A automedicação é uma prática caracterizada fundamentalmente pela iniciativa de uma pessoa, ou de seu responsável, em obter e utilizar um produto que acredita lhe trazer benefícios no tratamento de uma doença ou alívio de sintomas. Assim, a orientação médica é substituída inadvertidamente por sugestões de medicamentos provenientes de pessoas não autorizadas, entre estas, familiares, amigos ou balconistas em farmácias. Outra forma de automedicação seria a reutilização de receitas.
As razões pelas quais as pessoas se automedicam são inúmeras. A propaganda desenfreada e massiva de determinados medicamentos contrasta com as tímidas campanhas que tentam esclarecer os perigos da automedicação. A dificuldade e o custo de se conseguir uma opinião médica, a limitação do poder prescritivo, restrito a poucos profissionais de saúde, o desespero e a angústia desencadeados por sintomas ou pela possibilidade de adquirir uma doença; o acesso a algumas informações pela internet ou outros meios de comunicação, a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem e a falta de programas educativos sobre os efeitos muitas vezes irreparáveis da automedicação, são alguns dos motivos que levam as pessoas a utilizarem medicamentos mais próximos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em todo o mundo, mais de 50% de todos os medicamentos receitados são dispensados ou vendidos de forma inadequada. Cerca de um terço da população mundial tem carência no acesso a remédios essenciais e metade dos pacientes tomam medicamentos de forma inadequada (1). No Brasil, a prevalência de automedicação na população adulta em alguns estudos de boa qualidade metodológica foi de 35% (2). Aproximadamente, um terço das hospitalizações no Brasil se devem ao uso incorreto de medicamentos (3).
Os riscos da automedicação para o indivíduo são o atraso no diagnóstico ou o diagnóstico incorreto, devido ao mascaramento dos sintomas, possibilitando o agravamento do problema, a escolha do medicamento inadequado, a administração incorreta, dosagem inadequada e uso excessivamente curto ou prolongado da medicação, a dependência, reações alérgicas e intoxicações. Além do impacto sobre a vida humana, as reações adversas a medicamentos também influenciam significativamente nos custos despendidos com saúde.
Em uma sociedade, os hábitos de consumo de medicamentos podem ser afetados positivamente pelas políticas nacionais quando promovem a regulamentação do suprimento e a disponibilização racional de medicamentos essenciais, pressupondo o acesso ao diagnóstico e prescrição por profissionais habilitados. Por outro lado, o consumo pode ser influenciado negativamente pelo acesso sem barreiras e pela promoção e publicidade de medicamentos, que muitas vezes estimulam a utilização desnecessária e irracional. Os governos precisam conhecer as razões e as formas de uso irracional de medicamentos, é necessário ter informações específicas para verificar a magnitude desse problema, identificar estratégias e monitorar o impacto das possíveis intervenções.
Não há como acabar com a automedicação, talvez pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Há, contudo, meios para minimizá-la. Programas de orientação para profissionais de saúde, balconistas e população em geral, além do estímulo a fiscalização apropriada, são fundamentais nessa situação.
Os medicamentos psicotrópicos têm como principal objetivo o tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, contudo, são prescritos e utilizados para as mais diversas situações. O uso exacerbado desses medicamentos é um fato na sociedade atual, gerando preocupação entre as autoridades de saúde, pois é sabido que a utilização prolongada dos psicofármacos, além de efeitos colaterais indesejáveis, alguns podem provocar dependência química e geram dificuldades quanto ao término do tratamento.
Segundo informações obtidas no Relatório do Departamento Internacional de Controle de Narcóticos, da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar do grande número de pessoas em sofrimento psíquico, o uso de medicamentos controlados e específicos vem aumentando consideravelmente.
A sociedade atual apresenta características diferenciadas e estas trazem implicações variadas sobre os sujeitos. O ritmo de vida acelerado, as cobranças por produtividade, a necessidade de demostrar felicidade e bem-estar a todo custo, o imediatismo que permeia as relações, a rapidez de acesso às informações, o desenvolvimento científico; enfim, este conjunto de fatores pode levar os sujeitos à busca por soluções rápidas e práticas aos problemas decorrentes dessa realidade.
Por todo o exposto, concluímos que a automedicação é um grande risco para a nossa saúde! Assim sendo, devemos sempre buscar a orientação de profissionais habilitados para realizar o diagnóstico e propor o melhor tratamento. No caso da saúde mental, essas intervenções passam pelo uso de medicações, mas certamente deve incluir outras condutas, podendo-se citar a realização de atividade física e, sobretudo, o acompanhamento psicoterápico. Em relação aos psicotrópicos, o uso consciente e sob orientação correta trará benefícios, tais como a melhora na qualidade de vida, sem representar um dano para os pacientes.
Saiba de que forma você pode ajudá-la a manter a autoestima diante da dependência e falta de autonomia.
Leia maisA Dra. Juliana, endocrinologista da Clínica Rezende, disponibilizou um texto sobre o assunto. Clique aqui.
Leia mais