O que é Nutrologia?

É o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Clique para ler mais.

* Por Luiza Junqueira Villar

Reconhecida como especialidade médica em 1978, a Nutrologia é o ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos, normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Por definição, a Nutrologia é a especialidade clínica que tem como função fazer o diagnóstico, a prevenção e o tratamento das enfermidades nutroneurometabólicas.

O médico nutrólogo se especializa através da residência médica em Nutrologia ou tem título de especialista por aprovação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Ou seja, só podem ser intitulados Nutrólogos aqueles que possuem Registro de Qualificação de Especialista (RQE) junto ao Conselho Federal de Medicina.

Importante destacar que práticas como Ortomolecular, Anti-aging, Nutriendocrinologia ou Medicina Integrativa não fazem parte da Nutrologia e não são sequer são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.

Então como atua o Nutrólogo?

O médico nutrólogo estuda, pesquisa e avalia os benefícios e malefícios causados pela ingestão de nutrientes, aplicando esse conhecimento para a avaliação das necessidades orgânicas, visando a manutenção da saúde e redução do risco de doenças.

Pode, ainda, identificar possíveis erros alimentares e hábitos de vida inadequados, auxiliando em mudanças importantes em benefício da saúde, contribuindo para uma longevidade saudável e melhora da qualidade de vida.

O Nutrologo pode atuar tanto em Clínicas/Consultórios como em Hospitais, sempre como parte de uma equipe Multidisciplinar.

No atendimento Clínico, são atendidas as seguintes situações:

– Pacientes saudáveis que desejam melhorar hábitos dietéticos e de vida;

– Sobrepeso;

– Obesidade em todos os graus;

– Acompanhamento antes e após realização de cirurgia bariátrica;

– Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP);

– Bulimia, Anorexia, Síndrome do Comer Noturno, Vigorexia, Ortorexia: aspectos nutrológicos;

– Aspectos nutrológicos da ansiedade e depressão;

– Pacientes que serão ou foram submetidos a cirurgias;

– Pacientes oncológicos (em tratamento de câncer);

– Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral, gastrostomia ou jejunostomia ou por via endovenosa (parenteral);

– Pré-Diabetes e Diabetes;

– Dislipidemias: hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e hipertrigliceridemia (aumento do triglicérides);

– Síndrome metabólica;

– Esteatose hepática não-alcóolica (gordura no fígado);

– Alergias e intolerâncias alimentares;

– Anemias carenciais;

– Vegetarianismo;

– Doenças inflamatórias intestinais (Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa);

– Síndrome do intestino irritável;

– Sarcopenia (baixa quantidade de músculo);

– Orientações nutrológicas para cardiopatias, pneumopatias, hepatopatias, nefropatias;

– E outras.

Sobre a avaliação do paciente

Para avaliar um paciente, o médico nutrólogo realiza a anamnese (conversa em que conhece a história do paciente e seus hábitos alimentares e de vida); o exame físico completo; avaliação antropométrica com aferição de altura, peso, principais medidas e circunferências do corpo; avaliação da composição corporal através da Bioimpedância Elétrica; avaliação da capacidade funcional por meio de testes de força tais como dinamometria e testes funcionais; solicita exames laboratoriais e radiológicos complementares de acordo com cada situação.

A partir do diagnóstico definido, o tratamento é individualizado podendo ser feito por orientações alimentares específicas, prescrição de suplementos nutricionais ou prescrição de medicamentos.

Dessa forma, o médico nutrólogo atua em diversas áreas da medicina, abordando o aspecto nutrológico de cada doença, em conjunto com os colegas médicos e equipe multidisciplinar.

O impacto do uso precoce e excessivo de telas no desenvolvimento infantil

Alguns estudos já apontaram para a maior frequência de atrasos no desenvolvimento cognitivo, psicológico e de linguagem em crianças que consomem telas de forma excessiva…

* Por Ana Carolina Meneghin

O impacto do uso precoce e excessivo de telas no desenvolvimento infantil

Nos últimos anos, estamos vivendo uma explosão de novas tecnologias de comunicação e informação, que se tornaram parte integral e, muitas vezes, indispensável da vida cotidiana. A exposição a essas tecnologias tem ocorrido em idades cada vez mais precoces e com mais intensidade, o que se acentuou a partir da pandemia da COVID-19, com o home office, as aulas remotas e o, já frequente, uso como entretenimento. Apesar dos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, existem claros impactos negativos no seu consumo excessivo, principalmente no desenvolvimento infantil.

Os primeiros dois anos de vida de uma criança são de extremo amadurecimento em diversos domínios: visual, motor, de coordenação, da cognição, da linguagem e da socialização. A aquisição de novas habilidades é diária e, muitas vezes, impressionante. O cérebro encontra-se em pleno desenvolvimento, respondendo a estímulos externos e internos, estabelecendo novas conexões sinápticas, amadurecendo outras e modelando sua arquitetura de forma a permitir a obtenção e a manutenção dessas habilidades. Nesse momento, é fundamental a exposição a experiências diversas, a ampliação dos estímulos externos e, principalmente, a construção de vínculos afetivos entre criança-cuidador, através do cuidar, do olhar, do compartilhar e do brincar.

No entanto, é cada vez mais frequente que crianças com menos de um ano de idade sejam expostas ativa e passivamente aos conteúdos digitais presentes nos diversos gadgets eletrônicos disponíveis (smartphones, tablets, smartvs, notebooks e videogames). Cuidadores reportam como possíveis fatores associados a apresentação de telas nessa faixa etária a ausência de alternativas de entretenimento com preço acessível, a exaustão parental, a necessidade de tempo para realizar tarefas domésticas e pessoais e a crença de um potencial educativo de determinados programas digitais. Com relação a essa última justificativa, estudos já demostraram que por mais que o conteúdo seja de alta qualidade e apropriado para a idade, a capacidade de aprendizado de uma criança é muito maior quando o conteúdo é transmitido cara-a-cara, baseado na interação e no compartilhamento, estimulando o desenvolvimento da linguagem, da capacidade de socialização e de percepção de emoções. Inclusive pesquisas apontam que quando os cuidadores assistem aos programas junto com as crianças e interagem com elas dentro do contexto veiculado, a retenção das informações potencialmente educativas neles contidas é maior, sugerindo que é importante para a criança a transposição daquele conhecimento para o mundo real e então, sua aplicação na vida cotidiana. Ou seja, o compartilhamento de experiências com outras pessoas faz parte do processo de aprendizado natural.

Alguns estudos já apontaram para a maior frequência de atrasos no desenvolvimento cognitivo, psicológico e de linguagem em crianças que consomem telas de forma excessiva. Esses atrasos se tornam ainda mais evidentes quando o conteúdo consumido não é de alta qualidade, interferindo principalmente no desenvolvimento das funções executivas como o controle de impulsos, a autorregulação e a flexibilidade mental. Outra habilidade que também tem seu desenvolvimento comprometido é a capacidade de atenção, uma vez que, assim como os adultos, as crianças são submetidas a novos estímulos constantemente durante o uso de telas e, portanto, a atenção é frequentemente fragmentada, podendo até mesmo comprometer a compreensão daquele conteúdo. Um estudo publicado na revista JAMA Pediatrics em 2019 encontrou uma pior performance em testes de screening comportamentais, cognitivos e sociais em crianças que passaram mais tempo por semana em uso de telas. Outras pesquisas com crianças entre 6 e 18 meses de vida apontaram um maior risco de reatividade emocional, comportamentos disfuncionais, dificuldades de autorregulação e comportamentos agressivos diante de um uso em demasia de telas.

Uma consequência mais óbvia desse hábito é o aumento do tempo de inatividade física, trazendo como maior risco de desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Ao mesmo tempo, uma revisão publicada no British Medical Journal em 2019, apontou para uma associação entre o maior consumo de alimentos ultraprocessados e a maior quantidade diária de calorias ingeridas ao uso excessivo de telas. Nesse ponto, é interessante salientar o impacto das frequentes propagandas veiculadas nos programas infantis relacionadas a esses alimentos, considerando-se a maior vulnerabilidade dessa faixa etária aos apelos do marketing. Além do impacto na saúde global – risco de elevação dos níveis da pressão arterial e dos níveis de colesterol e glicose sanguíneos -, a redução da prática de atividades físicas traz impactos negativos no desenvolvimento das habilidades de coordenação motora e de força e, propicia o surgimento de queixas como cervicalgia, lombalgia e cefaleia. Essa mesma revisão encontrou melhores desfechos na cognição e na saúde mental de adolescentes que praticaram pelo menos uma hora de atividade física por dia, tiveram de 8 a 10 horas de sono por dia e utilizaram telas como entretenimento por menos de duas horas diárias.

Cabe ainda pontuar a interferência na qualidade e na quantidade de sono, o que repercute de forma considerável na qualidade de vida e no desempenho acadêmico das crianças. Estudos apontam para a redução do número de horas de sono relacionada à presença de telas no quarto e ao excesso do seu consumo, principalmente no período noturno. Um dos mecanismos implicados nessa redução é a supressão da melatonina endógena pela luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos. Ademais, o consumo de conteúdos violentos ou inapropriados pode favorecer a ocorrência de pesadelos. Por conseguinte, uma má qualidade de sono ocasiona sonolência diurna, impacta na capacidade de memorização e concentração, podendo reduzir o rendimento nas atividades diurnas.

Diante das evidências dos possíveis prejuízos relacionados ao consumo excessivo de telas e, considerando que o consumo de conteúdos digitais é parte do cotidiano atual de nossa sociedade, é importante que crianças e adolescentes recebam uma educação quanto ao seu uso saudável e responsável tanto no ambiente domiciliar quanto no escolar. Abaixo seguem algumas recomendações de acordo com publicações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da American Academy of Pediatrics:

  • salientar a importância da supervisão, regulação e engajamento parental durante as atividades exercidas por crianças e adolescentes online.
  • evitar a exposição a telas antes dos dois anos de idade. Caso seja interesse dos cuidadores introduzir crianças entre 18-24 meses aos conteúdos digitais, orientar sobre a necessidade de escolher programas de alta qualidade e de compartilhar este momento com elas para que o conteúdo seja melhor compreendido e, posteriormente, aplicado no seu cotidiano.
  • limitar o tempo de tela a uma hora por dia para crianças entre 2 e 5 anos, mantendo a orientação da supervisão e da seleção dos programas.
  • estabelecer limites consistentes quanto ao tempo e ao tipo de mídia digital para crianças acima de 6 anos, garantindo que esse uso não interfira na qualidade de sono, na realização das atividades escolares e na prática de atividades físicas.
  • estabelecer momentos de convivência ‘livre de telas’, como durante as refeições e trajetos de carro.
  • estabelecer cômodos onde seu uso de telas deve ser evitado, como nos quartos.
  • evitar o uso de telas cerca de duas horas antes de se deitar.
  • oferecer alternativas de atividades de lazer, procurando estimular aquelas em conjunto e ao ar livre.
  • dialogar e orientar sempre quanto a necessidade do respeito e da ética dentro das mídias, dos cuidados com os conteúdos postados e do questionamento da veracidade das informações compartilhadas.

Referências

American Academy of Pediatrics Announces New Recommendations for Children’s Media Use. https://services.aap.org/en/news-room/news-releases/aap/2016/aap-announces-new-recommendations-for-media-use/ Acesso em 25/06/2021.

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Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital. #Menos Telas #Mais Saúde. Manual de Orientação. Sociedade Brasileira de Pediatria. Dezembro de 2019.

Guerreiro MD et al. 24-Hour Movement Behaviors and Impulsivity. Pediatrics, Vol 144, No 3, 2019.

LeBourgeois MK et al. Digital Media and Sleep in Childhood and Adolescence. Pediatrics, Vol. 140, No s2, 2017.

Madigan S et al. Association Between Screen Time and Children’s Performance on a Developmental Screening Test. JAMA Pediatrics, Vol 173, No 3, 2019.

Martin-Biggers J et al. Beliefs and Barriers to Limiting Screentime Behaviors by Parents of Preschoolers. Journal of Nutrition Education and Behavior, Vol 47, No 4, 2015.

Domingues-Montanari S. Clinical and psychological effects of excessive screen time on children. Journal of Paediatrics and Child Health, 2017.

Stiglic N, Viner RM. Effects of screentime on the health and well-being of children and adolescents: a systematic review of reviews. BMJ Open, Vol 9, No 1, 2019.

Walsh JJ et al. Associations between 24 hour movement behaviours and global cognition in US children: a cross-sectional observational study. The Lancet Child & Adolescent Health, Vol 2, No 11, 2018.