* Por Luiza Junqueira
Quando falamos em Obesidade, várias ideias e imagens vêm à nossa mente. A maioria baseada em conceitos antigos ou influenciados pelo que vemos nas mídias e redes sociais que tratam a condição clínica de forma pejorativa.
Obesidade é uma doença crônica
Primeiramente, é importante destacar que a Obesidade é uma doença crônica, multifatorial, associada a várias outras doenças e que reduz a expectativa de vida. Ela tem uma importante base genética combinada com fatores ambientais relacionados ao meio em que vivemos. A base genética da doença não pode ser alterada, mas podemos atuar orientando mudanças dos hábitos de vida saudáveis, utilizando recursos terapêuticos como medicamentos e cirurgia. Assim, entendendo os mecanismos fisiopatológicos, tratamos a doença embasados em evidências científicas.
Neste ano de 2022, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) nos trouxe a campanha “Conhecimento, cuidado e respeito”, com o foco em ampliar o conhecimento sobre a Obesidade, para assim reduzir o preconceito e levar a melhoria no cuidado às pessoas. O foco é em combater a Obesidade e não a pessoa com Obesidade.
Em uma pesquisa on-line realizada pela ABESO, 85,3% dos participantes com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) relataram ter sofrido constrangimento por causa do seu peso. E desses, 60% referiram ter sofrido algum preconceito dentro do consultório médico, mostrando não só a falta de conhecimento pela população, como o despreparo de profissionais que lidam com esses pacientes.
Respeitar os tipos de corpos
O combate à Gordofobia não significa apologia ao excesso de peso. Significa respeitar os diferentes tipos de corpos, não almejar metas irrealistas e baseadas em padrões de beleza impostos, refutar qualquer tipo de preconceito, para assim poder tratar a Obesidade sem estigmas.
Afirmar que uma pessoa com Obesidade tem “preguiça”, “falta de força de vontade”, “que precisa mudar a cabeça” é uma forma muito preconceituosa de tratar a doença, negando as alterações metabólicas, hormonais e de neurotransmissores que ocorrem no organismo. Esse tipo de preconceito pode levar ao atraso na procura do tratamento médico adequado, à automedicação, à busca por terapias milagrosas sem evidências cientificas com risco à saúde, além de interferir diretamente na autoestima e saúde mental.
Diante uma pessoa com qualquer doença, devemos respeitar e acolher. O objetivo do tratamento da Obesidade não é atingir um determinado número na balança, mas sim melhorar a saúde e qualidade de vida. Impor metas pode causar frustrações, uma vez que cada organismo funciona de uma forma. Perdas de peso sustentadas de 10-15% já levam à melhora da saúde, mesmo que o paciente ainda tenha excesso de peso.
O objetivo da campanha, apoiado pelos profissionais de saúde que tratam a Obesidade, é levar conhecimento, sempre com respeito, para assim poder oferecer um tratamento multidisciplinar sério e impactar positivamente na saúde individual e pública.
REFERÊNCIAS:
Tomiyama AJ, Carr D, Granberg EM, Major R, Robinson E, Sutin AR et al. How and why weight stigma drives obesity epidemic and harms health. BMC Med 2018; 16(1): 123.
Ochner CN, Tsai AG, Kushner RF, Wadden TA. Treating obesity seriously: when recommendations for lifestyle change confront biological adaptations. Lancet Diab End 2015; 3(4): 232-4.
Cartilha: Obesidade e a Gordofobia. Percepções 2022. ABESO / SBEM.