Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). O que é, como os pensamentos influenciam no TOC, como o problema pode estar sendo mantido?

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC?

A principal característica do TOC é a presença de obsessões (ideias) e/ou compulsões (rituais).

As obsessões são pensamentos, ideias ou imagens repetitivas, intrusivas e que provocam angústia, ansiedade e/ou desconforto. As compulsões são comportamentos evitativos ou rituais mentais, realizados de forma rígida e estereotipada, a fim de diminuir o desconforto causado pelas obsessões. Esses sintomas acabam por interferir na rotina da pessoa, restringindo várias áreas da sua vida. Os conteúdos mais comuns dos sintomas relacionam-se a sujeira/contaminação/limpeza, agressão, checagem e simetria/ordenação.

As obsessões podem aparecer de diversas formas, como frases, palavras, imagens ou cenas. Seus conteúdos geralmente são percebidos como impróprios ou estranhos, podendo gerar sentimentos de culpa, medo, desprazer, e até mesmo nojo. Por isso, a pessoa com TOC tenta reprimir, afastar ou controlar esses pensamentos, realizando rituais ou tentando não pensar neles, o que na maioria das vezes não é eficaz. Dessa forma, a pessoa acaba se sentindo ainda mais incomodada. Os pensamentos obsessivos podem ser de diferentes tipos: preocupações excessivas com sujeiras ou contaminações, alinhamento de objetos, ordem e simetria, pensamentos impróprios e indesejáveis relacionados com violência, sexo e religião, entre outros.

As compulsões são comportamentos realizados pelo indivíduo na tentativa de se livrar das obsessões e do desconforto provocado por elas. Esses comportamentos podem ser diversos, como verificar fechadura das portas, lavar as mãos com frequência, simetria e organização de objetos; perfeccionismo extremo nas atividades realizadas, ações repetidas (sentar e levantar do assento, entrar e sair dos lugares), entre outros. As compulsões ou rituais também podem aparecer como atos mentais, com a mesma finalidade de tentar neutralizar as obsessões. As mais comuns são repetir mentalmente determinadas palavras ou números, repetir silenciosamente alguma reza, rememorar fatos mentalmente. 

  • Como os pensamentos influenciam no TOC?

Com base no principal fundamento da terapia cognitivo-comportamental, os pensamentos influenciam as emoções e comportamentos.

Uma das principais características dos indivíduos com TOC é a avaliação distorcida de seus próprios pensamentos obsessivos, baseada em algumas crenças: “sou capaz de controlar meus pensamentos”. As pessoas com TOC sofrem muito por acreditarem que seus pensamentos são antecipadores de uma ação, não encaram os pensamentos apenas como pensamentos, mas sim como possibilidade de acontecimentos reais (“se estou pensando isso, então é real”). Por isso, sentem a necessidade de controlar ou neutralizar esses pensamentos fazendo rituais, o que causa intenso desconforto e prejuízos no seu cotidiano. O efeito é temporário, e logo o pensamento perturbador volta a incomodar, a pessoa acaba repetindo suas ações de forma compulsiva.

Diversas situações do cotidiano (por exemplo, manusear o lixo do banheiro) podem disparar pensamentos indesejados e aversivos (“estou sujo e contaminado”) e sentimentos intensos (nojo e medo), e fazem com que o indivíduo tenha a necessidade de realizar comportamentos que neutralizem ou minimizem o desconforto: as compulsões ou rituais (lavar as mãos repetidas vezes). Como esses rituais provocam um alívio imediato e, portanto, cumprem o objetivo de diminuir o desconforto momentaneamente, eles acabam sendo reforçadores do problema.

  • Como o problema pode estar sendo mantido?

Pessoas com TOC desenvolvem regras e estratégias para monitorar, avaliar e tentar controlar seus pensamentos. Isso pode fazer com que nenhum pensamento ou situação aversiva passe despercebido, o que provoca sentimentos intensos de repugnância, nojo, culpa e medo. Esses sentimentos fazem com que o indivíduo procure uma válvula de escape: os rituais e/ou compulsões mentais.

Grande parte das pessoas têm, em algum momento da vida, pensamentos impróprios, agressivos, obscenos ou de conteúdo sexual muito semelhantes aos de quem sofre com o TOC. No entanto, não lhes dão importância, desvalorizando tais pensamentos. Logo, a maneira como se interpreta e o significado que se dá aos pensamentos seriam os responsáveis pela transformação de pensamentos que seriam apenas desagradáveis em pensamentos obsessivos e recorrentes. Com base nisso, é importante tentar perceber o quanto se está supervalorizando os pensamentos, fazendo-os mais intensos e presentes na vida.

Outro aspecto que pode estar contribuindo para manter os sintomas de TOC é a realização compulsiva de rituais. Como já dito anteriormente, quando se age na tentativa de neutralizar as ideias obsessivas, isso tende a causar um alívio momentâneo. Porém, esse alívio acaba reforçando a realização dos rituais, por julgar que fazer os rituais é o melhor caminho para aliviar os pensamentos.

  • Como lidar com o TOC?

 Estratégias para lidar com o TOC:

  • Psicoeducação: conhecer todas as informações necessárias referentes ao TOC, características e funcionamento, o modelo cognitivo-comportamental e as técnicas utilizadas no tratamento para se lidar de maneira eficaz na redução dos sintomas.
  • Lista de sintomas: junto com o terapeuta, faz-se uma lista com todos os sintomas obsessivo-compulsivos, registrando-os através do critério de nível de ansiedade.
  • Identificação e modificação de interpretações distorcidas: é importante identificar e aprender a modificar os pensamentos distorcidos junto com o terapeuta, com o objetivo de começar a fazer interpretações mais realistas. Exemplos: exagerar o risco de algo ruim acontecer, superestimar sua responsabilidade sobre os pensamentos, supervalorizar o poder do pensamento e a necessidade de controlá-lo e perfeccionismo.
  • Exposições às obsessões e prevenção de rituais: partindo do princípio de que os rituais e evitações são estratégias utilizadas pela pessoa para aliviar as obsessões, o objetivo é fazer com que a pessoa se exponha aos estímulos que parecem aversivos de uma maneira gradual, sem o recurso de rituais ou comportamentos que possam trazer algum alívio. O objetivo é que ocorra a diminuição espontânea e progressiva de ansiedade e medo a um estímulo não nocivo (sujeira, elevador, janelas).

Sugestão de leitura:

  • Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo: Manual de terapia cognitivo-comportamental para pacientes e terapeutas. Autores: Aristides Volpato Cordioli, Analise de Souza Vivan e Daniela Tusi Braga. 3ª edição. Artmet, 2016.
  • Medos, dúvidas e manias: orientações para pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo e seus familiares. Autores: Albina Rodrigues Torres, Roseli Gedanke Shavitt e Eurípedes Constantino Miguel (organizadores). 2ª edição. Artmed, 2013.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

LAURITO, L.D.; PAIXÃO, J.E. Capítulo 4 – Transtorno Obsessivo-Compulsivo. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Trama

Quando alguém adentra no consultório para falar de si, não adentra só…

* Por Vívian Hauck

“Tudo vive em mim. Tudo se entranha

Na minha tumultuada vida. E por isso

Não te enganas, homem, meu irmão,

Quando dizes na noite que só a mim me vejo.

Vendo-me a mim, a ti.”

– Trecho de ‘Poemas aos homens do nosso tempo – VI’ – Hilda Hilst

“Na vida psíquica do ser individual, o Outro é via de regra considerado enquanto modelo, objeto, auxiliador e adversário, e portanto a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num sentido ampliado, mas inteiramente justificado.”

– Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

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Quando alguém adentra no consultório para falar de si, não adentra só.

Desde o nascimento, um bebê humano é imerso em uma língua, uma cultura, uma história. A história de sua família, contada na língua materna. A história de seu nome. A história de quem veio antes dele. A história de seu país, de sua cidade. A história fantasiada do que esperam dele, de quem será, de como será. Falam com ele e por ele antes que ele fale por si, e é só assim que pode – ele mesmo – passar a falar. Não há sujeito que se crie sozinho.

Atravessado de saída por essas histórias, este sujeito vai encontrando outros em seu caminho. Com alguns se identifica, outros passam despercebidos. Ama alguns, outros nem tanto. Participa de alguns grupos, luta contra outros. Se posiciona em alguns lugares, em outros se silencia, se apaga. E assim vai construindo a trama de relações que o acompanha e, mais que isso, que o constitui.

É em relação também que sofre. Sofre pelo que falha, sofre pelo amor não correspondido, sofre quando se decepciona com aquele que acreditava ser perfeito, sofre por tentar se distanciar de um ou de outro e não conseguir. Sofre na tentativa de suprir as expectativas de outrem, aquelas que estavam lá desde o berço.  Sofre repetidamente pelas vezes em que se viu ali, naquela mesma situação que sempre o faz sofrer. “Isso sempre acontece comigo”, diz.

Talvez em algum momento afortunado se pergunte afinal “E por que é que isso sempre acontece comigo?”, “E o que eu quero? Eu quero mesmo ser isso que desejaram para mim?”. Adentra ao consultório. Traz consigo sua história e as marcas de todas essas relações. E ali, de forma singular, se encontra com a possibilidade de assumir sua história, suas responsabilidades, seus desejos, sua alteridade, seus limites. O que será que é possível fazer a partir e com tudo isso que te construiu, que te fez chegar até aqui?

Pode parecer um tanto assustador, mas faço a aposta de que vale a pena a viagem.

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“Cada indivíduo é um componente de muitos grupos, tem múltiplos laços por identificação, e construiu seu ideal do Eu segundo os mais diversos modelos. Assim, cada indivíduo participa da alma de muitos grupos, daquela de sua raça, classe, comunidade de fé, nacionalidade etc., e pode também erguer-se além disso, atingindo um quê de independência e originalidade.”

– Freud em Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)

O que é a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA?

É uma ciência que busca compreender o ser humano através das inter relações que o individuo mantém com o seu ambiente.

* Por Carolina Conti

A Análise do Comportamento Aplicada mais conhecida por sua sigla em inglês ABA (Applied Behavior Analysis) é uma ciência que busca compreender o ser humano através das inter relações que o indivíduo mantém com o seu ambiente. Seu principal autor e pesquisador foi o psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner.

A unidade funcional da Análise do Comportamento Aplicada é a Tríplice Contingência, um conceito utilizado para descrever e analisar essas relações que o organismo mantem com seu ambiente.

Uma contingência é composta por 3 elementos:

a) A situação que antecede determinado comportamento (antecedente);

b) O comportamento que o organismo emite diante dessa situação (resposta);

c) Alterações no contexto decorrentes do comportamento do organismo (consequência). As consequências que determinado comportamento produziu no passado e  selecionaram esse comportamento, ou seja, influenciaram se o comportamento continua ou não ocorrendo.

O foco da intervenção dentro da teoria da Análise do Comportamento Aplicada é desenvolver novos repertórios, mais funcionais e saudáveis para aquele indivíduo, e não somente diminuir os comportamentos problemas. Esses novos repertórios variam de acordo com o contexto de vida, as demandas e as reservas comportamentais individuais.

ABA não é um método ou um pacote fechado, é uma ciência que visa a investigação e intervenção planejada e programada a partir de uma avaliação do repertório de cada paciente.

É muito conhecida e difundida no tratamento de indivíduos com Transtorno de Espectro Autista (TEA), entretanto pode ser aplicada com diversas populações e em diferentes contextos. Dessa forma, quando falamos de comportamento humano estamos falando de ABA.

Leia também sobre o sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono, clicando aqui.

O sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono

Hábitos saudáveis de sono devem ser estimulados desde os primeiros meses de vida através de práticas diárias realizadas pelos cuidadores para promover o sono e garantir sua qualidade.

* Por Ana Carolina Meneghin

O sono nos primeiros anos de vida e a importância de uma rotina de sono.

Ao contrário do que poderíamos esperar, o sono é um processo fisiológico ativo e dinâmico, mediado por um complexo sistema regulatório. Talvez seja uma das primeiras atividades do cérebro em desenvolvimento. Além do seu já conhecido relevante papel para uma vida saudável e sensação de bem-estar geral, são cada vez mais robustas as evidências científicas relativas à importância do sono em uma variedade de funções cerebrais como aprendizagem, neuroplasticidade e consolidação da memória. De encontro a essas evidências, estudos apontam que alterações do sono nos primeiros anos de vida podem trazer impactos negativos no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico das crianças, bem como na dinâmica familiar.

Sabemos que os padrões de sono mudam ao longo de toda nossa vida e, provavelmente, as mudanças mais notórias ocorram nos nossos dois primeiros anos e na transição da infância para a adolescência. Essas mudanças são atribuídas ao próprio amadurecimento cerebral – acompanhando o desenvolvimento neuropsicomotor – e, às alterações na rotina diária e nas demandas e responsabilidades sociais.

O sono de um recém-nascido é completamente diferente do sono de uma criança, adolescente ou adulto. Uma de suas principais características é a ausência de um ciclo vigília-sono estável e alinhado ao ciclo dia-noite de 24 horas. Enquanto o adulto apresenta apenas um ciclo vigília-sono em 24 horas – dormindo por cerca de 6 a 8 horas/noite -, o recém-nascido passa a maior parte do dia e da noite dormindo, num total de 17 a 19 horas distribuídas em 8 a 10 períodos de sono, independente do ciclo dia-noite externo. A sincronia entre esses dois ciclos começa a ocorrer a partir do 2º ou 3º mês de vida, quando a maior parte do sono tende a se concentrar no período noturno, com uma redução gradual dos cochilos diurnos. Essa sincronização é mais notável por volta dos 6 meses de vida. No entanto, um ciclo vigília-sono regular se concretizará apenas por volta dos 2 anos de idade. Em geral, a partir dos 18 meses não mais ocorre o cochilo matutino, persistindo apenas o vespertino até por volta dos 3 anos. Apenas 15% das crianças mantém um cochilo diurno aos 5 anos de idade.

Como mencionado acima, as mudanças do padrão de sono são em grande parte decorrentes do processo natural de desenvolvimento de uma criança. A diminuição da fragmentação do sono e o aumento de sua consolidação, permitindo mais períodos ininterruptos de sono, estão relacionadas ao aumento da capacidade do bebê em adquirir as calorias necessárias durante o dia, com consequente redução da necessidade das mamadas noturnas; ao aumento da liberação de hormônios como a melatonina e a hipocretina, importantes na regulação do sono; e ao amadurecimento de regiões cerebrais responsáveis pela manutenção da vigília e do sono.

É frequente o questionamento sobre o tempo ideal de sono para determinada faixa etária. Esse tempo seria aquele necessário para que o indivíduo se sinta bem descansado, permitindo seu funcionamento ótimo durante o dia. A partir de estudos populacionais é possível se chegar a uma média de horas de sono para cada período da infância, conforme tabela abaixo baseada nas recomendações de 2015 da Academia Americana de Medicina do Sono. No entanto, sempre deve ser levado em consideração os contextos sociocultural e familiar, bem como as diferentes necessidades individuais. Uma criança que desperta espontaneamente pela manhã e que se apresenta disposta e com bom-humor ao longo do dia, provavelmente tem uma quantidade de sono suficiente.

 

Faixa etária Média de horas de sono recomendada em 24 horas
0 a 2 meses 14 a 17 horas
3 a 12 meses 12 a 15 horas
1 a 3 anos 11 a 14 horas
3 a 5 anos 10 a 13 horas

 

Observamos na tabela acima que há uma redução gradativa da quantidade de horas de sono necessária ao longo dos primeiros anos de vida, concordando com o que foi comentado nos parágrafos anteriores.

Além da diferença na quantidade de sono, a arquitetura do sono (ou seja, a distribuição dos seus estágios durante a noite) também é distinta nos primeiros anos de vida. Os recém-nascidos apresentam de 50 a 80% do tempo de sono preenchido pelo chamado sono REM (rapid eye movements, em inglês, ou movimento rápido dos olhos). Essa porcentagem vai gradualmente reduzindo ao longo dos meses e, atinge um padrão semelhante ao do adulto (25 a 30%) por volta dos 12 meses de vida, quando o sono NREM (non rapid eye movements) se torna o preponderante. O sono REM é importante para o desenvolvimento cerebral e para o aprendizado, ao aumentar e fortalecer as redes neurais. Acredita-se, portanto, que o seu predomínio nos lactentes seja necessário para a consolidação da grande quantidade de informações recebidas e experiências vividas nos primeiros anos de vida.

Hábitos saudáveis de sono devem ser estimulados desde os primeiros meses de vida através de práticas diárias realizadas pelos cuidadores para promover o sono e garantir sua qualidade. Esses hábitos envolvem a organização de uma rotina preparatória para o adormecer, tanto através de atividades que estarão associadas a esse momento quanto através de mudanças no ambiente que possam sinalizar a aproximação desse horário.

De uma forma geral, o estabelecimento de rotinas é benéfico na primeira infância ao permitir que as crianças tenham alguma previsão sobre o que irá acontecer no seu dia e ao auxiliá-las na transição entre as diversas atividades. Estudos apontam que essa prática está associada a desfechos positivos para a criança, como o maior desenvolvimento da linguagem, o melhor rendimento acadêmico e o melhor funcionamento socioemocional e comportamental (melhor humor, maior capacidade de autorregulação e moderação da impulsividade). No ambiente domiciliar, contribui para o funcionamento da família e para o bem-estar dos seus integrantes, podendo reduzir o conflito entre crianças e cuidadores e proporcionar maior nível de satisfação e menor nível de estresse maternos. Especificamente com relação ao sono, ter uma rotina consistente tem seus benefícios comprovados na qualidade de sono na infância, diminuindo o tempo para o seu início, reduzindo o número de despertares noturnos e aumentando o tempo total de sono. Essa rotina deve estar de acordo com a idade da criança e levar em consideração o contexto sociocultural em que ela está inserida.

A partir do 6º mês de vida, os cuidadores já podem iniciar a aplicação de rotinas relacionadas ao dormir. Elas devem ser rápidas, durando entre 30 e 45 minutos, e envolver poucas atividades relaxantes realizadas diariamente antes de ‘ir para cama’. Por exemplo, dar um banho morno, fazer uma massagem, cantar músicas de ninar e ler pequenas histórias são atividades que podem ser incluídas nesse momento, sendo realizadas com afeto e conexão emocional. Garantir um ambiente confortável, ou seja, que facilite o processo de adormecer, também faz parte dessa rotina, buscando-se um local calmo, silencioso, escuro, com temperatura ajustada e livre de eletrônicos. Essencialmente, essas atitudes devem ser realizadas em horários regulares, auxiliando na sincronização do ciclo vigília-sono com o ciclo claro-escuro e garantindo horários consistentes de dormir e de acordar.

Uma das habilidades relacionadas ao sono mais relevantes a ser adquirida nos primeiros anos de vida é a capacidade de adormecer com autonomia, isto é, independente da presença dos cuidadores. Idealmente, a criança deve ir ou ser colocada na cama ainda sonolenta e, adormecer sem a interferência dos cuidadores. Nos primeiros meses de vida é natural que seja necessário auxiliar os bebês nesse processo, porém os cuidadores devem sempre estimular o desenvolvimento dessa capacidade, criando oportunidades para o adormecer autônomo. Quando é conquistada, ela auxilia que o bebê durma novamente de forma rápida e independente após os breves despertares noturnos fisiológicos. Do contrário, comumente o bebê terá dificuldade em retomar o sono, o que impactará na qualidade e na quantidade de sono dele mesmo e também de seus cuidadores.

Como recomendações finais, deve-se evitar exposição a luzes de eletrônicos após o escurecer; evitar o uso de substâncias que possam interferir negativamente no sono, como chocolate e refrigerantes à base de cola, os quais contêm cafeína; evitar brincar e passar longos períodos na cama; e estimular a exposição a luz externa no período da manhã.

Conhecer a fisiologia do sono, entender as necessidades individuais e saber interpretar os sinais que as crianças nos dão facilitam o desenvolvimento de hábitos saudáveis e adaptados para cada contexto familiar. Uma boa qualidade de sono é fundamental para o pleno desenvolvimento neuropsicomotor e para o bem-estar familiar e sua busca deve ser iniciada ainda nos primeiros meses de vida, garantindo hábitos saudáveis que tenderão a perdurar ao longo dos anos.

 

Bibliografia consultada

Barclay, NL et Gregory, AM. Sleep in Childhood and Adolescence: Age-Specific Sleep Characteristics, Common Sleep Disturbances and Associated Difficulties. Curr Topics Behav Neurosci 2014; 16: 337–365.

Bathory, E et Tomopoulos, S. Sleep Regulation,Physiology and Development, Sleep Duration and Patterns,and Sleep Hygienein Infants, Toddlers, and Preschool-Age Children. Curr Probl Pediatr Adolesc Health Care 2016; 1-14.

Carter, JC et Wrede, JE. Overview of Sleep and Sleep Disorders in Infancy and Childhood. Pediatric Annals 2017; 46: 4.

Mindell, JA et Williamson, AA. Benefits of a bedtime routine in young children: Sleep, development, and beyond. Sleep Med Rev 2018; 40: 93–108.

Morgenthaler, TI et al. Practice Parameters for Behavioral Treatment of Bedtime Problems and Night Wakings in Infants and Young Children. Sleep 2006; 29(10):1277-1281

Disfagia

Disfagia é a alteração da deglutição caracterizada pela dificuldade de levar o alimento ou saliva da boca ao estômago.

* Por Luciana Bacellar

O que é Disfagia?

Disfagia é a alteração da deglutição caracterizada pela dificuldade de levar o alimento ou saliva da boca ao estômago.

A deglutição normal requer uma atividade coordenada dos músculos da boca, faringe, laringe e esôfago, os quais são inervados pelo Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. A coordenação entre os sistemas respiratórios e digestivos superiores durante a deglutição são essenciais para uma alimentação segura e eficiente.

Disfagia é um distúrbio de deglutição não considerado uma doença, e sim um sintoma de alguma doença de base. Trata-se de um sintoma que pode ser causado por várias doenças e se manifestar em qualquer idade.

Outros motivos:

  • Trauma, câncer, doença do sistema motor
  • Paralisia Cerebral
  • Demência
  • Doenças Neuromusculares
  • Síndromes Neurológicas
  • Comorbidades do processo do envelhecimento
  • Acidente vascular encefálico (AVE)
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Medicações, entre outros.

A deglutição é composta por cinco fases: a antecipatória, preparatória, oral, faríngea, e esofágica. A disfagia é definida como o comprometimento de uma ou mais dessas fases. Essas alterações, com prevalência de 16 a 22% na população acima dos 50 anos (Santoro 2008), podem levar a ocorrência de distúrbios psiquiátricos como ansiedade e depressão, bem como a complicações broncopneumônicas e nutricionais.

O envelhecimento não causa disfagia, mas idosos que apresentam doenças associadas como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e doenças neurológicas apresentam maior probabilidade de ter disfagia. As fases da deglutição são afetadas com a idade, levando a mudanças no paladar, nas preferências alimentares, no prolongamento no estágio oral da deglutição, pela redução da força e mobilidade afetando a fase automática da deglutição.

Sintomas de Disfagia:

  • Dor ou incapacidade de mastigar ou engolir
  • Regurgitação nasal
  • Escape oral de alimentos
  • Comida parada na boca, ou faringe
  • Tosse ou engasgo (antes, durante ou após a deglutição)
  • Azia frequente
  • Rouquidão
  • Recusa alimentar.

Estes sinais citados acima podem provocar entrada de alimento no pulmão e causar pneumonia, desidratação e desnutrição.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar pode evitar problemas mais sérios e promover melhor qualidade de vida.

Referências:

Artigo: Editorial II Disfagia Orofaríngeas panorama atual epidemiologia, opções terapêuticas e perspectivas futuras Patrícia Paulo Santoro(2008).

Disfagia: realidade atual e abrangência do problema. Pere Clavé 1, Reza Shaker 2, Cefac 10(2) 2008.

Livro: Disfagia Orofaríngeas. Volume l Ed. Pró Fono. Ana Maria Furkin, Célia Regina Queiroz Salviano Santini (2001).

Parentalidade positiva: Equilíbrio entre afeto e limites

A maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança.

* Por Sabrina Gomes

PARENTALIDADE POSITIVA: EQUILÍBRIO ENTRE AFETO E LIMITES

A parentalidade competente tem sido intensamente discutida nos últimos anos. Isso porque a maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança. Entretanto, devemos considerar que os filhos não nascem com manual de instrução e que ser pai/mãe é uma tarefa muito desafiadora e complexa. Sabendo disso, este texto foi elaborado com objetivo de apresentar informações importantes para a auxiliar na reflexão sobre o processo de educar.

ESTILOS E PRÁTICAS PARENTAIS

Pesquisas na área do desenvolvimento humano falam de estilos e práticas parentais. Práticas Parentais são as estratégias que os pais usam no cotidiano para disciplinar os filhos, como elogiar, orientar, bater ou gritar, entre outras. Estilo Parental é o nome que damos para o conjunto desses comportamentos, o que define o clima emocional familiar.

Os estudos apontam para quatro estilos parentais básicos, ou seja, quatro maneiras de se comportar como pai e como mãe. Um deles, o Estilo Participativo, é o mais positivo e capaz de facilitar o desenvolvimento de uma criança. Os outros, autoritário, permissivo e negligente, levam a dificuldades na relação entre pais e filhos e podem impactar negativamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Veremos a seguir o que caracteriza cada estilo parental e os resultados de cada um para o desenvolvimento dos filhos.

QUAL É O SEU ESTILO PARENTAL?

  • Estilo Autoritário (muito limite e pouco afeto): pais autoritários são rígidos e controlam o comportamento das crianças com base em regras inflexíveis, priorizando a obediência e oferecendo pouco afeto. Como resultado, as crianças normalmente apresentam poucos problemas de comportamento, mas são mais submissas e inseguras, pois aprendem que devem se anular para serem amadas; em geral, o estilo autoritário faz com que as crianças apresentem baixa autoestima e altos índices de depressão, ansiedade e estresse.

 

  • Estilo Permissivo (pouco limite e muito afeto): pais permissivos são excessivamente tolerantes diante dos desejos e ações das crianças e não estabelecem regras claras e limites. Valorizam os sentimentos e opiniões dos filhos, mas deixam a autoridade de lado, geralmente por medo de dizer “não” e não serem mais amados pelos filhos. O resultado? No geral, as crianças apresentam pior desempenho nos estudos, baixa tolerância a frustrações e podem apresentar comportamentos antissociais. Também não desenvolvem senso de autoeficácia, isto é, acham que não são capazes de conquistar as coisas por si mesmas.

 

  • Estilo Negligente (pouco limite e pouco afeto): são pais que sempre atendem aos pedidos imediatos das crianças, mas não se comprometem com o papel de educar, deixando os filhos “soltos”. Podem ser pais muito ocupados e sem tempo para dedicar às tarefas de educar ou ainda, pais confusos e que não sabem como agir. Qual o resultado para a criança? Este estilo parental é o que traz piores resultados. As crianças apresentam os menores desempenhos em habilidades acadêmicas e sociais, baixa autoestima, estresse e ficam vulneráveis a desenvolver quadros de depressão. As crianças aprendem que não são importantes e não são amadas.

 

  • Estilo Participativo (muito limite e muito afeto): esse é o melhor estilo. Pais participativos monitoram as atitudes dos filhos, estabelecendo regras claras. Eles são capazes de corrigir as atitudes negativas dos filhos e gratificar as positivas. Elogiam, ajudam nas tarefas e orientam. Os resultados para as crianças são os melhores. Pesquisas mostram que essas crianças apresentam elevada autoestima, menores níveis de estresse e depressão e são mais otimistas e habilidosas.

VOCÊ TEM OS COMPORTAMENTOS DO ESTILO PARTICIPATIVO?

  • Você dedica tempo de qualidade para estar junto e se divertir com o seu filho?
  • Você consegue dizer “não” quando é necessário limitar o comportamento do seu filho e não ceder apenas para evitar comportamentos de birra ou de oposição?
  • Você busca elogiar e gratificar o seu filho quando ele se comporta de maneira adequada?
  • Você consegue apontar o comportamento inadequado do seu filho com autoridade e sem punições físicas ou verbais.

Diante de dificuldades para estabelecer regras claras e rotinas, pode ser importante buscar ajuda profissional para processo de orientação de pais. Esse processo de orientação ajudará a desenvolver estratégias assertivas e eficazes.

REFERÊNCIA

Weber, L. (2005). Eduque com carinho: para pais e filhos. Curitiba: Juruá.

Afinal, dieta funciona ou não?

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois?

* Por Felipe Barreto

Afinal, dieta funciona ou não?

Dieta funciona ou não? Você já parou para pensar que nunca se falou tanto em nutrição, dietas, e ainda assim o número de obesidade e doenças crônicas só aumenta? As recomendações: Faça dieta e se exercite mais não estão funcionando tão bem como esperávamos. Gostaria de abordar, exatamente sobre a prática de dietas restritivas como manejo da obesidade e da saúde de uma maneira geral.

Nesse contexto vou definir dieta como restrição alimentar, entendida como alterações restritivas, auto impostas, que mudam quantidade e/ou qualidade dos alimentos consumidos com intuito de controlar ou alterar o peso corporal.

Você pode pensar que sim, afinal você já deve ter feito uma dieta e conseguiu emagrecer, mas e depois? Por quanto tempo você conseguiu manter essa perda de peso? O fato de você, provavelmente, ter reganhado o peso perdido (ou mais) não tem a ver com força de vontade, tem a ver com a forma como o nosso corpo reage às dietas. Vou descrever 4 mecanismos que nosso corpo faz para se proteger da restrição.

  • Diminuição do metabolismo: Quando optamos por fazer uma dieta restritiva, nosso cérebro interpreta que estamos em uma situação de risco. O corpo começa a diminuir o metabolismo para “economizar” energia, uma vez que a quantidade de energia ingerida na dieta é menor do que a de costume.
  • Otimização dos estoques de gordura: Um mecanismo para garantir a integralidade do corpo é passar a estocar mais gordura, para que seja utilizada como fonte de energia caso a escassez de alimentos perdure.
  • Maiores chances de comer compulsivamente: Esse comer compulsivo pode ser entendido como uma adaptação biológica do nosso organismo em busca de energia, não tendo relação com falta de força de vontade. Existe uma variação na grelina (hormônio da fome) e da leptina (hormônio da saciedade), aumentando uma e reduzindo a outra, respectivamente.
  • Aumento no desejo pelos alimentos proibidos, obsessão por comida e piora no relacionamento com a comida: A prática de dieta restritiva aumenta o risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar.

É importante ressaltar que quando me refiro a não fazer dietas restritivas, não quero dizer que devemos comer tudo, de qualquer maneira, em exagero. Existem diversas maneiras mais saudáveis em lidar com a comida, que não seja a dieta. No próximo texto vou falar mais sobre uma dessas maneiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

TRIBOLE, E.;  RESCH, E. Intuitive eating: A revolutionary anti-diet approach. Fourth Edition. St. Martins Essentials. 2020

KEYS, A., BROZEK, J., HENSCHEL A., MICKELSEN O., TAYLOR H. L., The Biology of Human Starvation (2 volumes), University of Minnesota Press, 1950.

ALVARENGA, M. S. et al. Transtornos Alimentares e Nutrição: da prevenção ao tratamento. Manole, 2019.

Insônia: uma queixa comum que precisa ser avaliada

A insônia é caracterizada pela dificuldade de começar a dormir, manter-se dormindo ou o sono de má qualidade, que ocorre frequentemente, em média pelo menos em três noites por semana, no período de pelo menos três meses.

* Por Dra. Eliza Teixeira da Rocha

Insônia: uma queixa comum que precisa ser avaliada

De acordo com a Associação Brasileira do Sono, de cada três brasileiros, pelo menos um tem insônia.

Sintomas diurnos

A insônia é caracterizada pela dificuldade de começar a dormir, manter-se dormindo ou o sono de má qualidade, que ocorre frequentemente, em média pelo menos em três noites por semana, no período de pelo menos três meses, determinando um dos seguintes sintomas diurnos associados à queixa do sono:

  • fadiga; déficit de atenção, concentração ou memória;
  • prejuízo no desempenho social ou profissional;
  • presença de distúrbio de humor; queixa de sonolência diurna; redução da motivação, energia ou de iniciativa;
  • propensão para erros ou acidentes no local de trabalho ou durante a condução de automóveis;
  • dores de cabeça ou sintomas gastrointestinais em resposta à perda de sono;
  • e preocupação com o sono.

Insônia crônica é associada ao aumento de adoecimento psiquiátrico. Pacientes com insônia tem até 10 vezes maior chance de ter Depressão e até 17 vezes maior chance de ter Ansiedade. A insônia é uma queixa frequente nos pacientes com doenças neurológicas, como doença de Alzheimer, Doença de Parkinson e após um Acidente Vascular Cerebral. Existe uma associação clínica frequente entre Insônia e Fibromialgia, em que prejuízo na qualidade do sono pode apresentar uma relação de reciprocidade com a dor, podendo ser tanto uma consequência como um mecanismo causal e sustentador da condição dolorosa.

Também existe relação entre insônia e doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e mortalidade, principalmente nas insônias com redução objetiva do tempo de sono

Porém, o sono ainda é uma queixa negligenciada pelos próprios pacientes que não dão ao sono a sua importância. Na prática clínica, uma grande parte dos pacientes com dificuldade no sono não apresenta queixas espontânea ao médico e somente depois de questionados eles confirmam as alterações relacionadas ao sono.

Compreende-se que a insônia está associado a várias situações de adoecimento, e que é importante trata-la para além de proporcionar boas noites de sono, possamos reduzir as comorbidades associadas.

Cuidar do sono faz parte dos hábitos de vida saudável.

Algumas medidas auxiliam esse cuidado:

  • Mantenha regularidade nos horários de dormir ou acordar mesmo nos fins de semana
  • Pratique exercícios físicos, porém evite atividades intensas a noite.
  • Não tire sonecas durante o dia, isso atrapalhará seu sono à noite
  • Evite bebidas estimulantes como café, refrigerante ou bebida alcoólica à noite
  • Não fume
  • Prefira refeições leves antes de dormir
  • Faça do seu quarto um lugar tranquilo, escuro, bem ventilado e confortável
  • Crie um ritual de sono com horários fixos, banho quente, um chá calmante (erva doce, por exemplo) e uma música relaxante.

Referências:

Insônia: do diagnóstico ao tratamento: III Consenso Brasileiro de Insônia: 2013 / Associação Brasileira do Sono; [coordenação geral] Andrea Bacelar, Luciano Ribeiro Pinto Jr. 1. ed. São Paulo: Omnifarma, 2013.

https://emedicine.medscape.com/article/1187829-overview

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/insomnia/symptoms-causes/syc-20355167

 

 

FIBROMIALGIA

O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é Fibromialgia?

                 A Fibromialgia é reconhecida como uma doença crônica, caracterizada por dor e rigidez dos tecidos moles, como músculos, ligamentos e tendões. O diagnóstico está relacionado à presença de pontos dolorosos espalhados pelo corpo, por pelo menos 3 meses, quando submetidos à pressão. Os sintomas podem incluir, também, queixas de fadiga, fraqueza muscular, alterações do sono e dificuldades de concentração.

A Fibromialgia costuma afetar mais mulheres (3%) do que homens (1%). Há uma sobreposição significativa de comorbidades entre pacientes com Fibromialgia e transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtorno do pânico e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).

Um quadro de dor crônica tem consequências graves na vida de quem sofre com esse problema, trazendo um prejuízo significativo nas atividades diárias. Conviver com a dor exige um grande esforço físico e mental, há uma busca por um alívio que nem sempre é encontrado, tudo isso pode levar a sentimentos de tristeza, desmotivação e desesperança.

Pessoas com Fibromialgia demoram para receber o diagnóstico e possuem um longo histórico de peregrinações médicas. Assim, a pesquisa por uma explicação para o quadro também é um processo desgastante, o que contribui para a pessoa ter a sensação de que sua dor não existe ou é puramente psicológica. É importante destacar que a Fibromialgia é uma doença reumatológica, cuja dor e sofrimento dos portadores são reais.

Assim, começar um processo de psicoterapia é um grande passo, pois o objetivo do tratamento é ajudar a encontrar formas para manejar a dor.

Como os pensamentos influenciam na Fibromialgia?

A dor não é a simples resposta mecânica do organismo a uma lesão como forma de proteção. A dor é regulada por mecanismos complexos e sofre influência dos pensamentos e sentimentos. O processamento da dor é mediado pela percepção, ou seja, a sensação dolorosa pode aumentar ou diminuir de intensidade de acordo com a influência de alguns fatores, como as emoções, os pensamentos, a atenção que se dá à dor e a percepção da situação pela qual se está passando.

O ser humano descreve e experimenta as sensações corporais com base nas interpretações pessoais das situações, opiniões e informações que possui. Como exemplo, uma dor de cabeça que o indivíduo atribui a um tumor pode ser percebida de modo mais intenso do que uma dor de cabeça atribuída a um problema de vista.

O humor também influencia a percepção de dor. Pessoas ansiosas tendem a fazer avaliações exageradas e catastróficas das sensações corporais, percebendo estímulos vagos e neutros como sinais de doença. Já pessoas com depressão podem ter pensamentos pessimistas e costumam pensar e esperar o pior, interpretando os sintomas como mais negativos do que são na realidade.

Uma pessoa que constantemente sente dor passa muitas vezes a checar seu próprio corpo para certificar se o dia vai ser com ou sem dor. Ao direcionar a atenção para o corpo à procura da dor, muitas vezes o sintoma acaba parecendo mais intenso.

Os pensamentos influenciam os sentimentos e comportamentos. Isso é um fator importante no ciclo da dor crônica. Imagine uma situação em que uma pessoa com Fibromialgia tem um compromisso importante no dia seguinte. A pessoa pensa: “será que vou acordar com dor? Preciso dormir e descansar para acordar bem, sem dor, não posso perder esse compromisso”. Ao ter esses pensamentos sobre o dia seguinte, a pessoa se sente ansiosa, o que lhe provocará uma tensão nos músculos e dificuldade para dormir. No dia seguinte, acorda cansada, com muita dor e perde o compromisso – o que a leva a ficar triste.

Dessa forma, aprender a identificar e examinar os pensamentos sobre a sensação de dor no dia a dia permite questionar como se está funcionando e agir de outra forma pode ajudar no manejo do problema.

Como o problema pode estar sendo mantido?

Como já dito, alguns fatores podem ajudar a manter a dor na Fibromialgia, como os pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Muitas vezes, a pessoa se sente frágil, incapaz e impotente para controlar a dor. Essa visão negativa da situação e de suas próprias capacidades funciona reforçando a sensação de inatividade, desmotivação e aumento da atenção sobre sensações dolorosas, levando a mais incapacidade, inatividade e estresse.

Um outro aspecto que pode manter a dor é a o comportamento de esquiva de atividades. É muito comum que as pessoas com Fibromialgia deixem de fazer atividades físicas, uma vez que imaginam que vão sentir mais dor e que é impossível manter-se ativo. No entanto, a realização de alguma atividade física é, justamente, o mais indicado para ajudar no tratamento da Fibromialgia, podendo reduzir a ansiedade, melhorar a dor e aumentar a sensação de bem-estar.

Como a dor é um estímulo desagradável, o indivíduo acaba por adotar alguns comportamentos como a fuga de situações associadas a ela – o que, de maneira automática, passa uma sensação de melhora. Com essa estratégia, aprende-se que tentar se livrar da dor é a única maneira de lidar com ela, porém reforça a incapacidade de lidar com a doença. Aprender a enfrentar de modo gradual as situações desafiadoras pode ajudar a manejar o problema.

Por fim, outro fator que pode contribuir para a manutenção da Fibromialgia é a dificuldade em comunicar a dor de forma direta. A presença de um quadro de dor crônica compromete também as relações familiares, profissionais e sociais. Ou seja, a Fibromialgia não afeta apenas a vida de quem sofre, mas também a de quem convive com a pessoa. Aprender a comunicar a dor, as emoções, os pensamentos, vontades e necessidades é muito importante para encontrar maneiras de lidar com as dificuldades.

Como lidar com a Fibromialgia?

  • Aceitando e entendendo a Fibromialgia: ter um quadro de dor crônica é desgastante, pode-se ter a sensação de que existe pouca coisa que se possa fazer para melhorar. Entender que a dor sofre influência dos pensamentos, emoções e comportamentos permite ter mais autonomia e motivação para o tratamento. Aceitar que se tem um problema de dor crônica pode favorecer engajamento no tratamento.
  • Mudando pensamentos e comportamentos: os pensamentos sobre a dor influenciam os comportamentos e, ao longo do tratamento, pode-se aprender a identificar como se pensa sobre a dor e que influência esses pensamentos têm no manejo do problema. Algumas vezes exagera-se ou modifica-se os fatos por medo ou lembranças de experiências anteriores negativas.
  • Aprendendo a comunicar a dor: quando se sente algum desconforto é normal tentar comunicar isso de alguma maneira, seja através de sons e gestos, mas muitas vezes não se faz isso da melhor forma. Com a psicoterapia, aprende-se estratégias para se comunicar de forma mais objetiva e transparente, conseguindo auxílio quando necessário.
  • Aprendendo a se distrair da dor: quando se presta muita atenção na dor, ela acaba se intensificando. A atenção pode ser um fator de grande influência no aumento da percepção da dor. Ao compreender que se deposita sua atenção seletivamente na dor, pode-se aprender técnicas para direcionar melhor sua atenção, amenizando as sensações desagradáveis. Pode-se direcionar o foco da atenção para um exercício de respiração profunda ou ligar para alguma pessoa, como exemplos.
  • Aprendendo a relaxar: com o auxílio do terapeuta, aprende-se estratégias que ajudam a diminuir os sintomas relacionados à ansiedade e estresse. Por meio de técnicas como o relaxamento progressivo, que consiste em tensionar e relaxar diferentes grupos musculares, pode-se diminuir a tensão nas áreas doloridas, aliviando o sofrimento.
  • Enfrentando situações difíceis: em um quadro crônico, acaba-se mudando a rotina e se abandona a realização de coisas por medo de sentir dor. Começar a incluir gradualmente atividades prazerosas que foram deixadas de lado é uma forma de começar a lidar com o problema de modo produtivo, quebrando assim o ciclo da dor.

Sugestão de leitura: Fibromialgia sem mistério: um guia para pacientes, familiares e médicos. Autor: Manuel Martínez-Lavín. MG Editores, 2014.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

PENIDO, M.A.; DIAS, T.R.S. Capítulo 19 – Fibromialgia. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

 

O que é Nutrologia?

É o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Clique para ler mais.

* Por Luiza Junqueira Villar

Reconhecida como especialidade médica em 1978, a Nutrologia é o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Por definição, a Nutrologia é a especialidade clínica que tem como função fazer o diagnóstico, a prevenção e o tratamento das enfermidades nutroneurometabólicas.

O médico nutrólogo se especializa através da residência médica em Nutrologia ou tem título de especialista por aprovação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Ou seja, só podem ser intitulados Nutrólogos aqueles que possuem Registro de Qualificação de Especialista (RQE) junto ao Conselho Federal de Medicina.

Importante destacar que práticas como Ortomolecular, Anti-aging, Nutriendocrinologia ou Medicina Integrativa não fazem parte da Nutrologia e não são sequer são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.

Então como atua o Nutrólogo?

O médico nutrólogo estuda, pesquisa e avalia os benefícios e malefícios causados pela ingestão de nutrientes, aplicando esse conhecimento para a avaliação das necessidades orgânicas, visando a manutenção da saúde e redução do risco de doenças.

Pode, ainda, identificar possíveis erros alimentares e hábitos de vida inadequados, auxiliando em mudanças importantes em benefício da saúde, contribuindo para uma longevidade saudável e melhora da qualidade de vida.

O Nutrologo pode atuar tanto em Clínicas/Consultórios como em Hospitais, sempre como parte de uma equipe Multidisciplinar.

No atendimento Clínico, são atendidas as seguintes situações:

– Pacientes saudáveis que desejam melhorar hábitos dietéticos e de vida;

– Sobrepeso;

– Obesidade em todos os graus;

– Acompanhamento antes e após realização de cirurgia bariátrica;

– Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP);

– Bulimia, Anorexia, Síndrome do Comer Noturno, Vigorexia, Ortorexia: aspectos nutrológicos;

– Aspectos nutrológicos da ansiedade e depressão;

– Pacientes que serão ou foram submetidos a cirurgias;

– Pacientes oncológicos (em tratamento de câncer);

– Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral, gastrostomia ou jejunostomia ou por via endovenosa (parenteral);

– Pré-Diabetes e Diabetes;

– Dislipidemias: hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e hipertrigliceridemia (aumento do triglicérides);

– Síndrome metabólica;

– Esteatose hepática não-alcóolica (gordura no fígado);

– Alergias e intolerâncias alimentares;

– Anemias carenciais;

– Vegetarianismo;

– Doenças inflamatórias intestinais (Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa);

– Síndrome do intestino irritável;

– Sarcopenia (baixa quantidade de músculo);

– Orientações nutrológicas para cardiopatias, pneumopatias, hepatopatias, nefropatias;

– E outras.

Sobre a avaliação do paciente

Para avaliar um paciente, o médico nutrólogo realiza a anamnese (conversa em que conhece a história do paciente e seus hábitos alimentares e de vida); o exame físico completo; avaliação antropométrica com aferição de altura, peso, principais medidas e circunferências do corpo; avaliação da composição corporal através da Bioimpedância Elétrica; avaliação da capacidade funcional por meio de testes de força tais como dinamometria e testes funcionais; solicita exames laboratoriais e radiológicos complementares de acordo com cada situação.

A partir do diagnóstico definido, o tratamento é individualizado podendo ser feito por orientações alimentares específicas, prescrição de suplementos nutricionais ou prescrição de medicamentos.

Dessa forma, o médico nutrólogo atua em diversas áreas da medicina, abordando o aspecto nutrológico de cada doença, em conjunto com os colegas médicos e equipe multidisciplinar.