Religiosidade e Espiritualidade na Saúde Mental

Você sabe o impacto da Religiosidade e Espiritualidade na Saúde Mental? Estamos vivenciando as festas de final de ano, então, podemos nos questionar de que maneira a Religiosidade e a Espiritualidade podem influenciar nossa Saúde Mental.

* Por Alexandre de Rezende

Você sabe o impacto da Religiosidade e Espiritualidade na Saúde Mental?  Estamos vivenciando as festas de final de ano, acabamos de comemorar o Natal, que para os cristãos é a celebração do nascimento de Jesus. Então, podemos nos questionar de que maneira a Religiosidade e a Espiritualidade (R/E) podem influenciar nossa Saúde Mental.

RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE

Para iniciarmos essa discussão, é necessário trazermos os conceitos de Religiosidade e Espiritualidade. Segundo os principais estudiosos no mundo sobre o tema, a Espiritualidade poderia ser definida como a busca pessoal para entender as questões finais sobre a vida, sobre seu significado e suas relações com o sagrado e o transcendente. Já a Religiosidade seria um
sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para a aproximação com o sagrado (1) .

Durante muito tempo, a comunidade científica, sobretudo psiquiatras e psicólogos, acreditava que as vivências religiosas eram prejudiciais, muito influenciada pela posição antirreligiosa de alguns autores, que propunham que a Religião exercia uma influência irracional e primitiva, portanto negativa, no psiquismo das pessoas.

No entanto, nas últimas quatro décadas, pesquisas científicas mais rigorosas foram realizadas e publicadas nas principais revistas médicas e psicológicas do mundo, encontrando uma associação positiva entre envolvimento religioso e Saúde Mental. Essas pesquisas mostram que indivíduos com taxas mais altas de R/E possuem melhores níveis de bem-estar e qualidade de vida. Em geral, pessoas com maiores vivências religiosas e espirituais têm menos depressão, ansiedade, comportamento suicida e uso e abuso de substâncias. Além disso, os recursos de R/E podem ser úteis tanto como fatores de proteção no desenvolvimento de
transtornos mentais, como no processo de enfrentamento desses problemas (2,3) .

Por outro lado, apesar desses aspectos positivos da R/E, existem também evidências mostrando que a Religião pode ser negativa. As práticas religiosas e espirituais podem ser fonte de conflitos e estresse para muitas pessoas, tais como o coping religioso-espiritual negativo. Por exemplo, indivíduos podem se sentir injustiçados por Deus, considerar sua
depressão como fruto de um castigo divino. Podem, ainda, se magoar pelos comportamentos de outros companheiros de fé ou, até mesmo, não concordarem com algumas atitudes de seus líderes religiosos (4) .

IMPACTOS SOBRE A SAÚDE MENTAL

Diversos mecanismos têm sido estudados e propostos para explicar o impacto da Religiosidade e Espiritualidade na Saúde Mental. Então, podemos citar: proposição de comportamentos e estilos de vida saudáveis, fornecimento de uma comunidade de suporte social para contribuir na redução do isolamento e da solidão, construção de um sistema de crenças que influenciam na forma de lidar com o sofrimento e aceitação dos problemas da vida, assim como uma visão mais otimista e esperançosa do mundo 2 . Ou seja, de maneira geral, a R/E podem ter um impacto positivo sobre a Saúde Mental.

No entanto, temos que ter o cuidado para não “prescrevermos” Religião. O Brasil possui uma população muito religiosa: dados do último censo revelaram que 92% da população brasileira possuem alguma religião (5) . E há outros estudos apontando que 87% dos pacientes gostariam
que fossem abordados aspectos da R/E em seus tratamentos de saúde (6) . Então, os profissionais de saúde em geral devem ficar atentos em coletar informações acerca da vivência religiosa e espiritual dos pacientes, a chamada História Espiritual.

Questionar se o paciente acredita em algo, se tem alguma religião, se é membro de alguma comunidade religiosa e se esse grupo lhe dá algum suporte. Avaliar sobre a importância dos valores religiosos e espirituais na sua vida e se a R/E influenciam na forma como aquela pessoa lida com as dificuldades da vida. Ao identificarmos que se trata de alguém que dispõe desse recurso, devemos incentivá-lo a buscar essa dimensão, como forma de complementar os tratamentos de saúde tidos como formais.

Referências:

1. Koenig HG, McCullough M, Larson DB. Handbook of religion and health: a century of research reviewed. New York: Oxford University Press, 2001.
2. Moreira-Almeida A, Lotufo Neto F, Koenig HG. Religiouness and mental health: a review.
Revista Brasileira de Psiquiatria 28 (3): 242-50, 2006.
3. Bonelli RM, Koenig HG. Mental Disorders, Religion and Spirituality 1990 to 2010: a systematic evidence-based review. Journal of Religion and Health 52(2):657-73, 2013.
4. Weber SR, Pargament KI. The role of religion and spirituality in mental health. Current Opinion in Psychiatry 27:358-363, 2014.
5. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Censo Demográfico, 2010. Rio de Janeiro, 2010.
6. Lucchetti G, Lucchetti AG, Badan-Neto AM, Peres PT, Peres MF, Moreira-Almeida A et al. Religouness affects mental health, pain and quality of life in older people in an outpatient rehabilitation setting. Journal of Rehabilitation Medicine 43(4):316-22, 2011.

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Equipe multidisciplinar e dependência química

Você sabe qual o papel da equipe multidisciplinar no tratamento da dependência química?

Vocês sabem qual o papel da equipe multidisciplinar no tratamento da dependência química?

Considerado um transtorno mental, além de um problema social pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a dependência química é tida como doença crônica, que comumente atinge indivíduos que fazem o uso constante de determinadas drogas.

Dependência Química é um problema social e de saúde complexo, a que nenhuma disciplina ou profissão pode responder apropriadamente de forma isolada.

Equipe multidisciplinar refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de atuação.

O papel da equipe multidisciplinar

O papel da equipe multidisciplinar junto aos usuários de álcool e/ou de outras drogas tem como fundamento estratégico propor uma assistência com vistas a estabelecer mudanças na vida do paciente. A comunicação é um dos mais importantes elementos do cuidado em saúde, devido à complexidade das demandas e da organização do trabalho.

Estudos sugerem que a boa comunicação interdisciplinar proporciona melhoras no estado de saúde do paciente e no bem-estar psicológico de seus familiares, resultando em melhor controle dos sintomas, redução no tempo de hospitalização e níveis elevados de satisfação com o atendimento.

Cabe à equipe, auxiliar o paciente a se reorganizar dentro de seus próprios recursos. Para tanto, deverá instrumentalizar a relação interpessoal, incentivando e apoiando o paciente a assumir a responsabilidade pela melhora na sua qualidade de vida em todos os níveis.

O paciente deve ser entendido e abordado sob a ótica da totalidade, considerada na perspectiva da integralidade, que é chave da intervenção terapêutica. Esta tem como foco principal o alívio do sofrimento humano, elegendo a pessoa como protagonista do processo de compreensão e tratamento.

Segundo estudiosos da área, o controle ambiental é de extrema importância para a prevenção da Dependência química e diminuir os fatores de risco e aumentar os fatores de proteção é o que na maioria das vezes irá determinar o uso de drogas.

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