Crises epilépticas e Epilepsia na infância

A ocorrência de uma crise epiléptica gera angústia, temor e insegurança nos responsáveis por uma criança, sejam familiares, cuidadores ou professores. O primeiro passo para conviver melhor com essa situação é compreendê-la.

* Por Ana Carolina Meneghin

Crises epilépticas e Epilepsia na infância

A ocorrência de uma crise epiléptica gera angústia, temor e insegurança nos responsáveis por uma criança, sejam familiares, cuidadores ou professores. O primeiro passo para conviver melhor com essa situação é compreendê-la.

Cerca de 10% da população mundial pode apresentar pelo menos uma crise ao longo da vida e o diagnóstico de Epilepsia está presente em 1 a 2% dos indivíduos vivos. Trata-se de uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns na infância, afetando 0,5 a 1% dos indivíduos dessa faixa etária.

Diferença entre crise epiléptica e Epilepsia

Primeiramente, é importante entender que crise epiléptica e Epilepsia são condições diferentes.

Crise epiléptica é um episódio caracterizado por sinais e/ou sintomas transitórios que, em geral, dura de poucos segundos a cinco minutos, decorrente de uma atividade cerebral anormal temporária. As crises podem se manifestar de várias formas, dependendo de fatores como sua causa e a localização dessa anormalidade neuronal.

Epilepsia é uma doença crônica caracterizada pela predisposição persistente do cérebro de gerar crises epilépticas. Logo, Epilepsia é uma patologia que necessita acompanhamento e tratamento especializado regular, individualizado e, por tempo, inicialmente, indefinido. Trata-se de condição muito diversa, com particularidades para cada etiologia e, muitas vezes, para cada paciente.

Portanto, nem toda criança que apresentou uma crise epiléptica terá o diagnóstico de Epilepsia, já que para isso é necessário haver a possibilidade de recorrência das crises, o que será avaliado clinicamente e também através de exames complementares, como o eletroencefalograma e a ressonância magnética de crânio.

Comumente, associamos Epilepsia ao termo ‘convulsão’, que na realidade é um termo leigo utilizado para descrever o padrão mais clássico de crise epiléptica – aquele que classicamente é representado em filmes e afins -, caracterizado por alteração do nível de consciência (em geral, ausência de resposta a estímulos externos) e presença de movimentos involuntários envolvendo os membros superiores e inferiores.

No entanto, como mencionado acima, crises epilépticas podem se manifestar de diversas formas, podendo gerar dúvidas tanto nos responsáveis quanto nos profissionais de saúde. Atualmente, a facilidade em registrar um episódio paroxístico anormal através de vídeos realizados por câmeras de smartphones é de grande valia nessa caracterização.

Para ampliar o conhecimento acerca do assunto, seguem abaixo alguns padrões mais comuns de crises na infância:

  • Crise convulsiva: perda da consciência acompanhada por movimentos repetitivos envolvendo braços e pernas, perda do controle esfincteriano, sialorreia e cianose perilabial. Frequentemente relatada como ‘caiu no chão e se debateu’, ‘desmaiou e se debateu’.
  • Crise de ausência: perda de contato com o meio, podendo estar acompanhada de piscamento, movimentos oromandibulares, com duração de segundos e não acompanhada de queda ao chão. Frequentemente relatada como ‘sai do ar, fica desligado’. Por serem muito breves, podem demorar a ser percebidas.
  • Crises focais (aquelas em que a atividade cerebral anormal se inicia em uma rede neuronal limitada a uma determinada região cerebral. A localização dessa atividade anormal influencia diretamente na manifestação clínica da crise): movimento involuntário ou alteração da sensibilidade envolvendo um membro ou um lado do corpo; alteração da fala; alteração visual; entre outros. Podem ser relatadas como ‘o braço ficou mexendo sozinho’, ‘o lado direito ficou formigando’, ‘a fala ficou embolada’.

Importante relembrar que os sintomas acima descritos apresentam início súbito, duram poucos minutos e, podem ser seguidos por sonolência e/ou confusão mental que não demoram a melhorar.

Caso presencie uma possível crise epiléptica manter a calma é fundamental para garantir a segurança da criança. Algumas atitudes são importantes nesse momento como:

  • Proteger a cabeça da criança com as mãos;
  • Retirar objetos de perto da criança para evitar que se machuque;
  • Colocar a cabeça da criança levemente de lado para evitar bronco aspiração;
  • Não colocar nada na boca da criança;
  • Se possível, marcar o tempo de duração da crise: aproximando-se de 5 minutos, um serviço de transporte de urgência deve ser acionado.

Percebendo qualquer um dos sintomas acima, uma consulta com neurologista infantil de confiança pode ser necessária para uma avaliação adequada da criança e esclarecimentos.

O medo de ter medo

Na tentativa de encontrar o alívio as pessoas se engajam em situações que as anestesiam daquele desconforto

* Por Laís Helena Pereira

O medo de ter medo

Não é incomum receber pacientes no consultório que relatam uma necessidade absurda de alívio para aquilo que é desconfortável, seja um sentimento, um pensamento ou uma sensação física. Nessa tentativa de encontrar o alívio as pessoas se engajam em situações que as anestesiam daquele desconforto, que os afastam, que os distraiam e até mesmo buscam se ocupar, em demasia, para não entrar em contato com o que incomoda. Associado a essa situação também é muito comum que essas pessoas tenham a crença de que pensar sobre o assunto e entrar em contato com o desconforto vai intensificar o que já está ruim.

É possível compreender de onde vem esse funcionamento… a seleção natural nos fez atentos aquilo que é nocivo, que coloca em risco nossa segurança e sobrevivência. Por exemplo, quando uma comida cheira mal, não comemos, pois aquele cheiro indica que ela está estragada; quando um bicho venenoso se aproxima, nos distanciamos dele para nos proteger. Entretanto, generalizar essa postura para conteúdos internos não alcança o mesmo resultado, de proteção e sobrevivência, aliás, tentativas de evitar pensamentos e emoções desagradáveis podem às vezes nos fazer vivenciá-los mais frequente ou intensamente.

Quando nos apoiamos na realidade, somos forçados a admitir que a vida envolve certo grau de sofrimento e dor. Portanto, a postura de evitar e ignorar o desconforto acaba nos conduzindo a uma vida com pouco significado e propósito. Dessa forma, é preciso trabalhar para adotar uma postura de abertura e aceitação daquilo que é desafiador.

Essa pauta é muito comum nas sessões de terapia e por isso pedi a uma paciente querida para relatar sua experiência, veja só como foi o processo dela.

“No auge dos meus 18 anos, minha vontade era poder apertar o botão “acelerar, do controle remoto da vida”, para poder chegar aos 60 anos, ser uma senhorinha que acorda cedo e que apenas se preocupa em lavar sua calçada pela manhã. Pois só assim não me preocuparia com nada, não precisaria enfrentar tudo aquilo que me causava desconforto: a rotina do dia a dia, o trabalho, os problemas… tudo já teria passado.

Alguns dias em que tudo era planejado nos mínimos detalhes davam certo, mas outros, em que algo acontecia, uma briga com o namorado, uma prova que estava chegando, um processo seletivo, ou simplesmente nada, já era o suficiente para a angústia, o medo e “ELA”, a ansiedade, chegarem. E com “ELA” um turbilhão de pensamentos ruins, desastrosos e emoções negativas!

“_ Será que quando eu for apresentar aquele trabalho na faculdade, vou ficar tão nervosa que vai me dar branco, ou pior, vou vomitar no meio da sala?”

“_ E se eu terminar meu namoro e nunca mais encontrar ninguém? Vou ficar sozinha, quero casar e ter filhos antes dos 30. Meu Deus, o tempo está passando!”

“_ Será que no dia do meu casamento vou ficar tão nervosa que todos vão ver que estou tremendo? Todos ficam felizes no dia do casamento, ninguém fica com cara de angustiado!”

“_E se eu não passar no vestibular? Minha vida vai ter acabado. Vou ficar atrasada para sempre!”

Pronto, o looping infinito de pensamento – sentimento ruim começou, a ansiedade – carinhosamente a chamo de “E SE? e “SERÁ?”- tomou conta de mais um dia e mais um e mais um….. porque todos os dias acontecem novas coisas, novas situações, novos desafios, novas alegrias, novos problemas…

A “E SE?” e “SERÁ?” é tão convincente e envolvente que consegue até transformar coisas boas, como um novo emprego, um novo relacionamento, uma festa…. em algo ruim. E ter emoções ruins é horrível, causa medo, é assustador e por isso muitas vezes eu tentava ignorar tudo, tentava não pensar pois tinha medo de me sentir pior se eu desse “ouvidos” para esses pensamentos e emoções.

“_Você já teve medo de sentir medo?”

Parece algo bem estranho, mas eu já, várias vezes. Tive medo de chegar em alguma situação em que precisasse fazer algo, ou resolver algo e por medo, não conseguisse fazer. Esse é o medo de ter medo :

– “E se eu estiver me divertido com minhas amigas, e do nada, vier aquele pensamento ruim e começar a me dar medo? Vai estragar meu passeio, vou ficar nervosa e passar mal. Agora estou com medo disso acontecer.”

_ Essa noite precisarei dormir sozinha. Como vou fazer? Não quero dormir sozinha, porque posso acordar no meio da noite e ouvir um estalo da geladeira e ficar com medo.”

Diante desse medo muitas vezes deixei de fazer coisas, de estar com as amigas e até perdi o sono, com medo do medo.

Muitos anos se passaram em minha vida e eu não sabia administrar ou mesmo entender todas essas emoções, em especial a ansiedade, o medo e a angústia, nem ao menos denominá-las. Elas aconteciam e a vida ia passando… vai ver tinha que ser assim, cada um tem seu jeito e esse é o meu. E sempre pensava, não vou ter paz nunca?!

Até o momento em que comecei a fazer terapia. E como pode isso, uma cortina se abriu. Comecei a entender os “porquês” dessas emoções, sentimentos e pensamentos. E as coisas começaram a fazer sentido, parecendo até serem óbvias. Foi aí que descobri que o pensamento ansioso começa sempre com a pergunta “E SE? e SERÁ?”.

Um dos exercícios que minha psicóloga me ensinou, que mais me ajudou foi buscar o pensamento “fonte”. E é algo surpreendentemente simples, mas a “E SE?  e SERÁ?” deixa nossa cabeça tão confusa, que causa um nó e então você só está com aquele aperto no coração e a cabeça doendo de tanto pensar e já nem sabe mais o porquê daquilo tudo.

Bem, o pensamento fonte é assim: algo aconteceu (pode ser bom ou ruim), mas disparou sua ansiedade e com ela a palpitação no coração. Estou no meio da tarde, paralisada, sentindo meu coração disparado e um mal estar terrível.

“-PARA TUDO!!!!”

– Em que estou pensando? Ex. Vai dar tudo errado com a minha mudança de casa, chegará tudo quebrado e destruído.

– Qual pensamento fonte, o que me fez pensar/constatar isso? Já fiz uma mudança uma vez que deu errado. Também ouvi e li na internet, o relato de várias pessoas dizendo que suas coisas chegaram quebradas ou simplesmente não chegaram!

Ok! Já consegui identificar o que está causando essa palpitação, o medo da mudança dar errado, pois penso que há grandes chances disso acontecer.

Bem, agora o mais importante, o que posso fazer a respeito? Esse pensamento tem fundamento?

“_ A resposta é sim!  Meu pensamento tem fundamento, quero que dê tudo certo com a minha mudança. Diante disso posso fazer algumas coisas mas não controlar tudo. Posso procurar a melhor transportadora, ver recomendações na internet, conversar com pessoas que também se mudaram e tentar escolher a melhor empresa, embrulhar tudo bem direitinho e… bem… paro por ai. Após isso, não está mais em minhas mãos, o que vai acontecer dentro do caminhão de transporte não depende mais de mim. Não posso controlar tudo, não há como controlar tudo! E ISSO É NORMAL!”

Isso é libertador! Entender qual emoção está sentindo, de onde ela veio, o porquê e o que posso fazer com isso, é algo sensacional. Pois como disse, sempre me perguntei, quando terei PAZ, porque todos os dias acontece alguma coisa. E hoje descobri a resposta:

A PAZ está na forma como encaro minhas emoções e tudo que acontece ao meu redor. Porque coisas ruins e coisas boas, SEMPRE vão acontecer e sempre vão gerar emoções em mim e em qualquer pessoa. Mas a forma como às encaro, é o que me faz viver de uma forma leve. Entendi que as mesmas emoções que me causavam desconforto, são as que me impulsionam a viver, me desafiam e não me assustam mais. Elas fazem parte de mim e hoje sei o que fazer com elas.

Me faz viver o dia a dia entendendo o que estou sentindo, pensando… queria ter descoberto isso aos meus 18 anos, mas só descobri aos 30 após iniciar a terapia. Mas a vida é isso, um eterno aprendizado, a gente paga pra ver se dará certo, aposta no imprevisível, tenta controlar o incontrolável, ri, chora, comemora, sente medo, dor, angústia… isso é viver.

Ainda aprendo muito em cada sessão de terapia, me descubro, entendo os porquês, crio novos porquês também. E hoje, quero viver cada dia, nada de sair acelerando o “controle remoto da vida”, ainda chegarei aos 60, 70, 90 anos… não sei bem o que farei quando chegar lá, mas com certeza minha preocupação não será em lavar calçada, nem sei se terei preocupação, mas sei que com certeza já terei aprendido muito e vivido muito a cada dia, compreendendo e encarando minhas emoções.”

Percebam como a abertura ao desconforto abre espaço para o entendimento, para o significado daquela emoção e daquele pensamento para a sua vida e como isso contribui para uma vida que vale a pena, mesmo com a presença do sofrimento.

REFERÊNCIA:

LEAHY R. L., TIRCH D. & NAPOLITANO L. A. (2013). Regulação emocional em psicoterapia – um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.

Como o resgate da autoestima através de cuidados dermatológicos auxilia na saúde mental e geral?

Quando a autoestima de uma pessoa é saudável, ela se sente bem consigo mesma, tem confiança em suas habilidades e é capaz de lidar com os desafios da vida de forma mais positiva.

* Por Marina Ferreira

A autoestima é uma medida da nossa avaliação pessoal sobre a nossa própria capacidade e valor. Quando a autoestima de uma pessoa é saudável, ela se sente bem consigo mesma, tem confiança em suas habilidades e é capaz de lidar com os desafios da vida de forma mais positiva. Por outro lado, quando a autoestima é baixa, pode haver sentimentos de inadequação, insegurança e ansiedade.

Um resgate da autoestima pode auxiliar na saúde mental e geral de diversas maneiras, tais como:

  • Redução do estresse: Quando temos uma autoestima saudável, nos sentimos mais capazes de lidar com situações estressantes, o que pode diminuir os níveis de estresse e ansiedade.
  • Melhora da qualidade de vida: Uma autoestima elevada pode ajudar as pessoas a se sentirem mais felizes, satisfeitas e realizadas na vida.
  • Maior motivação e realização: Quando nos sentimos confiantes em nossas habilidades e valor pessoal, somos mais motivados a perseguir nossos objetivos e a alcançar o sucesso.
  • Melhora nos relacionamentos: Quando nos sentimos bem consigo mesmos, é mais fácil estabelecer relações saudáveis e satisfatórias com os outros.
  • Fortalecimento da resiliência: Pessoas com autoestima elevada são mais resilientes e têm uma maior capacidade de superar adversidades.

Como podemos aumentar nossa autoestima?

Muitas vezes, é necessário treinar nossa mente a ter pensamentos que geram hábitos positivos. O cuidado com a saúde é um deles. Quando nos propomos ativamente a procurar atendimento médico, começamos a realizar um ciclo de atitudes benéficas (criar hábitos de vida mais saudáveis, tratar adequadamente condições de saúde, prevenir doenças) e isso reflete em grandes benefícios em nossa vida, a curto e a longo prazo.

No caso da Dermatologia, além de todas as doenças que podem ser tratadas (são mais de 3.000 doenças dermatológicas), temos um benefício extra: ao tratarmos o maior órgão do nosso corpo, podemos como consequência, torná-lo mais belo – dentro de nossas características únicas.

A beleza, que não deve ser ditada por padrões da sociedade, ampliada quando estabelecermos cuidados diários voltados para nossas necessidades, traz ainda mais reforço a essa autoestima que está sendo criada ou aumentada.

Por fim, ainda podemos servir de exemplo de superação para aqueles que estão diante de um estado de baixa autoestima e de autocuidado e tornarmos uma referência de esperança e possibilidades.

O acompanhamento multidisciplinar que inclui a atenção à saúde mental e as outras especialidades médicas como a Dermatologia pode proporcionar grande incentivo a melhora da qualidade de vida.

É por acreditar fortemente nesses princípios que trabalho com muito orgulho na Clínica Rezende!

Com carinho,

Dra. Marina.

A importância (e os cuidados) do marketing digital para profissionais de saúde

 Confira dicas para produzir um conteúdo ético e de qualidade nas redes sociais.

*Por Helen Lima, jornalista convidada da Clínica Rezende.

A importância (e os cuidados) do marketing digital para profissionais de saúde

 Confira dicas para produzir um conteúdo ético e de qualidade nas redes sociais.

 A população brasileira é altamente engajada nas redes sociais. Segundo levantamento da Comstore, somos o terceiro país que mais consome conteúdo nessas plataformas em todo o planeta. São mais de 131 milhões de pessoas conectadas, sendo o Youtube, Facebook e Instagram as redes mais acessadas. Os brasileiros utilizam esses meios para se relacionar, se informar e se entreter. Relatório feito pela Oxford Economics aponta que 85% dos usuários no país concordam que o YouTube impactou positivamente na saúde mental e bem-estar físico durante a pandemia.

Diante desse cenário de amplo alcance e possibilidades múltiplas de interação, profissionais de diversos segmentos, incluindo o de saúde, vislumbram nas redes sociais uma oportunidade de divulgar seu trabalho e se destacar no mercado. Tratam-se de canais de relacionamento, capazes de gerar vínculos e construir reputações. A seguir, separamos algumas dicas direcionadas para profissionais de saúde que querem iniciar as ações de marketing digital, considerando os cuidados e particularidades que envolvem essa área de atuação.

O que um profissional de saúde não deve fazer nas redes sociais

É importante verificar junto ao Conselho Profissional da sua região quais são as orientações específicas em relação às ações de publicidade no seu segmento. De forma geral, as entidades representativas do setor de saúde destacam que as redes sociais devem ser utilizadas, primordialmente, para divulgar informações de promoção à saúde e bem-estar das pessoas.

No caso dos médicos, a regulamentação determina que é proibido fazer ações promocionais, sorteios e divulgar valores de consultas e procedimentos. Também é considerado antiético se autodeclarar como o/a melhor ou a referência em sua especialidade.

A publicação no formato “antes e depois”, ainda que possua o consentimento do paciente, não é recomendada, pois sugere uma promessa de resultado que não pode ser garantida, já que diversas variáveis influenciam no prognóstico.

Consultar e diagnosticar pacientes, prescrever medicações e estimular a automedicação nas redes sociais também são atitudes que contrariam os preceitos éticos do setor.

Boas práticas de marketing digital para profissionais de saúde

Para iniciar um trabalho de divulgação nas redes sociais, o primeiro passo é definir em qual (ou quais) plataforma você deseja atuar. Para tomar essa decisão, leve em conta as características da plataforma e o perfil do seu paciente. O TikTok, por exemplo, é uma rede focada na publicação de vídeos e que se conecta bem com o público jovem; já o LinkedIn é a rede ideal para publicar textos e imagens referentes ao universo do trabalho. Considere ainda outras possibilidades de realizar o marketing digital além das redes sociais: postagens em blogs, criação de e-books e participação em podcasts são algumas alternativas para atrair pacientes e se diferenciar.

Voltando às redes sociais, os conteúdos que mais atraem as pessoas são atrelados a pelo menos uma das temáticas a seguir: curiosidade, identificação, novidade e informação. Profissionais de saúde podem realizar publicações que mostrem parte de sua rotina de trabalho, os bastidores de algumas tarefas e as curiosidades que quem não vivencia a área tem interesse em saber. Para divulgar informações úteis relacionadas à saúde e bem-estar, uma boa dica é compartilhar as respostas das dúvidas mais comuns que você recebe dos seus pacientes.

Os assuntos do momento, como notícias ou datas comemorativas, também podem ser fontes de inspiração para publicações nas redes sociais. Utilize esse tema para contextualizar seu post, acompanhado com alguma reflexão ou orientação relacionada à sua área de atuação.

Em termos de formato, é importante lembrar que as redes sociais são dinâmicas e a disputa por atenção é alta, portanto, evite publicar conteúdos muito extensos. Uma dica é organizar as informações em tópicos ou no formato de lista, em uma linguagem acessível para facilitar a assimilação pelo público. Ao final de suas postagens, abra sempre espaço para o diálogo. Estimule que seu seguidor comente ou responda a alguma pergunta, ampliando, assim, a possibilidade de vínculo.

Por fim, não abra mão da sua autenticidade. Não se deixe levar por “modinhas” ou “memes” que não combinam com sua personalidade, invista em conteúdos que representem, de fato, seu modo de trabalhar e seus valores. Assuma suas vulnerabilidades e compreenda que, no final do dia, o que todos buscamos nas redes sociais são oportunidades de identificação e relacionamento.

Como identificar a perda da funcionalidade da pessoa idosa?

Saiba de que forma você pode ajudá-la a manter a autoestima diante da dependência e falta de autonomia.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Dra. Natália Salgado, Psicogeriatra.

Como identificar a perda da funcionalidade da pessoa idosa?

 Saiba de que forma você pode ajudá-la a manter a autoestima diante da dependência e falta de autonomia.

Dificuldades para tomar decisões no dia a dia, insegurança à frente de situações corriqueiras, prejuízo na memória recente e esquivamento de interações sociais. Esses são alguns sinais que podem indicar a perda da autonomia, que é a capacidade do ser humano em se auto gerir e tomar decisões próprias, em uma pessoa na terceira idade. A Dra. Natália Salgado, psicogeriatra da Clínica Rezende, explica que a perda da funcionalidade da pessoa idosa ocorre quando há a falta de autonomia em conjunto com a dependência, quadro em que o indivíduo fica impossibilitado de executar tarefas do dia a dia.

A especialista conta que essa situação pode ser vivenciada de forma muito diversa pelo idoso e seus acompanhantes. Enquanto algumas famílias optam por levá-lo para morar na mesma casa, outras escolhem transferi-lo para uma casa de repouso. Independente da alternativa escolhida, ela recomenda que a pessoa mais velha seja estimulada a realizar as atividades que ela ainda dá conta de fazer de forma segura, ainda que em um outro ritmo. Confira alguns exemplos:

  • ajudar na limpeza;
  • guardar as compras;
  • higienizar alimentos;
  • arrumar o próprio quarto;
  • organizar o guarda-roupas.

“Marginalizar o idoso dos afazeres do dia a dia não é uma conduta adequada. É interessante inseri-lo de forma gradativa nessas tarefas, de forma que elas sejam prazerosas para ele”, orienta.

Queda na autoestima: porta de entrada para a ansiedade e depressão

 A partir do momento em que uma pessoa na terceira idade percebe que há prejuízos na sua capacidade de decisão, podem surgir sentimentos como impotência e perda de identidade, impactando diretamente o seu senso de auto realização e utilidade. De acordo com a Dra. Natália, esses pensamentos influenciam diretamente na autoestima e podem levar a um quadro de isolamento social, por insegurança e medo de errar. “Toda essa dinâmica mental é fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais, principalmente depressão e ansiedade”, alerta.

Para evitar o agravamento desse quadro, a especialista destaca que o primeiro passo é estabelecer o entendimento coletivo: todas as pessoas envolvidas no cuidado da pessoa idosa devem saber o que levou à perda de funcionalidade e o prognóstico precisa estar muito claro. “A Psicoeducação ajuda a lidar com as demandas que surgem no decorrer do tempo. É muito importante que todos os envolvidos se sintam integrantes do processo de cuidado, para que a empatia seja praticada”.

A Psicoeducação é uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua situação de saúde e todo o processo de tratamento. Segundo a psicogeriatra, essa abordagem ajuda na aceitação dessa situação, reduzindo frustrações, cobranças e culpas. “É importante dar espaço para uma nova realidade que faça sentido para todos os envolvidos no cuidado, buscar ativamente as potencialidades ainda presentes na pessoa idosa e usá-las como forma de incentivo”.

A Dra. Natália finaliza com mais uma dica de ouro: a troca de experiências. “Compartilhar angústias e medos com grupos de familiares e cuidadores com vivências semelhantes também é uma prática recomendada”.

Qual a minha parte em quem meu filho se torna?

E qual mãe e pai não se sentiu culpado por alguma atitude do filho(a)? Qual mãe e pai não se preocupa com o futuro de seu filho(a)?

* Por Diana Lopes

Qual a minha parte em quem meu filho se torna?

Mais uma sessão, mais um psicólogo e sempre nos deparamos: Como eram seus pais? Paulo Gustavo em um vídeo super bem humorado interpreta Dona Hermínia que se indigna com a psicóloga de Marcelina, sua filha, em que a profissional “culpa” a mãe. Apesar da indignação de Dona Hermínia, há qualquer relação em como os pais influenciam a construção do “eu”  de seus filhos.

E qual mãe e pai não se sentiu culpado por alguma atitude do filho(a)? Qual mãe e pai não se preocupa com o futuro de seu filho(a)? Qual mãe e pai não se pergunta se está fazendo o melhor por seu filho(a)? Qual mãe e pai não se procura em características do filho(a)? Mas será que tudo quem é o filho(a) depende dos pais? Vamos buscar juntos uma compreensão sobre isto?

O “eu” é um processo contínuo ao longo de toda vida, assim, não está completamente acabado e estável, está sempre se “tornando”. E isso é igualmente verdadeiro para crianças em desenvolvimento e adultos em desenvolvimento que com quem elas interagem. Por um tempo é imprescindível que crianças pequenas necessitem de proteção e cuidados práticos, como dar banho e comida e colocar para dormir. No entanto, existe um aspecto que vai muito além dessas medidas práticas de sobrevivência de seu filho: o afeto. É o vínculo de apego (os estilos de apego foram tratados neste texto) que viabiliza a sobrevivência e os cuidados e, principalmente, alicerça as características do “eu” de seu filho. Mas isto quer dizer que os pais são os únicos responsáveis por quem o filho(a) se torna?

Apego

Resolvi escrever este texto ao perceber sofrimento, medo e culpa, entre amigos e pacientes maravilhosos em relação aos seus filhos. Excelentes mães e pais querem oferecer o melhor e, às vezes (ou o tempo todo), se cobram muito. Segundo Vygotsky, a relação de apego funciona apropriadamente na “zona de desenvolvimento proximal” da criança, as figuras de apego percebem os sinais da criança e organizam o seu comportamento para promover a proteção e cuidados. Isso significa que pais deveriam deixar as crianças fazerem o que elas podem fazer por si mesmas e fazer por elas o que elas não podem fazer. Esta é uma relação recíproca e sempre buscamos por reciprocidade. O melhor que você pode oferecer para seu filho é reciprocidade e amor. É dessa maneira que os pais auxiliam na criação do eu da criança e do mesmo modo, a interação com os filhos promove mudanças nos pais.

Outros aspectos a serem considerados para essa nossa proposta de compreensão, são de que as crianças recebem um número enorme de influências para construírem o próprio “eu”.  Sua personalidade e sua subjetividade interagem com a comunidade, ambiente, entra em contato com outros exemplos, outras formas de se comportar e pensar ao longo de toda vida, seja na escola, entre amigos e até dentro da própria família. Elas deverão se adaptar e deveriam ser criadas para (e pelo) mundo. É desafiador aceitar que não se tem controle total de como os filhos irão expressar todo o esforço e amor dedicado em sua formação. Deveríamos normalizar que assim que dominamos algum aspecto na educação dos filhos, a criança muda e precisa de algo novo, algo para o qual os pais não estão preparados e para o qual eles próprios devem mudar. É uma dança permanente da interação interpessoal entre pais e filhos. Por isso é tão natural que não tenhamos certeza sobre o mais correto ao educar filhos. Não há certeza sobre a “coisa certa” a fazer pela criança. Não há manual ou receita.

O caminho viável é estar atento à criança. Antes mesmo de aprender a falar, a criança já se comunica por gestos e ações, por isto o melhor guia é se perguntar: o que meu filho(a) está querendo dizer com isso? E se não conseguir traduzir exatamente, não se culpe. Se errar em algum momento com seu filho, não se culpe, não tema, tente reparar, seja empático com a criança, mas não se esqueça de ser empático consigo mesmo(a).

Lembre-se: Talvez a coisa certa a fazer nem exista, o desenvolvimento da criança não depende apenas do pai e da mãe e Dona Hermínia tem razão em se indignar. Em um processo psicoterápico buscamos desvendar o alicerce do desenvolvimento desse “eu” mas a responsabilidade de quem este “eu” se torna é também reflexo de um sentido de organização pessoal. Somos protagonistas de quem nos tornamos. Seus filhos serão protagonistas de quem se tornarem!

Referências:

GUIDANO, V. F. (1988). La complessità del Sé: Un approccio sistemico-processuale alla psicopatologia e alla terapia cognitiva. Torino: Bollati Boringhieri.

LANDA, SOPHIE & DUSCHINSKY, ROBBIE. (2013). Crittenden’s Dynamic-Maturational Model of Attachment and Adaptation. Review of General Psychology. 17. 326. 10.1037/a0032102.

VYGOTSKY, L.S. (2007). A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.

Vídeo citado: https://www.youtube.com/watch?v=PDRTaFY4u7g

Março Azul Marinho: Mês de Conscientização e Prevenção do Câncer Colorretal

Confira dicas de alimentação saudável para auxiliar na prevenção da doença.

* Texto por Helen Lima, em entrevista à Dra. Luiza Junqueira, Nutróloga.

Março Azul Marinho: Mês de Conscientização e Prevenção do Câncer Colorretal

Confira dicas de alimentação saudável para auxiliar na prevenção da doença.

Também conhecido como Câncer de Cólon e Reto ou Câncer de Intestino, o Câncer Colorretal é um dos tipos mais frequentes entre homens e mulheres. Essa doença passou a ganhar destaque na mídia ao ser diagnosticada em famosos como o Rei Pelé e a cantora Preta Gil. Durante este mês, o tema está em maior evidência por conta da campanha “Março Azul Marinho”, com foco nas ações de conscientização e prevenção.

O Câncer Colorretal possui fatores de risco associados a componentes genéticos e comportamentais. Pessoas com casos na família devem fazer acompanhamento médico para o rastreamento precoce. Já quem não possui histórico familiar, deve investir em um estilo de vida saudável. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) alerta que apenas uma pequena parcela dos cânceres é herdada;  os fatores comportamentais e ambientais são os mais importantes e podem ser modificados.

A manutenção do peso corporal adequado, a prática de atividade física e a alimentação balanceada são fundamentais para a prevenção do câncer de intestino. A fim de auxiliar nas técnicas de promoção a uma rotina mais saudável, a Dra. Luiza Junqueira Villar, nutróloga da Clínica Rezende, compartilhou algumas dicas práticas. Confira:

Organização

Segundo a especialista, manter uma rotina alimentar planejada e organizada, sabendo quais são os melhores alimentos indicados para cada refeição, ajuda a manter o hábito saudável. “Na correria do dia a dia, a opção mais prática não costuma ser a mais saudável e aí recorremos ao fast food, comidas congeladas industrializadas, etc”.

Beba água

A hidratação em dia proporciona uma série de benefícios para o organismo: a água é importante para o bom funcionamento do intestino, para garantir energia para as tarefas do dia a dia (incluindo atividade física e planejamento alimentar) e também é uma grande aliada no combate à obesidade. “Às vezes confundimos sede com fome, o que pode levar a escapes na dieta e ao excesso de peso”, comenta.

Prefira alimentos naturais

 A Dra. Luiza destaca que os alimentos ultraprocessados, como biscoitos industrializados, sorvetes e refrigerantes, são formulados com aditivos químicos que contribuem para o aumento da obesidade, doenças vasculares, diabetes e câncer. A dica é fazer uma substituição simples e eficiente: “descascar mais e desembalar menos”.

 De acordo com a nutróloga, nenhum alimento isolado tem o poder de causar uma doença e nem de curá-la, mas existe um padrão alimentar relacionado ao aumento de risco do câncer colorretal: “alto consumo de alimentos ultraprocessados, destacando as carnes processadas (salsicha, mortadela, bacon, entre outros), alto consumo de carne vermelha e baixo consumo de fibras (legumes, verduras, frutas e cereais integrais)”.

Ela explica que as carnes processadas estão classificadas no grupo 1 de carcinogênicos – comprovadamente associadas ao desenvolvimento da doença. “Estima-se que o consumo de uma porção diária de 50 gramas de carne processada aumenta o risco de câncer colorretal em 18%. Em relação às fibras, a recomendação de consumo diário para um adulto saudável é de 25g a 30g e tem efeito protetor contra o câncer colorretal”.

Diagnóstico precoce: fundamental no tratamento do Câncer Colorretal

 A doença costuma ser silenciosa nas fases iniciais. Conforme vai avançando, pode ocorrer a presença de sangue nas fezes, dores e cólicas abdominais frequentes, alterações no ritmo intestinal (diarreia ou constipação) e emagrecimento rápido e não intencional, além de anemia, cansaço e fraqueza.

O Ministério da Saúde reforça que esses sintomas geralmente não são causados por câncer, mas devem ser investigados por um especialista, e recomenda a realização de exames de rastreio a partir dos 45 anos. O câncer colorretal possui 90% de chance de cura com o diagnóstico precoce. Invista nas estratégias de prevenção, fique de olho nos sinais de alerta e conte sempre com a orientação de um profissional de saúde em caso de dúvidas!

O que é Comportamento Alimentar?

Nos últimos anos, a busca por uma alimentação saudável e equilibrada tem se tornado uma preocupação cada vez maior para as pessoas, seja por questões de saúde, estética ou mesmo éticas e ambientais.

*Por Felipe Barreto

Afinal, o que é Comportamento Alimentar?

Comportamento alimentar é um tema que vem ganhando mais destaque na sociedade atual. Nos últimos anos, a busca por uma alimentação saudável e equilibrada tem se tornado uma preocupação cada vez maior para as pessoas, seja por questões de saúde, estética ou mesmo éticas e ambientais.

No entanto, muitas vezes, essa busca pela alimentação perfeita pode se tornar um verdadeiro problema. A obsessão por contar calorias, controlar a ingestão de alimentos e seguir dietas restritivas pode levar a um comportamento alimentar disfuncional, que podem trazer consequências negativas para a saúde física e mental.

Escolhas alimentares

Por isso, é fundamental entender que o comportamento alimentar vai muito além de simplesmente escolher os alimentos que serão ingeridos. É preciso levar em conta os fatores como o contexto social, emocional e cultural, bem como as crenças e valores pessoais que influenciam as escolhas alimentares.

Uma alimentação saudável não significa seguir uma dieta restritiva, mas sim ter consciência sobre as necessidades do próprio corpo e adotar hábitos alimentares equilibrados e prazerosos. É importante lembrar que cada indivíduo é único e tem necessidades alimentares diferentes. E que uma alimentação saudável deve ser adaptada às características e objetivos de cada pessoa.

Equilíbrio

Além disso, é fundamental buscar o equilíbrio entre alimentação e prazer, sem julgamentos ou culpas. Comer é uma necessidade fisiológica, mas também pode ser uma experiência prazerosa e social. Por isso, é importante cultivar uma relação saudável e consciente com a comida, sem abrir mão do prazer e do convívio social.

Em resumo, o comportamento alimentar é um tema complexo que requer uma abordagem integrada e individualizada. É importante buscar informação de qualidade e buscar orientação profissional para desenvolver hábitos alimentares saudáveis e prazerosos, sem deixar de lado as necessidades individuais e o prazer de comer.

Um relato sobre depressão.

Caro/a você,
Uma das poucas coisas que nunca imaginei na vida (e olha que eu sou uma serzinha das mais imaginativas) é que eu estaria aqui hoje te contando como tudo aconteceu comigo.

* Por Monalisa Vasconcelos

– O que é a coisa mais corajosa que você já disse na vida?

– Me ajuda.

Caro/a você,

Uma das poucas coisas que nunca imaginei na vida (e olha que eu sou uma serzinha das mais imaginativas) é que eu estaria aqui hoje te contando como tudo aconteceu comigo. E provavelmente jamais faria isso se não acreditasse integralmente no poder que reside em partilhamos as nossas histórias. É quando a gente se abre e se ouve que a gente reconhece a nossa humanidade, que a gente se sente menos sozinho, menos vazio, menos distante do que acontece lá no canto mais profundo da gente. Então, o meu único objetivo aqui hoje é que a gente se veja e se toque, sem filtros.

Meu nome é Monalisa. Em 2020 fui diagnosticada com depressão pelo Dr. Alexandre. Depois de dois anos de tratamento, recebi alta da medicação. E, em dezembro de 2022, ele me fez o convite de escrever um depoimento pro blog da clínica. “Pensei em você porque sua experiência foi super exitosa e pode servir de exemplo para outras pessoas”: essas foram as palavras dele. Sem pensar muito (o que também é bem incomum pros meus padrões), resolvi aceitar. Mas não pelas mesmas razões que impulsionaram o convite. Sabe, eu acho que a gente já ostenta demais da conta a partilha dos nossos êxitos (ou da imagem que cultivamos do que eles significam) e isso só tem piorado o quadro das nossas dores internas – que ficam cada mais exiladas no quartinho escuro das nossas grutas mais obscuras. Até que um dia elas nos implodem e desmoronamos diante dos nossos próprios olhos. Foi assim comigo, pode ser que isso esteja acontecendo com você agora e te prometo: não tenho a menor intenção de ser exemplo ou de mostrar como fui bem-sucedida nessa jornada. Não vou dar dicas de superação e espero escapar de frases motivacionais. Na maior das minhas esperanças, o que eu quero é poder te dar a mão no seu pior momento trazendo à tona o meu pior também. Que nada nos afaste.

Assim, descarada e despida, começo te contando o que rolou na nossa primeira consulta. Depois de, sei lá, uma hora, uma hora e meia de “conversa”, veio o diagnóstico: Monalisa, o quadro que você está apresentando é de uma depressão grave e precisaremos iniciar um tratamento. Aquele momento pra mim soou como uma sentença. Olhei bem nos olhos do médico e do meu abismo mais horroroso saiu uma voz que disse assim: “Doutor, o que senhor está me dando é um atestado de falência como ser humano”. Ele deve se lembrar disso. Eu, da minha parte, acho difícil esquecer. Tanto pela dor que eu senti quanto por tudo que eu enxerguei sobre mim mesma por causa dessa frase. Mas não foi logo de cara. Isso ainda demoraria mais algumas semanas.

Saí do consultório com uma receita de antidepressivo nas mãos. Guardei e jurei que jamais usaria aquilo. É preciso fazer um parênteses aqui pra dar uma pequena dimensão do meu contexto de vida naquele momento: nascida e criada em Juiz de Fora, depois de formar em jornalismo, me mudei pra São Paulo em 2009 com o sonho de me tornar atriz. Em 2020, quando a pandemia estourou, eu tinha um cargo público como coordenadora de um teatro da secretaria municipal de cultura, estava em cartaz com duas peças de teatro, vinha de um 2019 com reconhecimentos super bacanas no âmbito do meu ofício, desenvolvia meus trabalhos espirituais e sociais… tinha toda uma vida estruturada na cidade nesses dez, onze anos depois da minha chegada totalmente às cegas nesse lugar. Esses anos de São Paulo sempre foram uma luta indescritível, muito solitária, cheia de revezes e não foram poucas as vezes em que eu havia pensado em “desexistir”. Mas, com o passar do tempo, e as conquistas (internas e externas) sendo delineadas palmo a palmo, naquele momento eu tinha um certo sentimento de que estava, por fim, conseguindo construir algo de concreto, duradouro e próprio. Durante os primeiros meses da pandemia, o trabalho aumentou, me envolvi em várias campanhas de auxílio às famílias mais carentes, criei novos projetos artísticos, fiz um monte de live pro teatro… até que, sem perceber como, de um dia pro outro, entre as paredes daquele meu studio de 30m², eu comecei a perder a memória, a perder força (literalmente) de ficar em pé, me vi a dormir e acordar chorando ininterruptamente por semanas e completamente sem vontade de continuar vivendo. Pouco tempo depois, na segunda tentativa da minha família de me resgatar desse estado, eu me vejo de volta a Minas, com 36 anos, completamente devastada emocionalmente, tendo que virar as costas pra tudo, com o pensamento oscilando num paradoxo entre “eu não construí nada de válido” e “vou perder tudo o que eu construí”. Outro fator era a minha mediunidade. Do que jeito que eu estava era como se tivesse aberto um portal cavalar à toda sorte de perturbações e obsessões que agravaram muito essa situação.

Aí, quando eu escuto “depressão” foi como se aquilo chancelasse o sentimento de que apesar de todo esforço, renúncia e dedicação, no fim das coisas eu “dei errado”, “não consegui”, “falhei”, “voltei pior do que quando fui embora”. Sentia vergonha de estar na casa dos meus pais de volta, vergonha da minha fraqueza, da minha agora indisfarçável vulnerabilidade. Quem, ainda mais nos dias de hoje, quer ser vista como um fracasso? Calma, muita calma. Eu não estou dizendo que a depressão seja isso. Eu quero dizer (e essa é a grande questão) que, dominada por ela, isso era tudo o que eu conseguia enxergar. E é nesse ponto que o jogo começa a virar.

O Dr. Alexandre não sabe, vai saber quando ler esse texto, eu demorei semanas pra começar a tomar o remédio. Eu tinha muito medo do que ele poderia me causar e uma birra homérica da psiquiatria, da extensa medicalização presente em nossos tempos. Além disso, anos atrás, escrevi uma peça de teatro inspirada no dilacerante livro “Holocausto Brasileiro” (da também juizforana, a maravilhosa Daniela Arbex) e na ocasião eu estudei muito sobre o marketing da loucura pra poder falar daquele universo dos manicômios enquanto calabouços de eugenia social e crueldade assistida. Então, na minha cabeça eu tinha sido capturada pelo inimigo. Logo, me recusei drasticamente à medicação.

Acontece que meu quadro só piorou. Eu tinha cada vez menos força pra viver, pra comer, pra sair da cama, os ataques espirituais (sobretudo a noite) cada vez mais severos. Eu realmente fui até a última gota na tentativa de conseguir sair daquela situação com as minhas próprias forças e eu não consegui. Até que chegou o dia em que eu vi que realmente precisava de ajuda, precisava tentar alguma coisa que me desse força pelo menos pra sair da cama. Foi aí que comecei a tomar a medicação. E foi aí que eu comecei a perceber que a partir da ação da medicação no meu corpo era como se o meu cérebro tivesse começado a fabricar novas substâncias, ou velhas substâncias há muito paralisadas. Aos poucos, eu comecei a perceber que diante das “mesmas perguntas” estava sendo capaz de “dar respostas diferentes”. Algum tipo de padrão cíclico estava sendo rompido.

Alguns dias depois, a tempestade interior começou a dar os primeiros sinais de estiagem. Com meu céu interno menos nebuloso, me lembrei do que havia dito na primeira consulta e comecei a me perguntar: Meu Deus, se alguém me dissesse que tem depressão e me pedisse ajuda, a última coisa que eu diria a essa pessoa é que ela falhou como ser humano. Se fosse essa pessoa um amigo, um familiar ou mesmo um desconhecido, eu acolheria a sua dor e moveria mundos pra ajudá-la. Por qual razão, se é comigo, sou tão cruel e impassível? Por que me acredito menos merecedora de compaixão e auxílio? E mais: se qualquer um de nós está sujeito a adoecer do que quer que seja, por que eu acredito que quando é com o outro “tudo bem”, mas quando é comigo “não”? Quão melhor eu estou me julgando ser em relação a qualquer outro ser humano?

E é por isso que eu te disse que gostaria de te mostrar o meu pior. Porque foi também através dele que comecei a – aí sim – a ter condições de me movimentar internamente e voltar a viver. Na queda do meu Olimpo, da segurança da imagem que havia feito de mim mesma, fui obrigada a encarar que caminhava junto à toda aquela dor e desmoronamento, uma trinca fatal pra qualquer processo de cura e autoconhecimento: orgulho, vaidade e um extenso combustível de autodestruição. Não estou dizendo que essa seja o seu caso, estou dizendo que foi o meu. E que eu precisei enxergar isso.

E é também exatamente por isso que comecei esse texto com um trechinho de uma animação que vi esses dias no Instagram. Um menino caminha em um cenário coberto de neve com três animais. Ele pergunta “qual foi a coisa mais corajosa que você já disse?”. E um deles responde: “help”, ou “me ajuda”. E o que aconteceu comigo, meus amigos, é que eu me expus a ir longe demais na dor pra conseguir ter a coragem de dar esse passo. Pedir e aceitar ajuda. A verdade é que depois desse movimento, eu vi que provavelmente eu fui depressiva a vida inteira. A verdade é que apesar de extrovertida, comunicativa, alegre, a melancolia sempre me acompanhou. Eu caminhei a vida inteira encobrindo com elogios, notas altas, perfeccionismo, performance impecável e excesso de produtividade o rombo horrível que eu carrego no peito, o flerte constante com o suicídio. Eu fui me tornando “imparável”, acreditando fazer isso em nome da construção de mim mesma, do meu legado, do meu quinhão de sucesso (material e espiritual). Mas isso era só metade da verdade. Essa metade encobriu por tempo demais o medo absurdo que eu tinha de em algum momento ter que lidar com aquela sombra insondável dentro de mim. E isso tem um preço muito alto. Muito alto.

Durante o período do tratamento, muitas coisas aconteceram na minha vida, outros tantos ganhos e perdas. E eu poderia ter seguido nesse texto os caminhos das coisas que eu fiz nesse processo pra “dar a volta por cima”, mas acredito que incorreria no mesmo erro em que estamos insistindo de só editar o enredo das nossas vidas no campo das experiências externas, quando na verdade é dentro da gente que o bicho pega. Eu realmente sinto que a gente precisa começar a olhar pra nossa vida interior muito mais carinho, honestidade e humanidade. Até porque, quanto melhor e mais amplamente nós fizermos esse movimento, mais vamos perceber que a saúde mental precisa ser vista para além do indivíduo e da sua dor. Ela é de todo mundo. É tão humana quanto fome. Porque ninguém está imune e talvez seja através dela – da dor – que a gente consiga descobrir um novo jeito de ser e de existir nesse planeta. Tem um filósofo indiano que me toca profundamente, Jiddu Krishnamurti. E concordo em absoluto quando ele diz que: “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”. Parte da nossa dor é, sim, um sinal claro de que precisamos dar novos rumos coletivos ao modo como encaramos o que se passa dentro da gente e o quanto a vida que a gente vem aceitando viver é corrosiva, venenosa e opressora. Os dados de depressão, suicídio, ansiedade… no Brasil e no mundo gritam por si e não estamos olhando pra isso com a atenção devida. Isso tem um preço muito alto. Muito alto. E estamos todos pagando por ele.

Bom, fiz todo o tratamento psiquiátrico, entrei na terapia, fiz uma série de coisas, mas não há um dia sequer que essa luta pela integridade do meu ser não esteja me esperando pro café da manhã. O rombo no meu peito não diminuiu, a diferença é que agora ele tem tanto espaço pra ser ouvido quanto o meu riso frouxo, que eu adoro. Custou e custa todos os dias querer e saber que existe sim uma forma melhor de viver nesse mundo. Mas realmente acredito que o verdadeiro salto dessa conquista só pode ser dado no compromisso de cada individualidade nessa causa que é sim tão coletiva quanto urgente.

Então, com tudo isso, caro/a você, eu espero que você não siga meu exemplo. Que você não espere se ferir como eu me feri (e permiti que me ferissem) até ter a coragem de pedir ajuda, de dar um tempo, de dizer “chega, eu não aguento mais”. Eu espero que você possa ter mais compaixão com seus sentimentos do que tive pelos meus até hoje. Eu espero que você consiga identificar seus limites antes de violá-los completamente. Eu espero que você sinta que pode conversar com alguém sobre suas fraquezas e que não precise se obrigue a ser incrivelmente foda o tempo todo pra se sentir amado ou amada. Eu espero que nem você, nem ninguém que você ame, tenha passado ou precise passar por tudo isso. Mas se for esse o caso, só saiba que você não está sozinho/a. Peça e aceite ajuda. E recomece. Estamos todos – uns mais, outros menos cientes disso – estamos todos renascendo nesse momento.

Um abraço carinhoso pra você,

Mona.

(@mona.vasconcelos)