Perguntas ao invés de respostas

O que você tem a dizer sobre você? O que é que você tem a dizer sobre o que você sente? Alguém pode dizer por você aquilo que você não diz? E aquilo que você não disse? Para onde será que foi?

* Por Vivian Hauck

“[…] Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. […]”

Eduardo Galeano em “Celebração da voz humana/2”

O que não falta hoje em dia é informação. Informação sobre tudo o que se possa imaginar. É só abrir o Google e pronto. Em menos de 1 minuto, alguém descreve sintomas muito parecidos com os seus, te confere um diagnóstico e logo em seguida sugere 10 passos simples para que você se cure disso (seja lá o que “isso” for). “Bom, se funcionou para essa pessoa, com certeza vai funcionar para mim também”, chegamos a pensar.

É informação em todo lugar dando um nome para isso que você está sentindo e te dizendo o que fazer para se sentir melhor. Uma farmácia a cada esquina prometendo que ali vai ter o que você precisa para não sentir mais dor.

E pode ser até que alguma dessas coisas se encaixe, pode ser até que algumas dessas dicas e soluções funcionem por algum tempo, mas será mesmo que outras pessoas sabem mais de você do que você? Será mesmo que os sintomas aparecem em todos os sujeitos pelos mesmos motivos? Será mesmo que, se um tratamento funcionou para aquele um, vai funcionar exatamente da mesma maneira para você também?

E enquanto você busca solucionar suas questões a partir da solução de um outro, será que você se escuta?

O que você tem a dizer sobre você? O que é que você tem a dizer sobre o que você sente? Alguém pode dizer por você aquilo que você não diz? E aquilo que você não disse? Para onde será que foi?

 

“Quatro bilhões de pessoas nessa terra,

E minha imaginação é como era.

Não se dá bem com grandes números.

Continua a comovê-la o singular. […]”

 

Wislawa Szymborska em “Um grande número”

Cirurgia bariátrica e o abuso de álcool

Cirurgia bariátrica e o abuso de álcool é um assunto ainda sem esclarecimentos pra alguns. É algo que gera dúvidas para quem ainda vai passar pelo processo cirúrgico.

Por Dra. Juliana Ferreira

Cirurgia bariátrica e o abuso de álcool é um assunto ainda sem esclarecimentos pra alguns. É algo que gera dúvidas para quem ainda vai passar pelo processo cirúrgico. Então, nossa endocrinologista Dra. Juliana Ferreira, fez uma abordagem do assunto.

A cirurgia bariátrica, conhecida popularmente como cirurgia de redução do
estômago, é considerada um tratamento efetivo para pessoas com obesidade grave. Apesar dos benefícios da cirurgia à saúde, o procedimento não é isento de complicações.

Cirurgia bariátrica e o abuso de álcool

Pesquisas têm sugerido maior risco de alcoolismo após a cirurgia
bariátrica.

Existem algumas hipóteses para isso: Autores defendem que pode haver troca de compulsão.Uma vez que a cirurgia limitaria o consumo excessivo de alimentos, o paciente aumentaria o consumo de álcool para obter recompensa. As evidências experimentais (com animais de laboratório) indicam uma maior sensibilidade à recompensa induzida pelo álcool após a cirurgia.

Outra hipótese para maior abuso de álcool no pós-operatório é que a cirurgia modifica a absorção e concentração sanguínea de álcool, favorecendo seu maior consumo . Após a cirurgia bariátrica, com a redução do estômago e desvio do intestino o estômago esvazia mais rapidamente e o intestino absorve o álcool de forma mais acelerada. Ao mesmo tempo, com o estômago pequeno, existe menos ação da enzima que metaboliza o álcool nesse local, além do fato de que as pessoas operadas comem pouco, o que também acaba por favorecer picos mais elevados de álcool no sangue.

Consumo de álcool no pós operatório

Pesquisas prévias confirmam que o pico do conteúdo de álcool é bem mais alto no pós-operatório. Além disso, o tempo de desaparecimento de álcool no sangue é quase o dobro, em comparação com o pré-operatório, e as pessoas operadas apresentam mais sintomas de embriaguez com menos doses. Para uma pessoa operada tomar duas doses de bebida alcoólica equivale ao consumo de quatro doses antes da cirurgia!

O principal estudo que avaliou essa questão antes e após a cirurgia
bariátrica encontrou que a prevalência de abuso de álcool aumentou de 7% para 16% num seguimento de sete anos. Quem teve mais risco de desenvolver abuso de álcool foram os homens, os mais jovens e aqueles que já possuíam consumo alcoólico regular prévio. Vale a pena ressaltar que mais da metade dos pacientes que  desenvolveu abuso de álcool após cirurgia não referia abuso no pré-operatório! Essas pesquisas têm implicações significativas no cuidado das pessoas no acompanhamento
pós operatório a longo prazo nos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.

A história de abuso de álcool deve ser avaliada no pré-operatório e as pessoas  que buscam o tratamento cirúrgico da obesidade devem ser orientadas sobre as mudanças de metabolismo do álcool após a cirurgia e os efeitos que a cirurgia tem de aumentar o risco de abuso de álcool, mesmo naquelas que não o consomem com regularidade no pré-operatório.

Um acompanhamento cuidadoso no pré e pós operatório é fundamental para que os riscos da cirurgia sejam minimizados.

Mudança de hábitos no pós operatório

É importante que o paciente perceba que está mudando de hábitos e de
comportamentos. Qualquer tipo de comportamento adictivo, dependência química, dependência comportamental, jogo patológico, compra patológica, deve ser informado à equipe multidisciplinar.

Os trabalhos mostram que pessoas que têm os melhores resultados são aqueles que continuam com o acompanhamento multidisciplinar no
pós-operatório.

Leia também sobre o consumo problemático de álcool, clicando aqui.

O cuidado multidisciplinar.

O trabalho organizado com equipe multidisciplinar surge como possibilidade de integrar os vários conhecimentos específicos, enriquecendo a compreensão de quem é atendido por esse tipo de abordagem e assim ampliando a eficácia interventiva.

* Por Diana Lopes

O cuidado multidisciplinar tem se tornado cada vez mais importante para melhores resultados dos pacientes. Leia esse texto e entenda um pouco sobre o cuidado multidisciplinar.

A crescente especialização no campo da ciência e tecnologia exigiu que profissionais de todas as áreas aprofundassem em áreas ainda mais particularizadas. Extremamente importante para aprofundar o conhecimento e as intervenções do saber específico de cada profissão, isto gerou respostas eficazes e, podemos dizer, conhecimentos mais
precisos. Como consequência natural desse movimento também gerou fragmentação do saber e em ações isoladas nas mais diversas áreas. Neste ponto é necessário nos apropriar de um dilema sobre essa evolução no campo cientifico e tecnológico: como integrar todos conhecimentos específicos?

Cuidado multidisciplinar e a área de saúde

Tá, e o que área de saúde tem com isto?
Bem, nas áreas de maquinarias e tecnologia vimos uma crescente tendência a prestação de serviço entre as instituições como forma de resolver a fragmentação de conhecimentos. Esta lógica também se aplicou na área de saúde e é uma pratica comum. Temos consulta com cardiologista, com neurologista, com psicólogo, com nutricionista, com fisioterapeuta, etc.

Especialidades

Ok, mas qual o problema de ter varias especialidades?
Quando esta prática é utilizada na área de saúde nos deparamos com um detalhe importante: O SER HUMANO. A complexidade humana exige consideração de um modo mais integral de olhar para a saúde. Estes conhecimentos especializados tão importantes nos faz , por exemplo, tomar medicação do cardiologista, mais medicações do neurologista, mais adoção de novos comportamentos a partir do trabalho com psicologo,
mais dieta prescrita por nutricionista, mais o conjunto de exercícios sugeridos pelo fisioterapeuta, e assim por diante. Será que isto resultaria em uma sobreposição de abordagens? Sobreposições de prescrições medicamentosas? Interferências e incongruências entre as várias condutas clínicas? Resposta, bem provável.

O trabalho da Equipe multidisciplinar

Humm, o que isto tem a ver com equipe multidisciplinar? O trabalho organizado com equipe multidisciplinar surge como possibilidade de integrar os vários conhecimentos específicos, enriquecendo a compreensão de quem é atendido por esse tipo de abordagem e assim ampliando a eficácia interventiva. Uma equipe que trabalha deste modo admite que o ser humano, cujo processo de vida envolve diversas dimensões  complementares, necessita mais que as especializações isoladas. Assume
que a especificidade profissional não consegue dar resposta a uma multiplicidade de fatores intrínsecos associados a situações de doença e de que é preciso somar saberes para dar respostas efetivas e eficazes aos problemas complexos que envolvem a perspetiva de qualidade aos pacientes.

O cuidado multidisciplinar na prática

A equipe multidisciplinar mantém as suas atuações específicas, mas reúnem-se periodicamente para a troca de informações dentro de áreas de interseção, articulando-se, tendo como base a consciência que emerge no “confronto” com as práticas. O trabalho considera o paciente como um todo, numa atitude humanizada e uma abordagem mais ampla e resolutiva do cuidado. Através do estudos dos casos constrói-se caminhos que visam abarcar a eficácia e a qualidade na área da saúde, desta forma,
pode emergir condutas mais apropriadas aos atendimentos e maior organização do trabalho interventivo.

E realmente funciona o cuidado multidisciplinar?

Sim, vários estudos têm demonstrado significativas limitações na abordagem unidirecional e fragmentada de qualquer vertente, ressaltando a importância dos múltiplos fatores envolvidos e de uma visão global e integral, seja na prevenção, no diagnóstico, na intervenção/tratamento, seja na reabilitação dos doentes. Mas um alerta é importante, existem muitas clínicas que oferecem varias especialidades em um mesmo espaço, mas
isto não quer dizer que tenham uma estruturação do serviço de modo multidisciplinar.

Orientamos que busque conhecer bem a proposta e os profissionais da clínica como um todo e o que caracteriza a prática oferecida.

E agora um recado final: destacamos que a importância deste tipo de abordagem tem sido documentada cientificamente, evidenciando melhor serviço aos pacientes, beneficiando estes mais quando os profissionais de saúde trabalham em conjunto. Na Clínica Rezende a incorporação desse novo modelo no atendimento em saúde capacita o profissional a ter
uma percepção mais abrangente, dinâmica, complementar, integrada e humanizada, que retrata uma realidade necessária para se oferecer ações que visam melhorar a qualidade de saúde e de vida das populações em geral.
Essa é uma inovação que propomos e temos profissionais que tem experiencia em envolver múltiplos saberes e ações de saúde que dizem respeito aos conhecimentos e práticas de diversos profissionais: enfermeiros, médicos, psicólogos, nutricionistas, etc.
Estamos atentos as tendências em saúde de acordo com as necessidades e a
complexidade humana.

Clique para ler mais sobre equipe multidisciplinar.

Referências bibliográficas:

ARAÚJO, M.; ROCHA, P. (2007) – Trabalho em equipe: um desafio para a consolidação da estratégia de saúde da família. Revista Ciência e Saúde Colectiva, (12) 2.

COSTA, R. (2007) – Interdisciplinaridade e equipes de saúde: concepções. Barbacena: Revista Mental, (5) 8.

PEDUZZI, M. (2001) – Equipe Multiprofissional de Saúde: Conceito e Tipologia. São Paulo: Revista de Saúde Pública, (35) 1.