Vamos aos dados históricos… Prometo, serei breve.
O dia dos namorados no ocidente é comemorado em 14 de fevereiro, dia de São Valentim, padre romano que durante o tempo de sua prisão se apaixonou pela filha de um carcereiro e enviava cartas românticas em que assinava: “do seu Valentim”. Ele havia sido preso pelo imperador romano Cláudio 2º, que baniu o casamento naquele século por acreditar que homens casados se tornavam piores soldados. Padre Valentim, por sua vez, infringiu a lei e realizava as cerimônias de casamento em segredo, sendo descoberto e condenado à morte.
Aqui no Brasil, o dia do romance, 12 de Junho, foi uma escolha exclusivamente comercial. Em 1948, o publicitário João Dória (sim, pai do atual governador de São Paulo, João Doria Jr.) propôs a data para melhorar os resultados de venda no mês de junho e escolheu o dia 12 por ser véspera do dia de Santo Antônio de Lisboa, o santo casamenteiro.
Mais um ano que aos amantes, em tempos de pandemia, tem sido um desafio. Segundo alguns dados, os pedidos de divórcio aumentaram em 65% no ano de 2020. Assim também, o aumento de violência doméstica desde o início do confinamento. A quarentena obrigou (e obriga ainda) à convivência em grande proximidade entre alguns, impondo o distanciamento social em relação a outros. A vida isolada exige o contato constante no âmbito do mesmo lar, mas o afastamento de todos os outros. Aos casados um exercício de tolerância, aos solteiros exige lidar com o sentimento de solidão e insegurança em buscar seu par.
Mas o isolamento não impossibilitou a experiência de amar. Tem sido comum a valorização do tempo livre para o aconchego na família. Nos conectamos mais com nosso núcleo afetivo e por isto podemos viver momentos de partilha, de comunicação mais frequente e saudável e a consolidação dos relacionamentos. Aprendemos a nos amar online e a flertar virtualmente. A exposição à ameaça de uma doença contagiosa invocou uma aproximação maior de um núcleo restrito de amigos e, em busca de um par, passamos a adotar estratégias antigas de namoro. Confinados, nos vimos obrigados a dialogar mais, revelar medos e esperanças, sentimentos e maneiras de pensar, a conhecer melhor o outro e a selecionar (parceiro) de forma potencialmente mais acertada.
Desta maneira, poderíamos dizer que a pandemia possibilita que o romance e o apego se desenvolvam lentamente, estimulando o seu florescimento a longo prazo e lançando, consequentemente, as bases para uma parceria mais sólida. Se nas últimas três décadas, de acordo com Bauman (2004), os progressos tecnológicos, econômicos, científicos e culturais propiciaram mudanças no processo de formação, conceituação e constituição das relações amorosas, deixando-as mais fluidas (“amor líquido”). Por outro lado, a pandemia tem nos obrigado a buscar formas mais seguras de nos relacionar.
A verdade é que embora o amor romântico possa acontecer à velocidade da luz, os sentimentos de profundo apego levam o seu tempo para se consolidar. Assim, por mais surpreendente que possa parecer, talvez a era pós-Covid possa desencadear parcerias mais felizes e duradouras. Continuaremos com nosso anseio por liberdade e autonomia, mas exercitaremos mais a empatia, o respeito pelo corpo, o caminhar mais lento, a solidariedade, a tolerância e a reciprocidade. O amor será nosso guia e por isto o anúncio de bons acontecimentos.
Então, que você possa encontrar e oferecer o brilho nos olhos, um sorriso largo e bonito, dividir dificuldades, multiplicar as realizações e os êxitos. Que possa experienciar a segurança de ser amado e de amar, cuidar do amor sem pressa. Para aqueles que já se encontram juntos, dedique um momento para cozinhar juntos, oferecer sua melhor taça e sua melhor bebida, arrumem juntos a casa, durma de conchinha. Aos que estão em busca de seu amor, apreciem a própria companhia, curta os momentos com os amigos e família, brinde a si mesmo. Cumpram aquele desejo de fazer algo por você adiado a tempos. E quando se depararem com alguém para amar, reflita com Rubem Alves: “Crê que seria cas ampaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?”
Assim, não importa se em 14 de fevereiro ou em 12 de junho, se por finalidade comercial ou religiosa, é tempo de celebrar o amor. O amor de todo dia. O amor da tolerância. O amor do respeito. O amor por nós e pelo outro. O amor da empatia. Podemos mergulhar em nós mesmos e ao mesmo tempo perceber que o nosso amor só alcança sua plenitude quando o manifestamos a outro ser humano. O amor da reciprocidade. Encontramos na relação com o outro a tradução de nossa identidade. A reverberação de nós no outro. O amor próprio. O amor romântico. Que tenhamos calma para não nos amar rapidamente ou nos render à imediata e exclusiva busca de prazer, de companhia. Cultive o amor terno. Desfrute do amor ardente. Esteja atento em como se sente no contato com o outro, desfrute de todas as sensações. Ame devagarinho. Ame sempre.
A vida segue em quarentena, e se o amor é a condição humana permanente, certamente amar é uma urgência agora! Precisamos celebrar o amor! Feliz dia dos namorados!
ALVES, Rubem.(1994). A pipa e a flor. Edições Loyolas.
AMORIM, Ana Nascimento de; STENGEL, Márcia. Relações customizadas e o ideário de amor na contemporaneidade. Estudos de Psicologia, Natal, v. 19, n. 3, p. 179-188, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 294X2014000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 mai. 2021.
BAUMAN, Z. (2004).Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Zahar.
https://www.escoladeempatia.com.br/single-post/2018/04/14/tênis-x-frescobol-rubem-alves
https://www.vice.com/en/article/m7jyaq/it-turns-out-the-pandemic-made-us-better-partners
Alterações do comportamento podem ser facilmente encontradas na população e, muitas vezes, podem ser os primeiros sinais de alterações hormonais.
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