Por que falar sobre AVC?

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular.

* Por dra. eliza teixeira da rocha

Outubro é o mês escolhido para a Campanha Mundial de Conscientização do AVC. Porém, esse é um assunto que deve ser conversado diariamente com nossos pacientes, familiares e amigos. O motivo é que o AVC pode acontecer com qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Dados recentes da World Stroke Organization, organização internacional que coordena as ações de educação, prevenção e tratamento do AVC, demonstram que a cada 4 pessoas no mundo todo, uma terá um AVC ao longo de sua vida.

E mais, o AVC é a segunda causas de morte no mundo e a primeira causa de incapacidade. Portanto, é essencial reconhecer o AVC, saber que AVC tem tratamento e tomar medidas para prevenir o AVC. E é sobre isso que vamos conversar um pouco agora.

AVC

Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como Derrame, é o termo que define doenças que cursam com lesão súbita ao Sistema Nervoso Central, de causa vascular. Ou seja, ocorre por um distúrbio do suprimento sanguíneo, seja por redução ou ausência de fluxo sanguíneo. Seu conceito inclui AVC isquêmico que representa o tipo mais comum, e ocorre por obstrução de um vaso que irriga o cérebro e AVC hemorrágico, causado por sangramento dentro ou ao redor do cérebro, o que também determina uma redução do fluxo sanguíneo naquele local.

AVC tem tratamento?

Nos últimos 25 anos o AVC passou de uma doença sem tratamento, em que assistíamos à evolução natural sem poder fazer qualquer intervenção, para uma situação médica com tratamento efetivo, em que se consegue mudar a evolução natural dessa doença catastrófica.

Entre os tratamentos disponíveis está a Trombólise Intravenosa e Trombectomia Mecânica, que tem como objetivo destruir o coágulo que impede o fluxo sanguíneo no cérebro. Esse tratamento é aplicável apenas aos pacientes com AVC do tipo isquêmico. Porém é essencial para isso que o paciente seja levado rapidamente para um hospital! O tempo para se iniciar o tratamento desde o início dos sintomas são 4.5 horas para a Trombólise Intravenosa e um tempo um pouco maior para a Trombectomia Mecânica. Antes de se iniciar esse tratamento, é necessário avaliar vários critérios para definir se o paciente com AVC poderá receber esse tratamento. E para isso o hospital deverá contar com uma equipe especializada no tratamento de AVC. Mas independentemente do tempo dos sintomas, todos pacientes deverão ser levados para o hospital. Existem outros cuidados, tanto para AVC isquêmico como para o AVC hemorrágico que tem como objetivo reduzir o tamanho da área de lesão cerebral e logo reduzir as sequelas que essa doença poderá determinar. Além disso, será durante a internação que se iniciará a reabilitação e os exames para entender qual a causa do AVC.

Reabilitação é essencial. O paciente com algum déficit após um AVC poderá melhorar em semanas a meses. Mas para isso, o trabalho da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia são fundamentais. E quanto antes iniciado a reabilitação, maiores as chances de recuperação.

É importante entender o AVC como consequência de alguma perturbação no fluxo sanguíneo cerebral. Definir a causa dessa alteração do fluxo sanguíneo através de exames complementares, incluindo estudo cardíaco e vascular, é essencial para ser planejado um tratamento eficaz e seguro, com objetivo de reduzir o risco de um novo episódio de AVC.

Quais os sintomas de AVC?

E já que falamos que AVC é uma condição comum, que tem tratamento eficaz e precisa ser reconhecido rapidamente, quais são os sinais e sintomas que o paciente apresenta quando está apresentando um AVC? São eles: perda de força ou sensibilidade em face, braço, perna – principalmente quando apenas de um lado do corpo; fala confusa ou inapropriada; distúrbio da visão; alteração da maneira de caminhar, desequilíbrio, prejuízo na coordenação motora ou vertigem; dor de cabeça de forte intensidade sendo todos esses sintomas de início agudo, ou seja, que se iniciaram em poucos segundos a minutos. Na presença de qualquer um desses sintomas, o SAMU deverá ser acionado pelo telefone 192. Aja rápido! Tempo é cérebro! Não fique em casa! Procure um hospital!

Como prevenir o AVC?

Porém, ainda mais importante que tratar o AVC, é prevenir que ele aconteça. Um grande estudo que aconteceu em 22 países, acompanhando paciente com e sem AVC, demonstrou que se pudéssemos corrigir os fatores de risco para o AVC, evitaríamos 90% dos casos de AVC. Entre essas intervenções que poderiam reduzir substancialmente os casos de AVC, está o controle adequado da Hipertensão Arterial, cessar tabagismo, promover atividade física e uma dieta saudável.

Também essencial é o acompanhamento médico regular para iniciar as intervenções citadas anteriormente quando necessárias e a realização de exames complementares com objetivo de reverter condições clínicas que aumentam o risco para AVC.

Referências:

Referência:

1 – https://www.world-stroke.org/;

2 – https://www.stroke.org/en/about-the-american-stroke-association/world-stroke-day;

3 – William J. Powers. Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke: 2019 Update to the 2018 Guidelines for the Early Management of Acute Ischemic Stroke: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association 2019.

TDAH em adultos

Clique aqui para ler mais sobre o TDAH em adultos.

* Por Sabrina Gomes

TDAH EM ADULTOS

O transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um fenômeno muito pesquisado e divulgado na atualidade. Com o avanço dos estudos das neurociências, sabemos que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, tem sua origem a partir de alterações de processos iniciais do desenvolvimento cerebral. Assim, os prejuízos no controle da atenção e no controle motor (sintomas comuns do transtorno) podem ser observados já nos primeiros anos de vida, tornando-se mais evidentes ao longo do período escolar.

O investimento em divulgações de informações a respeito do diagnóstico e tratamento do TDAH nas primeiras fases da vida (infância e adolescência) tem se mostrado muito importante para educar a população quanto aos sinais e sintomas do transtorno, além de incentivar a busca por avaliação e tratamento precoces do TDAH, proporcionando melhor qualidade de vida para as pessoas com o transtorno. Entretanto, apesar das publicações priorizarem os impactos do TDAH nas fases iniciais da vida, pesquisas mostram que o transtorno pode persistir na fase adulta e que adultos portadores de TDAH experimentam grandes dificuldades nas esferas social, profissional e familiar, tais como: conflitos familiares, problemas de relacionamentos conjugais, dificuldades profissionais devido à desatenção e à dificuldade para respeitar prazos e rotinas, entre outras. A seguir, apresentaremos exemplos de como é o cotidiano de adultos com TDAH.

O PERFIL COMPORTAMENTAL DO ADULTO COM TDAH

Como vimos, o TDAH é um transtorno que tem seu início na infância, mas que pode persistir na fase adulta (algo em torno de 60 a 70% dos casos). Estudos recentes de imagem encontraram alterações semelhantes em estruturas cerebrais em crianças e em adultos com TDAH, o que confirma a possibilidade de persistência do transtorno ao longo da vida. Essas regiões cerebrais são importantes na regulação das emoções e na organização do nosso comportamento para a execução de tarefas, o que ajuda a explicar os prejuízos em funcionamento social, acadêmico e/ou profissional das pessoas com o transtorno.

Na fase adulta, os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade se expressam nas atividades próprias dessa fase da vida, com variações na apresentação e intensidade dos sintomas de pessoa para pessoa:

Desatenção

Fica evidente em atividades que exigem sustentação da atenção e organização, além de dificuldades de memória. As pessoas com o transtorno estão em geral atrasadas com prazos e encontros, despreparadas para atividades a serem realizadas proximamente e apresentam dificuldades para atingir objetivos e fazer planos.

Hiperatividade-impulsividade

A hiperatividade pode se mostrar no excesso de trabalho ou de outras atividades (já ouviram falar em indivíduos workaholics?). Com relação à impulsividade, sabe-se que os adultos com TDAH se envolvem mais em acidentes de trânsito, pela direção impulsiva de veículos. Além disso, a impulsividade também pode se manifestar em términos prematuros de relacionamentos, uma vez que os indivíduos se mostram mais reativos em seus sentimentos, mais irritáveis e facilmente frustrados pelos acontecimentos.

Fica claro que o TDAH em adultos é responsável por prejuízos importantes em diversos aspectos da vida da pessoa portadora do transtorno, provocando sofrimento para o indivíduo e para pessoas próximas. Mas atenção: o diagnóstico deve ser realizado a partir de avaliação especializada, com critérios bem definidos. O diagnóstico médico requer observação clínica, investigação de informações do processo de desenvolvimento do paciente e pode ter o auxílio de testes psicológicos para maiores esclarecimentos do caso.

Referências bibliográficas:

HOOGMAN, Martine et al. Subcortical brain volume differences in participants with attention deficit hyperactivity disorder in children and adults: a cross-sectional mega-analysis. The Lancet Psychiatry, v. 4, n. 4, p. 310-319, 2017.

MATTOS, Paulo et al. Painel brasileiro de especialistas sobre diagnóstico do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) em adultos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 28, n. 1, p. 50-60, 2006.