As pessoas mudam de várias maneiras e por inúmeros motivos. Assim começa o prefácio do livro “Entrevista motivacional – Preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos”, dos autores Miller e Rollnick. A Entrevista Motivacional consiste num modelo de abordagem com vistas à promoção de mudanças de comportamento para um estilo de vida mais saudável. Ou seja, a Entrevista Motivacional é uma abordagem criada para ajudar o paciente a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar.
Esse modelo foi desenvolvido pelos psicólogos William Miller e Stephen Rollnick na década de 1990, inicialmente para o aconselhamento relacionado ao uso e abuso de álcool e outras drogas, mas atualmente tem sido utilizado no contexto de diversas doenças crônicas. O grande objetivo dessa abordagem é evocar as motivações internas do paciente para promover as mudanças comportamentais de acordo com os interesses que ele tem na melhoria de sua saúde.
Alguns conceitos são primordiais na Entrevista Motivacional: motivação, prontidão para a mudança e ambivalência.
A motivação é um estado de prontidão ou de avidez para a mudança, que pode oscilar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Essa condição também pode ser influenciada por fatores externos ou até mesmo por outras pessoas.
Já a ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e opostos em relação à mudança é considerada normal. A força é maior quando um paciente quer mudar, não só para evitar as consequências do comportamento prejudicial, mas também quando encara a mudança como um caminho para alcançar uma vida melhor, mais prazerosa, longa e saudável. Evocar no paciente emoções positivas, como esperança, amor e alegria, e cognições, como autoeficácia e aceitação, tendem a ampliar suas possibilidades pessoais de considerar e experimentar a mudança. Assim sendo, a entrevista motivacional pretende ajudar o indivíduo a resolver essa ambivalência e colocar a pessoa em movimento no caminho para a mudança.
Os psicólogos James Prochaska e Carlo Di Clemente (1982) descreveram uma série de estágios pelos quais as pessoas passam no curso da modificação de um problema.
Pré-contemplação: a pessoa não está considerando a possibilidade de mudança, porque nem sequer identificou ter um problema.
O que fazer? Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamental atual.
Contemplação: a pessoa pensa na possibilidade de mudar seu comportamento. Mas esse período é caracterizado pela ambivalência, o indivíduo fica dividido entre os motivos de preocupação e as razões para manutenção daquele comportamento.
O que fazer? “Inclinar a balança” – evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar.
Preparação para a ação: a pessoa desenvolve um plano ou estratégias para a mudança de comportamento. Esse período é como uma janela que se abre para a oportunidade de mudança.
O que fazer? Ajudar o paciente a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança.
Ação: a pessoa se engaja em ações específicas para chegar a uma mudança.
O que fazer? Ajudar o paciente a dar passos rumo à mudança.
Manutenção: a pessoa tem o desafio de manter a mudança obtida e evitar a recaída, isto é, o retorno ao comportamento anterior. A manutenção de uma mudança pode exigir um conjunto de habilidades diferentes das que foram primeiramente necessárias para a obtenção da mudança.
O que fazer? Ajudar o paciente a identificar e a utilizar estratégias de prevenção de recaída.
Como já dito, a Entrevista Motivacional enfatiza a motivação do paciente para o processo necessário de mudança e entende que o estilo do terapeuta tem um papel fundamental. Assim sendo, a essência da Entrevista Motivacional implica na presença de três atitudes preponderantes do profissional da saúde em relação com paciente: colaboração, evocação e respeito pela autonomia do indivíduo. O profissional deve ser unir a seu paciente, formando uma equipe, e gentilmente oferecer e compartilhar sua experiência, e em parceria com ele, explorar e resolver a ambivalência. A responsabilidade pela mudança é deixada para o paciente.
A atitude que fundamenta o princípio da empatia pode ser chamada de aceitação. Isso significa acolher, aceitar e entender o que o paciente diz, sem fazer julgamentos a seu respeito.
Mostrar para o paciente a discrepância entre o seu comportamento, suas metas pessoais e o que pensa que deveria fazer para atingir essa meta.
Abordagens de confronto tornam o paciente resistente à intervenção.
Se a ambivalência e a resistência para a mudança de comportamento podem ser consideradas normais, a atitude do profissional deve ser no sentido de levar o paciente a considerar novas informações e alternativas.
Autoeficácia refere-se à crença de uma pessoa em sua capacidade de realizar e de ter sucesso em uma tarefa específica.
Referências bibliográficas:
FIGLIE, N.B.; SALES, C. Capítulo 23 – Entrevista Motivacional. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas. – 2 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019.
MICHELI, D.; FORMIGONI, M.L.O.S.; CARNEIRO, A.P.L Capítulo 2 – Como motivar usuários de risco. In: SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS. SUPERA: Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. Intervenção Breve: módulo 4. – 11 ed. – Brasília, 2017.
MILLER, W.R.; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
A Esquizofrenia é um transtorno mental crônico, com início mais comum no final da adolescência ou início da vida adulta. Apresenta como principais características os chamados sintomas psicóticos, divididos em positivos e negativos.
Leia maisO que todo mundo deveria saber sobre como acabar com a ansiedade? 6 dicas e um convite do psicólogo Dr. Leonardo Martins.
Leia mais