Fevereiro Roxo: Se não houver cura, que no mínimo haja conforto

A campanha do Mês Roxo visa a conscientização e o melhor entendimento das doenças: Alzheimer, Lúpus e Fibromialgia…

* Por Dra. Natalia Salgado

Você já ouviu falar em Fevereiro Roxo?

A campanha do Fevereiro Roxo visa a conscientização e o melhor entendimento das doenças: Alzheimer, Lúpus e Fibromialgia. Doenças que tem em comum o seu caráter crônico devido a falta de cura, mas que não significa a falta de controle dessas patologias. Tem como lema “SE NÃO HOUVER CURA, QUE NO MÍMINO HAJA CONFORTO”.

Como Psicogeriatra vou focar especificamente na Doença de Alzheimer, trazendo algumas informações sobre essa patologia.

ALZHEIMER

A Doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum entre as demências. O principal fator de risco para o seu aparecimento é a idade. Assim, quanto maior a idade maior a chance de termos essa demência. Não é novidade que o mundo, e o Brasil, passa por um processo importante de envelhecimento populacional, assim a incidência e prevalência dessa demência cresce de forma importante. Outros fatores de risco também estão relacionados com o aparecimento dessa condição como : baixa escolaridade, diabetes, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, depressão , histórico familiar de Alzheimer, perda auditiva e visual entre outros.

A demência devido a Doença de Alzheimer tem início lento, mas evolui de de forma gradual, progressiva ao longo do tempo, com média variável de 8 anos de sobrevida após o seu  diagnostico. É uma doença neurodegenerativa, em que regiões cerebrais específicas se atrofiam devido processos complexos de depósito e acúmulo  de proteínas  anômalas.

A maioria das pessoas diagnosticadas com Demência de Alzheimer têm 65 anos ou mais , mas algumas podem ter a apresentação pré-senil (antes de 65 anos).

Essa demência  se apresenta com prejuízos cognitivos , comportamentais e funcionais a seu portador , e com impacto físico e mental importante aos seus cuidadores – familiares e a toda a sociedade.

A apresentação clássica, e mais comum,  dessa demência é o comprometimento da memória e da aprendizagem , que se manifestam de várias formas e gravidade ao longo da progressão da doença. Em quadros iniciais o seu portador pode ter dificuldades em recordar acontecimentos recentes, dificuldades para lembrar de datas, compromissos, e de esse recordar de atividades de sua rotina como pagamento de contas e uso de medicações. Podendo evoluir para dificuldades de reconhecer familiares, reconhecer sua casa, apresentar desorientação espacial,  comprometimento na linguagem, na resolução de problemas e na tomadas de decisão, entre tantos outros declínios cognitivos.

A doença pode apresentar  também alterações comportamentais como irritabilidade, agitação psicomotora, depressão, distúrbios do sono, e agressividade. Trazendo desgaste a todos que diretamente estão em contato com esse doente.

Não existe tratamento que visa a cura da doença de Alzheimer. Hoje utilizamos medicamentos que têm como objetivo melhorar a qualidade de vida do paciente , proporcionado controle de sintomas cognitivos e comportamentais, que consequentemente melhoram a funcionalidade para a realização de atividades diárias de vida, trazendo uma maior autonomia ao seu portador e menor sobrecarga aos cuidadores- familiares.

Aliado ao tratamento medicamentoso, existem várias técnicas de abordagens comportamentais adotas pelos cuidadores- familiares para  o melhor manejo das alterações comportamentais advindas dessa enfermidade . Associação Brasileira de Alzheimer ) , estou a disposição para maiores informações.

O diagnóstico muitas vezes não é simples  de ser feito, principalmente nas fases leves da doença, pois outros  transtornos psiquiátricos podem cursar com alterações cognitivas (mais especificamente na memória) como a depressão por exemplo. A busca pelo diagnóstico deve ser feita por profissionais habilitados por meio da avaliação médica criteriosa, avaliações cognitivas  feitas  por neuropsicológos e exames como os de Neuroimagem. Existem outros métodos diagnósticos mais complexos (uso de biomarcadores)  e caros , muitas vezes são utilizados em centro de pesquisas como nas Universidades.

A importância de um diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer envolve criar estratégias  (medicamentosa e comportamental ) de cuidado e o entendimento de todos os indivíduos diretamente envolvidos nessa patologia, com objetivo de lidar com essa doença de forma mais segura e clara, apesar de sua vasta complexidade e inestimáveis impactos social, funcional e emocional.

Existem associações formadas por profissionais de saúde , pacientes,  cuidadores – familiares com o objetivo de trocas de informações e de experiências por meio de grupos de apoio e de psicoeducação , proporcionando uma melhor compressão da dinâmica dessa doença e um espaço de acalento também . Aqui em Juiz de Fora , contamos com uma regional mineira da  ABRAz ( Associação Brasileira de Alzheimer ) , estou a disposição para maiores informações.

Transtorno do pânico

O que você precisa saber sobre Transtorno do Pânico.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

O que é transtorno do pânico?

O Transtorno do Pânico se caracteriza pela ocorrência de sintomas intensos de ansiedade (ataques ou crises de pânico), que geram bastante medo e desconforto, e podem acontecer de repente, em qualquer local ou situação.

Características do DSM-5*

O Transtorno do Pânico se refere à ocorrência de ataques de pânico inesperados e recorrentes, definidos como um surto abrupto de medo ou desconforto intensos que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem sintomas físicos e mentais associados à ansiedade e medo.

Sintomas físicos:

Palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar, desconforto torácico, náuseas, sensação de tonteira ou desmaio, calafrios ou ondas de calor, sensação de formigamento.

Sintomas mentais:

Sensação de morte iminente, medo de sofrer um ataque cardíaco, de perder o controle ou enlouquecer.

Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou ambas as seguintes características:

  1. preocupação persistente sobre a possibilidade de ter novos ataques ou sobre suas consequências;
  2. mudanças comportamentais significativas.

Após o início, os sintomas atingem um pico em até 10 minutos e tem duração autolimitada, geralmente menos de uma hora, muitas vezes alguns minutos.

Por conta de todo esse desconforto, a pessoa começa a evitar alguns lugares e situações, por medo de ter novas crises de pânico. A principal informação para quem teve uma crise de pânico é a certificação de que, apesar de muito desagradáveis desconfortáveis, as crises não são tão perigosas como a pessoa chega a imaginar.

As manifestações de um ataque de pânico fazem parte da ativação de um sistema de defesa do organismo para lidar com situações de risco, serve para nos alertar e proteger, ou seja, tem uma função que preza pela nossa sobrevivência. No Transtorno do Pânico esse sistema parece estar “desregulado”, sendo ativado sem uma real necessidade, como se fosse um “alarme falso”.

O tratamento do Transtorno do Pânico se baseia no uso de medicações e em abordagens psicoterápicas. O objetivo do tratamento não é apenas suprimir as crises de pânico, mas também reduzir as evitações fóbicas, a ansiedade antecipatória e a hipervigilância em relação aos sintomas corporais de ansiedade.

Como os pensamentos influenciam no Transtorno do Pânico?

Diante de um evento da nossa vida, a maneira como avaliamos essa situação influencia diretamente na forma como sentimos, nos comportamos e como nosso corpo reage por meio de reações fisiológicas.         No entanto, se por algum motivo fazemos uma interpretação não adequada das situações, ou até de nossas sensações, teremos reações emocionais, comportamentais e fisiológicas coerentes com essa avaliação errônea, ou seja, sofremos sem ter uma real necessidade.

No Transtorno do Pânico há uma tendência de direcionar a atenção para as sensações, e os pensamentos que se costuma ter sobre as sensações geralmente são catastróficas, antecipando os piores desfechos possíveis, tais como “estou morrendo”, “não vou aguentar”. Essas interpretações sobre perigo aumentam ainda mais a ansiedade, gerando um ciclo de pensamentos negativos, embora as situações temidas nunca se concretizem.

Como o problema pode estar sendo mantido?

A experiência de ansiedade intensa e as ideias de morte, loucura ou perda de controle de uma crise de pânico geram grande desconforto. Assim, a repetição das crises gera uma ansiedade antecipatória e medo das consequências de novas ocorrências, o que pode levar a diversas evitações (como não sair de casa). No entanto, esse comportamento traz um conforto apenas imediato, mas isso reforça ainda mais o transtorno, pois você aprende que se livrar das situações é a maneira com que pode se pode lidar com as sensações, além de se sentir cada vez mais incapaz de enfrentar o problema.

Um outro fator que também contribui para a manutenção do quadro é a forma como se interpreta as sensações corporais. Se a interpretação for de perigo, o corpo irá reagir provocando as manifestações de ansiedade como mecanismo de proteção, e aí uma crise de pânico pode acontecer.

Não aceitar ou entender que as sensações podem acontecer é o que faz com que você tente evitar qualquer ocorrência de ansiedade. Mas viver sem ansiedade é impossível, pois ela faz parte das características dos seres humanos.

Como lidar com o Transtorno do Pânico?

Durante o tratamento com base cognitivo-comportamental, você aprenderá algumas estratégias de como lidar com o Transtorno do Pânico:

 

  • Aceitação da ansiedade: deve-se aceitar as próprias sensações, não tentando afastá-las. Ao resistir, haverá uma tendência de prolongar ainda mais o desconforto.
  • Manejo dos sintomas: deve-se aprender estratégias para lidar com os sintomas, ou seja, treinar seu corpo para tentar diminuir a ativação provocada pela ansiedade. Por exemplo, utilizando técnicas de respiração.
  • Questionar pensamentos: deve-se relativizar a maneira como você pensa acerca das sensações, questionando a validade dos seus pensamentos, buscando se basear em evidências. Você já parou para se perguntar se tudo o que você teme realmente acontece?
  • Enfrentamento: deve-se desenvolver estratégias para lhe ajudar a enfrentar as situações que costuma evitar, de forma gradual e no seu tempo. Vai descobrir que o enfrentamento é o que realmente diminui o seu medo e não a evitação.

Muitas pessoas acreditam que nunca mais conseguirão ficar bem dos sintomas do Transtorno do Pânico. De fato, é muito difícil vivenciar sensações e medos tão desconfortáveis, mas o tratamento ocorre de forma gradual, de acordo com os limites que você determinar e, aos poucos, você ganhará mais autoconfiança para permanecer em constante melhora, sentindo-se cada vez mais capaz.

Sugestão de leitura: Vencendo o pânico – Manual do cliente. Autores: Bernard Rangé e Angélica Borba. Editora Cognitiva, 2019.

* DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders): Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 5ª edição, publicado em 2013, é um manual elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria para auxiliar no diagnóstico dos transtornos mentais.

Referência bibliográfica:

Este texto foi baseado na seguinte referência:

CARVALHO, M.R.; DIAS, T.R.S. Capítulo 1 – Transtorno de pânico. In: CARVALHO, M.R.; MALAGRIS, L.E.N.; RANGÉ, B.P. Psicoeducação em Terapia Cognitivo-Comportamental. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2019.

Você sabe o que é Psicoeducação?

É uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua doença e todo o processo de tratamento.

* Por Dr. Alexandre de Rezende

Você sabe o que é Psicoeducação?

A Psicoeducação é uma abordagem terapêutica que busca desenvolver no paciente, assim como em seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre sua doença e todo o processo de tratamento.

Dessa maneira, quanto mais informada estiver uma pessoa acerca de sua condição de saúde física e mental, sobre seu funcionamento (cognitivo, emocional e comportamental) e sobre a forma como pode ser conduzido seu tratamento, mais ela estará pronta para participar ativamente do processo de mudança (Lukens & McFarlene, 2004). Então, os pacientes começam a melhorar quando começam a entender sua forma de reagir e funcionar, a aprender a resolver problemas e a desenvolver um repertório de estratégias que eles mesmo podem aplicar.

Pode-se dizer que a Psicoeducação é uma importante estratégia dentro de uma perspectiva cognitivo-comportamental. Isso porque a terapia cognitivo-comportamental baseia-se no pressuposto de que os pacientes podem aprender estratégias para modificar pensamentos e crenças, manejar estados emocionais e modificar de forma produtiva seu comportamento.

Por exemplo: um paciente com crises de pânico, muito angustiado e preocupado com a possibilidade de estar com um grave problema cardíaco, tende a se acalmar quando descobre que aquelas crises estão inseridas no transtorno do pânico e aprende a lidar com essas ocorrências e com os medos e evitações por elas desencadeados.

A Psicoeducação está entre as práticas baseadas em evidências mais eficazes tanto em ensaios clínicos como em contextos comunitários (Lukens &McFarlene, 2004). Num estudo com 101 indivíduos com transtorno bipolar, aqueles que participaram do grupo de tratamento por psicoeducação, além do tratamento padrão, mostraram menos recaídas em geral, períodos mais longos sem sintomas, menos sintomas e mais adesão à medicação (Miklowitz et al., 2003).

Psicoeducação: como aplicar?

São apontados alguns princípios gerais que podem nortear a aplicação da psicoeducação, sobretudo no contexto da terapia cognitivo-comportamental (Wright et al., 2010):

  1. adaptação da psicoeducação à capacidade dos pacientes de compreender e processar informações.
  2. fornecimento de explicações claras e breves, com ênfase colaborativa, com a utilização de materiais escritos facilitadores.
  3. incentivo à participação do paciente.
  4. solicitação de feedback, de forma a verificar o entendimento do conteúdo apresentado.
  5. recomendações de leituras específicas, pesquisas ou outras atividades educativas como tarefa de casa.

Então, na Psicoeducação podem ser recomendados textos, livros, vídeos, filmes, sites, programas de computador e aplicativos de celular. É sempre importante que o material para a leitura seja conciso e não extenso.

A família do paciente ou cuidadores podem ser inseridos no processo de psicoeducação. Em relação à psicoeducação familiar, algumas metas são importantes:

  • promoção da aceitação familiar do transtorno psiquiátrico;
  • desenvolvimento de expectativas realistas em relação ao paciente;
  • explicações sobre intervenções farmacológicas e psicológicas;
  • reconhecimento de sinais precoces de recaídas e mudanças sintomatológicas.

A Psicoeducação também tem se mostrado efetiva no contexto de doenças físicas, pois o conhecimento sobre elas, suas possíveis causas, modos de controle e os efeitos colaterais das medicações, podem ajudar na adesão ao tratamento e no controle de patologias diversas. Assim, a Psicoeducação tem cada vez mais se destacado como uma importante estratégia no tratamento de diversas queixas e em uma variedade de contextos.

Para saber mais:

Carvalho, M.R., Malagris, L.E.N., & Rangé, B.P. (2019). Psicoeducação em terapia cognitivo-comportamental. Novo Hamburgo: Sinospys.

Referências bibliográficas:

Lukens, E.P. & McFarlane, W.R. (2004). Psychoeducation as evidence-based practice: Considerations for practice, research, and policy. Brief Treatment and Crisis Intervention, 4(3), 205-225.

Miklowitz, D.J., George, E.L., Richards, J.A., Simoneau, T.L., & Suddath, R.L. (2003). A randomized study of family-focused psychoeducation and pharmacotherapy in the outpatient management of bipolar disorder. Archives of General Psychiatry, 60, 904-912.

Wright, J.H., Basco, M.R., & Thase, M.E. (2008). Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: Um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed.