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Solidão na Terceira Idade: Impactos na Saúde Mental e Como Ajudar

14 de outubro de 2024
* Texto por Helen Lima, em entrevista à Dra. Natália Salgado, psicogeriatra.

Solidão na Terceira Idade: Impactos na Saúde Mental e Como Ajudar

O isolamento social é uma triste realidade para muitos idosos, e seus impactos na saúde mental podem ser profundos. Sensibilizar a sociedade para esse tema é crucial, especialmente diante do aumento de pessoas mais velhas no Brasil. O Censo 2022 aponta que a população com mais de 60 anos chegou a 31,2 milhões, representando 14,7% dos brasileiros e marcando um aumento de 39,8% de idosos entre os anos de 2012 a 2021.

Condições físicas e cognitivas contribuem significativamente para a solidão entre os idosos. De acordo com a Dra. Natália Salgado, psicogeriatra da Clínica Rezende, a perda da autonomia e da independência causada por doenças como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e por distúrbios mentais como a Demência fazem com que a pessoa se torne dependente e perca o interesse por atividades que antes eram prazerosas. Ela cita, por exemplo, o medo de quedas.

“Esse medo gera uma ansiedade no idoso e faz com que ele evite sair de casa. Dessa forma, ele deixa de se encontrar com as pessoas, de frequentar a igreja, de se manter ativo numa atividade física, de se estimular cognitivamente ao fazer uma compra ou dirigir, por exemplo. Então, as doenças que levam a um impacto, seja na autonomia ou na independência, vão acarretar uma perda funcional, e essa perda vai ter diversas consequências, entre elas, o isolamento”, explica.

Lidando com as despedidas

À medida que os anos passam, é natural que a morte se torne mais presente no dia a dia, e o luto frequente também pode impactar a saúde psicológica dos idosos. “Seria importante que a nossa sociedade soubesse trabalhar com a finitude da vida, abordando os aspectos filosóficos relacionados a essa questão”, destaca a psicogeriatra, pontuando que um luto complicado pode ser fator de risco para transtornos mentais como depressão e ansiedade. Esses transtornos, se não tratados adequadamente, podem levar a atos extremos, como a tentativa de suicídio.

Os dados sobre o suicídio entre idosos são alarmantes. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2019, a taxa de brasileiros acima de 60 anos que tiraram a vida aumentou de 68 para 78 a cada 100 mil habitantes. De acordo com artigo publicado pela Escola de Enfermagem (EE) da USP, o suicídio entre idosos é 47% maior do que o restante da população, com um aumento significativo entre homens acima de 70 anos. A Dra. Natália alerta que os “3Ds” – desamparo, desespero e desesperança – são sinais de que o idoso pode estar em risco.

O que pode ser feito?

Um bom primeiro passo para promover o bem-estar mental dos idosos é o rompimento de certos paradigmas. “Muitas vezes a sociedade ocidental, com destaque para o nosso país, entende que envelhecer é sinônimo de entristecer, ficar deprimido, irritado e rabugento, mas isso não é verdade”. Esses sinais indicam adoecimento mental e podem ser tratados com o acompanhamento de um profissional especializado, destaca a psicogeriatra.

Além de um eventual suporte clínico e psicológico, uma rede de apoio presente pode ajudar a evitar a solidão e o desenvolvimento de transtornos mentais entre os mais velhos. Familiares, amigos e cuidadores desempenham um papel essencial ao manter o idoso ativo e integrado socialmente. Programas comunitários, como grupos de apoio e atividades espirituais, são boas alternativas. O avanço da tecnologia também tem ajudado os mais velhos a manter vínculos, através do uso de redes sociais e chamadas de vídeo, por exemplo.

A Dra. Natália Salgado ressalta que promover o envelhecimento bem-sucedido envolve ainda a implementação de políticas públicas que incentivem a interação social, o lazer, a atividade física, a oferta de oficinas de capacitação para o uso de novas tecnologias e o acesso a tratamentos de saúde mental para os idosos. Como ela bem conclui, “envelhecer não significa, de forma alguma, adoecer”.

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