Uma das necessidades biológicas do ser humano é o reconhecimento do próprio corpo, compreendendo o seu tamanho, forma, as partes que o compõem, o seu volume, delimitações e atribuições. Para atender a essa necessidade temos a constituição de uma imagem corporal que é formada por dois componentes: perceptual/sensorial e atitudinal/cognitivo. Tal reconhecimento se faz necessário para que possamos interagir com o ambiente e nos movimentemos pelos espaços físicos, por exemplo, para passarmos entre dois objetos fixos, desviar de um buraco, sentar em uma cadeira, escolher roupas para vestir e etc.
A construção da imagem corporal acontece desde o nascimento através de uma constante comunicação entre corpo e mente. Por meio dos vários receptores espalhados pela extensão corporal as sensações, comparações, críticas, elogios, erros e acertos são captadas e registradas pelo nosso cérebro. Com o registro dessas informações criamos uma espécie de “banco de dados” sobre o corpo formando um “mapa” em nossa mente e assim é construída uma ideia sobre o que e como é o próprio corpo. Essa primeira descrição corresponde ao componente perceptual da imagem corporal. Já o componente atitudinal/cognitivo se refere aos pensamentos, crenças, julgamentos, expectativas e comportamentos emitidos a partir dessa ideia de corpo.
Para exemplificar: uma criança grande é colocada para sentar nas últimas carteiras da sala de aula, fica atras nas fotos com muitas pessoas, ocupa os últimos lugares nas filas, sofre bullying, recebe apelidos pejorativos por conta do seu tamanho. Todas essas experiências são registradas e vão compor o seu “banco de dados”. A partir desses registros ele pode desenvolver a crença de que “ser grande é ruim, é uma desvantagem”, sentir-se triste por isso, apresentar o comportamento de se encurvar-se quando estiver falando com as pessoas, isolar-se por sentir-se inadequado.
O que vemos no espelho é resultado da percepção daquele momento em conjunto com as informações registradas em nossa mente sobre o corpo e essa associação é projetada pelos olhos. Assim como a imagem corporal é construída desde o nascimento, a distorção dela também começa desde cedo. Se as vivências com o próprio corpo forem mais negativas, o indivíduo tende a ter uma relação mais difícil com o corpo, uma imagem também negativa e até distorcida. A construção da imagem corporal é um processo individual e, portanto, apenas o próprio indivíduo sabe como é e o que vê. Dessa maneira, aquela imagem vista no espelho, muitas vezes, pode não corresponder a imagem vista pelas outras pessoas.
Nos Transtornos Alimentares de Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa uma característica comum é a insatisfação corporal. Nos dois casos, uma imprecisão na percepção do tamanho real do corpo é evidente, fazendo com que pacientes com os referidos transtornos apresentem uma distorção da percepção de sua dimensão corporal no sentido de se perceberem maiores do que realmente são (hiperesquematia) e, em consonância ao que percebem, desenvolvem comportamentos de restrição alimentar ou purgação.
Estar insatisfeito com o próprio corpo e apresentar uma imagem corporal distorcida pode ser motivo de grande sofrimento para o indivíduo, afinal, ele conduz a sua vida em função de uma imagem negativa e por consequência adapta a sua vida a isso, tendo comportamentos e hábitos condizentes com o que entende sobre o próprio corpo.
Tendo em vista que compomos uma sociedade numerosa e heterogênea é preciso compreender que padrões corporais, valorização de determinado biotipo e associação destes a sucesso, felicidade e beleza têm contribuído para uma grande insatisfação e imagens distorcidas do próprio corpo. Sendo essa uma característica muito forte do nosso contexto sociocultural, eu te convido a pensar sobre a finalidade disso.
Para que estabelecer e reforçar um padrão corporal?
O que eu tenho feito e posso fazer ter uma imagem corporal satisfatória?
Como estou contribuindo na formação da imagem corporal daqueles que eu convivo?
Precisamos celebrar o amor! Estávamos em um contexto de recomendações de isolamento social e nos debruçávamos para compreender o impacto disso sobre nossas relações.
Leia maisA maneira como os pais educam os filhos é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e psicológico de uma criança.
Leia mais