* Por Ana Carolina Meneghin
Crises epilépticas e Epilepsia na infância
A ocorrência de uma crise epiléptica gera angústia, temor e insegurança nos responsáveis por uma criança, sejam familiares, cuidadores ou professores. O primeiro passo para conviver melhor com essa situação é compreendê-la.
Cerca de 10% da população mundial pode apresentar pelo menos uma crise ao longo da vida e o diagnóstico de Epilepsia está presente em 1 a 2% dos indivíduos vivos. Trata-se de uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns na infância, afetando 0,5 a 1% dos indivíduos dessa faixa etária.
Diferença entre crise epiléptica e Epilepsia
Primeiramente, é importante entender que crise epiléptica e Epilepsia são condições diferentes.
Crise epiléptica é um episódio caracterizado por sinais e/ou sintomas transitórios que, em geral, dura de poucos segundos a cinco minutos, decorrente de uma atividade cerebral anormal temporária. As crises podem se manifestar de várias formas, dependendo de fatores como sua causa e a localização dessa anormalidade neuronal.
Já Epilepsia é uma doença crônica caracterizada pela predisposição persistente do cérebro de gerar crises epilépticas. Logo, Epilepsia é uma patologia que necessita acompanhamento e tratamento especializado regular, individualizado e, por tempo, inicialmente, indefinido. Trata-se de condição muito diversa, com particularidades para cada etiologia e, muitas vezes, para cada paciente.
Portanto, nem toda criança que apresentou uma crise epiléptica terá o diagnóstico de Epilepsia, já que para isso é necessário haver a possibilidade de recorrência das crises, o que será avaliado clinicamente e também através de exames complementares, como o eletroencefalograma e a ressonância magnética de crânio.
Comumente, associamos Epilepsia ao termo ‘convulsão’, que na realidade é um termo leigo utilizado para descrever o padrão mais clássico de crise epiléptica – aquele que classicamente é representado em filmes e afins -, caracterizado por alteração do nível de consciência (em geral, ausência de resposta a estímulos externos) e presença de movimentos involuntários envolvendo os membros superiores e inferiores.
No entanto, como mencionado acima, crises epilépticas podem se manifestar de diversas formas, podendo gerar dúvidas tanto nos responsáveis quanto nos profissionais de saúde. Atualmente, a facilidade em registrar um episódio paroxístico anormal através de vídeos realizados por câmeras de smartphones é de grande valia nessa caracterização.
Para ampliar o conhecimento acerca do assunto, seguem abaixo alguns padrões mais comuns de crises na infância:
- Crise convulsiva: perda da consciência acompanhada por movimentos repetitivos envolvendo braços e pernas, perda do controle esfincteriano, sialorreia e cianose perilabial. Frequentemente relatada como ‘caiu no chão e se debateu’, ‘desmaiou e se debateu’.
- Crise de ausência: perda de contato com o meio, podendo estar acompanhada de piscamento, movimentos oromandibulares, com duração de segundos e não acompanhada de queda ao chão. Frequentemente relatada como ‘sai do ar, fica desligado’. Por serem muito breves, podem demorar a ser percebidas.
- Crises focais (aquelas em que a atividade cerebral anormal se inicia em uma rede neuronal limitada a uma determinada região cerebral. A localização dessa atividade anormal influencia diretamente na manifestação clínica da crise): movimento involuntário ou alteração da sensibilidade envolvendo um membro ou um lado do corpo; alteração da fala; alteração visual; entre outros. Podem ser relatadas como ‘o braço ficou mexendo sozinho’, ‘o lado direito ficou formigando’, ‘a fala ficou embolada’.
Importante relembrar que os sintomas acima descritos apresentam início súbito, duram poucos minutos e, podem ser seguidos por sonolência e/ou confusão mental que não demoram a melhorar.
Caso presencie uma possível crise epiléptica manter a calma é fundamental para garantir a segurança da criança. Algumas atitudes são importantes nesse momento como:
- Proteger a cabeça da criança com as mãos;
- Retirar objetos de perto da criança para evitar que se machuque;
- Colocar a cabeça da criança levemente de lado para evitar bronco aspiração;
- Não colocar nada na boca da criança;
- Se possível, marcar o tempo de duração da crise: aproximando-se de 5 minutos, um serviço de transporte de urgência deve ser acionado.
Percebendo qualquer um dos sintomas acima, uma consulta com neurologista infantil de confiança pode ser necessária para uma avaliação adequada da criança e esclarecimentos.