O que é a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA?

É uma ciência que busca compreender o ser humano através das inter relações que o individuo mantém com o seu ambiente.

* Por Carolina Conti

A Análise do Comportamento Aplicada mais conhecida por sua sigla em inglês ABA (Applied Behavior Analysis) é uma ciência que busca compreender o ser humano através das inter relações que o indivíduo mantém com o seu ambiente. Seu principal autor e pesquisador foi o psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner.

A unidade funcional da Análise do Comportamento Aplicada é a Tríplice Contingência, um conceito utilizado para descrever e analisar essas relações que o organismo mantem com seu ambiente.

Uma contingência é composta por 3 elementos:

a) A situação que antecede determinado comportamento (antecedente);

b) O comportamento que o organismo emite diante dessa situação (resposta);

c) Alterações no contexto decorrentes do comportamento do organismo (consequência). As consequências que determinado comportamento produziu no passado e  selecionaram esse comportamento, ou seja, influenciaram se o comportamento continua ou não ocorrendo.

O foco da intervenção dentro da teoria da Análise do Comportamento Aplicada é desenvolver novos repertórios, mais funcionais e saudáveis para aquele indivíduo, e não somente diminuir os comportamentos problemas. Esses novos repertórios variam de acordo com o contexto de vida, as demandas e as reservas comportamentais individuais.

ABA não é um método ou um pacote fechado, é uma ciência que visa a investigação e intervenção planejada e programada a partir de uma avaliação do repertório de cada paciente.

É muito conhecida e difundida no tratamento de indivíduos com Transtorno de Espectro Autista (TEA), entretanto pode ser aplicada com diversas populações e em diferentes contextos. Dessa forma, quando falamos de comportamento humano estamos falando de ABA.

Leia também sobre o sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono, clicando aqui.

O sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono

Hábitos saudáveis de sono devem ser estimulados desde os primeiros meses de vida através de práticas diárias realizadas pelos cuidadores para promover o sono e garantir sua qualidade.

* Por Ana Carolina Meneghin

O sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono.

Ao contrário do que poderíamos esperar, o sono é um processo fisiológico ativo e dinâmico, mediado por um complexo sistema regulatório. Talvez seja uma das primeiras atividades do cérebro em desenvolvimento. Além do seu já conhecido relevante papel para uma vida saudável e sensação de bem-estar geral, são cada vez mais robustas as evidências científicas relativas à importância do sono em uma variedade de funções cerebrais como aprendizagem, neuroplasticidade e consolidação da memória. De encontro a essas evidências, estudos apontam que alterações do sono nos primeiros anos de vida podem trazer impactos negativos no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico das crianças, bem como na dinâmica familiar.

Sabemos que os padrões de sono mudam ao longo de toda nossa vida e, provavelmente, as mudanças mais notórias ocorram nos nossos dois primeiros anos e na transição da infância para a adolescência. Essas mudanças são atribuídas ao próprio amadurecimento cerebral – acompanhando o desenvolvimento neuropsicomotor – e, às alterações na rotina diária e nas demandas e responsabilidades sociais.

O sono de um recém-nascido é completamente diferente do sono de uma criança, adolescente ou adulto. Uma de suas principais características é a ausência de um ciclo vigília-sono estável e alinhado ao ciclo dia-noite de 24 horas. Enquanto o adulto apresenta apenas um ciclo vigília-sono em 24 horas – dormindo por cerca de 6 a 8 horas/noite -, o recém-nascido passa a maior parte do dia e da noite dormindo, num total de 17 a 19 horas distribuídas em 8 a 10 períodos de sono, independente do ciclo dia-noite externo. A sincronia entre esses dois ciclos começa a ocorrer a partir do 2º ou 3º mês de vida, quando a maior parte do sono tende a se concentrar no período noturno, com uma redução gradual dos cochilos diurnos. Essa sincronização é mais notável por volta dos 6 meses de vida. No entanto, um ciclo vigília-sono regular se concretizará apenas por volta dos 2 anos de idade. Em geral, a partir dos 18 meses não mais ocorre o cochilo matutino, persistindo apenas o vespertino até por volta dos 3 anos. Apenas 15% das crianças mantém um cochilo diurno aos 5 anos de idade.

Como mencionado acima, as mudanças do padrão de sono são em grande parte decorrentes do processo natural de desenvolvimento de uma criança. A diminuição da fragmentação do sono e o aumento de sua consolidação, permitindo mais períodos ininterruptos de sono, estão relacionadas ao aumento da capacidade do bebê em adquirir as calorias necessárias durante o dia, com consequente redução da necessidade das mamadas noturnas; ao aumento da liberação de hormônios como a melatonina e a hipocretina, importantes na regulação do sono; e ao amadurecimento de regiões cerebrais responsáveis pela manutenção da vigília e do sono.

É frequente o questionamento sobre o tempo ideal de sono para determinada faixa etária. Esse tempo seria aquele necessário para que o indivíduo se sinta bem descansado, permitindo seu funcionamento ótimo durante o dia. A partir de estudos populacionais é possível se chegar a uma média de horas de sono para cada período da infância, conforme tabela abaixo baseada nas recomendações de 2015 da Academia Americana de Medicina do Sono. No entanto, sempre deve ser levado em consideração os contextos sociocultural e familiar, bem como as diferentes necessidades individuais. Uma criança que desperta espontaneamente pela manhã e que se apresenta disposta e com bom-humor ao longo do dia, provavelmente tem uma quantidade de sono suficiente.

 

Faixa etária Média de horas de sono recomendada em 24 horas
0 a 2 meses 14 a 17 horas
3 a 12 meses 12 a 15 horas
1 a 3 anos 11 a 14 horas
3 a 5 anos 10 a 13 horas

 

Observamos na tabela acima que há uma redução gradativa da quantidade de horas de sono necessária ao longo dos primeiros anos de vida, concordando com o que foi comentado nos parágrafos anteriores.

Além da diferença na quantidade de sono, a arquitetura do sono (ou seja, a distribuição dos seus estágios durante a noite) também é distinta nos primeiros anos de vida. Os recém-nascidos apresentam de 50 a 80% do tempo de sono preenchido pelo chamado sono REM (rapid eye movements, em inglês, ou movimento rápido dos olhos). Essa porcentagem vai gradualmente reduzindo ao longo dos meses e, atinge um padrão semelhante ao do adulto (25 a 30%) por volta dos 12 meses de vida, quando o sono NREM (non rapid eye movements) se torna o preponderante. O sono REM é importante para o desenvolvimento cerebral e para o aprendizado, ao aumentar e fortalecer as redes neurais. Acredita-se, portanto, que o seu predomínio nos lactentes seja necessário para a consolidação da grande quantidade de informações recebidas e experiências vividas nos primeiros anos de vida.

Hábitos saudáveis de sono devem ser estimulados desde os primeiros meses de vida através de práticas diárias realizadas pelos cuidadores para promover o sono e garantir sua qualidade. Esses hábitos envolvem a organização de uma rotina preparatória para o adormecer, tanto através de atividades que estarão associadas a esse momento quanto através de mudanças no ambiente que possam sinalizar a aproximação desse horário.

De uma forma geral, o estabelecimento de rotinas é benéfico na primeira infância ao permitir que as crianças tenham alguma previsão sobre o que irá acontecer no seu dia e ao auxiliá-las na transição entre as diversas atividades. Estudos apontam que essa prática está associada a desfechos positivos para a criança, como o maior desenvolvimento da linguagem, o melhor rendimento acadêmico e o melhor funcionamento socioemocional e comportamental (melhor humor, maior capacidade de autorregulação e moderação da impulsividade). No ambiente domiciliar, contribui para o funcionamento da família e para o bem-estar dos seus integrantes, podendo reduzir o conflito entre crianças e cuidadores e proporcionar maior nível de satisfação e menor nível de estresse maternos. Especificamente com relação ao sono, ter uma rotina consistente tem seus benefícios comprovados na qualidade de sono na infância, diminuindo o tempo para o seu início, reduzindo o número de despertares noturnos e aumentando o tempo total de sono. Essa rotina deve estar de acordo com a idade da criança e levar em consideração o contexto sociocultural em que ela está inserida.

A partir do 6º mês de vida, os cuidadores já podem iniciar a aplicação de rotinas relacionadas ao dormir. Elas devem ser rápidas, durando entre 30 e 45 minutos, e envolver poucas atividades relaxantes realizadas diariamente antes de ‘ir para cama’. Por exemplo, dar um banho morno, fazer uma massagem, cantar músicas de ninar e ler pequenas histórias são atividades que podem ser incluídas nesse momento, sendo realizadas com afeto e conexão emocional. Garantir um ambiente confortável, ou seja, que facilite o processo de adormecer, também faz parte dessa rotina, buscando-se um local calmo, silencioso, escuro, com temperatura ajustada e livre de eletrônicos. Essencialmente, essas atitudes devem ser realizadas em horários regulares, auxiliando na sincronização do ciclo vigília-sono com o ciclo claro-escuro e garantindo horários consistentes de dormir e de acordar.

Uma das habilidades relacionadas ao sono mais relevantes a ser adquirida nos primeiros anos de vida é a capacidade de adormecer com autonomia, isto é, independente da presença dos cuidadores. Idealmente, a criança deve ir ou ser colocada na cama ainda sonolenta e, adormecer sem a interferência dos cuidadores. Nos primeiros meses de vida é natural que seja necessário auxiliar os bebês nesse processo, porém os cuidadores devem sempre estimular o desenvolvimento dessa capacidade, criando oportunidades para o adormecer autônomo. Quando é conquistada, ela auxilia que o bebê durma novamente de forma rápida e independente após os breves despertares noturnos fisiológicos. Do contrário, comumente o bebê terá dificuldade em retomar o sono, o que impactará na qualidade e na quantidade de sono dele mesmo e também de seus cuidadores.

Como recomendações finais, deve-se evitar exposição a luzes de eletrônicos após o escurecer; evitar o uso de substâncias que possam interferir negativamente no sono, como chocolate e refrigerantes à base de cola, os quais contêm cafeína; evitar brincar e passar longos períodos na cama; e estimular a exposição a luz externa no período da manhã.

Conhecer a fisiologia do sono, entender as necessidades individuais e saber interpretar os sinais que as crianças nos dão facilitam o desenvolvimento de hábitos saudáveis e adaptados para cada contexto familiar. Uma boa qualidade de sono é fundamental para o pleno desenvolvimento neuropsicomotor e para o bem-estar familiar e sua busca deve ser iniciada ainda nos primeiros meses de vida, garantindo hábitos saudáveis que tenderão a perdurar ao longo dos anos.

 

Bibliografia consultada

Barclay, NL et Gregory, AM. Sleep in Childhood and Adolescence: Age-Specific Sleep Characteristics, Common Sleep Disturbances and Associated Difficulties. Curr Topics Behav Neurosci 2014; 16: 337–365.

Bathory, E et Tomopoulos, S. Sleep Regulation,Physiology and Development, Sleep Duration and Patterns,and Sleep Hygienein Infants, Toddlers, and Preschool-Age Children. Curr Probl Pediatr Adolesc Health Care 2016; 1-14.

Carter, JC et Wrede, JE. Overview of Sleep and Sleep Disorders in Infancy and Childhood. Pediatric Annals 2017; 46: 4.

Mindell, JA et Williamson, AA. Benefits of a bedtime routine in young children: Sleep, development, and beyond. Sleep Med Rev 2018; 40: 93–108.

Morgenthaler, TI et al. Practice Parameters for Behavioral Treatment of Bedtime Problems and Night Wakings in Infants and Young Children. Sleep 2006; 29(10):1277-1281

Disfagia

Disfagia é a alteração da deglutição caracterizada pela dificuldade de levar o alimento ou saliva da boca ao estômago.

* Por Luciana Bacellar

O que é Disfagia?

Disfagia é a alteração da deglutição caracterizada pela dificuldade de levar o alimento ou saliva da boca ao estômago.

A deglutição normal requer uma atividade coordenada dos músculos da boca, faringe, laringe e esôfago, os quais são inervados pelo Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. A coordenação entre os sistemas respiratórios e digestivos superiores durante a deglutição são essenciais para uma alimentação segura e eficiente.

Disfagia é um distúrbio de deglutição não considerado uma doença, e sim um sintoma de alguma doença de base. Trata-se de um sintoma que pode ser causado por várias doenças e se manifestar em qualquer idade.

Outros motivos:

  • Trauma, câncer, doença do sistema motor
  • Paralisia Cerebral
  • Demência
  • Doenças Neuromusculares
  • Síndromes Neurológicas
  • Comorbidades do processo do envelhecimento
  • Acidente vascular encefálico (AVE)
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Medicações, entre outros.

A deglutição é composta por cinco fases: a antecipatória, preparatória, oral, faríngea, e esofágica. A disfagia é definida como o comprometimento de uma ou mais dessas fases. Essas alterações, com prevalência de 16 a 22% na população acima dos 50 anos (Santoro 2008), podem levar a ocorrência de distúrbios psiquiátricos como ansiedade e depressão, bem como a complicações broncopneumônicas e nutricionais.

O envelhecimento não causa disfagia, mas idosos que apresentam doenças associadas como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e doenças neurológicas apresentam maior probabilidade de ter disfagia. As fases da deglutição são afetadas com a idade, levando a mudanças no paladar, nas preferências alimentares, no prolongamento no estágio oral da deglutição, pela redução da força e mobilidade afetando a fase automática da deglutição.

Sintomas de Disfagia:

  • Dor ou incapacidade de mastigar ou engolir
  • Regurgitação nasal
  • Escape oral de alimentos
  • Comida parada na boca, ou faringe
  • Tosse ou engasgo (antes, durante ou após a deglutição)
  • Azia frequente
  • Rouquidão
  • Recusa alimentar.

Estes sinais citados acima podem provocar entrada de alimento no pulmão e causar pneumonia, desidratação e desnutrição.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar pode evitar problemas mais sérios e promover melhor qualidade de vida.

Referências:

Artigo: Editorial II Disfagia Orofaríngeas panorama atual epidemiologia, opções terapêuticas e perspectivas futuras Patrícia Paulo Santoro(2008).

Disfagia: realidade atual e abrangência do problema. Pere Clavé 1, Reza Shaker 2, Cefac 10(2) 2008.

Livro: Disfagia Orofaríngeas. Volume l Ed. Pró Fono. Ana Maria Furkin, Célia Regina Queiroz Salviano Santini (2001).

Parentalidade positiva: Equilíbrio entre afeto e limites

A maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança.

* Por Sabrina Gomes

PARENTALIDADE POSITIVA: EQUILÍBRIO ENTRE AFETO E LIMITES

A parentalidade competente tem sido intensamente discutida nos últimos anos. Isso porque a maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança. Entretanto, devemos considerar que os filhos não nascem com manual de instrução e que ser pai/mãe é uma tarefa muito desafiadora e complexa. Sabendo disso, este texto foi elaborado com objetivo de apresentar informações importantes para a auxiliar na reflexão sobre o processo de educar.

ESTILOS E PRÁTICAS PARENTAIS

Pesquisas na área do desenvolvimento humano falam de estilos e práticas parentais. Práticas Parentais são as estratégias que os pais usam no cotidiano para disciplinar os filhos, como elogiar, orientar, bater ou gritar, entre outras. Estilo Parental é o nome que damos para o conjunto desses comportamentos, o que define o clima emocional familiar.

Os estudos apontam para quatro estilos parentais básicos, ou seja, quatro maneiras de se comportar como pai e como mãe. Um deles, o Estilo Participativo, é o mais positivo e capaz de facilitar o desenvolvimento de uma criança. Os outros, autoritário, permissivo e negligente, levam a dificuldades na relação entre pais e filhos e podem impactar negativamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Veremos a seguir o que caracteriza cada estilo parental e os resultados de cada um para o desenvolvimento dos filhos.

QUAL É O SEU ESTILO PARENTAL?

  • Estilo Autoritário (muito limite e pouco afeto): pais autoritários são rígidos e controlam o comportamento das crianças com base em regras inflexíveis, priorizando a obediência e oferecendo pouco afeto. Como resultado, as crianças normalmente apresentam poucos problemas de comportamento, mas são mais submissas e inseguras, pois aprendem que devem se anular para serem amadas; em geral, o estilo autoritário faz com que as crianças apresentem baixa autoestima e altos índices de depressão, ansiedade e estresse.

 

  • Estilo Permissivo (pouco limite e muito afeto): pais permissivos são excessivamente tolerantes diante dos desejos e ações das crianças e não estabelecem regras claras e limites. Valorizam os sentimentos e opiniões dos filhos, mas deixam a autoridade de lado, geralmente por medo de dizer “não” e não serem mais amados pelos filhos. O resultado? No geral, as crianças apresentam pior desempenho nos estudos, baixa tolerância a frustrações e podem apresentar comportamentos antissociais. Também não desenvolvem senso de autoeficácia, isto é, acham que não são capazes de conquistar as coisas por si mesmas.

 

  • Estilo Negligente (pouco limite e pouco afeto): são pais que sempre atendem aos pedidos imediatos das crianças, mas não se comprometem com o papel de educar, deixando os filhos “soltos”. Podem ser pais muito ocupados e sem tempo para dedicar às tarefas de educar ou ainda, pais confusos e que não sabem como agir. Qual o resultado para a criança? Este estilo parental é o que traz piores resultados. As crianças apresentam os menores desempenhos em habilidades acadêmicas e sociais, baixa autoestima, estresse e ficam vulneráveis a desenvolver quadros de depressão. As crianças aprendem que não são importantes e não são amadas.

 

  • Estilo Participativo (muito limite e muito afeto): esse é o melhor estilo. Pais participativos monitoram as atitudes dos filhos, estabelecendo regras claras. Eles são capazes de corrigir as atitudes negativas dos filhos e gratificar as positivas. Elogiam, ajudam nas tarefas e orientam. Os resultados para as crianças são os melhores. Pesquisas mostram que essas crianças apresentam elevada autoestima, menores níveis de estresse e depressão e são mais otimistas e habilidosas.

VOCÊ TEM OS COMPORTAMENTOS DO ESTILO PARTICIPATIVO?

  • Você dedica tempo de qualidade para estar junto e se divertir com o seu filho?
  • Você consegue dizer “não” quando é necessário limitar o comportamento do seu filho e não ceder apenas para evitar comportamentos de birra ou de oposição?
  • Você busca elogiar e gratificar o seu filho quando ele se comporta de maneira adequada?
  • Você consegue apontar o comportamento inadequado do seu filho com autoridade e sem punições físicas ou verbais.

Diante de dificuldades para estabelecer regras claras e rotinas, pode ser importante buscar ajuda profissional para processo de orientação de pais. Esse processo de orientação ajudará a desenvolver estratégias assertivas e eficazes.

REFERÊNCIA

Weber, L. (2005). Eduque com carinho: para pais e filhos. Curitiba: Juruá.

Afinal, dieta funciona ou não?

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois?

* Por Felipe Barreto

Afinal, dieta funciona ou não?

Dieta funciona ou não? Você já parou para pensar que nunca se falou tanto em nutrição, dietas, e ainda assim o número de obesidade e doenças crônicas só aumenta? As recomendações: Faça dieta e se exercite mais não estão funcionando tão bem como esperávamos. Gostaria de abordar, exatamente sobre a prática de dietas restritivas como manejo da obesidade e da saúde de uma maneira geral.

Nesse contexto vou definir dieta como restrição alimentar, entendida como alterações restritivas, auto impostas, que mudam quantidade e/ou qualidade dos alimentos consumidos com intuito de controlar ou alterar o peso corporal.

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois? Por quanto tempo você conseguiu manter essa perda de peso? O fato de você, provavelmente, ter reganhado o peso perdido (ou mais) não tem a ver com força de vontade, tem a ver com a forma como o nosso corpo reage às dietas. Vou descrever 4 mecanismos que nosso corpo faz para se proteger da restrição.

  • Diminuição do metabolismo: Quando optamos por fazer uma dieta restritiva, nosso cérebro interpreta que estamos em uma situação de risco. O corpo começa a diminuir o metabolismo para “economizar” energia, uma vez que a quantidade de energia ingerida na dieta é menor do que a de costume.
  • Otimização dos estoques de gordura: Um mecanismo para garantir a integralidade do corpo é passar a estocar mais gordura, para que seja utilizada como fonte de energia caso a escassez de alimentos perdure.
  • Maiores chances de comer compulsivamente: Esse comer compulsivo pode ser entendido como uma adaptação biológica do nosso organismo em busca de energia, não tendo relação com falta de força de vontade. Existe uma variação na grelina (hormônio da fome) e da leptina (hormônio da saciedade), aumentando uma e reduzindo a outra, respectivamente.
  • Aumento no desejo pelos alimentos proibidos, obsessão por comida e piora no relacionamento com a comida: A prática de dieta restritiva aumenta o risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar.

É importante ressaltar que quando me refiro a não fazer dietas restritivas, não quero dizer que devemos comer tudo, de qualquer maneira, em exagero. Existem diversas maneiras mais saudáveis em lidar com a comida, que não seja a dieta. No próximo texto vou falar mais sobre uma dessas maneiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

TRIBOLE, E.;  RESCH, E. Intuitive eating: A revolutionary anti-diet approach. Fourth Edition. St. Martins Essentials. 2020

KEYS, A., BROZEK, J., HENSCHEL A., MICKELSEN O., TAYLOR H. L., The Biology of Human Starvation (2 volumes), University of Minnesota Press, 1950.

ALVARENGA, M. S. et al. Transtornos Alimentares e Nutrição: da prevenção ao tratamento. Manole, 2019.

Insônia: uma queixa comum que precisa ser avaliada

A insônia é caracterizada pela dificuldade de começar a dormir, manter-se dormindo ou o sono de má qualidade, que ocorre frequentemente, em média pelo menos em três noites por semana, no período de pelo menos três meses.

* Por Dra. Eliza Teixeira da Rocha

Insônia: uma queixa comum que precisa ser avaliada

De acordo com a Associação Brasileira do Sono, de cada três brasileiros, pelo menos um tem insônia.

Sintomas diurnos

A insônia é caracterizada pela dificuldade de começar a dormir, manter-se dormindo ou o sono de má qualidade, que ocorre frequentemente, em média pelo menos em três noites por semana, no período de pelo menos três meses, determinando um dos seguintes sintomas diurnos associados à queixa do sono:

  • fadiga; déficit de atenção, concentração ou memória;
  • prejuízo no desempenho social ou profissional;
  • presença de distúrbio de humor; queixa de sonolência diurna; redução da motivação, energia ou de iniciativa;
  • propensão para erros ou acidentes no local de trabalho ou durante a condução de automóveis;
  • dores de cabeça ou sintomas gastrointestinais em resposta à perda de sono;
  • e preocupação com o sono.

Insônia crônica é associada ao aumento de adoecimento psiquiátrico. Pacientes com insônia tem até 10 vezes maior chance de ter Depressão e até 17 vezes maior chance de ter Ansiedade. A insônia é uma queixa frequente nos pacientes com doenças neurológicas, como doença de Alzheimer, Doença de Parkinson e após um Acidente Vascular Cerebral. Existe uma associação clínica frequente entre Insônia e Fibromialgia, em que prejuízo na qualidade do sono pode apresentar uma relação de reciprocidade com a dor, podendo ser tanto uma consequência como um mecanismo causal e sustentador da condição dolorosa.

Também existe relação entre insônia e doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e mortalidade, principalmente nas insônias com redução objetiva do tempo de sono

Porém, o sono ainda é uma queixa negligenciada pelos próprios pacientes que não dão ao sono a sua importância. Na prática clínica, uma grande parte dos pacientes com dificuldade no sono não apresenta queixas espontânea ao médico e somente depois de questionados eles confirmam as alterações relacionadas ao sono.

Compreende-se que a insônia está associado a várias situações de adoecimento, e que é importante trata-la para além de proporcionar boas noites de sono, possamos reduzir as comorbidades associadas.

Cuidar do sono faz parte dos hábitos de vida saudável.

Algumas medidas auxiliam esse cuidado:

  • Mantenha regularidade nos horários de dormir ou acordar mesmo nos fins de semana
  • Pratique exercícios físicos, porém evite atividades intensas a noite.
  • Não tire sonecas durante o dia, isso atrapalhará seu sono à noite
  • Evite bebidas estimulantes como café, refrigerante ou bebida alcoólica à noite
  • Não fume
  • Prefira refeições leves antes de dormir
  • Faça do seu quarto um lugar tranquilo, escuro, bem ventilado e confortável
  • Crie um ritual de sono com horários fixos, banho quente, um chá calmante (erva doce, por exemplo) e uma música relaxante.

Referências:

Insônia: do diagnóstico ao tratamento: III Consenso Brasileiro de Insônia: 2013 / Associação Brasileira do Sono; [coordenação geral] Andrea Bacelar, Luciano Ribeiro Pinto Jr. 1. ed. São Paulo: Omnifarma, 2013.

https://emedicine.medscape.com/article/1187829-overview

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/insomnia/symptoms-causes/syc-20355167

 

 

FIBROMIALGIA

O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Fibromialgia?

                 A Fibromialgia é reconhecida como uma doença crônica, caracterizada por dor e rigidez dos tecidos moles, como músculos, ligamentos e tendões. O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

A Fibromialgia costuma afetar mais mulheres (3%) do que homens (1%). Há uma sobreposição significativa de comorbidades entre pacientes com Fibromialgia e transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtorno do pânico e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).

Um quadro de dor crônica tem consequências graves na vida de quem sofre com esse problema, trazendo um prejuízo significativo nas atividades diárias. Conviver com a dor exige um grande esforço físico e mental, há uma busca por um alívio que nem sempre é encontrado, tudo isso pode levar a sentimentos de tristeza, desmotivação e desesperança.

Pessoas com Fibromialgia demoram para receber o diagnóstico e possuem um longo histórico de peregrinações médicas. Assim, a pesquisa por uma explicação para o quadro também é um processo desgastante, o que contribui para a pessoa ter a sensação de que sua dor não existe ou é puramente psicológica. É importante destacar que a Fibromialgia é uma doença reumatológica, cuja dor e sofrimento dos portadores são reais.

Assim, começar um processo de psicoterapia é um grande passo, pois o objetivo do tratamento é ajudar a encontrar formas para manejar a dor.

Como os pensamentos influenciam na Fibromialgia?

A dor não é a simples resposta mecânica do organismo a uma lesão como forma de proteção. A dor é regulada por mecanismos complexos e sofre influência dos pensamentos e sentimentos. O processamento da dor é mediado pela percepção, ou seja, a sensação dolorosa pode aumentar ou diminuir de intensidade de acordo com a influência de alguns fatores, como as emoções, os pensamentos, a atenção que se dá à dor e a percepção da situação pela qual se está passando.

O ser humano descreve e experimenta as sensações corporais com base nas interpretações pessoais das situações, opiniões e informações que possui. Como exemplo, uma dor de cabeça que o indivíduo atribui a um tumor pode ser percebida de modo mais intenso do que uma dor de cabeça atribuída a um problema de vista.

O humor também influencia a percepção de dor. Pessoas ansiosas tendem a fazer avaliações exageradas e catastróficas das sensações corporais, percebendo estímulos vagos e neutros como sinais de doença. Já pessoas com depressão podem ter pensamentos pessimistas e costumam pensar e esperar o pior, interpretando os sintomas como mais negativos do que são na realidade.

Uma pessoa que constantemente sente dor passa muitas vezes a checar seu próprio corpo para certificar se o dia vai ser com ou sem dor. Ao direcionar a atenção para o corpo à procura da dor, muitas vezes o sintoma acaba parecendo mais intenso.

Os pensamentos influenciam os sentimentos e comportamentos. Isso é um fator importante no ciclo da dor crônica. Imagine uma situação em que uma pessoa com Fibromialgia tem um compromisso importante no dia seguinte. A pessoa pensa: “será que vou acordar com dor? Preciso dormir e descansar para acordar bem, sem dor, não posso perder esse compromisso”. Ao ter esses pensamentos sobre o dia seguinte, a pessoa se sente ansiosa, o que lhe provocará uma tensão nos músculos e dificuldade para dormir. No dia seguinte, acorda cansada, com muita dor e perde o compromisso – o que a leva a ficar triste.

Dessa forma, aprender a identificar e examinar os pensamentos sobre a sensação de dor no dia a dia permite questionar como se está funcionando e agir de outra forma pode ajudar no manejo do problema.

Como o problema pode estar sendo mantido?

Como já dito, alguns fatores podem ajudar a manter a dor na Fibromialgia, como os pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Muitas vezes, a pessoa se sente frágil, incapaz e impotente para controlar a dor. Essa visão negativa da situação e de suas próprias capacidades funciona reforçando a sensação de inatividade, desmotivação e aumento da atenção sobre sensações dolorosas, levando a mais incapacidade, inatividade e estresse.

Um outro aspecto que pode manter a dor é a o comportamento de esquiva de atividades. É muito comum que as pessoas com Fibromialgia deixem de fazer atividades físicas, uma vez que imaginam que vão sentir mais dor e que é impossível manter-se ativo. No entanto, a realização de alguma atividade física é, justamente, o mais indicado para ajudar no tratamento da Fibromialgia, podendo reduzir a ansiedade, melhorar a dor e aumentar a sensação de bem-estar.

Como a dor é um estímulo desagradável, o indivíduo acaba por adotar alguns comportamentos como a fuga de situações associadas a ela – o que, de maneira automática, passa uma sensação de melhora. Com essa estratégia, aprende-se que tentar se livrar da dor é a única maneira de lidar com ela, porém reforça a incapacidade de lidar com a doença. Aprender a enfrentar de modo gradual as situações desafiadoras pode ajudar a manejar o problema.

Por fim, outro fator que pode contribuir para a manutenção da Fibromialgia é a dificuldade em comunicar a dor de forma direta. A presença de um quadro de dor crônica compromete também as relações familiares, profissionais e sociais. Ou seja, a Fibromialgia não afeta apenas a vida de quem sofre, mas também a de quem convive com a pessoa. Aprender a comunicar a dor, as emoções, os pensamentos, vontades e necessidades é muito importante para encontrar maneiras de lidar com as dificuldades.

Como lidar com a Fibromialgia?

  • Aceitando e entendendo a Fibromialgia: ter um quadro de dor crônica é desgastante, pode-se ter a sensação de que existe pouca coisa que se possa fazer para melhorar. Entender que a dor sofre influência dos pensamentos, emoções e comportamentos permite ter mais autonomia e motivação para o tratamento. Aceitar que se tem um problema de dor crônica pode favorecer engajamento no tratamento.
  • Mudando pensamentos e comportamentos: os pensamentos sobre a dor influenciam os comportamentos e, ao longo do tratamento, pode-se aprender a identificar como se pensa sobre a dor e que influência esses pensamentos têm no manejo do problema. Algumas vezes exagera-se ou modifica-se os fatos por medo ou lembranças de experiências anteriores negativas.
  • Aprendendo a comunicar a dor: quando se sente algum desconforto é normal tentar comunicar isso de alguma maneira, seja através de sons e gestos, mas muitas vezes não se faz isso da melhor forma. Com a psicoterapia, aprende-se estratégias para se comunicar de forma mais objetiva e transparente, conseguindo auxílio quando necessário.
  • Aprendendo a se distrair da dor: quando se presta muita atenção na dor, ela acaba se intensificando. A atenção pode ser um fator de grande influência no aumento da percepção da dor. Ao compreender que se deposita sua atenção seletivamente na dor, pode-se aprender técnicas para direcionar melhor sua atenção, amenizando as sensações desagradáveis. Pode-se direcionar o foco da atenção para um exercício de respiração profunda ou ligar para alguma pessoa, como exemplos.
  • Aprendendo a relaxar: com o auxílio do terapeuta, aprende-se estratégias que ajudam a diminuir os sintomas relacionados à ansiedade e estresse. Por meio de técnicas como o relaxamento progressivo, que consiste em tensionar e relaxar diferentes grupos musculares, pode-se diminuir a tensão nas áreas doloridas, aliviando o sofrimento.
  • Enfrentando situações difíceis: em um quadro crônico, acaba-se mudando a rotina e se abandona a realização de coisas por medo de sentir dor. Começar a incluir gradualmente atividades prazerosas que foram deixadas de lado é uma forma de começar a lidar com o problema de modo produtivo, quebrando assim o ciclo da dor.

Sugestão de leitura: Fibromialgia sem mistério: um guia para pacientes, familiares e médicos. Autor: Manuel Martínez-Lavín. MG Editores, 2014.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

PENIDO, M.A.; DIAS, T.R.S. Capítulo 19 – Fibromialgia. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

 

O que é Nutrologia?

É o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Clique para ler mais.

* Por Luiza Junqueira Villar

Reconhecida como especialidade médica em 1978, a Nutrologia é o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Por definição, a Nutrologia é a especialidade clínica que tem como função fazer o diagnóstico, a prevenção e o tratamento das enfermidades nutroneurometabólicas.

O médico nutrólogo se especializa através da residência médica em Nutrologia ou tem título de especialista por aprovação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Ou seja, só podem ser intitulados Nutrólogos aqueles que possuem Registro de Qualificação de Especialista (RQE) junto ao Conselho Federal de Medicina.

Importante destacar que práticas como Ortomolecular, Anti-aging, Nutriendocrinologia ou Medicina Integrativa não fazem parte da Nutrologia e não são sequer são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.

Então como atua o Nutrólogo?

O médico nutrólogo estuda, pesquisa e avalia os benefícios e malefícios causados pela ingestão de nutrientes, aplicando esse conhecimento para a avaliação das necessidades orgânicas, visando a manutenção da saúde e redução do risco de doenças.

Pode, ainda, identificar possíveis erros alimentares e hábitos de vida inadequados, auxiliando em mudanças importantes em benefício da saúde, contribuindo para uma longevidade saudável e melhora da qualidade de vida.

O Nutrologo pode atuar tanto em Clínicas/Consultórios como em Hospitais, sempre como parte de uma equipe Multidisciplinar.

No atendimento Clínico, são atendidas as seguintes situações:

– Pacientes saudáveis que desejam melhorar hábitos dietéticos e de vida;

– Sobrepeso;

– Obesidade em todos os graus;

– Acompanhamento antes e após realização de cirurgia bariátrica;

– Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP);

– Bulimia, Anorexia, Síndrome do Comer Noturno, Vigorexia, Ortorexia: aspectos nutrológicos;

– Aspectos nutrológicos da ansiedade e depressão;

– Pacientes que serão ou foram submetidos a cirurgias;

– Pacientes oncológicos (em tratamento de câncer);

– Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral, gastrostomia ou jejunostomia ou por via endovenosa (parenteral);

– Pré-Diabetes e Diabetes;

– Dislipidemias: hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e hipertrigliceridemia (aumento do triglicérides);

– Síndrome metabólica;

– Esteatose hepática não-alcóolica (gordura no fígado);

– Alergias e intolerâncias alimentares;

– Anemias carenciais;

– Vegetarianismo;

– Doenças inflamatórias intestinais (Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa);

– Síndrome do intestino irritável;

– Sarcopenia (baixa quantidade de músculo);

– Orientações nutrológicas para cardiopatias, pneumopatias, hepatopatias, nefropatias;

– E outras.

Sobre a avaliação do paciente

Para avaliar um paciente, o médico nutrólogo realiza a anamnese (conversa em que conhece a história do paciente e seus hábitos alimentares e de vida); o exame físico completo; avaliação antropométrica com aferição de altura, peso, principais medidas e circunferências do corpo; avaliação da composição corporal através da Bioimpedância Elétrica; avaliação da capacidade funcional por meio de testes de força tais como dinamometria e testes funcionais; solicita exames laboratoriais e radiológicos complementares de acordo com cada situação.

A partir do diagnóstico definido, o tratamento é individualizado podendo ser feito por orientações alimentares específicas, prescrição de suplementos nutricionais ou prescrição de medicamentos.

Dessa forma, o médico nutrólogo atua em diversas áreas da medicina, abordando o aspecto nutrológico de cada doença, em conjunto com os colegas médicos e equipe multidisciplinar.

O impacto do uso precoce e excessivo de telas no desenvolvimento infantil

Alguns estudos já apontaram para a maior frequência de atrasos no desenvolvimento cognitivo, psicológico e de linguagem em crianças que consomem telas de forma excessiva…

* Por Ana Carolina Meneghin

O impacto do uso precoce e excessivo de telas no desenvolvimento infantil

Nos últimos anos, estamos vivendo uma explosão de novas tecnologias de comunicação e informação, que se tornaram parte integral e, muitas vezes, indispensável da vida cotidiana. A exposição a essas tecnologias tem ocorrido em idades cada vez mais precoces e com mais intensidade, o que se acentuou a partir da pandemia da COVID-19, com o home office, as aulas remotas e o, já frequente, uso como entretenimento. Apesar dos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, existem claros impactos negativos no seu consumo excessivo, principalmente no desenvolvimento infantil.

Os primeiros dois anos de vida de uma criança são de extremo amadurecimento em diversos domínios: visual, motor, de coordenação, da cognição, da linguagem e da socialização. A aquisição de novas habilidades é diária e, muitas vezes, impressionante. O cérebro encontra-se em pleno desenvolvimento, respondendo a estímulos externos e internos, estabelecendo novas conexões sinápticas, amadurecendo outras e modelando sua arquitetura de forma a permitir a obtenção e a manutenção dessas habilidades. Nesse momento, é fundamental a exposição a experiências diversas, a ampliação dos estímulos externos e, principalmente, a construção de vínculos afetivos entre criança-cuidador, através do cuidar, do olhar, do compartilhar e do brincar.

No entanto, é cada vez mais frequente que crianças com menos de um ano de idade sejam expostas ativa e passivamente aos conteúdos digitais presentes nos diversos gadgets eletrônicos disponíveis (smartphones, tablets, smartvs, notebooks e videogames). Cuidadores reportam como possíveis fatores associados a apresentação de telas nessa faixa etária a ausência de alternativas de entretenimento com preço acessível, a exaustão parental, a necessidade de tempo para realizar tarefas domésticas e pessoais e a crença de um potencial educativo de determinados programas digitais. Com relação a essa última justificativa, estudos já demostraram que por mais que o conteúdo seja de alta qualidade e apropriado para a idade, a capacidade de aprendizado de uma criança é muito maior quando o conteúdo é transmitido cara-a-cara, baseado na interação e no compartilhamento, estimulando o desenvolvimento da linguagem, da capacidade de socialização e de percepção de emoções. Inclusive pesquisas apontam que quando os cuidadores assistem aos programas junto com as crianças e interagem com elas dentro do contexto veiculado, a retenção das informações potencialmente educativas neles contidas é maior, sugerindo que é importante para a criança a transposição daquele conhecimento para o mundo real e então, sua aplicação na vida cotidiana. Ou seja, o compartilhamento de experiências com outras pessoas faz parte do processo de aprendizado natural.

Alguns estudos já apontaram para a maior frequência de atrasos no desenvolvimento cognitivo, psicológico e de linguagem em crianças que consomem telas de forma excessiva. Esses atrasos se tornam ainda mais evidentes quando o conteúdo consumido não é de alta qualidade, interferindo principalmente no desenvolvimento das funções executivas como o controle de impulsos, a autorregulação e a flexibilidade mental. Outra habilidade que também tem seu desenvolvimento comprometido é a capacidade de atenção, uma vez que, assim como os adultos, as crianças são submetidas a novos estímulos constantemente durante o uso de telas e, portanto, a atenção é frequentemente fragmentada, podendo até mesmo comprometer a compreensão daquele conteúdo. Um estudo publicado na revista JAMA Pediatrics em 2019 encontrou uma pior performance em testes de screening comportamentais, cognitivos e sociais em crianças que passaram mais tempo por semana em uso de telas. Outras pesquisas com crianças entre 6 e 18 meses de vida apontaram um maior risco de reatividade emocional, comportamentos disfuncionais, dificuldades de autorregulação e comportamentos agressivos diante de um uso em demasia de telas.

Uma consequência mais óbvia desse hábito é o aumento do tempo de inatividade física, trazendo como maior risco de desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Ao mesmo tempo, uma revisão publicada no British Medical Journal em 2019, apontou para uma associação entre o maior consumo de alimentos ultraprocessados e a maior quantidade diária de calorias ingeridas ao uso excessivo de telas. Nesse ponto, é interessante salientar o impacto das frequentes propagandas veiculadas nos programas infantis relacionadas a esses alimentos, considerando-se a maior vulnerabilidade dessa faixa etária aos apelos do marketing. Além do impacto na saúde global – risco de elevação dos níveis da pressão arterial e dos níveis de colesterol e glicose sanguíneos -, a redução da prática de atividades físicas traz impactos negativos no desenvolvimento das habilidades de coordenação motora e de força e, propicia o surgimento de queixas como cervicalgia, lombalgia e cefaleia. Essa mesma revisão encontrou melhores desfechos na cognição e na saúde mental de adolescentes que praticaram pelo menos uma hora de atividade física por dia, tiveram de 8 a 10 horas de sono por dia e utilizaram telas como entretenimento por menos de duas horas diárias.

Cabe ainda pontuar a interferência na qualidade e na quantidade de sono, o que repercute de forma considerável na qualidade de vida e no desempenho acadêmico das crianças. Estudos apontam para a redução do número de horas de sono relacionada à presença de telas no quarto e ao excesso do seu consumo, principalmente no período noturno. Um dos mecanismos implicados nessa redução é a supressão da melatonina endógena pela luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos. Ademais, o consumo de conteúdos violentos ou inapropriados pode favorecer a ocorrência de pesadelos. Por conseguinte, uma má qualidade de sono ocasiona sonolência diurna, impacta na capacidade de memorização e concentração, podendo reduzir o rendimento nas atividades diurnas.

Diante das evidências dos possíveis prejuízos relacionados ao consumo excessivo de telas e, considerando que o consumo de conteúdos digitais é parte do cotidiano atual de nossa sociedade, é importante que crianças e adolescentes recebam uma educação quanto ao seu uso saudável e responsável tanto no ambiente domiciliar quanto no escolar. Abaixo seguem algumas recomendações de acordo com publicações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da American Academy of Pediatrics:

  • salientar a importância da supervisão, regulação e engajamento parental durante as atividades exercidas por crianças e adolescentes online.
  • evitar a exposição a telas antes dos dois anos de idade. Caso seja interesse dos cuidadores introduzir crianças entre 18-24 meses aos conteúdos digitais, orientar sobre a necessidade de escolher programas de alta qualidade e de compartilhar este momento com elas para que o conteúdo seja melhor compreendido e, posteriormente, aplicado no seu cotidiano.
  • limitar o tempo de tela a uma hora por dia para crianças entre 2 e 5 anos, mantendo a orientação da supervisão e da seleção dos programas.
  • estabelecer limites consistentes quanto ao tempo e ao tipo de mídia digital para crianças acima de 6 anos, garantindo que esse uso não interfira na qualidade de sono, na realização das atividades escolares e na prática de atividades físicas.
  • estabelecer momentos de convivência ‘livre de telas’, como durante as refeições e trajetos de carro.
  • estabelecer cômodos onde seu uso de telas deve ser evitado, como nos quartos.
  • evitar o uso de telas cerca de duas horas antes de se deitar.
  • oferecer alternativas de atividades de lazer, procurando estimular aquelas em conjunto e ao ar livre.
  • dialogar e orientar sempre quanto a necessidade do respeito e da ética dentro das mídias, dos cuidados com os conteúdos postados e do questionamento da veracidade das informações compartilhadas.

Referências

American Academy of Pediatrics Announces New Recommendations for Children’s Media Use. https://services.aap.org/en/news-room/news-releases/aap/2016/aap-announces-new-recommendations-for-media-use/ Acesso em 25/06/2021.

Anderson DR, Pempek TA. Television and Very Young Children. American Behavioral Scientist, Vol 48, No 5, 2005.

Chassiakos YL et al. Children and Adolescents and Digital Media. Pediatrics, Vol 138, No 5, 2016.

Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital. #Menos Telas #Mais Saúde. Manual de Orientação. Sociedade Brasileira de Pediatria. Dezembro de 2019.

Guerreiro MD et al. 24-Hour Movement Behaviors and Impulsivity. Pediatrics, Vol 144, No 3, 2019.

LeBourgeois MK et al. Digital Media and Sleep in Childhood and Adolescence. Pediatrics, Vol. 140, No s2, 2017.

Madigan S et al. Association Between Screen Time and Children’s Performance on a Developmental Screening Test. JAMA Pediatrics, Vol 173, No 3, 2019.

Martin-Biggers J et al. Beliefs and Barriers to Limiting Screentime Behaviors by Parents of Preschoolers. Journal of Nutrition Education and Behavior, Vol 47, No 4, 2015.

Domingues-Montanari S. Clinical and psychological effects of excessive screen time on children. Journal of Paediatrics and Child Health, 2017.

Stiglic N, Viner RM. Effects of screentime on the health and well-being of children and adolescents: a systematic review of reviews. BMJ Open, Vol 9, No 1, 2019.

Walsh JJ et al. Associations between 24 hour movement behaviours and global cognition in US children: a cross-sectional observational study. The Lancet Child & Adolescent Health, Vol 2, No 11, 2018.

 

Personalidade e comportamento procrastinador

É muito importante identificar quais fatores atuam para a manutenção desse comportamento para que ações de tratamento possam ter resultado.

* Por Sabrina Gomes

Personalidade e comportamento procrastinador

Procrastinar é um comportamento muito comum e representa um dos grandes problemas da atualidade, pois pode gerar prejuízos importantes na qualidade de vida das pessoas. A procrastinação consiste no adiamento voluntário de tarefas ou da tomada de decisões e, geralmente, está associada a sentimentos negativos, como insatisfação, vergonha e culpa. Isso porque procrastinar leva a frequentes atrasos de prazo, perda de compromissos e diminuição na qualidade das tarefas realizadas.

O comportamento procrastinador normalmente é considerado difícil de ser modificado e muitas intervenções não resultam em melhora para a pessoa, por se tratar de um problema muito complexo e que pode ser resultado de diversos fatores que atuam junto. Assim, é muito importante identificar quais fatores atuam para a manutenção desse comportamento para que ações de tratamento possam ter resultado.

Dentre as diversas condições responsáveis pela procrastinação, algumas características de personalidade podem ajudar a explicar a presença e intensidade desse comportamento. Em seguida, será apresentada uma das teorias mais importantes para a compreensão da personalidade, o modelo dos Cinco Grandes Fatores.

Definindo Personalidade

A personalidade refere-se às características psicológicas, relativamente estáveis, que determinam a forma de pensar, de sentir e de agir. Um dos modelos de compreensão da personalidade é o modelo dos Cinco Grandes Fatores. Este modelo destaca cinco traços amplos que ajudam a formar a personalidade, ou seja, formam o “jeito de ser” de uma pessoa.

Os cinco fatores são:

1) Neuroticismo, que consiste na forma como uma pessoa vivencia as experiências negativas, indicando o seu grau de estabilidade emocional;

2) Extroversão, que representa o quanto uma pessoa é comunicativa, ativa e tem facilidade para estabelecer interações sociais dinâmicas;

3) Abertura para experiências, que é um fator que avalia em que medida uma pessoa tem disponibilidade para vivenciar situações novas, desconhecidas, que lhe demandem uma postura mais criativa;

4) Realização, que representa um fator que avalia o quanto a pessoa é focada, tem disposição para buscar suas metas e é realizadora;

5) Socialização, que revela em que medida a pessoa tem capacidade para estabelecer relações sociais com qualidade, de forma agradável e empática.

Traços de personalidade e a procrastinação

Considerando o modelo dos Cinco Grande Fatores, quatro desses componentes (Neuroticismo, Extroversão, Realização e Socialização) podem ter influência sobre o comportamento de procrastinar, cada um de sua forma. Abaixo, veremos como esses traços de personalidade se relacionam com a procrastinação.

Neuroticismo: pessoas com altos índices de neuroticismo tendem a emitir o comportamento de procrastinar de maneira mais generalizada, uma vez que costumam reagir de forma emocionalmente carregada a um número muito grande de tarefas ou eventos que elevam a ansiedade, a tristeza ou raiva. Geralmente, essas pessoas possuem crenças negativas sobre si mesmas e sobre o mundo, apresentam autoestima diminuída e maior disponibilidade para sintomas depressivos. Pessoas com baixa autoestima, por exemplo, diante do planejamento de uma tarefa de apresentação ao público, podem experimentar sentimentos muito negativos relacionados com pensamentos de menos valia (por ex: “eu não sou capaz de fazer um bom trabalho”; “as pessoas vão rir de mim”), o que faz com que o indivíduo evite a tarefa, uma vez que o simples planejamento desta provoca sentimentos negativos.

Essa forma de agir acaba gerando o efeito “bola de neve”, já que crenças de baixa autoeficácia – “não sou capaz”, fazem com que a pessoa procrastine, o que compromete a qualidade da tarefa e acaba reforçando a ideia de que a pessoa não é capaz de realizar um trabalho com qualidade.

Extroversão: altos índices neste fator podem estar relacionados com atitudes impulsivas e com intensa busca por sensações. Essas pessoas tendem a manter o foco em atividades que proporcionem consequências positivas imediatas e perdem o interesse em tarefas de longo prazo, adiando esse tipo de demanda.

Realização: pessoas com baixo nível de realização apresentam tendência a distração e falta de motivação para a realização de seus projetos. Essas características podem explicar o não engajamento em tarefas que acabam sendo adiadas.

Socialização: baixos níveis no fator socialização geralmente correspondem ao comportamento de confronto de autoridades, com descuido em relação às regras e normas sociais, o que também pode afetar a forma como a pessoa responde às demandas. Por exemplo, a pessoa pode deixar de cumprir um compromisso por não se preocupar com expectativas sociais. Isso quer dizer que a pessoa não sentirá tanta culpa em adiar um evento mesmo que alguém tenha a expectativa de que ela cumprirá o prazo, por exemplo.

A procrastinação é um fenômeno complexo e prevalente que tem relação com diversos fatores. A compreensão do modo de funcionamento cognitivo, emocional e comportamental da pessoa, assim como das características dos diversos ambientes dos quais ela faz parte (acadêmico, familiar, profissional) é fundamental para a elaboração de intervenções mais resolutivas. Neste texto, foi possível compreender como os traços de personalidade podem auxiliar na investigação do comportamento procrastinador.

Referências

Steel, P. (2007). The nature of procrastination: a meta-analytic and theoretical review of quintessential self-regulatory failure. Psychological bulletin133(1), 65.

Leia também o texto do Dr. Alexandre de Rezende, psiquiatra, sobre Procrastinação clicando aqui.