com Bauman (2004), os progressos tecnológicos, econômicos, científicos e culturais propiciaram mudanças no processo de formação, conceituação e constituição das relações amorosas, deixando-as mais fluidas (“amor líquido”). Por outro lado, a pandemia tem nos obrigado a buscar formas mais seguras de nos relacionar.

A verdade é que embora o amor romântico possa acontecer à velocidade da luz, os sentimentos de profundo apego levam o seu tempo para se consolidar. Assim, por mais surpreendente que possa parecer, talvez a era pós-Covid possa desencadear parcerias mais felizes e duradouras. Continuaremos com nosso anseio por liberdade e autonomia, mas exercitaremos mais a empatia, o respeito pelo corpo, o caminhar mais lento, a solidariedade, a tolerância e a reciprocidade. O amor será nosso guia e por isto o anúncio de bons acontecimentos.

Então, que você possa encontrar e oferecer o brilho nos olhos, um sorriso largo e bonito, dividir dificuldades, multiplicar as realizações e os êxitos. Que possa experienciar a segurança de ser amado e de amar, cuidar do amor sem pressa. Para aqueles que já se encontram juntos, dedique um momento para cozinhar juntos, oferecer sua melhor taça e sua melhor bebida, arrumem juntos a casa, durma de conchinha. Aos que estão em busca de seu amor, apreciem a própria companhia, curta os momentos com os amigos e família, brinde a si mesmo. Cumpram aquele desejo de fazer algo por você adiado a tempos.  E quando se depararem com alguém para amar, reflita com Rubem Alves: “Crê que seria cas ampaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?”

Assim, não importa se em 14 de fevereiro ou em 12 de junho, se por finalidade comercial ou religiosa, é tempo de celebrar o amor. O amor de todo dia. O amor da tolerância. O amor do respeito. O amor por nós e pelo outro. O amor da empatia. Podemos mergulhar em nós mesmos e ao mesmo tempo perceber que o nosso amor só alcança sua plenitude quando o manifestamos a outro ser humano. O amor da reciprocidade. Encontramos na relação com o outro a tradução de nossa identidade. A reverberação de nós no outro. O amor próprio.  O amor romântico. Que tenhamos calma para não nos amar rapidamente ou nos render à imediata e exclusiva busca de prazer, de companhia. Cultive o amor terno. Desfrute do amor ardente. Esteja atento em como se sente no contato com o outro, desfrute de todas as sensações. Ame devagarinho. Ame sempre.

A vida segue em quarentena, e se o amor é a condição humana permanente, certamente amar é uma urgência agora! Precisamos celebrar o amor! Feliz dia dos namorados!

 

Referências e sugestão de leituras:

ALVES, Rubem.(1994). A pipa e a flor. Edições Loyolas.

AMORIM, Ana Nascimento de; STENGEL, Márcia. Relações customizadas e o ideário de amor na contemporaneidade. Estudos de Psicologia, Natal, v. 19, n. 3, p. 179-188, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 294X2014000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 mai. 2021.

BAUMAN, Z. (2004).Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Zahar.

https://www.escoladeempatia.com.br/single-post/2018/04/14/tênis-x-frescobol-rubem-alves

https://fespsp.org.br/store/file_source/FESPSP/Documentos/Manuais/Amor_nos_tempos_de_pandemia__2_.pdf

https://www.vice.com/en/article/m7jyaq/it-turns-out-the-pandemic-made-us-better-partners

https://br.bolavip.com/noticias/Por-que-no-Brasil-comemoramos-o-Dia-dos-Namorados-em-junho-e-no-resto-do-mundo-em-fevereiro-20210209-0040.html

Esquizofrenia

A Esquizofrenia é um transtorno mental crônico, com início mais comum no final da adolescência ou início da vida adulta. Apresenta como principais características os chamados sintomas psicóticos, divididos em positivos e negativos.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Esquizofrenia?

A Esquizofrenia é um transtorno mental crônico, com início mais comum no final da adolescência ou início da vida adulta. Apresenta como principais características os chamados sintomas psicóticos, divididos em positivos e negativos.

Os sintomas ditos positivos da Esquizofrenia são os delírios e as alucinações. As alucinações são experiências em que o indivíduo tem percepções na ausência de estímulos sensoriais, sendo que as mais comuns são as auditivas. Ou seja, nesse caso, ele pode ouvir coisas que as demais pessoas não percebem. Já os delírios são definidos como juízos falsos da realidade, isto é, pensamentos ou ideias com conteúdos que não correspondem com a lógica dos fatos.

Há, também, os chamados sintomas negativos, em que se observa um empobrecimento do afeto e da vontade, e incapacidade de expressar emoções. O paciente com Esquizofrenia pode evoluir também com perdas cognitivas, principalmente com déficit na capacidade de abstração e prejuízo das funções executivas.

A prevalência da Esquizofrenia na população geral ao longo da vida gira em torno de 1%, sendo que o pico de aparecimento dos primeiros sintomas normalmente ocorre para os homens entre 15 e 25 anos e para as mulheres entre 25 e 35 anos de idade.

Apesar do tratamento farmacológico ser fundamental nesse tipo de transtorno mental, parte dos pacientes tem dificuldades em seguir esse tratamento de forma contínua. Muitas vezes deixam de tomar os remédios aconselhados por seus psiquiatras ou negligenciam o manejo do problema, reduzem por conta própria a dosagem da medicação, se esquecem dos horários estabelecidos ou fazem uso de substâncias psicoativas. Esses comportamentos contribuem não só para um atraso no tratamento, assim como também proporcionam o aparecimento de prejuízos, ou seja, a pessoa encontra cada vez mais dificuldades para interagir e torna-se menos capaz para desempenhar tarefas do dia a dia.

Como os pensamentos influenciam na Esquizofrenia?

Um paciente com o diagnóstico de Esquizofrenia pode se sentir “confuso” com seus próprios pensamentos. Eles podem lhe tirar a atenção em boa parte do tempo e, às vezes, podem surgir como vozes que dizem coisas sobre si, e que não são boas de ouvir ou são temidas como verdadeiras. Esses pensamentos são percebidos como reais, são bastante perturbadores e podem aumentar bastante o nível de estresse, o que deixa o paciente ainda mais vulnerável a crises. Assim sendo, é de grande importância que, aliada à medicação, o paciente tenha a ajuda de uma psicoterapia, pois assim, num viés cognitivo-comportamental, poderá identificar e modificar seus pensamentos, percebendo o que é “real” e o que tem relação com a Esquizofrenia.

Como o problema pode estar sendo mantido?

A Esquizofrenia é um transtorno mental que, de maneira geral, requer tratamento continuado pelo resto da vida. Nesse sentido, é de extrema importância a correta utilização da medicação prescrita pelo psiquiatra. Qualquer efeito colateral ou reação desagradável a essa medicação deve ser relatada ao médico, e nunca se deve fazer a suspensão por conta própria.

Alguns fatores que podem interferir na piora do quadro ou na não melhora:

  1. Interrupção do tratamento ou não dar o seguimento conforme orientação;
  2. Estressores familiares;
  3. Má alimentação;
  4. Uso de drogas;
  5. Não engajamento em hobbies e outras atividades de lazer.

Como lidar com a Esquizofrenia?

Para além do tratamento farmacológico, é necessário acrescentar intervenções psicossociais, como a psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental é considerada uma das abordagens com boa eficácia utilizada no tratamento da Esquizofrenia. Assim, será possível que o paciente possa encontrar novas alternativas para seu modo de pensar, não levando tanto em conta o conteúdo das alucinações e dos delírios, diminuindo, assim, o impacto deles na vida do paciente.

É importante normalizar as alucinações do paciente. Diversas outras condições, como depressão grave, luto e uso de substâncias podem gerar esses sintomas. Muitas vezes as vozes são reações a pensamento automáticos. Ao saber que outras pessoas podem apresentar isso, a experiência pode se tornar menos perturbadora.

Em relação aos delírios, a terapia cognitivo-comportamental propõe intervenções que permite que o paciente, utilizando áreas intactas do seu psiquismo, possa encontrar novas alternativas para a sua crença delirante e, com isso, diminuir o impacto do pensamento disfuncional em sua vida, a partir de uma aliança terapêutica bem estabelecida. Deve-se tomar o cuidado para não se desafiar os delírios.

Para uma melhor compreensão, citamos a seguir algumas estratégias utilizadas em psicoterapia:

  • Psicoeducação: deve-se informar ao paciente e familiares sobre as características da Esquizofrenia, seus sintomas, como é realizado o tratamento e as dificuldades associadas a esse diagnóstico.
  • Adesão medicamentosa: o tratamento farmacológico tem papel decisivo no controle dos sintomas da Esquizofrenia. Assim, a administração correta dos remédios é essencial para a eficácia do tratamento, evitando-se pausas, atrasos, diminuição ou aumento de dosagens por conta própria. Modificações inadequadas na medicação podem influenciar no aparecimento e gravidade dos sintomas psicóticos.
  • Identificação do pensamento: como já dito, na Esquizofrenia os pensamentos podem se manifestar por meio de conteúdo delirante. Algumas explicações alternativas podem ser sugeridas e talvez elas façam o paciente ver a situação de outro modo, contribuindo para que se sinta melhor.
  • Treino em habilidades sociais: um dos principais objetivos é possibilitar maior autonomia para que o paciente seja capaz de gerir sua vida com os menores danos possíveis. Deve-se desenvolver formas de se lidar com situações sociais diversas, principalmente aquelas de maior estresse, como problemas no âmbito familiar e sua reinserção na comunidade. Deve-se trabalhar intervenções que procurem preservar o contato com a realidade por meio da criação e manutenção de vínculos afetivos, com a família e amigos.
  • Resolução de problemas: tem como finalidade a criação de estratégias que visem resolver problemas específicos pelos quais o paciente possa passar.

 

É importante destacar a importância de se aprender a conviver com a Esquizofrenia, de forma a compreender suas características e saber como lidar com cada uma delas. A melhor forma de enfrentar um problema é conhecendo esse problema.

Sugestão de filme:

Uma mente brilhante. Filme de 2001, dirigido por Ron Howard, conta a história do matemático John Forbes Nash e sua luta contra a Esquizofrenia.

 

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

HIRATA, H.P.; PAIXÃO, J.E. Capítulo 11 – Esquizofrenia. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Depressão e o Envelhecimento

Envelhecer, como qualquer etapa da vida,  envolve passar por transformações  biopsicossociais que podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de depressão. Mas, sabemos que um mesmo estressor é vivenciado de forma diferente,  individualizado por cada pessoa, e isso,  é o que nos torna único. 

* Por Dra. Natália Salgado

Depressão e o Envelhecimento

Entre tantos paradigmas que cercam o envelhecimento humano, a depressão entra como um dos mais pontuados, como se sua presença, fosse intrínseca a essa fase da vida.

Envelhecer não é sinônimo de doença! Muito menos de  tristeza , de perda do interesse em realizar atividades que são prazeirosas e tem que trazem sentido e senso de utilidade.

Senescência

Falo a princípio do envelhecimento fisiológico, saudável – a senescência . A senescência  traz consigo alterações corporais e comportamentais complexas e das mais diversas apresentações. E entre tantas alterações que podem ocorrer , seguindo o fluxo inexorável da vida, o humor entristecido não está entre elas, como erroneamente esperado para essa faixa etária. Muitas vezes estes idosos não tem a oportunidade de vivenciar essa experiência etária de forma satisfatória por falta de oportunidade e organização sócio familiar, entre tantos outros fatores.

Envelhecer, como qualquer etapa da vida,  envolve passar por transformações  biopsicossociais que podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de depressão. Mas, sabemos que um mesmo estressor é vivenciado de forma diferente,  individualizado por cada pessoa, e isso,  é o que nos torna único.

Para uns,  o próprio fato de envelhecer, é sentir “sem lugar”, sem uma utilidade, sentir a proximidade da finitude da vida, e este sentimentos podem ser motivos  para se entristecer e desenvolver com o tempo um quadro depressivo. Mas é  sempre importante distinguir o que é uma uma emoção, um sentimento , do que é  um transtorno, que pode ser entendido como um conjunto de sintomas que interferem na qualidade de vida, causando sofrimento e perda funcional ao sujeito.

Quantos idosos estão atravessando essa pandemia das mais variadas formas, como: expectativas, medos, perdas , suporte social  ou não.  O impacto desta pandemia é inquestionável para a saúde mental do idoso. Principalmente em se tratando de uma parcela que por ser grupo de risco (envelhecer torna o organismo mais vulnerável  aos estressores)  encontra-se rodeado de incertezas, de privações e provações.

Pensando agora em adoecimento mental, a depressão é a condição mais comum, mais prevalente entre os idosos.

Quando suspeitamos de depressão no idoso, devemos sempre pensar em adoecimento e não quadro sintomático inerente do envelhecer. Insisto nisso para ficar claro e ser um sinal de alerta para o idoso , para profissionais da saúde, familiares e para toda a sociedade , que caminha para o envelhecimento da sua população.

A depressão no idoso pode ser sutil, nem sempre manifestando da forma como percebemos no adulto jovem. Variando de quadros leves, subsindrômicos,  até quadros graves com ideação suicida e sintomas psicóticos.

Na investigação diagnostica diante um possível quadro de depressão, é importante determinar vários elementos como inicio de aparecimentos dos sintomas –  início precoce (início do quadro na adolescência e ou na fase adulta) ou de início tardio, após os 60 anos. A distinção em relação ao tempo se faz necessária, devido principalmente os fatores de riscos relacionados,  o planejamento da abordagem terapêutica multidisciplinar assim como o direcionamento do raciocínio clinico para possíveis  diagnósticos diferenciais, como a demência.

Entre os fatores que  estão relacionados com a depressão no idoso (principalmente a depressão de inicio tardio) podemos citar: fatores hereditários, fatores neuroendócrinos,  presença de comorbidades clinicas; efeitos adversos de medicamentos;  e vivencias pessoais diversas  como luto, aposentadoria, exclusão social e abandono. Todos estes elementos devem ser particularizados e avaliados.

Assim, fazer o diagnóstico nesta parcela expressiva da população não é tão simples como pode parecer, e muitas vezes utilizamos questionários específicos para rastreio da possível condição.

Vejamos duas  peculiaridades mais comuns, que torna o diagnostico mais desafiador:

  1. O Transtorno depressivo pode se apresentar de forma genérica, com queixas inespecíficas como: dores difusas pelo corpo, queixas gastrointestinais diversas (dor abdominal, constipação intestinal, epigastralgia), tonteiras, perda do equilíbrio, mal estar inespecífico, dificuldades em memória e atenção, fadiga, perda da esperança, além de sintomas conhecidos nos critérios diagnósticos de depressão como perda de peso, alterações no sono e dentificação motora. Em muitas situações, o idoso pode não trazer de forma espontânea a queixa de tristeza.
  2. Várias doenças clinicas, que acometem os idosos (insuficiência cardíaca, diabetes entre tantas outras), podem apresentar sintomas parecidos com os listados acima, dificultando ainda mais a presença concomitante  da depressão. Existe também um relação direta entre doenças clínicas X depressão, em que as comorbidades clínicas podem precipitar quadros de humor e quadros depressivos podem desestabilizar doenças clínicas.

Por ter uma apresentação diferente, com fatores de confusão associados, e também a falsa crença de que são queixas de todo o  idoso, este transtorno é gravemente  subdiagnosticado.

Quando  diagnosticado, muitas vezes é negligenciado seja no pouco  investimento do profissional pouco capacitado para lidar com essa condição específica (prescrevendo medicações por tempo e dose não adequados; não acreditando que técnicas psicoterápicas podem ser úteis, entre tantas outras condutas), ou seja,  pelas escassas políticas de saúde publica voltada para essa parcela da população.

Quadros depressivos geram perda funcional e, toda perda de funcionalidade, torna o idoso dependente para a realização de suas atividades de vida.  A dependência funcional é fator de risco para desfechos desfavoráveis como: aumento da busca por serviços de saúde, hospitalização , iatrogenias e morte.

Episódios depressivos não tratados causam profundos impactos pessoais, familiares e sociais . A depressão está entre as principais  doenças mais incapacitantes em todo o mundo, gerando agravos  funcionais em múltiplas esferas. Mas como o idoso muitas vezes já esta aposentado, sua “utilidade” na lógica da força do trabalho não se faz mais necessária e “pode” ser então deixado como não prioridade. Mas esquecemos que este impacto funcional  não envolve apenas a espera produtiva laboral, e sim um efeito cascata para toda a sociedade, causando irreparáveis desgastes emocionais, físicos, e financeiros.

Referencias bibliográficas :

DSM 5 – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5 edição

Doenças incapacitantes , 2019 OMS – Organização mundial de saúde

Aprahamian I, Cerejeira J; Psiquiatria Geriatrica

A que vem o luto?

O que é isso, “ficar de luto”? O luto sempre inclui a dor? Não seria possível passar pela morte de um outro sem dor, sem luto? Afinal, a que vem o luto?

* Por Vívian Hauck

“Não é mais possível negar a morte; temos de crer nela. As pessoas morrem de fato, e não mais isoladamente, mas em grande número, às vezes dezenas de milhares num dia só. Isso já não é acaso.”.

– Freud, em “Considerações atuais sobre a guerra e a morte” de 1915.

 

Freud, em seu texto “Considerações atuais sobre a guerra e a morte” (1915), pontua que, apesar de muitas vezes discursarmos sobre como a morte é parte natural da vida, fazemos na verdade todo o possível para afastarmos esta possibilidade da consciência. E, quando acontece, diz ele, a morte nos atinge profundamente. O que é que sucede, então, aos viventes? Àqueles que ficam? Não com surpresa, imagino, muitos de nós responderíamos que “ficamos de luto”. Mas o que é isso, “ficar de luto”? O luto sempre inclui a dor? Não seria possível passar pela morte de um outro sem dor, sem luto? Afinal, a que vem o luto?

Em seu trabalho “Luto e melancolia” (1917 [1915]), Freud define o luto como “a reação à perda de uma pessoa amada ou de uma abstração que ocupa seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal etc.” (p.172). Essa reação implicaria na perda de interesse pelo mundo externo, na perda da capacidade de investimento em um novo objeto de amor e o afastamento de tudo aquilo que não tenha ligação com a lembrança daquele(a) que faleceu ou daquilo que se perdeu. Uma reação, segundo ele, que poderia ser caracterizada como dolorosa.

Por trás de uma sintomatologia mais visível, haveria um trabalho psíquico árduo sendo realizado no sentido de que este sujeito, o que ficou, possa minimamente seguir na vida fazendo novos investimentos e outras ligações afetivas. Para que essas novas conexões possam acontecer, porém, é preciso, primeiramente, que sejam retirados os investimentos antes feitos em direção àquele que agora já não está aqui. E este desligamento, essa retirada, não pode ocorrer de uma vez só. É realizado aos poucos, com grande investimento de tempo e energia. Só então seria possível seguir. O luto, diz Freud, ofereceria ao Eu “o prêmio de continuar vivo”.

Atravessamos atualmente um período duro no Brasil em decorrência dos efeitos da pandemia. Um período de notícias diárias com contagem de mortes que ultrapassam a casa dos mil e que são apenas minimamente aliviadas com a esperança nas vacinas e na aposta de que em algum momento todo esse horror – porque é, sim, um horror – irá acabar. Enquanto isso, muitos são os que perdem entes queridos e muitas as notícias que não nos deixam esquecer a possibilidade da morte. Uma realidade que convoca o luto pelas vidas perdidas e o luto também por aquilo que vivíamos e que já não mais existirá.

Estamos vivendo esse luto? Estamos possibilitando que esse trabalho psíquico aconteça? Ou estamos fingindo que os números são só números e não vidas perdidas? Fingindo para poder continuar, para manter a engrenagem em pleno funcionamento? Claro, talvez não seja possível parar a vida completamente, mas até quando essa engrenagem dura se não abrirmos algum espaço para o luto? Será que não vale a pena fazer esse trabalho para que possamos continuar, de fato, vivos?

 

 

“Suportar a vida continua a ser o primeiro dever dos vivos. […]

Se queres aguentar a vida, prepara-te para a morte”

– Freud, novamente, em “Considerações atuais sobre a guerra e a morte” de 1915.

Procrastinação

A procrastinação pode ser definida como um atraso voluntário e desnecessário de uma tarefa que se pretendia realizar… clique para ler mais.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Procrastinação?

A procrastinação pode ser definida como um atraso voluntário e desnecessário de uma tarefa que se pretendia realizar, apesar de estar consciente das consequências desagradáveis desse adiamento, resultando em um significativo sofrimento subjetivo. Ou seja, é um atraso contrário à intenção inicial do indivíduo. Isso resulta em um aumento do nível estresse, com acúmulo de tarefas, menor produtividade, sensação de fracasso por não cumprir com as suas responsabilidades e compromissos.

A procrastinação crônica pode ser um sinal de problemas psicológicos ou fisiológicos. Mais do que um comportamento, a procrastinação tende a ser um traço de personalidade, atuando tanto como um fator preditor quanto mantenedor de outros transtornos, como os ligados a ansiedade e humor.

Quais são os motivos que levam uma pessoa a procrastinar? Aquele que adia uma tarefa tem uma dificuldade para regular processos relacionados aos pensamentos, emoções e comportamentos. Por exemplo, ao experimentar uma emoção de ansiedade ou medo frente à realização de uma atividade, pode não conseguir manejar essa situação de forma adequada, foca excessivamente no desconforto sofrido no momento, fazendo com que evite ou fuja daquela situação.

 

Como os pensamentos influenciam na procrastinação?

O comportamento procrastinatório é uma estratégia para regular, em curto prazo, emoções negativas que acompanham a avaliação de uma tarefa. Isso porque a maneira como interpretamos determinadas situações tem um enorme poder de provocar reações emocionais e comportamentais.

Em linhas gerais, a procrastinação está associada a fatores cognitivos e emocionais, dentre eles o desconforto na realização de uma tarefa e o medo do fracasso.

  • Desconforto com uma tarefa: o grau de incômodo com uma tarefa (difícil, tediosa, cansativa) vai mediar a possibilidade de se engajar num comportamento procrastinatório.
  • Medo do fracasso: adia-se com frequência as atividades a fim de prevenir avaliações negativas acerca do seu próprio desempenho, ligado à ideia de que os outros esperam o melhor do indivíduo. Nesse sentido, a pessoa pode adotar pensamentos sabotadores, do tipo “hoje não haverá tempo suficiente”, “estou cansado, amanhã terei mais energia para fazer isso” ou “eu já passei por muitas dificuldades essa semana, mereço fazer algo relaxante agora”.

 

Como o problema pode estar sendo mantido?

A procrastinação, em muitos momentos, parece funcionar, apesar dos danos, por isso acaba sendo um comportamento sustentado. Quando se procrastina, a pessoa se vê com menos tempo e maior pressão para realizar uma tarefa conforme o prazo de entrega se aproxima. Assim, ativamos um estado de alerta, que aumenta a capacidade de atenção e produtividade.

Apesar de poder funcionar de modo imediato, não é adequado manter esse modo de funcionamento, pois em alguns casos, pode-se não finalizar o afazer ou gerar uma grande sensação de exaustão.

Pessoas que procrastinam podem apresentar uma certa dificuldade relacionada ao controle de impulsos e costumam priorizar prazeres imediatos. Então, outro motivo pelo qual a procrastinação parece funcionar é porque ela pode trazer um alívio momentâneo de seu estado de desconforto emocional. Ao se sentir medo, ansiedade ou tristeza por ter que realizar uma tarefa específica, o adiamento da mesma quase que imediatamente reduz todo esse sofrimento.

Como lidar com a procrastinação?

  • Autoconhecimento e psicoeducação: entender a razão de se agir dessa maneira é essencial para estabelecer a forma de enfrentar o problema. Há pessoas que “ruminam” preocupações, são perfeccionistas e se cobram muito, temem uma má avaliação, são desorganizadas ou tendem a se entregar a prazeres imediatos.
  • Identificar e questionar os pensamentos sabotadores: identificar e questionar, e até mudar, os pensamentos distorcidos (não realistas, pouco úteis, não pragmáticos).
  • Ativação comportamental: a verdade é que nos motivamos à medida que agimos. Ao longo do tratamento é possível aprender a se engajar nas tarefas e por onde começar.
  • Regulação das emoções: a falta de habilidade em lidar com as próprias emoções é um dos fatores que envolvem a procrastinação. Ao contrário de evitar as emoções, é necessário aprender com elas, entendê-las e aceitá-las.

 Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

COSTA, R.T.; TALASK, G. Capítulo 23 – Procrastinação. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Quem cuida de quem cuida?

Pensando nas pessoas que de alguma forma estão envolvidas com o cuidado de outras pessoas: como temos contribuído com estes profissionais?

* Por Diana Lopes

E uma reflexão que neste momento deveria nos ocorrer: Tenho contribuído para o cuidado de quem cuida?

Vamos extrapolar o contexto da pandemia, sem desconsiderá-lo. Vamos pensar em todas as pessoas que de alguma forma estão envolvidas com o cuidado de outras pessoas: como temos contribuído com estes profissionais? Proponho considerarmos os profissionais responsáveis pela limpeza urbana, aos condutores de transporte urbanos, trabalhadores de serviços essenciais até aos profissionais envolvidos com prestação direta de cuidados de saúde. Estas pessoas estão envolvidas não apenas com o próprio risco, como com o risco de outras pessoas. E o que você tem feito para minimizar o impacto da vulnerabilidade dessas pessoas? Como tem sido solidário? Com atos? Você tem se dedicado a algum tipo de atitude por mais simples que seja?

Temos sofrido com o impacto de nossas dores ao longo de nossas vidas e sempre pudemos contar com pessoas que nos auxiliaram para lidar melhor com estes sofrimentos. Enfrentamos as incertezas associadas com o aparecimento, aumento de casos e sequelas de doenças. O impacto de um sofrimento que atinge a todos… Quer dizer, menos aos interesses políticos e econômicos (de uma elite, não de pequenas empresas/comércio)… Este é um tema para outro texto, deixaremos para os especialistas no assunto. Neste texto, se pretende uma reflexão de solidariedade circunscrita em cada um de nós com as pessoas que nos cuidam.

Que atitudes tomamos?

As pessoas que sempre nos cuidaram estão lidando com uma situação que desafia o senso de controle. Existem profissionais que em seu cotidiano sofrem as pressões e tensões da assistência no cuidado. Diante das ansiedades dessas pessoas, que atitudes tomamos? Será que temos percebido que estas pessoas lidam com o próprio sentimento de impotência? Temos sido empáticos genuinamente ou apenas batemos palmas e nada fazemos? De que maneira temos contribuído?

Às pessoas que cuidam:

A partir de agora passo a escrever diretamente às pessoas que cuidam. Aos outros leitores recomendo que continue a leitura, tem dicas que podem ajudar.

Tem sido amplamente difundida a preocupação com a necessidade de cuidar de quem cuida. Esta concepção de que é preciso cuidar do cuidador é uma ação preventiva. Precisamos nos conscientizar de que se esses profissionais não estiverem sendo assistidos em suas necessidades, isto passará a refletir e interferir no atendimento que prestam às pessoas sob seu cuidado.

Considere que, pessoas que cuidam estão em contato continuado com a dor profunda de outras pessoas, de que não tem controle para mudar algumas situações dessas pessoas a quem prestam cuidado, que lidam com a consciência e presença da possibilidade da morte, são expostos a acontecimentos que não podem ser reparados e que interferem na vida das pessoas afetadas, falta de recursos logísticos e humanos mínimos para exercício do trabalho, exposição a ameaças de violência e as suas consequências. Isto para citar apenas algumas situações, e que podem gerar a síndrome do desgaste por empatia. E este é o paradoxo, necessitamos da empatia para entender e trabalhar com as pessoas que cuidamos, no entanto, também é a empatia que nos deixa vulneráveis e expostos ao sofrimento.

Sinais de alerta:

  • Fadiga, cansaço, dificuldades para dormir, dores de cabeça, mudanças nos hábitos alimentares, doenças digestivas;
  • Irritabilidade, ansiedade, sentimentos de culpa e desamparo, agressividade, pessimismo, estar sempre na defensiva;
  • Dificuldades de concentração nas tarefas, absenteísmo;
  • Dificuldades nas relações e/ou comunicação;

 

Se perceber que está com dificuldades busque auxílio de pessoas próximas. Cultive um momento em que possa dividir com outros profissionais para compartilhar vivências relacionadas a estas dificuldades. É muito difícil conseguir lidar com essa nova realidade sem o apoio externo. Muitas vezes é necessário delegar funções, pedir ajuda e equilibrar as responsabilidades. Às vezes, parece claro o quanto necessitamos de auxílio, mas se não dissermos, não externamos para os outros, fica o sentimento de que está tudo certo e que você está dando conta. Com isto, não damos oportunidade de sermos ajudados. Aprimore a comunicação, o enfrentamento e a percepção de suas necessidades individuais e busque ajuda.

E conte com nossa equipe para cuidar de você que cuida de outras pessoas. Temos um time de profissionais empenhados e preparados para oferecer o melhor em Saúde Mental. Reserve um momento exclusivo para si mesmo, onde possa compartilhar suas percepções e sentimentos mais profundos, sem ser julgado pelo mundo exterior e, assim, conseguir ficar um “pouquinho mais leve. Nos cuidamos para cuidar de você. Conte comigo! Conte conosco! Estamos juntos para enfrentar as situações de uma vida em constante transformação.

Referência

GIL-MONTE, Pedro R.. Cuidando de quem cuida. Psicol. estud.,  Maringá ,  v. 9, n. 1, p. 137-138,  Apr.  2004 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000100017&lng=en&nrm=iso>. access on  23  Mar.  2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722004000100017.

Transtorno do Espectro Autista (TEA): informações, diagnóstico e tratamento precoce

Clique aqui para saber tudo sobre Autismo: o que é, níveis de gravidade, categorias, diagnósticos, tratamento.

* Por Dr. Fabrício de Oliveira

Transtorno do Espectro Autista (TEA): informações, diagnóstico e tratamento precoce

Segundo o DSM-V— Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — o autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por:

  • inabilidade persistente na comunicação social, e
  • padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividade

Ainda:

  • Os sintomas devem estar presentes no período de desenvolvimento, em fase precoce da infância
  • Todos esses sintomas causam prejuízos significativos no funcionamento social, profissional e em outras áreas da vida da pessoa com autismo.

O TEA tem essas características que são essenciais para o diagnóstico. Ainda que os sintomas variam de caso a caso, esses elementos são determinantes para realizar o diagnóstico de autismo, ou seja:  déficits  nas trocas sociais (interação, linguagem e comunicação) e déficits no comportamento (repetição e inflexibilidade).

Nos  últimos  anos,  as  estimativas  da  prevalência  do  autismo  têm  aumentado  dramaticamente. Nos EUA chegou a apresentar a prevalência  de  1  para  cada 58  em  2014. Esse aumento na  prevalência  do  TEA  é,  em  grande  parte,  um resultado  da  ampliação  dos  critérios  diagnósticos e do desenvolvimento de instrumentos de rastreamento e diagnóstico. Sua  prevalência  é  maior  em  meninos  do  que  em meninas,  na  proporção  de  cerca  de  4:18. Estima-se  que  em  torno  de  30%  dos  casos  apresentam  deficiência  intelectual.

Sabe-se que não há uma causa definida. Pesquisas sugerem que o TEA se desenvolve a partir de uma combinação de influências genéticas e ambientais.

Categorias

Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) fundiu quatro categorias distintas de autismo em um único diagnóstico – TEA.

São elas:

  • Transtorno autista;
  • Transtorno desintegrativo da infância;
  • Transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação, e
  • Síndrome de Asperger.

A nova classificação do DSM-V trouxe mudanças significativas nos critérios diagnósticos do autismo, ampliando a identificação de sintomas e com ênfase na observação do desenvolvimento da comunicação e interação social da criança.

O DSM-V rotula esses distúrbios como um espectro justamente por se manifestarem em diferentes níveis de intensidade.

Por exemplo, condições de inteligência podem variar desde déficits cognitivos importantes a padrões de inteligência acima da média. Uma pessoa diagnosticada como de alta funcionalidade apresenta prejuízos leves, que podem não a impedir de estudar, trabalhar e se relacionar.

Um portador de média funcionalidade tem um menor grau de independência e necessita de algum auxílio para desempenhar funções cotidianas, como tomar banho ou preparar a sua refeição.

Já o paciente de baixa funcionalidade vai manifestar dificuldades graves e costuma precisar de apoio especializado ao longo da vida.

Principalmente nos níveis mais leves, o diagnóstico apenas acontece na fase adulta. Nesses casos, é comum que o próprio paciente perceba em si alguns dos sintomas e busque a ajuda de um psiquiatra ou psicólogo.

Todos os pacientes com autismo podem partilhar destas dificuldades, mas cada um deles será afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares.

Níveis de gravidade do autismo

Como já referido, a intensidade do comprometimento funcional encontrado nos indivíduos variam de intensidade. 

  • Interação/comunicação social:

Nível 1: necessita suporte;

Nível 2: necessita de suporte substancial;

Nível 3: necessita de suporte muito substancial

 

  • Comportamento restritivo / repetitivo:

Nível 1: necessita suporte;

Nível 2: necessita de suporte substancial;

Nível 3: necessita de suporte muito substancial

 

Outro ponto a ser observado é que, geralmente ocorrem, algumas condições  simultaneamente, e incluem: distúrbios do sono, dificuldade de alimentação, sintomas gastrointestinais, convulsões e déficit de atenção/hiperatividade.

Diagnóstico Precoce

Os primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista são visíveis em bebês, entre 1 e 2 anos de vida, embora possam ser detectados antes ou depois disso, caso os atrasos de desenvolvimento sejam mais sérios ou mais sutis, respectivamente. Sua trajetória inicial não é uniforme. Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Por outro lado, existem casos que podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas

Existe um grande espaço de tempo entre a suspeita de que “há algo estranho” (suspeita) até o diagnóstico propriamente dito. Já no primeiro ano de vida é possível detectar alguns sinais de alerta, como:

  • contato visual pobre;
  • ausência de balbucio ou gestos sociais;
  • não responder pelo nome quando chamado;
  • atraso de linguagem verbal ou não-verbal;
  • déficit de contato social e de interesse por outras crianças;
  • interesses repetitivos proeminentes e estereotipias.

 

Com o avançar da idade, também poderá ser percebido:

  • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ;
  • Interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (como indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento).

É importante salientar que apenas uma das características não é sinônimo de autismo, mas um conjunto de comportamentos é que pode indicar a possibilidade do transtorno.

Normalmente são os pais que notam os primeiros sintomas, que costumam estar presentes mais claramente nos primeiros 3 anos de vida da criança. Entretanto, a idade média de diagnóstico é de 5 anos (coincidindo com o início da idade escolar). Dessa forma, para se evitar atrasos no diagnóstico, é recomendado que, a partir dos 18 meses de idade, fiquemos atentos aos sinais já referidos.

Uma observação cuidadosa é necessária pois os casos leves de TEA podem ser confundidos com outros comportamentos, como timidez, excentricidade ou falta de atenção.

Quando há suspeita de atraso nos marcos do neurodesenvolvimento e na interação social, a criança deve ser encaminhada  para avaliação por profissional especialista (se possível especialista em neurodesenvolvimento) e por uma equipe multidisciplinar experiente, que são imprescindíveis na elaboração de um diagnóstico correto.

Lembrando sempre que suspeita é diferente de diagnóstico. EM CASO DE SUSPEITA, PROCURE AJUDA OU ORIENTAÇÕES DE CONFIANÇA.

Diagnóstico diferencial

Na avaliação, os profissionais identificam se há prejuízos na interação social, na linguagem, comunicação e padrões repetitivos de comportamento – sintomas comuns ao TEA.

Exames sensoriais (audição, incluindo respostas evocadas auditivas do tronco cerebral [se necessário] e teste visual) são frequentemente necessários.

Os principais diagnósticos diferenciais do TEA são:

  • Déficits auditivos;  com  a  diferença  que  não tem  prejuízo  na  sociabilização  e  respondem  a outros estímulos sonoros;
  • Deficiência intelectual  (DI);
  • Transtornos de  linguagem;  que  acabam  interferindo  na  sociabilização,  porém  não  vem acompanhados  com  gestos  nem  comportamentos repetitivos;
  • TDAH; porém  a  alteração  da  comunicação  social  e  os  comportamentos  repetitivos  são  infrequentes no TDAH;
  • Transtornos de ansiedade e transtorno do apego reativo  (TAR);  entram  no  rol  do  diagnóstico  diferencial  porque  alteram  a  comunicação social  e  a  sociabilização,  porém  estas  crianças  apresentam  melhora  nestas  habilidades quando  estão  em  ambientes  onde  se  sentem confortáveis,  seguras  e  mais  adequados,  o  que não acontece com as portadoras de TEA;
  • Transtorno obsessivo-compulsivo  (TOC);  O  início  do  TOC  é  mais  tardio  e  geralmente  não  está associado  a  prejuízo  na  comunicação  como  no TEA;
  • Síndrome de  Rett;  É  um  quadro  genético  caracterizado  por  prejuízos  cognitivos  e  físicos significativos,  assim  como  regressão  no  desenvolvimento psicomotor normal após os primeiros  6  meses.  Há  queda  na  curva  do  perímetro  cefálico,  perdas  de  habilidades  manuais,  de  linguagem,  de  marcha  e  presença  de estereotipias, além de comprometimento na comunicação e na interação social. Contudo, ao contrário do TEA, passada a fase de  regressão,  nota-se  inclusive  as  habilidades  de comunicação.

Tratamento

Ainda que não exista cura, o autismo tem sim tratamento, capaz de melhorar a qualidade de vida do paciente. Em geral, uma equipe multidisciplinar é indicada, já que cada especialista trabalhará uma dificuldade específica do autista.

O  tratamento  padrão-ouro  para  o  TEA  é  a intervenção  precoce,  que  deve  ser  iniciada  tão logo  haja  suspeita  ou  imediatamente  após  o diagnóstico  por  uma  equipe  interdisciplinar. Consiste em um conjunto de modalidades terapêuticas  que  visam  aumentar  o  potencial  do desenvolvimento  social  e  de  comunicação  da criança,  proteger  o  funcionamento  intelectual reduzindo  danos,  melhorar  a  qualidade  de  vida e  dirigir  competências  para  autonomia,  além  de diminuir  as  angústias  da  família.

Cada indivíduo, dentro do espectro, vai desenvolver o seu conjunto de sintomas variados e características bastante particulares. Tudo isso vai influenciar como cada pessoa se relaciona, se expressa e se comporta. Deste modo, cada plano terapêutico será  elaborado individualmente, levando-se em conta as características  e particularidades caso a caso.

Costuma-se indicar acompanhamentos com:

Fonoaudiólogo: este poderá acompanhar a criança no desenvolvimento da linguagem não-verbal e verbal;

Ludoterapia: por meio de jogos e brinquedos o terapeuta trabalha a interação social e o contato visual da criança;

Análise aplicada de comportamento:  pode se de extrema valia, sendo o objetivo amenizar determinados comportamentos nocivos e estimular outros;

Grupos de habilidades sociais: neles há espaço para praticar as interações sociais do dia a dia e melhorar o comportamento social;

Medicamentos: embora não sejam específicos para o autismo (não existe fármacos para curar tal condição), ajudam com possíveis problemas emocionais. Frequentemente o uso dos remédios são associados às terapias. Tal combinação pode tratar condições comórbidas, como insônia, hiperatividade, agressividade, impulsividade, ataques de raiva, falta de atenção, ansiedade, depressão e comportamentos repetitivos.

Colaboração multidisciplinar

A atenção ao desenvolvimento de habilidades sociais deve ser abordada na escola, comunidade, saúde comportamental e ambiente familiar;

OBSERVAÇÕES

  • Outro elemento essencial no tratamento é o treinamento com os pais. O contexto familiar é fundamental no aprendizado de habilidades sociais e o trabalho com os pais traz grandes benefícios no reforço de comportamentos adequados.
  • Devemos sempre estar atentos a sobrecarga  emocional dos  Esse é  um  dos  principais  desafios  encontrados  por  famílias  com  crianças  com  diagnóstico de TEA. Dessa forma, os profissionais envolvidos no tratamento devem estar atentos a essa possibilidade e, sempre que necessário, o acompanhamento psicológico da família deve ser indicado

“O que eu posso fazer caso eu  perceba algumas dessas características em meu filho ou em uma pessoa próxima?”

Estar bem informado sobre o assunto sabendo que a possibilidade da ocorrência do TEA é real e que o diagnóstico e tratamento (multiprofissional) precoce são fundamentais para uma melhor evolução do quadro são formas extremamente valiosas para nos tornarmos  agentes de mudança numa circunstância como essa.

Uma situação complexa é quando percebemos alterações (vale lembrar que sinal de alerta não é o mesmo que diagnóstico) em familiares ou pessoas próximas a nós. Às vezes, os pais ou familiares estão alheios à situação. O quê fazer em uma ocasião como essa? Não existe “receita de como agir” em um cenário tão delicado. Apenas podemos dizer que, quando se possui informações corretas e uma real vontade de ajudar, aliadas a uma postura sensível e empática, haverá o potencial para superar grandes obstáculos, como a negação, o medo e o preconceito. Esses são muito comuns, ainda mais em momentos de fragilidade.

Habilidades sociais de adolescentes com Síndrome de Down

Será apresentada uma breve introdução sobre a importância das habilidades sociais para a vida humana e, posteriormente, as informações sobre a pesquisa e seus resultados.

* Por Sabrina Gomes

Habilidades sociais de adolescentes com Síndrome de Down

Inúmeras pesquisas acadêmicas são realizadas no campo da Saúde Mental todo ano. Porém, ainda são modestas as divulgações de seus resultados para a população, o que representa um problema, uma vez que a produção cientifica tem como finalidade promover melhorias na qualidade de vida das pessoas e, portanto, deve ter fácil acesso.

Assim, neste texto, compartilho os resultados preliminares da pesquisa de mestrado que realizei recentemente, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. O estudo teve como tema principal as habilidades sociais de adolescentes com Síndrome de Down. Para melhor compreensão, será apresentada uma breve introdução sobre a importância das habilidades sociais para a vida humana e, posteriormente, as informações sobre a pesquisa e seus resultados.

Habilidades Sociais

O tema das relações sociais sempre foi muito discutido na Psicologia. Isso porque a comunicação interpessoal é parte essencial da vida em sociedade. É com razão que a expressão “animais sociais” é muito conhecida e muito usada na definição dos seres humanos.

Na atualidade, com o ritmo de vida acelerado e complexo, fazemos parte de vários grupos e frequentamos diferentes contextos, como família, faculdade e trabalho. Para cada ambiente, novas regras são impostas, nos exigindo constante adaptação. Além disso, com frequência, costumamos atuar em dois ou mais ambientes ao mesmo tempo (o “home office” é um bom exemplo), o que demanda considerável desenvoltura social.

Um bom repertório de habilidades sociais normalmente está associado com bem-estar, bom desempenho acadêmico e sucesso profissional. Por outro lado, o déficit nessas habilidades pode levar a muitos problemas. No campo profissional, por exemplo, o comportamento social inadequado pode ser desastroso! É muito comum encontrar profissionais muito competentes do ponto de vista técnico, mas que são incapazes de interagir de forma eficiente com seus colegas, pacientes ou clientes. Acredito que exista um consenso de que um atendimento ruim pode ser muito desagradável e arruinar nosso dia.  Mas se engana quem pensa que um bom desempenho social se faz importante apenas no trabalho. Ele é necessário quando queremos manter um relacionamento amoroso ou quando queremos fazer novos amigos, por exemplo.

Desse modo, as pesquisas sobre habilidades sociais estão crescendo e podem ser aplicadas a públicos diversos. Com o objetivo de contribuir para os processos de inclusão social de pessoas com deficiência, optamos por investigar o comportamento social de adolescentes com Síndrome de Down. Os resultados serão apresentados a seguir.

A Pesquisa e seus Resultados

A pesquisa investigou as habilidades sociais de adolescentes com Síndrome de Down, buscando compreender suas potencialidades e dificuldades neste campo. Além disso, pensando no desenvolvimento desses jovens, buscou-se avaliar quais práticas educativas dos pais poderiam estar associadas com um melhor desempenho social dos adolescentes.

Identificamos que a maioria dos adolescentes apresentou mais facilidade em situações sociais de expressão de empatia (por exemplo: fazer elogio e oferecer ajuda) e em autocontrole (por exemplo: recusar pedidos e aceitar brincadeiras). Maiores dificuldades foram encontradas em situações sociais que exigiam participação (por exemplo: responder à pergunta do professor e juntar-se a um grupo) e em assertividade (por exemplo: solicitar mudanças de comportamento do outro e defender-se de acusações injustas). Essas dificuldades representam alvos terapêuticos para futuras intervenções.

Contexto familiar

Quanto ao contexto familiar, encontramos um dado muito importante para se pensar no processo de desenvolvimento desses adolescentes. De acordo com os resultados, quanto mais os pais investiam em cobrança de responsabilidade, mais habilidoso socialmente era o adolescente. Isso quer dizer que ambientes que oferecem mais espaço para o desenvolvimento de autonomia e responsabilidade podem promover maior desenvolvimento de competências sociais.

Considerando a importância das habilidades sociais para o desenvolvimento humano, pode ser muito útil para as pessoas aprender mais sobre o próprio comportamento social. Além disso, pode ser ainda mais interessante saber que tal comportamento pode ser modificado e conhecer algumas formas de alcançar essas mudanças. Assim, espera-se que os resultados deste estudo encorajem a realização de mais pesquisas na área.

Referências

Caballo, V. E. (2006). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. Santos.

O que você vê no espelho?

O que vemos no espelho é resultado da percepção daquele momento em conjunto com as informações registradas em nossa mente sobre o corpo e essa associação é projetada pelos olhos.

* Por Laís Pereira

Uma das necessidades biológicas do ser humano é o reconhecimento do próprio corpo, compreendendo o seu tamanho, forma, as partes que o compõem, o seu volume, delimitações e atribuições. Para atender a essa necessidade temos a constituição de uma imagem corporal que é formada por dois componentes: perceptual/sensorial e atitudinal/cognitivo. Tal reconhecimento se faz necessário para que possamos interagir com o ambiente e nos movimentemos pelos espaços físicos, por exemplo, para passarmos entre dois objetos fixos, desviar de um buraco, sentar em uma cadeira, escolher roupas para vestir e etc.

A construção da imagem corporal acontece desde o nascimento através de uma constante comunicação entre corpo e mente. Por meio dos vários receptores espalhados pela extensão corporal as sensações, comparações, críticas, elogios, erros e acertos são captadas e registradas pelo nosso cérebro. Com o registro dessas informações criamos uma espécie de “banco de dados” sobre o corpo formando um “mapa” em nossa mente e assim é construída uma ideia sobre o que e como é o próprio corpo. Essa primeira descrição corresponde ao componente perceptual da imagem corporal. Já o componente atitudinal/cognitivo se refere aos pensamentos, crenças, julgamentos, expectativas e comportamentos emitidos a partir dessa ideia de corpo.

Para exemplificar: uma criança grande é colocada para sentar nas últimas carteiras da sala de aula, fica atras nas fotos com muitas pessoas, ocupa os últimos lugares nas filas, sofre bullying, recebe apelidos pejorativos por conta do seu tamanho. Todas essas experiências são registradas e vão compor o seu “banco de dados”. A partir desses registros ele pode desenvolver a crença de que “ser grande é ruim, é uma desvantagem”, sentir-se triste por isso, apresentar o comportamento de se encurvar-se quando estiver falando com as pessoas, isolar-se por sentir-se inadequado.

O que vemos no espelho é resultado da percepção daquele momento em conjunto com as informações registradas em nossa mente sobre o corpo e essa associação é projetada pelos olhos. Assim como a imagem corporal é construída desde o nascimento, a distorção dela também começa desde cedo. Se as vivências com o próprio corpo forem mais negativas, o indivíduo tende a ter uma relação mais difícil com o corpo, uma imagem também negativa e até distorcida. A construção da imagem corporal é um processo individual e, portanto, apenas o próprio indivíduo sabe como é e o que vê. Dessa maneira, aquela imagem vista no espelho, muitas vezes, pode não corresponder a imagem vista pelas outras pessoas.

Nos Transtornos Alimentares de Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa uma característica comum é a insatisfação corporal. Nos dois casos, uma imprecisão na percepção do tamanho real do corpo é evidente, fazendo com que pacientes com os referidos transtornos apresentem uma distorção da percepção de sua dimensão corporal no sentido de se perceberem maiores do que realmente são (hiperesquematia) e, em consonância ao que percebem, desenvolvem comportamentos de restrição alimentar ou purgação.

Estar insatisfeito com o próprio corpo e apresentar uma imagem corporal distorcida pode ser motivo de grande sofrimento para o indivíduo, afinal, ele conduz a sua vida em função de uma imagem negativa e por consequência adapta a sua vida a isso, tendo comportamentos e hábitos condizentes com o que entende sobre o próprio corpo.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA DISTORÇÃO DA PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL

  • Comentários negativos sobre aparência física ou tamanho do corpo: Julgamento e comparação corporal e Desenvolvimento da referência incorreta do tamanho corporal
  • Mídia: ênfase sociocultural pela magreza
  • Agressões físicas, morais e abusivas

Tendo em vista que compomos uma sociedade numerosa e heterogênea é preciso compreender que padrões corporais, valorização de determinado biotipo e associação destes a sucesso, felicidade e beleza têm contribuído para uma grande insatisfação e imagens distorcidas do próprio corpo. Sendo essa uma característica muito forte do nosso contexto sociocultural, eu te convido a pensar sobre a finalidade disso.

Para que estabelecer e reforçar um padrão corporal?

O que eu tenho feito e posso fazer ter uma imagem corporal satisfatória?

Como estou contribuindo na formação da imagem corporal daqueles que eu convivo?