Família e Saúde Mental: A importância da família na promoção, prevenção e tratamento da Saúde Mental.
Em reconhecimento da importância da família em nossa formação como seres humanos, nós da Clínica Rezende decidimos abordar este tema em nossa campanha do Janeiro branco. Não pretendemos esgotar o assunto dada a complexidade do papel da família na formação do indivíduo, temos como principal objetivo informar e incentivar para que as pessoas pensem mais sobre suas vidas e como ajudar os entes queridos que atravessam um momento difícil. Quando abordamos a família queremos propor a reflexão e a busca pela qualidade nos relacionamentos que tem impacto direto na promoção, prevenção e tratamento no âmbito da saúde mental.
Segundo o pesquisador britânico John Bowlby, que se dedicou aos estudos dos vínculos, as relações parentais são determinantes na construção do estilo afetivo de seus membros, funcionam como regulador emocional e são centrais na estruturação da identidade pessoal. Nas abordagens mais atualizadas em psicologia e psiquiatria (estudos atualizados sobre vínculos humanos) trabalha-se com a perspectiva de que a maioria dos transtornos psicopatológicos podem ter relação direta com as características e estilo dessa dinâmica familiar. No final deste artigo citaremos alguns estilos afetivos resultantes da pesquisa e estruturação de Bowlby*.
De qualquer modo, os transtornos mentais na maioria dos casos possuem tratamentos que amenizam sintomas ou até mesmo sanam os problemas. Em busca de um resultado efetivo é imprescindível que se inicie dentro do próprio lar por meio de supervisão, suporte e compreensão à saúde das pessoas afetadas. Essa relação e a implicação da família no provimento de cuidados com o portador de sofrimento psíquico passam por diferentes etapas e varia de acordo com a realidade de cada grupo familiar e contextos aos quais estão inseridos.
Como estratégia na construção do sucesso do tratamento destacamos a busca de informações, envolvimento, acolhimento e a escuta por parte da família à pessoa em tratamento. Nossa equipe prioriza e sugere o fortalecimento de ações que possam criar espaços de interação, apoio e suporte afetivo por acreditarmos que é por meio do vínculo e no cuidado que se desenvolve intervenções singulares, personalizadas e mais efetivas. Isto por representar uma maior garantia de respeito à subjetividade dos
sujeitos envolvidos e para esta abordagem é indispensável a participação da família.
Sob este aspecto alertamos sobre o modo como a família lida com a pessoa em sofrimento. Em vários estudos sobre o papel da família no tratamento detectamos alguns pontos importantes de serem considerados, como por exemplo, a infantilização do portador de sofrimento psíquico. Essa infantilização, além de dificultar a autonomia do paciente, o tira do lugar de um sujeito que tem sua história, sua individualidade, suas vontades, desejos e, principalmente, o destitui como principal agente para o enfrentamento do próprio sofrimento. Além disso, é importante alertar de que a família também pode ter seus ganhos secundários com o adoecimento, pois pode fazer do portador de transtorno mental o “bode expiatório” para os problemas da família e assim esta não precisar olhar para o próprio funcionamento.
Por outro lado, salientamos que há sobrecarga familiar de um modo geral a respeito da dor e sofrimento causados por se ter um parente nessas condições, desde aspectos relacionados as expectativas dos
familiares em relação ao tratamento, gastos financeiros, lida da rotina do ente em sofrimento, sentimento de culpa, falta de informação sobre o quadro clínico, para citar alguns fatores que transformam desde as
relações afetivas até a dinâmica familiar.
Propomos para amenizar a sobrecarga familiar e alcançar o cuidado em saúde mental a construção uma rede de cuidados articulada em que todos sejam envolvidos, não deixando o indivíduo somente como responsabilidade da família ou dos profissionais de saúde, mas integrando estratégias possíveis para atendê-lo de forma integral e humanizada. Incentivamos a interação dessas pessoas com a sociedade, a criação de
laços de amizade, atividades culturais, de comunidade, de trabalho ou de estudo, que se constituem como importantes bases de apoio ao indivíduo e à família em momentos de crise. O filme “Coringa” ilustra esse ponto de um modo crítico e impactante sobre como toda a sociedade pode influenciar na saúde mental do indivíduo em diversos aspectos, e, para mudar este panorama, precisamos nos posicionar de maneiras alternativas e mais integradoras.
Na perspectiva da promoção e prevenção de saúde, sugerimos que as famílias também se coloquem disponíveis para serem cuidadas e ouvidas por profissionais e instituições que favoreçam tanto a reflexão
sobre o próprio funcionamento como grupo – questões do cotidiano, conflitos, comportamentos, relacionamentos, estilo afetivo, dinâmica familiar, etc. – quanto ao fortalecimento pessoal diante do momento que enfrentam. Afinal, perceber a família constituída como a reunião de pessoas que sofrem, que enfrentam momentos desestabilizadores, como separação, luto, perda de emprego, carência afetiva, dificuldades financeiras entre outros problemas cotidianos é a via de acesso para se obter capacidade de
superação, restabelecimento emocional e efetividade também quando se está em tratamento.
Dessa forma, propomos o modo como avançar na atenção à saúde mental uma abordagem voltada à integração entre profissionais, as famílias e toda sociedade. Por isto uma boa equipe de assistência clínica se disponibiliza e considera a família como recurso e estratégia de intervenção, estimula a sociedade em geral a se construir como lugar de convivência do portador do sofrimento e funciona como importante auxílio para a família. Sim, aquela frase clichê das redes sociais tem razão de ser: “Juntos somos mais fortes”.
Segundo as teorias mais atualizadas sobre a condição humana o estilo de apego é estruturante da personalidade e influencia nas relações afetivas durante todo o ciclo de vida.
Tendem a ter opiniões positivas sobre si mesmas e sobre seus parceiros. Elas tendem, também, a ter opiniões positivas sobre seus relacionamentos. Muitas vezes elas relatam maior satisfação e harmonia em seus relacionamentos do que pessoas de outros estilos de apego. Pessoas seguramente apegadas sentem-se confortáveis tanto com a intimidade quanto com a independência. No padrão seguro o relacionamento
cuidador-criança é provido de uma base segura, na qual a criança pode explorar seu ambiente de forma entusiasmada e motivada e, quando estressadas, mostra confiança em obter cuidado e proteção das figuras de apego, que agem com responsabilidade. As crianças seguras incomodam-se quando separadas de seus cuidadores, mas não se abatem de forma exagerada
Desejam um alto nível de independência. O desejo de independência, frequentemente, aparece como uma tentativa de evitar o apego. Eles veem a si mesmos como auto-suficientes e invulneráveis a sentimentos associados com estarem intimamente ligados a outros. Eles muitas vezes negam necessitar de relações íntimas. O padrão evitativo brinca de forma tranqüila, interage pouco com os cuidadores, mostra-se pouco inibido com estranhos e chega a se engajar em brincadeiras com pessoas desconhecidas durante a separação dos cuidadores. Quando são reunidas aos cuidadores, essas
crianças mantêm distância e não os procuram para obter conforto.
Buscam por altos níveis de intimidade, aprovação, e receptividade de seus parceiros. Elas, muitas vezes, valorizam a intimidade a tal ponto que se tornam excessivamente dependentes de seus parceiros. Elas, frequentemente, duvidam de seu valor como parceiras e culpam-se pela falta de receptividade de seus parceiros. O padrão resistente ou ambivalente é caracterizado pela criança que, antes de ser separada dos cuidadores, apresenta comportamento imaturo para sua idade e pouco interesse em
explorar o ambiente, voltando sua atenção aos cuidadores de maneira preocupada.
Após a separação, fica bastante incomodada, sem se aproximar de pessoas estranhas. Quando os cuidadores retornam, ela não se aproxima facilmente e alterna seu comportamento entre a procura por contato e irritação/raiva.
Têm sentimentos mistos sobre relacionamentos íntimos. Por um lado, elas desejam ter relações emocionalmente íntimas. Por outro lado, elas tendem a se sentir desconfortáveis com a intimidade emocional. Estes sentimentos mistos são combinados com, às vezes inconscientemente, opiniões negativas sobre si mesmas e seus parceiros. Elas geralmente veem a si mesmas como indignas da receptividade de seus parceiros, e não confiam nas intenções deles. Composto por crianças que tiveram experiências negativas para o desenvolvimento infantil adaptado apresentavam
comportamento contraditório para lidarem com a situação de separação. Na presença dos cuidadores, antes da separação, essas crianças exibem um comportamento constante de impulsividade, que envolve apreensão durante a interação, expressa por brabeza ou confusão facial, ou expressões de transe e perturbações.
Fonte: http://actinstitute.org/blog/teoria-do-apego-entenda-o-que-e-conheca-os-4-tipos-de-vinculo/
Leia também sobre Alimentação na ansiedade e depressão.
Balbi, Juan. (2011). La dimensión emocional humana y psicopatología. Disponível em http://juanbalbi.com/es/Articulo13.pdf
Bowlby, John. (1982). Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo:Martins fontes.
Dalbem, J. X.; Dell’aglio, D. D.(2005) Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 57, n. 1, p. 12-24.
Mielke Fb, Kohlrausch E, Olschowsky A, Schneider JF. (2010). A inclusão da família na atenção psicossocial: uma reflexão. Rev. Eletr. Enf. 2010 out/dez;12(4):761-5.
Rey, Fernando González. (2011). Subjetividade e saúde: superando a clínica da patologia. São Paulo: Cortez.
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